Neste capítulo, explorei a dor profunda de Estelle, mergulhando em suas memórias mais angustiantes para mostrar como a perda moldou sua vida. Através de flashbacks, revelei a fragilidade dela no funeral dos pais e a obsessão de Murilo por ela desde o sepultamento de Paulo e das crianças. A intenção foi criar uma conexão emocional entre o passado e o presente, mostrando como Estelle luta para manter sua sanidade enquanto tenta desvendar a verdade por trás de sua prisão. A sensação de déjà vu e a repetição de cenas reforçam a ideia de que ela está presa em um ciclo de dor e manipulação. Este capítulo é um ponto de virada, onde Estelle decide fingir submissão para sobreviver, mas sua determinação em descobrir a verdade só cresce. A saudade, a culpa e a desconfiança se entrelaçam, preparando o terreno para os conflitos que virão.
O som dos passos firmes ecoava pelos corredores do hospital enquanto o delegado Eduardo Vasconcelos se aproximava da ala onde Estelle havia desaparecido. Sua expressão mantinha uma calma contida, mas seus olhos atentos perscrutavam cada detalhe ao seu redor. Sendo de poucas palavras, entretanto, possuía um olhar penetrante que parecia enxergar além das aparências. Era exatamente disso que ele precisava para lidar com aquele caso: algo ali cheirava a segredo.Ele parou diante do balcão de atendimento, onde uma recepcionista digitava algo no computador, alheia à sua presença. Eduardo pigarreou levemente, e ela levantou os olhos, visivelmente surpresa.— Com licença, sou o delegado Vasconcelos. Estou investigando o desaparecimento da senhora Estelle Karie Treventos — anunciou, exibindo sua identificação. — Preciso falar novamente com a equipe médica que estava de plantão na noite do desaparecimento.A moça, visivelmente desconfortável, assentiu rapidamente.— Claro, senhor delegado. Todos
O delegado Eduardo estacionou seu carro em frente ao hospital, com o coração acelerado. A visita à casa de Murilo havia sido frustrante, não trouxera as respostas esperadas. A casa, embora desorganizada, não revelara nenhuma pista sobre onde ele poderia ter levado Estelle. Apesar de ser o suspeito número um, nada até o momento o incriminava diretamente. A falta de evidências tangíveis só aumentava a inquietação de Eduardo.Antes de entrar no hospital, decidiu ligar para o diretor. Ele precisava ter certeza de que Silvana e Murilo estavam lá. O diretor informou que apenas Silvana estava trabalhando naquela tarde. A ausência de Murilo era mais uma peça no quebra-cabeça que não se encaixava. Eduardo respirou fundo, sentindo o peso daquela investigação sobre seus ombros. Sabia que algo estava prestes a acontecer, e Silvana poderia ser a chave para desvendar tudo. A imagem de Silvana, a atendente, não saía de sua mente. Seus gestos nervosos e a expressão tensa da última conversa se repetia
Murilo estacionou o carro nos fundos da cabana, os dedos pálidos de tanto apertar o volante. Ele havia escapado por uma fração de minutos e, ao ver o delegado entrar no hospital, teve a certeza de que Paulo e a polícia já sabiam de seu envolvimento no desaparecimento de Estelle. A cabana não era mais segura. As pessoas que o ajudaram da primeira vez haviam recusado colaborar novamente. Estava sozinho e não podia se dar ao luxo de cometer nenhum deslize. Ninguém destruiria sua felicidade ao lado de Estelle. Ninguém.Com passos rápidos, ele entrou na cabana, fechando a porta com firmeza atrás de si. Silvana entrou logo em seguida, olhou para ele e sentiu seu olhar de acusação por ela não estar dentro da casa.— Eu estava trabalhando — justificou-se, evitando o contato visual. — A enfermeira disse que mandaria uma conhecida dela cuidar da sua convidada na minha ausência.O olhar vidrado de Murilo e seu rosto pálido denunciavam o estado mental perturbado. Silvana sentiu um calafrio percorr
Murilo apareceu carregando a bandeja. Suas roupas estavam amassadas e uma saliva branca acumulava-se no canto da boca, indicando sua instabilidade. Apesar de tentar se controlar, seu estado mental perturbado era evidente.Com passos lentos, ele se aproximou da cama. Estelle instintivamente se encolheu, como se esse gesto pudesse protegê-la.— Olá, Estelle... — Murilo falou com a voz suave.Ele sorriu, exibindo uma calma controlada que contrastava com a intensidade em seus olhos.— Tenho boas notícias. Você está se recuperando maravilhosamente bem. Não é bom?Ele ajeitou a bandeja na pequena mesa ao lado da cama e continuou:— Outra coisa: vamos precisar mudar de local. Aqui não é mais seguro para você. Paulo pode aparecer a qualquer momento, e nós não queremos isso, não é verdade?Murilo inclinou-se ligeiramente, os olhos perturbados fixos nos dela.— Eles nos separaram no passado, mas agora não conseguirão. Nosso destino é ficarmos juntos, Estelle.O silêncio pesado se instalou entre
O delegado Eduardo dirigia em direção ao município na divisa com Florianópolis, seguindo uma pista que o levava a um suposto cativeiro. O sol já começava a se pôr, lançando tons alaranjados sobre a paisagem rural. A casa abandonada, localizada em um sítio em estado de decadência, parecia saída de um filme de terror. O mato alto cobria o caminho, e o portão enferrujado rangeu ao ser empurrado. Eduardo entrou cautelosamente, revólver em punho, enquanto dois agentes o acompanhavam.Dentro, o cenário era desolador. O chão estava coberto de poeira e detritos, as paredes descascadas revelavam infiltrações, e o cheiro de mofo era insuportável. Nenhum móvel, nenhum sinal de que alguém havia ocupado o local recentemente. Eduardo revirou cada cômodo, mas não encontrou nada que ligasse o lugar ao desaparecimento de Estelle. Frustrado, ele ordenou que os agentes vasculhassem o terreno, mas os resultados foram os mesmos: nenhuma evidência.— Estamos perdendo tempo aqui — murmurou Eduardo, esfregand
Estelle ouviu a chave girar na fechadura. Murilo surgiu à porta, imóvel, seu olhar calmo transmitindo um carinho que ela não via desde o início do cativeiro. Estava exausta. Tantos dias trancada naquele lugar haviam plantado em sua mente a semente cruel de que talvez estivesse sozinha no mundo – sem filhos, sem Paulo.Ele se aproximou, suas mãos frias tocando sua pele com um toque carinhoso.— Eu te amo, Estelle — ele murmurou.As palavras lhe caíram como bálsamo. Quando foi a última vez que Paulo dissera isso? Ela não conseguia lembrar. Só via a si mesma, dia após dia, esforçando-se para recuperar memórias que Paulo parecia querer manter escondidas. Se Murilo fosse seu destino... talvez aceitar fosse mais fácil. Mas seria certo? Algo dentro dela se remexia, inquieto, como um eco distante tentando alertá-la.Um sorriso fantasmagórico surgiu em seus lábios, mesmo enquanto começava a acreditar em Murilo e no amor que ele dizia sentir por ela. Mas sua mente permanecia turva, como a sombra
Estelle desceu da ambulância com a ajuda do enfermeiro. Suas pernas vacilaram – não por fraqueza, mas pelo alívio esmagador que lhe roubava o fôlego.Ela se apoiou no enfermeiro antes que desabasse no chão e, num gesto feroz, envolveu as filhas nos braços. Beijou-lhes os rostos, os cabelos, sentiu a textura das roupas, aspirou o cheiro familiar – como se precisasse de cada detalhe para ter certeza de que eram reais. — Pablo... — murmurou, a voz embargada, estendendo os braços para o filho mais novo. Mas seus músculos tremeram, recusando-se a sustentá-lo.Antes que ela pudesse fraquejar ainda mais, um homem – um vizinho? Um parente? – interveio, pegando Pablo com delicadeza.— Vamos te ajudar a entrar — sussurrou Marta.Estelle hesitou por um instante, como se seus pés tivessem criado raízes ali, naquele momento de reencontro. Então, virou-se para Marta e, sem precisar de palavras, jogou-se em seus braços. As duas se abraçaram forte, e as lágrimas vieram como uma enxurrada, sem controle
Estelle tentava, dia após dia, se adaptar à nova rotina com os filhos, Marta e Antônio, ao seu lado. Mas, por mais que se esforçasse, um peso silencioso ainda pairava sobre ela, um desconforto que parecia acompanhar cada passo. Quando soube da gravidez de sua irmã, um leve sorriso apareceu em seus lábios. A chegada de mais um membro à família era, de fato, uma boa notícia. Um novo começo, uma razão a mais para continuar. No entanto, mesmo com a felicidade por finalmente estar reunida com os seus, algo dentro dela ainda permanecia imenso e inerte, como uma sombra que não se afastava.Marta, sempre atenta às necessidades de Estelle, agendou uma consulta com uma psiquiatra de renome, recomendada por seu obstetra. Quando Paulo soube, sua reação foi imediata. Queria saber quem era a profissional, insistindo em acompanhá-la nas consultas. Mas Marta e Estelle se mantiveram firmes em sua decisão.— Paulo, essa é uma escolha que diz respeito a mim e à Estelle — Marta afirmou com firmeza, seus o