Pedro é um excelente paciente, sempre delicado e carismático, não avança limites e tem uma conversa saudável, porém não posso desabafar com ele, aqui nunca sabemos quando é um cliente de verdade ou um teste para ver nossa conduta e ele é um dos mais antigos da casa.
— Não há sombras aqui, me fala de você, do seu dia, do serviço… — Mudo o rumo da conversa pegando em suas mãos, sentando-nos nas poltronas frente a frente no quarto.— Sabemos que há, mas se não se sente segura em conversar sobre isso eu respeito sua decisão, não está mais aqui quem lhe perguntou. — Ele diz levantando as duas mãos em sinal de rendição. — Meus dias são solitários e frios, só ganham sentido quando estou sob seus cuidados, a melhor massagem é só você quem faz— Ele me elogia e me arranca um sorriso sincero.Dentre todos os atendimentos que fiz desde que cheguei, Pedro é o único com quem não me sinto humilhada ou desconfortável, enquanto conversamos começo a tirar sua roupa e lhe entrego uma toalha para que ele se lave, embora não seja necessário, o homem chega aqui impecavelmente limpo e cheiroso.Quando ele sai do banheiro o quarto já está todo preparado, então ele se deita e eu começo a fazer a massagem, começo pela relaxante em seus pés e pernas para então seguir com a Nuru, tudo vai bem até que um lapso de memória atinge meu coração e meus olhos se enchem de lágrimas.O momento é delicado e eu agradeço a Deus por Pedro estar de costas para mim, passo meu antebraço nos olhos secando as lágrimas, dou uma respirada profunda e então continuo, realmente há uma nuvem carregada sobre mim e ela está densa.— Tem certeza que não quer conversar? Eu consigo sentir daqui! — Pedro fala enquanto deslizo meu corpo sobre o dele.— Tá! — Respondo me sentando ao seu lado e permitindo que as lágrimas desçam— Dane-se caso isso seja um teste, bom que eu sou demitida e acaba essa tortura.— Calma! Fica tranquila, isso não é um teste, eu realmente estou preocupado com você, o que está acontecendo? — Ele pergunta com a voz tranquila e junta seu corpo ao meu.Desabafo sobre meu casamento e esse emprego, não sei porque, mas eu coloquei para fora tudo que estou sentindo, em como odeio essa humilhação a qual meu marido tem me feito passar e em como eu desejo que tudo isso não passe de um pesadelo.Ele me abraça e me escuta com atenção, abraçado ao meu corpo nu ele acaricia meus cabelos e da beijos suaves em meu ombro, quando finalmente recobro um mínimo de sanidade mental, percebo que já excedemos o tempo dele, isso significa que estou encrencada em mão um quesito.— Você está com um machucado na face, foi seu marido? — Ele pergunta me olhando com atenção e passando o dedo com suavidade sobre o corte quase imperceptível devido a maquiagem.Não uso palavras, mas o meu silêncio e meu olhar respondem por mim, ele soca a cama enquanto espregueja Lucas.— Não fala assim, eu o amo! — Defendo, mesmo sabendo que não deveria.— Você sabe que não ama, você está se prendendo a uma ilusão, mas sabe que merece muito mais do que essa migalha que tem recebido— Pedro fala sério, enquanto começa a se vestir.— Não precisa pagar esse atendimento, eu não fiz sua massagem, ainda te aluguei com meus problemas.— Falo sem jeito, não é justo que ele pague tão caro por algo que não usufruiu.— O menor dos meus problemas é o dinheiro, e o maior deles é a covardia que esse fulano tem feito a você… — Ele interrompe a própria fala e sai do quarto impaciente.Começo a organizar tudo novamente e em poucos minutos Vivi chega com uma expressão séria, hoje ela tá cheia de cara e bocas e isso me deixa tensa.— Como foi? Por que demoraram tanto? Teve um extra né danadinha… — Ela fala toda saliente.— Foi normal, a demora foi por ficarmos conversando… — Começo a me explicar, mas sou interrompida.— A sua gorjeta diz muito sobre o tipo de conversa que tiveram, mas fica tranquila que não vou lançar no seu atendimento para não haver problemas com seu marido, vai ser nosso segredo— Ela diz toda animada e volta para a recepção.O dia graças a Deus não é com muitos atendimentos, eu não teria ânimo para ser simpática com diversas pessoas, fico pensando em tudo que conversei com Pedro e também na noite infernal que passou, por que Deus? Por que eu tenho que amar tanto o Lucas, um amor que me coloca em segundo plano e me faz aceitar esse tipo de situação.Sem previsão para novos atendimentos me deito no quarto de apoio e fico assistindo uma série, mas meu sossego dura pouco, Vivi me chama para avisar que Samantha está no escritório e deseja falar comigo, um gelo percorre meu corpo, mas respiro fundo e vou até ela, nada é tão ruim que não possa piorar.— Licença, pediu para falar comigo? — Falo abrindo a porta e me apresentando.— Sente-se Thamires! — Samantha diz me olhando firme e me indicando a poltrona de couro em frente a sua mesa. Obedeço a ordem, firmo meu olhar sobre ela e aguardo que ela comece, mesmo sabendo que tudo o que for conversado aqui chegará ao ouvido de Lucas, não estou disposta a ouvir nada que me deixe desconfortável, basta ter de me humilhar atendendo esses homens todos ué vem aqui.— Sobre o que falaremos? — Pergunto impaciente.— São tantos os temas, mas vou falar dos que me interessam verdadeiramente. — Ela fala se levantando e caminhando em toda a sala. — Digamos que nós duas pegamos o caminho errado e por isso estamos tendo alguns problemas, você não é uma inimiga, muito pelo contrário todas vocês são como filhas par mim e eu não quero ter que ligar para o Lucas e dizer que você está me causando prejuízos… então o que eu quero de você é cordialidade nos atendimentos, que você trate meus clientes bem e atenda seus desejos— Ela fala e meus ouvidos sangram com essas palavras.— Você quer que eu transe com eles? — Pergunto levantando e olhando para ela seriamente.— Não são todos e o que custa? Você vai ganhar mais por isso! — Ela fala com naturalidade.— Foda-se você e seus "querer", eu não vou fazer nada só para te agradar e se quer mesmo usar o Lucas como ameça, liga para ele diz que eu acabei de te mandar enfiar sua massagem bem no centro daquele lugar, sua ridícula. — Grito alto e saio batendo a porta atrás de mim, pego minhas coisas e a cena se repete, digo que vou embora, mas dessa vez Vivi tenta me convencer a ficar.— Esfria a cabeça, pensa em como foi da outra vez… — Vivi diz me puxando pelo braçoParo o que estou fazendo e fico refletindo sobre a última vez que fui embora, melhor eu segurar minha emoção e aceitar que essa é a minha vida até que eu tenha um plano conciso para sair dela.Finalmente chegou minha hora de ir para casa, só de pensar que nas próximas semanas começarei a fazer escala noturna meu estômago revira, dizem que é quando vem os piores clientes.Lucas me busca como de costume, e para minha surpresa ele está com o humor agradável, cumprimento-o e ele faz um carinho sutil em meu rosto, gesto que me arranca um sorriso involuntário.— Cansada? — Ele pergunta enquanto dirige, nessas horas eu esqueço todos os problemas do mundo, ter a atenção e o cuidado do Lucas é tudo que mais almejei na vida.— Sim meu amor, mas faz parte do processo né? Vida, ao chegar em casa quero conversar com você… — Digo receosa, contudo não posso deixar de lado.Eu e minha boca, podia ter esperado chegar em casa para tocar nesse assunto, nem falei sobre o que é e ele já está me olhando ir
Boa coisa não posso esperar, Lucas anda cada dia pior e mais agressivo, preciso pisar em ovos com ele para não ser espancada até desmaiar.Me arrumo e faço exatamente o que ele me ordenou, assim que chego do pai dele ele me chama para irmos. A única coisa que consigo sentir é medo, meu corpo repulsa toda e qualquer ideia positiva que tento formar, mas é compreensível dados os últimos acontecimentos.Percorremos várias ruas, e pegamos a estrada para a saída da cidade, quando percebo que estamos nos afastando sinto minha barriga gelar e meu coração errar as batidas.— Onde vamos? — Arrisco perguntar.— Só espera meu amor, você já vai ver! — Lucas responde puxando minha mão e colocando sobre a perna dele.Não insisto, fixo meu olhar na via movimentada e dou espaço aos meus pensamentos, neste momento me vejo imaginando meus atendimentos ao Pedro, repreendo essa insanidade e volto a pensar nas mudanças da minha vida.Depois de alguns quilômetros paramos em um pesque e pague, desço do carro
As marcas em meu corpo estão cada vez mais difíceis de ser escondidas, mas me esforço, por vezes preciso pedir ajuda de Vivi para passar maquiagem nas minhas costas.Por mais que eu tivesse evitado ao máximo contar sobre as agressões que venho sofrendo, chegou em um ponto em que eu não tinha como esconder, ela está revoltada com Lucas e vive me cobrando uma atitude, porém não quero deixar meu marido.— Da vontade de te bater! Cara, tu é linda, jovem, inteligente e tem um futuro pela frente, eu sei que você não está aqui por escolha sua, mete o pé, deixa esse babaca e vai atrás da sua felicidade. — Vivi fala enquanto cobre as marcas nas minhas costas.— Ele vai mudar… ele me prometeu! — Começo a argumentar, mas paro quando ela me olha brava.—Para Luna, tem um mês que você está aqui e todo dia você tem um novo hematoma, os dias que ele não te bateu não enchem os dedos de uma mão.Vivi se tornou uma confidente, sou grata por tê-la aqui para me ajudar e me aconselhar, mesmo que eu não si
Entro no escritório, que é o único cômodo onde existe um mínimo de privacidade, Vivi não está com cara de muitos amigos, um medo cortante atravessa meu coração, será que Lucas disse algo que possa me prejudicar com a louca da Samantha? Não, ele não faria isso, não faria mesmo.— Eu vou conversar com a Thamires, não com a Luna e se eu estou me dando ao trabalho de falar é porque eu me importo, menina você não tem juízo?— Não estou aberta a sermões! — Respondo. — Thamires, presta atenção na sua vida garota, você viu o que você fez hoje? A vida está te dando uma oportunidade de ser feliz e você não está valorizando. Menina o Pedro é milionário, aqueles presentes não fizeram nem cócegas no bolso dele, mas ainda que você não ficasse, que só pegasse e vendesse você teria mais dinheiro do que trabalhar um ano aqui— Ela fala e se senta em minha frente, visivelmente irritada.Eu tento retrucar e falar alguma coisa a mais, contudo sou interrompida e lavada com as verdades mais doloridas que e
Estou sentada conversando com Vivi, Jaddy está viajando para atender em outra filial, quem está no lugar dela é Ana, não tenho nada contra, mas ela não me transpira confiança.— Seu paciente está a caminho, Ana! — Vivi avisa, assim que ela passa para a copa, já pronta para o atendimento.— Certo, vou apenas beber uma água! — Ela responde.Não demorou até que o paciente parasse na porta, Ana correu para atendê-lo, olhei de relance para ver se conhecia, mas foi muito pior do que pude imaginar.— Pedro! — A surpresa saiu quase inaudível.Ele cumprimentou Vivi e acompanha a terapeuta, ele ignorou completamente a minha presença, fico incrédula, Ana me lança um olhar de deboche e nesse momento eu consigo odiá-la.— Luna, ele não quis ser atendido por você, eu tentei, mas entenda que você está se desfazendo dele. — Vivi fala me olhando com carinho.— Tudo bem! — Respondo visivelmente chateada. Saio da recepção e me deito no quarto, tento me convencer de que está tudo bem e que ele é apenas
Chego no espaço com o corpo ainda dolorido, Lucas me deu uns sacode sabe Deus por qual razão, felizmente mais leve que os últimos, me alegro ao ver que Jaddy está de volta, se eu pudesse escolher ela nunca iria para outras cidades.— Voltei, agora senta aqui e me conta todos os babados, sei que rolou muita água aqui — Jaddy fala puxando uma cadeira e olhando para o relógio na parede da copa— ainda temos um tempinho até começar os atendimentos.Como sei que não conseguirei fugir dessa fofoca atualizo-a sobre tudo que aconteceu e deixo claro a falta que ela faz quando está longe, só não falo sobre as violências do Lucas que se tornaram frequentes e mais intensas, não quero ouvir julgamentos, não hoje e não agora.— Mas conta para gente, rolou ou não? — Vivi pergunta animada querendo saber se transei com Pedro.— Não, eu não transei com ele, se é isso que as minhas fofoqueiras favoritas estão querendo saber! — Corto a esperança delas.— Se toca Luna, vai deixar o boy cansar do seu joguin
Eu só posso ter jogado pedra na Cruz, não aguento mais tanta pancadaria, meu Deus! — Para Lucas, pelo amor de tudo que é mais sagrado, para! — Eu imploro enquanto ele me joga de um lado para o outro sem sequer ouvir o que estou falando.— Vagabunda! Você é uma vergonha na minha vida, um desgosto atrás do outro. — Ele fala e eu fico sem entender.— O que eu fiz? Para… por favor, para! — Peço com a voz embargada pelo choro.— Agora não sabe o que fez? Tadinha dela, tão pura e tão inocente! Quem não te conhece que te compre, você é a mais pilantra de todas que já conheci, aquelas que fazem e posam de boa moça. — Ele fala e me joga contra a parede, minhas vistas ficam escuras e eu desmaio.Não sei quanto tempo fico jogada no chão,as acordo com a voz do Lucas no telefone, ele está tão fofo e calmo, sinto inveja da pessoa do outro lado da linha, ainda que não faça ideia de quem seja.— Esse adjeto ruim está aqui, dei uma sova bem dada para aprender a me respeitar, agora tá ali fingindo est
Eu estou quase ficando louca, já não tenho onde procurar pistas de com quem Lucas está se relacionando, quem é essa mulher que conseguiu se por entre nós dois. Já faz mais de uma semana que o meu marido não dorme em casa, só o vejo nos horários de ir trabalhar ou voltar para casa, ele não me permite sequer ir ver nossos filhos na casa da minha mãe.Preciso dar um jeito nisso, resgatar o homem que ele era e reconstituir a minha casa, o meu lar. As pessoas não entendem o porquê de eu estar suportando tudo isso, mas a questão é que eu o amo e acredito em Deus, fui uma tola e destruí a minha casa, agora estou tentando reconstruir.O trabalho é um caos, me destrói por dentro e por fora, eu cedi às tentações e trai o meu marido, ainda não acredito que beijei outro homem, contudo aceito para que Lucas veja meu empenho em ajudar e possa me ver com outros olhos, não como a inútil e covarde que ele sempre disse que sou. Essa semana eu recebo, se ele pegar o dinheiro eu não vou reclamar, ele é