Aina
A manhã estava quente. Bruno e eu paramos em baixo de uma árvore, no meio de um pasto de grama ressecada, onde conseguimos um pouco de sombra para descansar. Mais cedo, deixamos o jeep na beira da estrada e percorremos um longo caminho a pé para observar alguns antílopes. Agora, estávamos voltando até o carro para buscar o nosso almoço.
— É impressão minha, ou a estrada parece mais distante do que eu me lembro? — perguntei, ofegante pelos quilômetros de caminhada sob o sol quente.
— Já posso ver o jeep daqui. Não estamos muito longe — Bruno respondeu enquanto tirava a mochila preta que carregava em suas costas e a colocava no chão de grama ressecada. Lá dentro tinha uma garrafa d'água, um binóculo e a nova
AinaQuando estacionei na porta do hospital, desci do veículo em prantos, enquanto gritava por ajuda. Eu mal conseguia andar e fui amparada por uma das enfermeiras enquanto os paramédicos de emergência tiravam Bruno do veículo e o colocavam em uma maca.— Vocês precisam ajuda-lo... ele não pode morrer! — implorei, para um dos homens que levavam a maca para dentro do hospital.Meu desespero aumentou quando colocaram um balão de oxigênio em Bruno e outra enfermeira começou a medir sua pressão arterial. Ela fez uma careta e lançou um olhar estranho para o médico que se aproximava. O senhor de cabelos grisalhos veio ao meu encontro e perguntou calmamente o que havia acontecido. Dei um breve relato, torcendo para que ele entendesse a minha explicação, apesar dos soluços causados pelo choro. Depois d
AinaQuando entrei no quarto 91, percebi com alívio que Bruno já estava acordado. Ele se encontrava sentado na cama, com um travesseiro enorme apoiado em suas costas, enquanto assistia TV. Ao perceber que eu estava ali, seu rosto se iluminou com um sorriso que aqueceu o meu coração. Não pensei duas vezes. Corri até a cama e me inclinei para abraçá-lo. Depositei um beijo suave em seus lábios e logo me afastei para analisa-lo melhor. Parecia que tudo estava bem, a não ser a mão onde ele foi picado, que agora se encontrava enfaixada.— Como você está, Bruno? — perguntei, com a voz trêmula. Eu ainda chorava, mas agora era de alívio e alegria por vê-lo acordado.— Ficarei melhor se me der outro beijo. — Ele sorriu maliciosamente.
BrunoFiquei extremamente aflito, enquanto esperava Aina pegar o seu diploma dentro do carro. Os pais dela me encaravam de cima a baixo sem se preocuparem em disfarçar e eu não fazia ideia de como reagir.Devo puxar algum assunto ou permanecer em silêncio?— O carro é seu? — o pai de Aina perguntou, voltando seu olhar para o jeep que estava estacionado há alguns metros.— Sim — respondi. Eu estava fazendo um esforço sobre-humano para não deixar que o nervosismo ficasse nítido em minha voz. Receber a aprovação dos pais de Aina era algo muito importante para mim e eu não queria que tivessem nenhuma im
Bruno5 meses depois...Tirei a camiseta branca que eu vestia e a pendurei na cadeira livre que havia ao meu lado. Era fim de tarde, mas estava quente como se fosse meio dia. Coloquei minha câmera em cima da mesa da cozinha onde eu trabalhava, conectei seu cabo no notebook e esperei pacientemente pela transferência dos arquivos da filmagem que fiz mais cedo— eu estava monitorando a migração dos antílopes em busca de água desde o começo da estação seca e precisava enviar alguns vídeos para o editor analisar.Olhando para o relógio esportivo que estava em meu pulso, notei que faltavam dez minutos para as cinco da tarde
Bruno Já passava do meio dia quando uma leoa me cercou em meio à savana do parque de Masai Mara.Foi burrice explorar esse território a pé, mas eu sou um biólogo e cinegrafista experiente.Não era a primeira vez que eu fazia isso, mas foi a primeira em que fiquei cara a cara com o perigo. Para o meu azar, o jeep que eu usava para me locomover pelo parque estava há pelo menos cem metros dali. Eu tinha duas escolhas: correr até o carro o mais rápido possível e empurrar a minha câmera no animal à minha frente para conseguir alguns segundos de vantagem, ou tentar guardar o meu equipamento e ser devorado antes que eu conseguisse fechar o tripé. Qualquer pessoa inteligente teria escolhido a segunda opção, mas não eu. Nem morto eu sairia dali sem
Aina Mais um dia trabalhando no mercadinho da minha família. Nunca fui muito fã de ficar o tempo inteiro sentada atrás de uma caixa registradora aguardando que as pessoas fizessem suas compras, mas infelizmente era o único emprego que estava disponível no momento. Eu queria aventura, emoção e o mais importante: queria ajudar a proteger os animais que sempre admirei desde pequena. Por esse motivo, me formei em zoologia pela universidade de Nairóbi aqui no Quênia. Meu sonho de infância sempre foi ajudar na reabilitação de espécies em extinção e auxiliar com o seu retorno à natureza. Apesar de ter passado os últimos meses enviando currículos, eu não consegui emprego nas reservas locais. Os líderes das instituições estavam em busca de pessoas competentes e com experiência na área, não estavam interessados em contra
Aina Enquanto eu deixava a água quente do chuveiro lavar o meu suor do dia, tive uma pequena recordação do rosto daquele sujeito mal encarado. Akin disse que ele se chamava Bruno... é um nome bonito para um sujeito tão estranho— pensei, distraída. Deixando minhas lembranças de lado, saí do chuveiro e me enrolei na toalha lilás e felpuda que havia ali. Como nossa casa não era muito grande, todos nós dividíamos o mesmo banheiro. Eu não reclamava, pois tinha um quarto só para mim e isso bastava para que eu tivesse a minha privacidade. Caminhei rapidamente pelo corredor estreito que levava em direção ao meu quarto e uma vez que estava dentro do
Bruno Caralho, no que eu fui me meter?— bati a porta com força e me sentei no sofá verde que havia na minha pequena sala. Minha casa não era muito grande, na verdade, estava mais para uma kitnet. Em um único cômodo havia a cama de casal onde eu dormia, um fogão, geladeira, uma mesa de bétula com duas cadeiras e o sofá de três lugares onde eu estava sentado. Não havia paredes para separar as coisas, mas a colocação dos móveis estava muito bem organizada. Eu não gostava de bagunça ou coisas fora do lugar e só estava desleixado com a minha aparência por um motivo simples: afastar a atenção das mulheres. Se elas não se aproximassem se mim, eu ficaria bem. Ao menos, era isso que eu pensava até encontrar Aina. A mulher não saía da minha cabeça