Bruno
5 meses depois...
Tirei a camiseta branca que eu vestia e a pendurei na cadeira livre que havia ao meu lado. Era fim de tarde, mas estava quente como se fosse meio dia. Coloquei minha câmera em cima da mesa da cozinha onde eu trabalhava, conectei seu cabo no notebook e esperei pacientemente pela transferência dos arquivos da filmagem que fiz mais cedo — eu estava monitorando a migração dos antílopes em busca de água desde o começo da estação seca e precisava enviar alguns vídeos para o editor analisar.
Olhando para o relógio esportivo que estava em meu pulso, notei que faltavam dez minutos para as cinco da tarde
Bruno Já passava do meio dia quando uma leoa me cercou em meio à savana do parque de Masai Mara.Foi burrice explorar esse território a pé, mas eu sou um biólogo e cinegrafista experiente.Não era a primeira vez que eu fazia isso, mas foi a primeira em que fiquei cara a cara com o perigo. Para o meu azar, o jeep que eu usava para me locomover pelo parque estava há pelo menos cem metros dali. Eu tinha duas escolhas: correr até o carro o mais rápido possível e empurrar a minha câmera no animal à minha frente para conseguir alguns segundos de vantagem, ou tentar guardar o meu equipamento e ser devorado antes que eu conseguisse fechar o tripé. Qualquer pessoa inteligente teria escolhido a segunda opção, mas não eu. Nem morto eu sairia dali sem
Aina Mais um dia trabalhando no mercadinho da minha família. Nunca fui muito fã de ficar o tempo inteiro sentada atrás de uma caixa registradora aguardando que as pessoas fizessem suas compras, mas infelizmente era o único emprego que estava disponível no momento. Eu queria aventura, emoção e o mais importante: queria ajudar a proteger os animais que sempre admirei desde pequena. Por esse motivo, me formei em zoologia pela universidade de Nairóbi aqui no Quênia. Meu sonho de infância sempre foi ajudar na reabilitação de espécies em extinção e auxiliar com o seu retorno à natureza. Apesar de ter passado os últimos meses enviando currículos, eu não consegui emprego nas reservas locais. Os líderes das instituições estavam em busca de pessoas competentes e com experiência na área, não estavam interessados em contra
Aina Enquanto eu deixava a água quente do chuveiro lavar o meu suor do dia, tive uma pequena recordação do rosto daquele sujeito mal encarado. Akin disse que ele se chamava Bruno... é um nome bonito para um sujeito tão estranho— pensei, distraída. Deixando minhas lembranças de lado, saí do chuveiro e me enrolei na toalha lilás e felpuda que havia ali. Como nossa casa não era muito grande, todos nós dividíamos o mesmo banheiro. Eu não reclamava, pois tinha um quarto só para mim e isso bastava para que eu tivesse a minha privacidade. Caminhei rapidamente pelo corredor estreito que levava em direção ao meu quarto e uma vez que estava dentro do
Bruno Caralho, no que eu fui me meter?— bati a porta com força e me sentei no sofá verde que havia na minha pequena sala. Minha casa não era muito grande, na verdade, estava mais para uma kitnet. Em um único cômodo havia a cama de casal onde eu dormia, um fogão, geladeira, uma mesa de bétula com duas cadeiras e o sofá de três lugares onde eu estava sentado. Não havia paredes para separar as coisas, mas a colocação dos móveis estava muito bem organizada. Eu não gostava de bagunça ou coisas fora do lugar e só estava desleixado com a minha aparência por um motivo simples: afastar a atenção das mulheres. Se elas não se aproximassem se mim, eu ficaria bem. Ao menos, era isso que eu pensava até encontrar Aina. A mulher não saía da minha cabeça
Aina Não entendi porque Bruno correu para o banheiro. — Talvez esteja com dor de barriga?— pensar naquilo me fez rir. O homem era um ignorante, mas eu precisava admitir que ele sabia cozinhar. Acho que nunca comi uma omelete tão boa em toda a minha vida, mas eu não diria isso para ele, é claro — pelo menos, não até que o homem começasse a usar alguns hábitos de boas maneiras. Terminei minha refeição em silêncio enquanto pensava em tudo que aconteceu no dia e comecei a me sentir exausta. Agora que eu estava relaxada, comecei a sentir os efeitos da longa caminhada que fiz mais cedo. Minhas pernas doíam e meus pés latejavam, eu não estava acostumada a percorrer longas distâncias a pé. Bruno estava há mais de meia hora no banheiro e eu não sabia quando ele sairia de lá, então lavei o prato que comi e resolvi deitar na cama que havia ali. Ela era espaçosa e estava forrada por um cobertor verde musgo. Como o lei
AinaFicamos em silêncio pelo resto da viagem, até que o jeep entrou em uma estrada repleta de acácias com folhas ressecadas pelo calor do verão. Assim que o veículo se estabilizou, um sol forte atingiu meus olhos e eu precisei protege-los com as mãos. Bruno deu uma breve risada com a minha reação.—É por isso que estou de óculos — concluiu. — Precisa conseguir um para você.—Acho que tinha um óculos de sol dentro da minha bolsa — recordei enquanto minhas mãos protegendo o meu rosto da claridade. — Por falar nisso, o que fez com as minhas roupas?—Pendurei no varal atrás da casa para que pudessem secar durante o dia.—Obrigada — deixei escapar. — E por falar em coisas molhadas, acho que meu celular estragou por causa da água. Poderia me emprestar o seu para
Aina —Vamos mais à frente — Bruno chamou a minha atenção e caminhou cautelosamente até o meio da pradaria, onde dezenas de cudos e gnus pastavam tranquilamente. —Nunca fiquei tão perto de animais selvagens — admiti. —Há sempre uma primeira vez para tudo. — Ele estendeu sua mão para acariciar um pequeno filhote de cudo. — O importante é não permitir que os animais te vejam como uma ameaça. Evite olhar nos olhos deles ou encará-los por mais tempo que o necessário. Concordei em silêncio. —Acho que vou precisar de um caderno para anotar essas dicas — comentei.
AinaBruno passou o resto da manhã listando todos os tipos de biomas que existiam na região e dando informações detalhadas sobre os animais que viviam em cada um deles. Fiquei aliviada por ter aquela agenda para anotar o que eu ouvia, pois meu cérebro não estava guardando nada. Eu não conseguia deixar de pensar no que aconteceu mais cedo, no fato de que Bruno já foi casado e ficava todo irritado quando mencionava a sua ex-esposa. Estava claro que ele odiava a mulher e comecei a me perguntar se ela não seria a causa do seu mau humor constante.Será que ela fez algo que o homem não gostou?Para a minha tristeza, havia uma grande chance de que minhas perguntas nunca fossem respondidas, Bruno não parecia disposto a se abrir e estava mais sério que antes.Por mais que eu quisesse me concentrar no curso e deixar de me meter nos problemas de ou