Neste capítulo, mergulhamos ainda mais na mente perturbada de Murilo e na crescente tensão ao redor do cativeiro de Estelle. Murilo sente que está ficando sem aliados, e sua obsessão por Estelle o empurra para um estado de desespero silencioso e perigoso. Silvana, por outro lado, é uma peça-chave que transita entre o medo e o arrependimento, trazendo um dilema moral intenso: arriscar sua liberdade para salvar Estelle ou proteger sua própria família? Quis explorar a sensação sufocante do isolamento, onde cada decisão tem peso e consequências irreversíveis. A presença de Murilo se torna ainda mais ameaçadora à medida que seu controle escapa das mãos. O capítulo deixa no ar uma pergunta crucial: Estelle conseguirá resistir tempo suficiente para ser resgatada? Estamos chegando ao ponto de ebulição da trama, onde segredos, mentiras e verdades ocultas colidem para mudar tudo.
Murilo apareceu carregando a bandeja. Suas roupas estavam amassadas e uma saliva branca acumulava-se no canto da boca, indicando sua instabilidade. Apesar de tentar se controlar, seu estado mental perturbado era evidente.Com passos lentos, ele se aproximou da cama. Estelle instintivamente se encolheu, como se esse gesto pudesse protegê-la.— Olá, Estelle... — Murilo falou com a voz suave.Ele sorriu, exibindo uma calma controlada que contrastava com a intensidade em seus olhos.— Tenho boas notícias. Você está se recuperando maravilhosamente bem. Não é bom?Ele ajeitou a bandeja na pequena mesa ao lado da cama e continuou:— Outra coisa: vamos precisar mudar de local. Aqui não é mais seguro para você. Paulo pode aparecer a qualquer momento, e nós não queremos isso, não é verdade?Murilo inclinou-se ligeiramente, os olhos perturbados fixos nos dela.— Eles nos separaram no passado, mas agora não conseguirão. Nosso destino é ficarmos juntos, Estelle.O silêncio pesado se instalou entre
O delegado Eduardo dirigia em direção ao município na divisa com Florianópolis, seguindo uma pista que o levava a um suposto cativeiro. O sol já começava a se pôr, lançando tons alaranjados sobre a paisagem rural. A casa abandonada, localizada em um sítio em estado de decadência, parecia saída de um filme de terror. O mato alto cobria o caminho, e o portão enferrujado rangeu ao ser empurrado. Eduardo entrou cautelosamente, revólver em punho, enquanto dois agentes o acompanhavam.Dentro, o cenário era desolador. O chão estava coberto de poeira e detritos, as paredes descascadas revelavam infiltrações, e o cheiro de mofo era insuportável. Nenhum móvel, nenhum sinal de que alguém havia ocupado o local recentemente. Eduardo revirou cada cômodo, mas não encontrou nada que ligasse o lugar ao desaparecimento de Estelle. Frustrado, ele ordenou que os agentes vasculhassem o terreno, mas os resultados foram os mesmos: nenhuma evidência.— Estamos perdendo tempo aqui — murmurou Eduardo, esfregand
Estelle ouviu a chave girar na fechadura. Murilo surgiu à porta, imóvel, seu olhar calmo transmitindo um carinho que ela não via desde o início do cativeiro. Estava exausta. Tantos dias trancada naquele lugar haviam plantado em sua mente a semente cruel de que talvez estivesse sozinha no mundo – sem filhos, sem Paulo.Ele se aproximou, suas mãos frias tocando sua pele com um toque carinhoso.— Eu te amo, Estelle — ele murmurou.As palavras lhe caíram como bálsamo. Quando foi a última vez que Paulo dissera isso? Ela não conseguia lembrar. Só via a si mesma, dia após dia, esforçando-se para recuperar memórias que Paulo parecia querer manter escondidas. Se Murilo fosse seu destino... talvez aceitar fosse mais fácil. Mas seria certo? Algo dentro dela se remexia, inquieto, como um eco distante tentando alertá-la.Um sorriso fantasmagórico surgiu em seus lábios, mesmo enquanto começava a acreditar em Murilo e no amor que ele dizia sentir por ela. Mas sua mente permanecia turva, como a sombra
Estelle desceu da ambulância com a ajuda do enfermeiro. Suas pernas vacilaram – não por fraqueza, mas pelo alívio esmagador que lhe roubava o fôlego.Ela se apoiou no enfermeiro antes que desabasse no chão e, num gesto feroz, envolveu as filhas nos braços. Beijou-lhes os rostos, os cabelos, sentiu a textura das roupas, aspirou o cheiro familiar – como se precisasse de cada detalhe para ter certeza de que eram reais. — Pablo... — murmurou, a voz embargada, estendendo os braços para o filho mais novo. Mas seus músculos tremeram, recusando-se a sustentá-lo.Antes que ela pudesse fraquejar ainda mais, um homem – um vizinho? Um parente? – interveio, pegando Pablo com delicadeza.— Vamos te ajudar a entrar — sussurrou Marta.Estelle hesitou por um instante, como se seus pés tivessem criado raízes ali, naquele momento de reencontro. Então, virou-se para Marta e, sem precisar de palavras, jogou-se em seus braços. As duas se abraçaram forte, e as lágrimas vieram como uma enxurrada, sem controle
Estelle tentava, dia após dia, se adaptar à nova rotina com os filhos, Marta e Antônio, ao seu lado. Mas, por mais que se esforçasse, um peso silencioso ainda pairava sobre ela, um desconforto que parecia acompanhar cada passo. Quando soube da gravidez de sua irmã, um leve sorriso apareceu em seus lábios. A chegada de mais um membro à família era, de fato, uma boa notícia. Um novo começo, uma razão a mais para continuar. No entanto, mesmo com a felicidade por finalmente estar reunida com os seus, algo dentro dela ainda permanecia imenso e inerte, como uma sombra que não se afastava.Marta, sempre atenta às necessidades de Estelle, agendou uma consulta com uma psiquiatra de renome, recomendada por seu obstetra. Quando Paulo soube, sua reação foi imediata. Queria saber quem era a profissional, insistindo em acompanhá-la nas consultas. Mas Marta e Estelle se mantiveram firmes em sua decisão.— Paulo, essa é uma escolha que diz respeito a mim e à Estelle — Marta afirmou com firmeza, seus o
O aroma doce de chocolate e baunilha tomava conta da cozinha de Estelle naquela tarde de sábado. O som de risadas infantis e o barulho das colheres batendo nas tigelas preenchiam o ambiente. Seus filhos estavam animados, ajudando-a a preparar brownies e bolos de pote.Quando Marta entrou na casa, sentiu-se acolhida por aquele calor familiar. No entanto, antes que pudesse sequer abrir a boca, seus olhos encontraram os de Estelle. A alegria que brilhava ali momentos antes foi rapidamente substituída por uma sombra de preocupação. Marta ficou paralisada por alguns instantes, incapaz de ignorar a súbita apreensão da irmã. Estelle sempre fora perspicaz, e algo dentro dela já intuía que a visita inesperada de Marta não era apenas um gesto casual.As crianças, alheias à tensão no olhar da mãe, correram até Marta e a envolveram em um abraço apertado. Ela sorriu, tentando afastar seus próprios receios, e abraçou os sobrinhos com força, sentindo a ternura que apenas aqueles pequenos braços podia
Estelle já não dependia tanto dos medicamentos. Aos poucos, ela conseguia se reconectar com a rotina, participando mais da vida de seus filhos. O sorriso deles, as risadas que ecoavam pela casa, a simplicidade do dia a dia, mas com uma profundidade que ela nunca tinha percebido antes, começavam a trazer-lhe uma paz que parecia perdida. Contudo, à medida que se aproximava dos filhos, algo estava se afastando: seu marido, Paulo. As conversas entre eles tornaram-se breves, frias. O que antes eram gestos de carinho, agora pareciam distantes, mecânicos. Eles começaram a dormir em quartos separados, e embora não fosse um afastamento definitivo, era uma tentativa de recuperar o controle sobre sua vida, de dar a si mesma o espaço que tanto necessitava.Paulo protestou, sentindo-se rejeitado e ferido, mas Estelle não cedeu. Ela precisava de tempo, de respirar sem a pressão constante de uma relação que já não a fazia sentir-se segura. O peso da culpa a acompanhava, mas ela sabia que não poderia
Estelle acordou com um sobressalto, os olhos se arregalando em pânico. Olhou para os lados, sentindo um peso esmagador, como se algo tentasse emergir das profundezas de sua memória.— Onde... onde estou? O que aconteceu? — Estelle murmurou, tentando processar tudo.Então, ela ouviu a voz suave de Marta, que estava ao seu lado, segurando sua mão com uma ternura que só uma irmã poderia expressar.— Você teve um colapso, Estelle — explicou Marta, com voz baixa. — Não se preocupe, vai ficar tudo bem. Você está em um hospital. Mas agora é diferente, estou aqui eu e Antônio, não vamos sair do seu lado. Até você ir para casa.O cheiro de hospital, o barulho abafado das máquinas e o som distante de vozes a confundiram por um instante. Ela se moveu e, aliviada, não sentiu dores – apenas uma pressão nas têmporas. Observou as paredes; o verde suave lhe trouxe a certeza de que não estava no mesmo hospital. Estava em um lugar seguro – mas o medo ainda pulsava em suas veias.— Você está segura. Est