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capítulo 2 - Rosa Negra

Na manhã seguinte, fui até os arquivos da vila. Um casarão antigo, com cheiro de mofo, pergaminhos empilhados até o teto e janelas seladas com velhas orações. Loran estava como sempre — debruçado sobre um livro empoeirado, com o cenho franzido e os dedos manchados de tinta.

— Preciso de ajuda — disse, sem rodeios.

Ele levantou os olhos devagar. Sempre me olha como se estivesse lendo algo invisível em mim.

— Você esteve fora da vila de novo, não é? — murmurou, voltando os olhos pro livro.

— Você sabia? — perguntei.

— Eu imaginei. Você carrega o cheiro da floresta quando entra. E... está tremendo.

Me sentei ao lado dele, baixando o tom da voz.

— Encontrei pegadas perto do lago. Grandes. Recentes. E... um símbolo desenhado na lama. Uma rosa negra.

Loran parou. Fechou o livro com cuidado e olhou pra mim como se tivesse acabado de ouvir o fim de uma profecia.

— Você viu mesmo isso? — Ele nunca fala com ênfase. Mas agora... havia urgência.

Assenti.

Ele puxou um pergaminho de dentro da túnica. Desenhou algo com carvão e me mostrou.

Era o mesmo símbolo.

— Eu vi isso há meses em um tomo antigo. Dizem que pertence à linhagem real vampírica. Os Valtor. A rosa negra representa o sangue imortal e a dor eterna.

— E o que isso significa? Por que isso apareceria aqui?

Loran hesitou. Depois, falou baixo:

— Porque se Damon Valtor está de volta... significa que o antigo pacto foi quebrado.

Senti o chão se afastar dos meus pés por um instante.

— Que pacto?

Ele me olhou fixamente.

— O pacto que impedia os vampiros de cruzarem as fronteiras. O que foi selado com sangue... e com um sacrifício.

— Um sacrifício? — minha voz saiu mais baixa do que eu pretendia.

Loran assentiu, os olhos fixos no pergaminho diante de nós. Ele parecia mais velho naquele instante. Ou talvez apenas mais consciente do que carregava.

— Foi há mais de quatrocentos anos. Dizem que uma sacerdotisa ofereceu sua vida em troca de paz. Um feitiço antigo, selado com magia de sangue. Desde então, os vampiros foram contidos além das Terras Escarlates. O nome dela nunca foi registrado... como se quisessem apagar o preço.

— E agora… esse pacto foi rompido?

Loran passou os dedos pelos símbolos desenhados.

— Ou está se rompendo. Alguém está mexendo com forças que não compreendem. E se a linhagem Valtor está se movendo, isso é só o começo.

Senti um arrepio na espinha. Não só pelas palavras, mas por algo mais... instintivo. Como se algo dentro de mim já soubesse disso antes mesmo de ser dito.

— E se esse símbolo tiver sido deixado pra mim? — a pergunta escapou antes que eu pudesse impedi-la.

Loran me encarou com um olhar profundo. Quase... triste.

— Há coisas que nem os arquivos contam, Elara. Mas eu sempre soube que você não era como os outros. O modo como ouve os sussurros do vento. Como pressente o que está por vir. — Ele parou. — Talvez você tenha sangue antigo. Ou talvez… seja algo ainda mais raro.

— O quê?

— Aqueles que sonham com o passado e o futuro. Aqueles que o véu entre os mundos reconhece.

Ele suspirou e abriu um compartimento secreto sob a mesa.

De lá, tirou um colar.

Era feito de prata escurecida, com uma pedra vermelha no centro — viva, pulsante, como se tivesse um coração próprio.

— Isso pertenceu à sacerdotisa. De alguma forma... ele voltou até mim. Mas nunca brilhou assim antes.

A pedra brilhava mais forte agora.

Na minha presença.

— Elara... acho que você foi chamada.

E naquele momento, com o colar na mão, eu soube: a escuridão estava despertando. E meu destino estava entrelaçado com ela.

Naquela noite, o sono não veio fácil. A pedra no colar parecia pulsar contra minha pele, quente e inquieta, como se tivesse vida própria.

Fechei os olhos apenas por um instante. E então, o mundo mudou.

Eu estava em uma floresta que não reconhecia — árvores retorcidas como garras, neblina rastejando pelo chão como serpentes. A lua estava cheia, mas sua luz parecia filtrada por algo antigo e sombrio.

E então, eu o vi.

De pé entre as sombras, alto e imponente, com cabelos negros que caíam até os ombros e olhos de um vermelho profundo — como vinho derramado sobre neve. Sua presença era impossível de ignorar. Ele era feito de noite e tempestade, mas havia algo nele que puxava meu coração para perto como um feitiço.

— Elara.

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