A chuva caía torrencialmente ao nosso redor, suas gotas geladas misturando-se à quentura do meu corpo. Eu poderia sentir a tensão vibrando entre nós, as palavras que trocamos antes se tornando distante em minha mente. Não importava o que Ravik me dissera ou o que eu temia. Eu já não conseguia mais negar a conexão que queimava entre mim e Damon.Ele, com as mãos geladas, tocou meu rosto. A pele dele parecia de outra dimensão, fria, mas ao mesmo tempo, a proximidade era o que me fazia sentir o calor que incendiava meu peito. Fechei os olhos, permitindo que a chuva molhasse meu cabelo, a sensação de estar ali, com ele, na tempestade, intensificando cada batida do meu coração.— Elara... — Damon murmurou, sua voz rouca carregando um peso que eu não conseguia ignorar. — Confie em mim. Não importa o que ele tenha dito, nunca faria mal a você.Era difícil resistir ao tom dele, à intensidade daquele momento. Ele estava ali, diante de mim, e eu sabia que não havia mais volta. A tempestade em n
A chuva continuava forte, mas não era mais um obstáculo. Era quase como se o peso da tempestade tivesse se dissolvido no ar enquanto entrávamos no castelo. O som das gotas batendo contra a janela era uma música constante, mas agora, naquele momento, eu não queria mais ouvir nada além do som do meu próprio coração batendo rápido.Damon me conduziu sem pressa, seus passos firmes e confiantes ecoando pelo corredor. Ele ainda estava molhado, com os cabelos caindo sobre os olhos, mas sua presença me dava uma sensação de segurança que, por mais que fosse estranha, me acalmava. A porta do quarto se fechou atrás de nós com um suave clique, e ele, de imediato, caminhou até a lareira, onde uma pequena chama ainda vacilava.— Fique aqui — ele ordenou suavemente, sua voz carregada de uma autoridade calma, mas protetora.Sentei-me na beirada da cama, ainda sentindo a umidade da chuva em minha pele, como se a tempestade não tivesse realmente terminado. Damon se aproximou e, ao se agachar ao meu lad
A água quente ainda acariciava minha pele quando o silêncio do quarto se tornou quase palpável. Eu afundei mais na banheira, deixando que a água suja escondesse meu corpo submerso, enquanto minha mente girava em círculos, presa às palavras que Damon havia sussurrado horas antes.A mordida. Um laço íntimo. Algo que, segundo ele, ultrapassava qualquer ligação humana comum.Uma parte de mim se sentia nervosa com a revelação, mas outra — mais forte e difícil de ignorar — se sentia empolgada. Havia uma beleza estranha na ideia de pertencer a alguém daquela maneira. De ser marcada, de ser... desejada daquele jeito tão primal.Quando ergui os olhos, encontrei Damon. Ele estava encostado na parede, braços cruzados sobre o peito, como uma sombra viva me observando. Não com luxúria ou impaciência, mas com aquela calma perigosa que parecia ser parte dele. O olhar menos vermelho, quase... doirado, mesmo suavizado pela penumbra, jamais deixava de carregar um peso invisível que me puxava para ele.
Narrado por Elara Há mil anos, dizem que o sol deixou de nascer sobre os Montes de Eldraven. Mas eu nunca vi o sol, então pra mim… ele é só mais uma lenda. Como tantas outras que nos contam pra manter a gente obediente. Aqui em Caerlyn, vivemos sob o véu da escuridão eterna, cercados por muralhas altas e preces sussurradas. Prata nas portas, símbolos sagrados nas janelas, e medo... muito medo. As pessoas acham que isso nos protege. Eu sei que só nos isola. As Terras Escarlates se estendem logo além da floresta. Ninguém fala nelas em voz alta, mas todos já ouviram os nomes que o vento carrega: Vareth, o castelo negro, e Damon Valtor — o vampiro ancestral, o príncipe do sangue, o monstro escondido em silêncio há séculos. Mas eu não tenho medo de nomes. Meu nome é Elara, e desde pequena eu soube que não pertencia a esse lugar. Fui criada por uma curandeira velha que me ensinou mais com livros do que com bênçãos. Sempre achei que os muros não estavam ali pra manter os monstros for
Na manhã seguinte, fui até os arquivos da vila. Um casarão antigo, com cheiro de mofo, pergaminhos empilhados até o teto e janelas seladas com velhas orações. Loran estava como sempre — debruçado sobre um livro empoeirado, com o cenho franzido e os dedos manchados de tinta. — Preciso de ajuda — disse, sem rodeios. Ele levantou os olhos devagar. Sempre me olha como se estivesse lendo algo invisível em mim. — Você esteve fora da vila de novo, não é? — murmurou, voltando os olhos pro livro. — Você sabia? — perguntei. — Eu imaginei. Você carrega o cheiro da floresta quando entra. E... está tremendo. Me sentei ao lado dele, baixando o tom da voz. — Encontrei pegadas perto do lago. Grandes. Recentes. E... um símbolo desenhado na lama. Uma rosa negra. Loran parou. Fechou o livro com cuidado e olhou pra mim como se tivesse acabado de ouvir o fim de uma profecia. — Você viu mesmo isso? — Ele nunca fala com ênfase. Mas agora... havia urgência. Assenti. Ele puxou um pergami
Ele falou meu nome como se fosse uma oração esquecida. Ou uma maldição. — Quem é você? — minha voz ecoou no sonho, mas parecia pequena diante dele. Ele sorriu, lento. Perigoso. — Você me chamou. — Eu não fiz isso. — Mas está em você. O sangue. O laço. O poder. Você sente, não sente? Dei um passo para trás, o ar ao redor dele parecia vibrar — como eletricidade ou calor antes de uma tempestade. — Fique longe de mim! — Não posso. — Ele caminhou em minha direção, cada passo ecoando como um trovão silencioso. — Porque somos ligados. Porque você é a chave que pode libertar… ou destruir tudo. Meus pés estavam cravados no chão. Eu queria fugir, gritar, acordar — mas não conseguia. — Por que eu? — perguntei, a voz trêmula. — Porque seu destino foi escrito antes mesmo do seu nascimento. Ele ergueu a mão e tocou meu rosto. Gélido, mas inexplicavelmente... familiar. — E porque, Elara… você é minha. Acordei ofegante, com o grito preso na garganta. A pedra no colar bri
Acordei com a sensação de estar sendo observada.As pálpebras pesavam como se tivessem sido costuradas, e um gosto metálico tomava minha boca. Quando finalmente consegui abrir os olhos, percebi que não estava mais na floresta. Estava deitada sobre uma cama enorme, coberta por lençóis de linho escuro, em um quarto que definitivamente não pertencia à minha realidade.As paredes eram de pedra polida, cobertas por tapeçarias antigas. Havia uma lareira acesa, crepitando suavemente, lançando sombras dançantes por todo o cômodo. Um candelabro de ferro pendia do teto abobadado, tremeluzindo com chamas vivas. Era um quarto luxuoso, silencioso e... fechado.Levantei de súbito. A cabeça latejou com o movimento brusco, mas ignorei. Caminhei até a porta com passos hesitantes e tentei girar a maçaneta. Trancada. Testei mais duas vezes, com mais força, até bater o punho nela com frustração.— Alguém? — gritei. — Está me ouvindo?Nenhuma resposta. Só o eco da minha própria voz voltando como zombaria.
A luz tênue que filtrava pela pequena fresta da janela mal tocava o chão de pedra polida. Eu havia perdido a noção do tempo. Horas? Dias? Não importava. Estava presa naquele quarto luxuoso demais para ser uma cela, mas restrito o suficiente para parecer uma prisão.As portas permaneciam trancadas. Sem trancas visíveis, sem maçanetas por dentro. Apenas a certeza de que, por mais que tentasse, não sairia dali por vontade própria.O colar ainda pendia sobre meu peito, morno agora, como se adormecido.Sentei-me novamente sobre a enorme cama de dossel, tentando não pensar nele.Damon.A lembrança de seu olhar cravou-se em mim como uma lâmina quente. Aquela aura de comando absoluto, o modo como me fitava... como se já soubesse o que eu tentava esconder até de mim mesma.Tentei apagar seu rosto da minha mente. Mas era inútil.Minutos depois — ou talvez uma eternidade — a porta se abriu com um estalo suave.Meus olhos voaram na direção do som.Ele entrou com passos silenciosos, vestindo roupa