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capítulo 3 - A Marca Dele

Ele falou meu nome como se fosse uma oração esquecida. Ou uma maldição.

— Quem é você? — minha voz ecoou no sonho, mas parecia pequena diante dele.

Ele sorriu, lento. Perigoso.

— Você me chamou.

— Eu não fiz isso.

— Mas está em você. O sangue. O laço. O poder. Você sente, não sente?

Dei um passo para trás, o ar ao redor dele parecia vibrar — como eletricidade ou calor antes de uma tempestade.

— Fique longe de mim!

— Não posso. — Ele caminhou em minha direção, cada passo ecoando como um trovão silencioso. — Porque somos ligados. Porque você é a chave que pode libertar… ou destruir tudo.

Meus pés estavam cravados no chão. Eu queria fugir, gritar, acordar — mas não conseguia.

— Por que eu? — perguntei, a voz trêmula.

— Porque seu destino foi escrito antes mesmo do seu nascimento.

Ele ergueu a mão e tocou meu rosto. Gélido, mas inexplicavelmente... familiar.

— E porque, Elara… você é minha.

Acordei ofegante, com o grito preso na garganta.

A pedra no colar brilhava como fogo.

Acordei com a pele gelada e a respiração presa no peito.

Ainda era madrugada. A vila dormia sob um silêncio espesso, quebrado apenas pelo som do vento... mas mesmo ele parecia estranho, como se murmurasse nomes que não deveria conhecer. O colar pendia sobre meu peito, quente — como se guardasse dentro dele o toque que recebi no sonho.

Me levantei devagar, tateando o chão frio de pedra até alcançar minha janela. O mundo lá fora parecia o mesmo. Mas não era.

O reflexo no espelho denunciava algo novo. Algo impossível. Um fino risco vermelho em meu pescoço, como se algo tivesse tocado minha pele com garras suaves. Exatamente onde o vampiro do sonho — Damon — havia me tocado.

Foi só um sonho… não foi?

Desci até a cozinha da taverna, onde Mira já preparava chá como se sentisse que algo havia mudado em mim.

— Você teve um pesadelo — disse ela, antes que eu dissesse qualquer coisa.

— Como sabe?

— Porque seu cheiro mudou.

— Meu... o quê?

Mira se aproximou e segurou minha mão.

— Algo está despertando em você, Elara. Eu sempre soube que havia mais. Mas isso… isso é magia antiga. E não é sua. Está vindo de fora.

— O que eu faço?

Antes que ela respondesse, as portas da taverna se abriram com violência. Um homem ofegante, coberto de lama e com os olhos arregalados, caiu no chão de madeira.

— Ele está aqui... — murmurou, antes de desmaiar.

— Quem?! — gritou Mira, ajoelhando-se ao lado dele.

— O filho da noite... o vampiro de sangue real... ele atravessou a fronteira.

— O filho da noite... — repeti em voz baixa.

Mira se levantou devagar, os olhos fixos em mim.

— Esse título… só pertence a um. Damon Valtor. O último da linhagem real. Aquele que desapareceu há séculos.

— Desapareceu ou foi selado? — perguntei.

— Ele foi exilado. Quando o pacto foi firmado, ele recusou-se a obedecer. Disseram que havia sido aprisionado entre mundos. Mas agora...

— Agora ele está livre.

— Elara, você precisa se esconder.

— Eu preciso entender por que ele me chamou. Por que eu.

Mira balançou a cabeça.

— Você não entende o que ele é. Damon Valtor não é um homem comum. Ele é feito de escuridão, forjado no ódio dos milênios. Pode parecer sedutor, até mesmo humano, mas por dentro… é tempestade e fome.

— Ele está vindo. — sussurrei.

Foi então que as velas se apagaram.

Todas ao mesmo tempo.

O vento atravessou as janelas fechadas como se fossem papel. E na brisa gélida, uma voz. Não alta. Não ameaçadora. Apenas real.

Quase... íntima.

- Elara...

Meu nome, dito com uma intimidade impossível.

— Elara. — Veio de novo, mais perto.

Minhas pernas se moveram antes que a mente compreendesse. Corri.

Abri a porta dos fundos da taverna e me lancei na noite como se o frio pudesse me proteger. A floresta atrás da vila se abria escura e silenciosa, os galhos altos pareciam braços tentando me impedir de passar. Meus pés descalços cortavam no chão gelado, mas eu não parava.

— Não é real... não é real... — repetia, como um feitiço fraco.

Mas tudo em mim sabia: era real demais.

Vi uma sombra se mover atrás de mim. Veloz. Grande. Me escondi atrás de uma árvore grossa, tentando controlar a respiração. O silêncio pesava. Tudo estava parado demais.

E então senti.

Não ouvi. Senti.

Uma presença atrás de mim, quente e gélida ao mesmo tempo. Um cheiro de terra molhada e ferro. Um sussurro rente ao meu pescoço:

— Está com medo de mim, pequena?

Me virei num pulo, o coração martelando como louco. E ali estava ele.

Alto. Imponente. Roupas escuras como a noite, cabelos longos presos em um rabo baixo. Os olhos... oh, os olhos. Rubros como brasas acesas. Observavam-me com uma calma predatória.

— Você é real. — murmurei, mais pra mim do que pra ele.

— Eu estive preso tempo demais, Elara. E você... é a chave que me trouxe de volta.

— Por quê eu?

Ele inclinou a cabeça levemente.

— Porque em você... há fogo. Mesmo com medo, você corre. Mesmo sem entender, enfrenta. Isso... me atrai.

Ele sorriu, lento e perigoso.

— Eu não vim para te machucar. Não ainda.

— Isso deveria me confortar?

— Talvez devesse te excitar.

Minha respiração falhou por um segundo.

Mas antes que eu pudesse responder, passos apressados ecoaram ao longe.

Mira.

Antes que eu pudesse reagir, Damon moveu-se com uma velocidade que desafiava a lógica. Em um piscar de olhos, ele estava diante de mim. Senti seus braços ao redor do meu corpo, firmes, frios... e então tudo sumiu.

A floresta desapareceu. O chão sumiu sob meus pés.

A última coisa que vi foi o colar pulsando em vermelho, como se reconhecesse o toque dele.

E então, escuridão.

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