Capítulo 5

O Limiar da Escuridão

Camila sentiu o peso do olhar de Davi cravado nela, as palavras dele ecoando em sua mente como um chamado ao qual não sabia se deveria ou poderia responder. A pintura que ele acabara de revelar era tão visceral, tão cheia de dor e desejo, que parecia quase impossível olhar para ela sem sentir o peso daquela verdade crua.

Davi deu mais um passo em direção a ela, seus olhos não desviando por um segundo.

— Você realmente acredita que pode lidar com isso, Camila? — Sua voz soava mais como um desafio do que uma pergunta. — Com tudo o que sou, com tudo o que carrego?

Ela engoliu em seco, lutando para manter sua voz firme. — Acho que já estamos além desse ponto. Eu já vi o suficiente para saber que… não posso simplesmente ignorar. — Ela hesitou, sentindo o coração disparar. — Não posso ignorar o que sinto por você, Davi.

O silêncio que se seguiu foi quase insuportável, carregado de tensão e expectativa. Camila sentia que, a qualquer momento, o chão poderia se abrir sob seus pés, e ela cairia, completamente consumida pelo que quer que estivesse prestes a acontecer.

Davi respirou fundo, e por um momento, sua fachada controlada pareceu vacilar.

— O que você sente por mim, Camila? — Ele se aproximou mais, a proximidade agora quase sufocante. — Porque tudo o que sinto por você me puxa para a escuridão.

Camila se viu dividida. Parte dela queria recuar, fugir daquela intensidade que ameaçava consumi-la. Mas outra parte, uma parte mais profunda e reprimida, ansiava por ele, pelo homem que escondia suas sombras, mas que, de alguma forma, também oferecia a ela algo que jamais havia experimentado: desejo, mistério e um desafio emocional que fazia seu coração bater mais forte.

— Eu não sei o que é isso — ela admitiu, a voz vacilando. — Mas sei que não consigo ficar longe de você.

Davi deu um leve sorriso, um sorriso que não alcançava seus olhos. — E se isso nos destruir? Se eu te levar para um caminho que você nunca deveria ter seguido?

Camila não hesitou desta vez. — Então eu escolho caminhar ao seu lado, mesmo que seja nas sombras.

As palavras dela pareceram quebrar algo dentro de Davi. Ele deixou o pincel cair de suas mãos e avançou, segurando o rosto de Camila com uma intensidade que a fez perder o fôlego.

— Você não tem ideia de onde está se metendo — ele murmurou, a voz baixa, rouca de desejo contido.

Camila sentiu o coração disparar. Estavam tão próximos agora, que podia sentir a respiração quente dele contra seus lábios. E antes que pudesse pensar em qualquer outra coisa, ele a beijou.

O beijo de Davi não era gentil. Era urgente, desesperado, como se ele estivesse se agarrando à última tábua de salvação. As mãos dele percorriam suas costas, puxando-a para mais perto, e Camila se viu correspondendo com igual fervor, suas próprias mãos agarrando os cabelos dele, sentindo o calor do corpo dele contra o seu.

Por um momento, tudo ao redor desapareceu. As sombras, os segredos, as dúvidas. Nada mais importava além daquele momento, daquela conexão intensa que eles compartilhavam.

Quando finalmente se afastaram, ofegantes, Davi a olhou com uma mistura de desejo e conflito interno.

— Eu te avisei — ele murmurou. — Agora não há mais volta.

Camila não disse nada, apenas assentiu. Ela sabia. Sabia que, a partir daquele momento, estava completamente imersa no mundo de Davi, nas sombras que ele carregava.

— Eu não quero voltar — disse ela, a voz firme. — Quero entender você, Davi. Quero saber o que te assombra, o que te afasta de todos.

Davi passou a mão pelos cabelos, visivelmente abalado pelo que acabara de acontecer. Ele deu alguns passos para trás, voltando-se para a grande janela que dava para o mar. A luz da lua iluminava seu rosto, ressaltando as feições duras, mas marcadas por uma tristeza profunda.

— Há coisas em mim que você não deveria querer entender, Camila. Coisas que… te fariam me odiar.

Camila se aproximou dele, tocando de leve seu braço. — Eu não te odeio. Não posso odiar alguém que me faz sentir… viva.

Ele soltou uma risada amarga, ainda olhando para o mar. — Isso porque você ainda não sabe toda a verdade. Ainda não viu o pior de mim.

— Então me mostre. — Camila o desafiou. — Pare de me manter à distância. Se realmente acha que não devo ficar, então me dê uma razão para isso. Mas, por favor, pare de fugir.

Davi se virou para ela, e por um longo momento, não disse nada. Mas então, algo em seus olhos mudou, como se ele finalmente estivesse se rendendo à inevitabilidade do que estava por vir.

— Tudo bem — ele disse, a voz baixa. — Vou te mostrar o que ninguém mais viu. Vou te contar sobre a escuridão que carrego. Mas você precisa estar preparada para o que isso significa.

Camila assentiu, firme. Ela sabia que estava prestes a cruzar uma linha que não poderia mais desfazer. Mas, de alguma forma, sentia que já havia ido longe demais para voltar atrás.

Davi a levou pela mão até um canto da sala onde uma grande cortina preta cobria algo. Ele puxou a cortina de lado, revelando uma outra pintura, uma obra que parecia mais perturbadora do que qualquer coisa que ela havia visto antes.

Na tela, figuras sombrias dançavam em uma espiral de caos e destruição. No centro, um homem que parecia Davi estava cercado por sombras, sendo puxado para dentro delas. E, acima de tudo, havia uma assinatura marcada em vermelho vivo: Davi Duarte.

— Isso é o que eu sou, Camila. — Ele apontou para a tela, a voz grave. — E se você quiser ficar, precisa aceitar essa parte de mim. A parte que destrói tudo o que toca.

Camila encarou a pintura, seu coração disparado, e soube que aquela era a decisão mais importante de sua vida.

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