A massagem e a agressividade de Lucas passaram a fazer parte da minha vida, uma semana acariciando corpos nus, uma semana do meu pior pesadelo e meu marido achando normal, todas as vezes que o confronto ele me agride, me humilha e me diminui como mãe, mulher e profissional.
— Eu vou sumir da sua vida, quando você menos esperar eu já não estarei aqui. — eu digo enquanto tomo uma xícara de café antes de ir trabalhar.
— Nem disso você é capaz, você me ama e sabe que eu também te amo, nascemos um para o outro, eu nunca permitirei que você saia da minha vida— Lucas fala em um misto de doçura e acidez que me assombra.
— Ah meu querido, eu não apostaria nisso! — Respondo revirando os olhos e me levanto para sair de casa.
Desde que comecei a trabalhar, meus filhos passam o dia na casa dos avós, Lucas me leva e me busca mesmo eu dizendo que prefiro pedir um Uber ou usar ônibus, hoje ele não disse nada o trajeto todo.
Chego no serviço, a Jady está viajando para atender em outra cidade e meu santo não bateu com o da massagista dessa semana.
— E aí novata, está gostando?— Ela pergunta assim que saio do meu primeiro atendimento.
— Sim! — Respondo simples e passo direto para a copa, não quero interagir com ela.
Felizmente chega um cliente e eu posso ficar na recepção que é muito mais confortável e fresco.
— Luna, por que veio trabalhar aqui? — Vivi pergunta com o mesmo sorriso de sempre.
A pergunta me pegou completamente de surpresa e eu não faço ideia do que dizer, não sei se a verdade seria uma boa ideia.
— Para ajudar em casa, o salário é bom! — Respondo indiferente.
— Hã! E tá gostando? — Ela continua.
— Estou me adaptando! — Respondo e agradeço a Deus por surgir um novo cliente para mim.
Enquanto ele não chega, corro para me arrumar, o assunto estava seguindo um rumo muito desagradável para o meu gosto.
Estou cada vez mais conformada com a situação, tenho trabalhado bastante meu eu interior para excluir as crenças limitantes e assim não ter preconceito com a minha própria profissão.
Embora no início eu acreditasse que era uma prostituição, hoje eu consigo ver que não tem nenhum problema e que é uma massagem terapêutica.
— Nossa trouxeram a mais bela massagista do país para cá, gostei! — Ele diz me fazendo girar no meio do quarto.
— Exagero o seu! — Respondo com um sorriso gentil, contudo me seguro para não revirar os olhos na frente dele.
Sou obrigada a ouvir todo tipo de babaquice masculina, mas sorrio e faço cara de paisagem pois uma reclamação e lá vem problemas, não só com a Samantha, que é a patroa, como com Lucas que fica irritado e agressivo.
Começo fazendo uma massagem relaxante nos pés e pernas, e por ele estar de bruços na cama, aproveito para fazer careta a cada comentário lixo que ele faz.
— Você aceita um extra? — Ele questiona e eu sei que está querendo sexo.
— Não! Eu sou casada, faço apenas a massagem. — Respondo seca.
Quase todas as meninas aceitam fazer um extra com os clientes, que consiste basicamente em transar com o paciente após a massagem, contudo eu não estou incluída nessa lista.
Sigo o atendimento e agora tenho de olhar para o meu cliente enquanto deslizo meu corpo sobre o dele, provocando-lhe sensações peculiares.
— Não seja ruim, não precisa ninguém saber! — Ele insiste beijando meu queixo.
— Não é não, eu não faço nada além da massagem e você entrou ciente disso— Repito em um tom de voz ríspido.
Nessas horas eu sinto ainda mais ódio de Lucas e hoje eu vou dar um fim nisso tudo, assim que eu chegar em casa eu acabo com isso.
— Luna, Luna! — O paciente fala em um tom de voz que me assusta, depois corre sua mão em meu corpo e me deita na cama prendendo-me com suas pernas.
— Eu vou gritar! Me solta agora— Falo me debatendo sob o domínio dele.
— Daqui a pouco eu te solto, agora quero brincar com você! — Ele diz beijando meu pescoço e passando sua mão pelo meu corpo.
Esse sentimento de humilhação me destrói, sinto lágrimas brotarem em meu rosto e uma força anormal aflorar em minha pele, me desvencilho desse maldito e corro para fora do quarto gritando por ajuda.
Vivi corre em minha direção e me enrola a uma toalha, me guia para o quarto de apoio e então vai até o paciente, ouço vozes alteradas e uma pequena confusão, mas não me atrevo a sair lá fora apenas me visto e junto minhas coisas colocando tudo em uma bolsa.
Quando finalmente ele vai embora, Vivi entra no quarto e me abraça, seu silêncio diz muito mais que muitas palavras que ouvi nos últimos dias.
— Eu vou embora e não voltarei nunca mais! — Falo chorando sem tirar meu rosto do seu ombro.
— Nós sabemos que você vai voltar, infelizmente sabemos que sim… — Ela diz alisando meu cabelo.
— Como assim? Do que você está falando? — Pergunto confusa e olhando-a nos olhos.
— Eu sei muito mais do que imagina, e também estou aqui há anos sei exatamente o que esperar de cada um, sei que você é uma boa pessoa e que não deveria estar aqui, mas está e por mais que queira você não vai conseguir se livrar. — Ela diz e me solta.
— Eu vou para casa agora! — Digo firme.
Ela me entrega uma nota alta, abre a porta e me deseja boa sorte, sou pega de surpresa, de acordo com o qie ela acabará de dizer pensei que iria me impedir de sair, porém fez exatamente o contrário.
Atravesso o portão e peço um Uber, minha mente está acelerada e eu não vou ceder a essa humilhação nem mais um dia, hoje eu vou resolver isso.
Entro em casa, Lucas está sentado no portão com cara de poucos amigos ele sorri com maldade ao me ver o que faz com que eu fique apavorada, ao seu lado sobre o assento há um cinto dobrado.
Corro os olhos por todo o ambiente, as crianças não estão em casa, dou um passo atrás, mas Lucas se levanta e me puxa pelo braço.— Então agora você quer me humilhar na frente das pessoas? — Ele pergunta segurando meu cabelo e me fazendo olhar para ele.— Isso é o que você está fazendo comigo, não o contrário, me solta Lucas! — Peço me contorcendo de dor.— Eu quero saber exatamente o porquê de você estar em casa hora dessas e da sua patroa me ligar dizendo que você causou constrangimento ao paciente, começa a falar! — Ele fala muito alterado e me joga com força no sofá.Olho amedrontada e começo a falar que não quero mais esse emprego e que não vou mais voltar, Lucas me olha de um jeito assustador.Ele me pega pelos braços, me sacode e soca minha face fazendo sangrar, levo a mão ao rosto e me desperto em choro ao sentir o sangue descendo e sujar minha roupa e o chão. Lucas me olha confuso e me abraça, instantaneamente começa a me pedir perdão e dizer que me ama.— Me solta, Lucas! —
Pedro é um excelente paciente, sempre delicado e carismático, não avança limites e tem uma conversa saudável, porém não posso desabafar com ele, aqui nunca sabemos quando é um cliente de verdade ou um teste para ver nossa conduta e ele é um dos mais antigos da casa.— Não há sombras aqui, me fala de você, do seu dia, do serviço… — Mudo o rumo da conversa pegando em suas mãos, sentando-nos nas poltronas frente a frente no quarto.— Sabemos que há, mas se não se sente segura em conversar sobre isso eu respeito sua decisão, não está mais aqui quem lhe perguntou. — Ele diz levantando as duas mãos em sinal de rendição. — Meus dias são solitários e frios, só ganham sentido quando estou sob seus cuidados, a melhor massagem é só você quem faz— Ele me elogia e me arranca um sorriso sincero.Dentre todos os atendimentos que fiz desde que cheguei, Pedro é o único com quem não me sinto humilhada ou desconfortável, enquanto conversamos começo a tirar sua roupa e lhe entrego uma toalha para que ele
Paro o que estou fazendo e fico refletindo sobre a última vez que fui embora, melhor eu segurar minha emoção e aceitar que essa é a minha vida até que eu tenha um plano conciso para sair dela.Finalmente chegou minha hora de ir para casa, só de pensar que nas próximas semanas começarei a fazer escala noturna meu estômago revira, dizem que é quando vem os piores clientes.Lucas me busca como de costume, e para minha surpresa ele está com o humor agradável, cumprimento-o e ele faz um carinho sutil em meu rosto, gesto que me arranca um sorriso involuntário.— Cansada? — Ele pergunta enquanto dirige, nessas horas eu esqueço todos os problemas do mundo, ter a atenção e o cuidado do Lucas é tudo que mais almejei na vida.— Sim meu amor, mas faz parte do processo né? Vida, ao chegar em casa quero conversar com você… — Digo receosa, contudo não posso deixar de lado.Eu e minha boca, podia ter esperado chegar em casa para tocar nesse assunto, nem falei sobre o que é e ele já está me olhando ir
Boa coisa não posso esperar, Lucas anda cada dia pior e mais agressivo, preciso pisar em ovos com ele para não ser espancada até desmaiar.Me arrumo e faço exatamente o que ele me ordenou, assim que chego do pai dele ele me chama para irmos. A única coisa que consigo sentir é medo, meu corpo repulsa toda e qualquer ideia positiva que tento formar, mas é compreensível dados os últimos acontecimentos.Percorremos várias ruas, e pegamos a estrada para a saída da cidade, quando percebo que estamos nos afastando sinto minha barriga gelar e meu coração errar as batidas.— Onde vamos? — Arrisco perguntar.— Só espera meu amor, você já vai ver! — Lucas responde puxando minha mão e colocando sobre a perna dele.Não insisto, fixo meu olhar na via movimentada e dou espaço aos meus pensamentos, neste momento me vejo imaginando meus atendimentos ao Pedro, repreendo essa insanidade e volto a pensar nas mudanças da minha vida.Depois de alguns quilômetros paramos em um pesque e pague, desço do carro
As marcas em meu corpo estão cada vez mais difíceis de ser escondidas, mas me esforço, por vezes preciso pedir ajuda de Vivi para passar maquiagem nas minhas costas.Por mais que eu tivesse evitado ao máximo contar sobre as agressões que venho sofrendo, chegou em um ponto em que eu não tinha como esconder, ela está revoltada com Lucas e vive me cobrando uma atitude, porém não quero deixar meu marido.— Da vontade de te bater! Cara, tu é linda, jovem, inteligente e tem um futuro pela frente, eu sei que você não está aqui por escolha sua, mete o pé, deixa esse babaca e vai atrás da sua felicidade. — Vivi fala enquanto cobre as marcas nas minhas costas.— Ele vai mudar… ele me prometeu! — Começo a argumentar, mas paro quando ela me olha brava.—Para Luna, tem um mês que você está aqui e todo dia você tem um novo hematoma, os dias que ele não te bateu não enchem os dedos de uma mão.Vivi se tornou uma confidente, sou grata por tê-la aqui para me ajudar e me aconselhar, mesmo que eu não si
Entro no escritório, que é o único cômodo onde existe um mínimo de privacidade, Vivi não está com cara de muitos amigos, um medo cortante atravessa meu coração, será que Lucas disse algo que possa me prejudicar com a louca da Samantha? Não, ele não faria isso, não faria mesmo.— Eu vou conversar com a Thamires, não com a Luna e se eu estou me dando ao trabalho de falar é porque eu me importo, menina você não tem juízo?— Não estou aberta a sermões! — Respondo. — Thamires, presta atenção na sua vida garota, você viu o que você fez hoje? A vida está te dando uma oportunidade de ser feliz e você não está valorizando. Menina o Pedro é milionário, aqueles presentes não fizeram nem cócegas no bolso dele, mas ainda que você não ficasse, que só pegasse e vendesse você teria mais dinheiro do que trabalhar um ano aqui— Ela fala e se senta em minha frente, visivelmente irritada.Eu tento retrucar e falar alguma coisa a mais, contudo sou interrompida e lavada com as verdades mais doloridas que e
Estou sentada conversando com Vivi, Jaddy está viajando para atender em outra filial, quem está no lugar dela é Ana, não tenho nada contra, mas ela não me transpira confiança.— Seu paciente está a caminho, Ana! — Vivi avisa, assim que ela passa para a copa, já pronta para o atendimento.— Certo, vou apenas beber uma água! — Ela responde.Não demorou até que o paciente parasse na porta, Ana correu para atendê-lo, olhei de relance para ver se conhecia, mas foi muito pior do que pude imaginar.— Pedro! — A surpresa saiu quase inaudível.Ele cumprimentou Vivi e acompanha a terapeuta, ele ignorou completamente a minha presença, fico incrédula, Ana me lança um olhar de deboche e nesse momento eu consigo odiá-la.— Luna, ele não quis ser atendido por você, eu tentei, mas entenda que você está se desfazendo dele. — Vivi fala me olhando com carinho.— Tudo bem! — Respondo visivelmente chateada. Saio da recepção e me deito no quarto, tento me convencer de que está tudo bem e que ele é apenas
Chego no espaço com o corpo ainda dolorido, Lucas me deu uns sacode sabe Deus por qual razão, felizmente mais leve que os últimos, me alegro ao ver que Jaddy está de volta, se eu pudesse escolher ela nunca iria para outras cidades.— Voltei, agora senta aqui e me conta todos os babados, sei que rolou muita água aqui — Jaddy fala puxando uma cadeira e olhando para o relógio na parede da copa— ainda temos um tempinho até começar os atendimentos.Como sei que não conseguirei fugir dessa fofoca atualizo-a sobre tudo que aconteceu e deixo claro a falta que ela faz quando está longe, só não falo sobre as violências do Lucas que se tornaram frequentes e mais intensas, não quero ouvir julgamentos, não hoje e não agora.— Mas conta para gente, rolou ou não? — Vivi pergunta animada querendo saber se transei com Pedro.— Não, eu não transei com ele, se é isso que as minhas fofoqueiras favoritas estão querendo saber! — Corto a esperança delas.— Se toca Luna, vai deixar o boy cansar do seu joguin