Era uma peça com algumas estantes envidraçadas, contendo medicamentos. Rezei para que logo alguém entrasse ali. Certamente era a farmácia do hospital.Ele permaneceu segurando minha boca. As lágrimas caíam pelo meu rosto. Não acredito que aquilo ainda não havia acabado. Colocou-me contra a parede, me obrigando a encará-lo:- Você não só me fez perder meu melhor amigo. Também o fez me socar... Até eu não aguentar mais. Levei alguns pontos para fechar os cortes. Tudo por sua culpa... Uma vagabunda que me custou caro.Eu não tinha como falar para me defender, pois permanecia com a boca tapada pela mão dele. Marcelus certamente estava de plantão, pois vestia o jaleco branco. Tentei soltar meu corpo, fazendo força e empurrando a perna em direção a ele, mas foi inútil. Ele era muito forte.- Eu paguei caro por você, Virgínia. Muito caro... E no fim, só tive problemas. Sua mãe me enganou.Eu continuava tentando me desvencilhar inutilmente. Comecei a bater minhas costas na parede, tentando fa
- Francis, o que passou, passou. Não vamos voltar ao passado. Que tal lembrarmos do tempo que ficamos juntos... Desde sempre? – propus. – Afinal, se formos contar, o tempo que ficamos separados um do outro simplesmente é nada frente ao que estivemos lado a lado.- Eu aceito sua proposta. Até porque, não podemos negar que isso nos fez bem... De alguma forma. Não sei você, mas eu sempre soube que no final, ficaríamos juntos.- Houve momentos que não tive certeza se isso aconteceria. Mas nunca desisti de lutar por você.- Como quando jogou a garota na piscina? – ele riu. – Ou quando colocou algodão doce na cara de Joice?- Eu sempre fui ciumenta com você... Mesmo quando éramos só amigos. Depois que decidi que seria meu... A coisa só piorou.Ele começou a rir:- Com assim “você” decidiu que eu seria seu?- Sim... Eu decidi isso. Quando fomos para o Motel com Tereza.- Sabe quando “eu” decidi que você seria minha?- Quando?- Quando larguei Dothy num quarto de Motel e fui atrás de você...
Ninguém ficou muito impressionado de ver eu e Francis entrando juntos. Acho que nem percebiam muito quando chegávamos separados, porque eles só nos viam juntos lá dentro. E como não sabiam de nada, mesmo quando acompanhados, viram Francis e Virgínia dançando Your Love e deixando seus pares. Os mais velhos seguiam lá, firmes e fortes, talvez com mais de trinta ou quarenta bailes de Primavera nas suas histórias.Tenho lembranças de todos eles... E em cada uma delas, aquela mão que segurava a minha, firmemente, estava lá, ao meu lado. Mesmo quando Your Love não significava nada e era só uma música, como outra qualquer, que nos divertia enquanto nossos pais, juntos, aproveitavam a festa.Fiquei me perguntando quem venceu as apostas sobre mim e Francis. Quem perdeu... No fim, saímos de Primavera, mas Primavera não saiu de nós. Porque todos os anos estávamos ali... E não era só por obrigação. Já era por vontade própria, como se aquilo não funcionasse se não estivéssemos ali, a cada ano, ven
- Eu quero... Mil vezes eu quero... Ser sua mulher, sua melhor amiga... O amor da sua vida... E estar todas as noites na sua cama.- Depois que tive você na minha cama, nunca mais quis saber de outra mulher, senhorita Virgínia Hernandez. – ele sorriu.Francis colocou o anel e a aliança no meu dedo. Fiquei observando a pedra enorme e brilhante no meu dedo.Nossos olhos se encontraram, naquela madrugada de sábado para domingo. Só havia nós dois ali, no nosso pergolado, nossa eterna casinha da infância, onde levávamos nossos brinquedos e simulávamos sermos casados desde sempre. E agora estava a um passo de se tornar realidade.Acho que amei Francis a minha vida inteira. Não só como amigo... Mas como homem, como minha alma gêmea. Tentaram nos separar de todas as formas. E conseguiram. Mas ninguém contava que a morte de Irina, que nos afastou de vez, seria também capaz de nos unir para sempre. Porque ela sempre acreditou em nós. E esteve presente ao longo da nossa vida, certamente perceben
- Estou indo, Vi.“- Quem é?” – ouvi a voz feminina do outro lado da linha antes de ele desligar.- Francis, você fez eu empatar a foda do homem... Que porra!Ele gargalhou:- Isso é melhor que jogar na piscina, algodão doce na cara ou colocar o nome dele num cachorro. Fazer o homem deixar a mulher na cama, quase meia noite, por causa da ex. Quero ver ele se explicar para ela depois... Estou vingado do meu ciúme. – ele me olhou de relance.- E eu estou bem. Já passou e não sinto mais nada.- Exatamente por isso é preocupante. Não adianta argumentar. Você vai ao médico.- Eu... Estou sem calcinha, porra! De novo.- Meu amor, desta vez eu entro com você... E nada nem ninguém vai me impedir, ou eu mando fechar o hospital, acredite.Olhei para ele e fiquei temerosa. Não por ele ameaçar fechar o hospital se não entrasse comigo. Mas o motivo pelo qual eu me senti mal novamente, como no dia do baile. Enjoo, tontura... Sim, sintomas de gravidez. Mas foi a segunda vez que tive aquilo, num inte
Francis foi pagar e César não aceitou de forma alguma. E ainda deu um algodão azul de presente para Francis.- Espero que o próximo desejo seja mais fácil. – Francis avisou, quando entrou no carro.- Só fale comigo depois que eu comer tudo, Francis. Não quero perder tempo falando... Só quero saborear vagarosamente. – fechei meus olhos, extasiada.Pensei que voltaríamos para casa, mas não. Francis seguiu por uma estrada secundária, que dava na parte mais remota da cidade. Era como se fosse uma zona rural de uma cidade minúscula.- Sabe onde está indo? – perguntei.- Sim. – ele disse firmemente.Pegamos a estrada de terra e andamos uns cinco quilômetros. Observei os campos verdejantes, árvores frondosas, cultivo de flores maravilhosas. Até o cheiro ali era melhor. Não havia poluição. Eu amava o centro de Noriah. Mas não era um lugar tranquilo para criar filhos, embora com mais recursos.Francis parou o carro e me olhou:- Sinto muito, mas tenho um trabalho para você.- Como assim?- Um
- Como assim, Francis? Por que fez isso?- Eu... Recusei já faz uma semana. O julgamento é amanhã. Então... Precisava lhe contar.- O motivo... Não entendo... – fiquei confusa.- Vi... Você sabe que eu sempre quis estar neste cargo para ser justo. A ética sempre esteve em primeiro lugar tanto na vida quanto no meu trabalho. Talvez foi por isso que cheguei tão longe. Por acreditar e propagar aos quatro cantos o quanto é importante ser justo, de todas as formas, mesmo sabendo o quanto isso é difícil. Por mais que eu tentasse ser neutro, você sabe que eu não conseguiria. Eu já chegaria lá com o objetivo de condená-la. E certamente a uma pena talvez bem maior do que ela realmente merecesse... Sei o quanto Michelle foi horrível. E de todas as atrocidades que ela cometeu. Mas eu não posso julgá-la pelos crimes que ela cometeu por toda a vida. Não posso sentencia-la por ter feito cirurgias no amor da minha vida, na minha melhor amiga, aos dezesseis anos de idade. Não posso sentencia-la por e
Eu não conseguia conter meu sorriso bobo. Estava imensamente feliz. E via um Francis ansioso. Foram anos esperando por aquele momento... Quase uma vida inteira.Meu pai, lindamente vestido, beijou meu rosto e entregou minha mão à Francis, dizendo baixinho:- Faça nossa diabinha feliz, Francis.- Minha felicidade depende da dela, Yan... Sua preciosidade é também a minha... Não existe maior amor do que o que eu sinto pela sua filha.Senti uma lágrima rolando pelo meu rosto:- Francis, seu idiota, vai fazer eu acabar com a maquiagem antes mesmo de iniciar este casamento. – reclamei.Como se não fosse suficiente um beijo, meu pai deu outro, na mesma face que não havia beijado antes.Francis, quebrando os protocolos, como sempre, abaixou-se e beijou minha barriga antes de dar um beijo na minha testa. Ok, ele nunca havia beijado minha testa antes... Não que eu lembre.A cerimônia foi rápida, como pedimos. Era só um enlace oficial e mostrar ao mundo o quanto nos amávamos.Era difícil não me