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Sangue e Desejo
Sangue e Desejo
Por: Rayssa Souza
capítulo 1 - A Noite Nunca Dorme

Narrado por Elara

Há mil anos, dizem que o sol deixou de nascer sobre os Montes de Eldraven.

Mas eu nunca vi o sol, então pra mim… ele é só mais uma lenda.

Como tantas outras que nos contam pra manter a gente obediente.

Aqui em Caerlyn, vivemos sob o véu da escuridão eterna, cercados por muralhas altas e preces sussurradas. Prata nas portas, símbolos sagrados nas janelas, e medo... muito medo. As pessoas acham que isso nos protege. Eu sei que só nos isola.

As Terras Escarlates se estendem logo além da floresta. Ninguém fala nelas em voz alta, mas todos já ouviram os nomes que o vento carrega: Vareth, o castelo negro, e Damon Valtor — o vampiro ancestral, o príncipe do sangue, o monstro escondido em silêncio há séculos.

Mas eu não tenho medo de nomes.

Meu nome é Elara, e desde pequena eu soube que não pertencia a esse lugar. Fui criada por uma curandeira velha que me ensinou mais com livros do que com bênçãos. Sempre achei que os muros não estavam ali pra manter os monstros fora… mas pra manter pessoas como eu dentro.

Ultimamente, algo mudou. Os animais da vila andam sumindo. Algumas pessoas também. E todas as noites o vento parece me chamar — sussurrando em uma língua que eu quase entendo. Algo antigo, algo que pulsa no sangue, mesmo que eu tente negar.

O pior é… parte de mim não quer negar. Parte de mim sente que está prestes a acontecer alguma coisa. Que alguém está me observando além da floresta.

E talvez, só talvez...

Eu esteja pronta para ser encontrada.

A maioria das pessoas em Caerlyn anda de cabeça baixa, como se olhar pro céu nublado fosse chamar a desgraça. Mas nem todo mundo aqui vive assim. E é por causa deles que eu não enlouqueci.

Mira, minha melhor amiga, é a única que consegue rir mesmo quando tudo parece perdido. Filha do ferreiro, tem mãos queimadas e coração de fogo. Ela diz que quando eu falo das Terras Escarlates, meus olhos brilham como os das feiticeiras antigas. Eu rio disso. Mas, no fundo, eu me pergunto se não é verdade.

Depois tem Loran, o aprendiz do Arquivista. Um daqueles tipos calados e observadores, sempre com um livro escondido na túnica. Ele me passa páginas arrancadas de manuscritos proibidos. Não fala muito, mas me olha como se soubesse algo que eu não sei. Como se soubesse quem — ou o que — eu sou.

E claro, tem o Conselho.

O grupo de anciãos que governa a vila com punho de ferro e orações hipócritas. Eles não deixam ninguém sair sem permissão. Dizem que estão protegendo o povo. Mas semana passada, o irmão da Mira desapareceu na floresta. O Conselho mandou silêncio e orações. Nada mais.

Às vezes, eu me pergunto… o que eles estão escondendo?

E se os monstros do outro lado da muralha não forem os verdadeiros vilões dessa história?

Na última noite, quando fui até o lago velho pegar ervas pra cura, encontrei pegadas na lama. Pegadas grandes. Fortes. E ao lado delas… o símbolo da Rosa Negra marcado no chão — o brasão da linhagem Valtor. Aquilo não devia estar ali.

E mesmo assim… meu coração bateu mais forte. Não de medo.

De expectativa.

— Você voltou ao lago sozinha?! — Mira sussurra, mas o tom dela é tão afiado quanto a lâmina que carrega na bota.

Estamos atrás da forja do pai dela, onde o calor do metal martelado se mistura ao cheiro de carvão e fumaça. Um lugar onde ninguém escuta, mas tudo que se fala pesa no ar.

— Eu precisava das folhas de grama-do-crepúsculo. A velha Maela tá piorando… — respondo, tentando parecer mais casual do que sinto.

Mira cruza os braços, os olhos castanhos fixos nos meus como brasas acesas.

— Você viu alguma coisa?

— Pegadas. Grandes. Muito grandes. Como se alguém... ou algo... tivesse passado por lá. E tinha um símbolo no chão. — Faço uma pausa. — Uma rosa negra.

Mira empalidece. Ela sempre foi corajosa, mas esse nome... esse nome não se pronuncia em vão.

— Elara... Você sabe o que isso significa. Os anciãos falam disso como se fosse um pesadelo antigo.

— Ou uma verdade que eles têm medo de encarar. — minha voz sai mais firme do que esperava. — E se o que eles escondem não for o perigo... mas a resposta?

Mira abaixa o olhar por um segundo. Quando volta a me encarar, há algo novo nos olhos dela. Medo, sim. Mas também… lealdade.

— Se você for mexer com isso... eu vou com você. Nem que seja pra te puxar de volta pelos cabelos.

Ela tenta sorrir, mas o tremor na voz a denuncia.

— Eu acho... que algo está vindo, Mira. Algo antigo. E por alguma razão que eu não entendo… eu sinto que isso tem a ver comigo.

O vento sopra forte entre nós, levantando poeira e brasas do chão.

Lá longe, além das muralhas, a floresta sussurra meu nome.

Depois da conversa com Mira, não consegui dormir.

Fiquei pensando nas pegadas, no brasão, no vento estranho que parece me seguir. E foi aí que me dei conta: se alguém saberia algo mais, era Loran.

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