Capitulo 5

Jackson

Minhas mãos agarram o volante com certa força, apesar de manter a expressão tranquila.

Kobe está ao meu lado, distraído com algo em seu celular.

― O que achou? – Perguntei fazendo-o me olhar.

― Simplesmente incrível. São ótimos planos para a empresa e também para nosso tipo de mercado.

― Estou falando em relação a Florence.

― Ah sim! Bem, ela é uma mulher e tanto, poucas mulheres são tão profissionais como ela. Além de ser bem objetiva, como ela descobriu que você usava? Cara, ela é muito observadora, como uma leoa, sabe, olhando tudo e estudando cada movimento, esperando o momento certo para dar o bote. Fala nas horas certas e se porta muito bem em encontros sociais. Ela gostou de você, pelo o que pareceu.

― Ela sabia sobre a droga porque era ela a mulher de ontem no clube.

― Como assim? – Kobe me olhou perplexo.

― É. Eu me punhetei pensando na minha possível nova socia.

― Caralho, que insano! – Riu – Ela gostou de você, cara! Ela mesma disse isso.

― Eu não devo fazer o tipo dela, Kobe. Esse tipo de mulher gosta de homens brancos com pau rosa e pulseiras de couro.

― Irmão, tu não pode tá falando sério. – Me olhou incrédulo – Não percebeu o jeito que ela te olhou? Ela te observou a cada segundo desde que entramos naquela sala. Ela te comeu com os olhos e você nem percebeu. Aquela mulher tem personalidade e poder, o tipo dela é o que ela falar que quer.

― Tem aquele Mike... Ele parece gostar dela e eles provavelmente já tiveram um affair ou têm.

― Jack, relaxa cara. Deixa acontecer naturalmente. Se for pra rolar alguma coisa entre vocês dois, vai rolar.

― Sei lá, é muito estranho, eu a conheci a dois dias e já estou aqui maluco sem conseguir tira-la da cabeça.

― É negão, já te falei que tem que parar de romantizar tudo. Talvez tudo que você consiga seja uma simples foda, se romantizar isso, vai sentir demais e acabar se apaixonando. – Kobe tem toda razão. Mas eu não sou troglodita que trata uma mulher com desrespeito. Kobe quando está com alguma das mulheres dele, as chama por nomes horríveis como: Vadiazinha, Putinha do papai, Boquinha de veludo, etc..

São nomes como este que me fazem lembrar de como meu pai era com a minha mãe e de como ela sofria com ele. Tudo porque se envolveu com um gangster cretino e se apaixonou, engravidou cedo demais e não concluiu os estudos. Trabalhava meio período numa lanchonete e ainda tinha que ouvir gracinha de meu pai quando chegava em casa. Passei um longo período da minha vida em colégios públicos internos, era melhor para me manter afastado de meu pai, já que minha mãe trabalhava e ainda fazia alguns bicos pra fora.

Depois de me formar na primeira faculdade aos 21 anos, arrumei um bom emprego e consegui juntar dinheiro o suficiente para mudar de cidade com minha mãe, pagava o aluguel e ela me ajudava com o restante das despesas. Alguns anos mais tarde, eu consegui ir para uma outra faculdade no Afeganistão e novamente eu levei minha mãe. Nós vivíamos bem por lá e ela já não se preocupava tanto com o aluguel da casa porque tínhamos eu e Kobe para pagar, ela tinha outras despesas com a casa, como encher a dispensa para a fome de dois negões.

Um ano antes de concluir a faculdade de ambientalismo, eu e Kobe arrumamos um emprego clandestino em uma das plantações de ópio do país. Aprendemos muito sobre o cultivo e tudo mais, o dinheiro era bom e logo conseguimos voltar para a França. Ao chegar lá, recebemos a notícia de que meu pai havia falecido de overdose cinco meses antes. Mamãe chorou muito e quis ir ao túmulo dele. Eu não consegui sentir nada, nem remorso e muito menos tristeza, ele não foi um pai pra mim e por mais que todos tenham me repreendido por isso, eu fiquei muito aliviado. Por que mesmo ele na idade que estava, conseguia perturbar a vida da minha mãe e eu não suportava isso. Levávamos uma vida ótima agora, comprei uma casa para ela no mesmo bairro que o meu em Paris e temos um contato muito grande.

Após chegarmos no hotel, tomei uma ducha rápida e me deitei, não havia mais que fazer. Por um longo tempo eu pensei em Florence, em como ela deve ser como mulher normal, no dia a dia sabe. Pensei tanto que peguei no sono.

Acordei horas depois. Me sentei na cama e olhei pra janela, já era noite. Peguei no celular e marcava sete horas. “Chama perdida – discador desconhecido” não vai ter como retornar, vou esperar até ligarem novamente. Por um breve momento, passou pela minha cabeça que poderia ser Florence, mas eu não dei meu número para ela, então não. Afastei qualquer tipo de pensamento e fui pro banheiro tomar uma ducha. Assim que saí do box, peguei no celular e tinha duas mensagens no WhatsApp.

Florence Russel: Estarei fazendo uma pequena reunião de amigos na minha casa hoje. Espero que compareça! Tentei ligar, mas você não atendeu...

Kobe: Mulherzinha. Florence acabou de me mandar uma mensagem convidando a gente pra uma festa na casa dela. Disse que começaria as 21:00. Nós vamos, certo?

Respondi Florence avisando que estava dormindo e por isso não consegui atender, mas que iria sim. O mesmo eu fiz com Kobe.

Eu só quero conhece-la melhore e se ela me der algum indicio de que está mesmo interessada em algo a mais, aí sim eu vou investir. Kobe tem razão quando diz que eu romantizo demais as coisas...

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