Uma noite para mim

Salete até me chamou para tomar um chope com ela, mas não entendi porque recusei; na verdade, eu sou aquela pessoa que se sente insegura sem carro, mesmo sabendo que a talvez não conseguiria voltar dirigindo, eu odiava ficar sem carro e recebo uma foto de Marjorie e a prima de Letícia, Rebecca com algumas jovens que nem elas. Eu fico feliz que ela tenha algum divertimento, que eu não tenha de colocar a mão no bolso, mas era absurdo eu todo tempo, pensar em dinheiro, de como manterei as coisas sendo que minha mãe ganhar cinco vezes mais do que eu ganho e mesmo assim, ela é incapaz de enxergar que eu gostaria também de ter uma vida que não fosse baseada no que é importante para os outros.

— Sabe de uma coisa, eu vou sair. Tenho tantas vestidos bons e mal os uso e antes de vende-los como já fiz algumas vezes. — Eu conversava com o espelho, após levantar de uma poltrona localizada perto da janela do meu quarto e ver o movimento da avenida e ruas próximas. Eu não era de fumar muito, mas eu fumava; é comum na minha família, eu gosto do mesmo cigarro que meu pai gostava, o Davidoff e Black Menta, onde escondia de Marjorie por ser muito nova e de Leona, essa última se descobrir, me deixa sem. Ela sabe que o problema de minha avó foi o cigarro, mas quem que liga quando se precisa de um pouco de prazer quando não se tem muito. Pensei em pegar um bom vinho que minha mãe guarda em seu armário, mas eu queria mais que vinho, eu queria um encontro, um b**e papo com um desconhecido que pagaria uma pra mim, e quem sabe, me fizesse me sentir importante por algumas horas dessa noite.

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Peguei um táxi e fui para no Itaim Bibi, aproveitar sua noite boêmia. Entrei no Village Margot, uma boate com muita classe e que tem um bar muito bacana e conhecia um dos atendentes. Marcelo começou a fazer economia comigo, mas ele viu que não era para ele e eu precisei trancar, como sempre, por questões financeiras. Fiquei buscando ele sentada no bar, mas não o vi, pedi um Martini e perguntei para um belo bartender com olhos e perfil árabe que sorria e era gentil.

— Ele está de férias com a namorada. Ele pediu uma semana, na próxima ele já estará aqui.

— Obrigada! — Disse, elogiando a perfeição de seus olhos.

Eu não estava flertando com ele, mas gostava de puxar assunto, me fazer presente.

— Qualquer coisa, você pode me chamar, esse é Jeferson. Ela é amiga de Marcelo!

— Prazer!

— A senhora quer uma mesa?

Olhei para cara dele e eles logo consertaram. Eu estava cansada, não fiz um boa maquiagem e meus cremes para olheiras e pele firme haviam acabado há um tempo, eu só comprava mesmo o filtro solar e  mesmo assim eu tenho vinte quatro anos prestes a fazer vinte e cinco, mas entendo que demostrava ser uma lutadora e matava um leão por dia.

— Agora não. Acho que quero beber mais. Que drink vocês me sugerem?

Ficamos ali, batendo um papo entre um cliente e outro, mas nada chegava em mim. Nem um conhecido, nenhum desconhecido; nada sentava ao meu lado e pensei .em ir para a pista, pois já me sentia bem altinha experimentando várias bebidas que aqueles gentis bartenders me serviam. Sei que aquela conta ficaria bem alta e meu cartão de crédito certamente seria usado pela primeira vez nesse mês.

— Quero mais uma com gin.

— Andrezza, oi!

Olhei para o lado e levei um susto, não era o que eu esperava.

— Juliano, que infelicidade te encontrar aqui!

— Nossa. Pensei que depois de tanto tempo.

— Eu já vou para casa. Meu amigos, pode me dar a conta, por favor!

— Sua mãe me ligou e disse que você saiu e como você gosta desse local eu pensei que podíamos...

— A gente não pode nada! A gente não tem nada um com o outro mais, nem amizade! — Disse fria e deixando alerta Jeferson que acompanhava de perto a situação. Certamente, eles são preparados para interferir caso saia do meu controle.

Cheguei a tremer em vê-lo e mais ainda quando ele fala que minha mãe comunicou a ele que tinha saído. Minha mãe não tem ideia do que eu passei na mão dele. O carisma que ele tem, as flores e presentes que ele me deu, não foram suficientes para tirar o tapa que ele me deu após sentir ciúmes, isso foi a gota d’água, mas já vinha sofrendo intimidação, humilhação entre outras abordagens que ele se sentia seguro em fazer comigo. Estávamos numa festa, um churrasco na casa de seus pais, minha mãe se sentiu em casa, eles não são tão ricos como a minha família era, mas seus pais são bem relacionados no meio jurídico e político. Ele como sempre era um gentleman; sorridente, gentil, gesticulando e falando sobre vários assuntos com precisão e quando todos estavam cansados e cheios, a música baixa já demostrava fim de festa, ele me chama para o quarto, como se estivesse tudo bem e eu achando que ele iria me agarrar e me beijar loucamente como ele fazia quando bebida além da conta; e assim que ele fecha a porta, ele me dá um belo de uma tapa na cara me fazendo cair sobre a cama. Eu estava andando pela casa de biquíni como todas as mulheres presente inclusive  irmãs dele e a mãe dele também. Eu jamais vou esquecer aquilo, nem meus pais me bateram e ele ainda quis que eu transasse com ele ali, porém lutei com ele para sair de cima de mim. Eu saí daquela situação, me tranquei no quarto de hóspedes para não aparecer tão destruída na frente de todos. A casa estava cheia, havia pessoas conhecida e desconhecida e muitos amigos homens dele e se seu pai. No outro dia, qualquer sentimento bom sobre ele tinha ido pelo ralo. Olha que eu tentei considerar, meu relacionamento com ele foram os dias que minha mãe mais ficou sobrea e esperançosa no futuro. Eram várias chantagens emocionais intercaladas de ameaças;  ganhei tantos presentes, cheguei a sair com ele novamente, mas não conseguia me ver me deitando com aquele cara de novo. Eu jamais deixaria ele chegar tão íntimo de mim.

— Deixa eu te levar para casa!

— Não. A primeira coisa que eu vou fazer assim que chegar em casa, é falar tudo para aquela louca da minha mãe que está aqui, na minha garganta há muito tempo.

— Quer que eu chame alguém para te levar para casa? — Se intromete o bartender de olhos mouros.

— Eu quero sim. — Ele me deu a maquininha para passar o meu cartão.

Como não tinha ninguém conhecido, Juliano fez questão de crescer para cima do atendente e o outro logo veio pra cima.

— Se mete na vida de vocês! Se eu quiser, eu compro esse lugar.

Juliano pega meu braço e logo o empurro, o lugar não estava cheio, ainda era cedo, nem tinha dado meia noite ainda e Leona mais uma vez, estragando os pouco momentos de lazer que eu me dou. Eu não tive coragem de contar a ela o que aconteceu, nem para ninguém, talvez só para Fernanda, minha única amiga que escuta meus lamentos e acompanha minhas crises. Estava prestes a levar aquele confusão para a rua, para não me expor mais naquele local, mas:

— Ela não quer sair daqui com você! Você não escutou, ou quer eu desenhe? — Era uma voz forte, digo que nem sotaque brasileiro tinha e disse de forma tranquila e baixa essa frase para que ninguém posso questionar que não entendeu.

Juliano o encarou assim como eu. Acreditei que tinha arrumado mais confusão e nunca mais teria coragem de colocar meus pés aqui novamente, mas Juliano simplesmente interrompeu sua grosseria quando se deparou com aquele homem sério, bem vestido que arrumava suas abotoaduras e mostrava seu relógio Patek Philippe e  algumas tatuagens no pulso e pescoço. Um estilo europeu sueco e olhos azuis. Percebi que os garotos do bar voltaram a seus afazeres e foi notório o espanto de Juliano referente ao homem, que nunca, havia percebido ou visto na vida. Ele tem a aparência de garoto diria, apesar de sua imponência e efeito prático no local, de ar sério e de estilo clássico, Juliano o cumprimentou e seguiu um outro homem que logo apareceu sem trocar uma palavra se quer com ele.

— A senhorita aceita uma carona para voltar para casa?

Eu não queria ir, mas, a minha noite estava acabada. Os garotos do bar consentiram com a cabeça que poderia confiar nas palavras dele que deu um leve sorriso malicioso.

— Sim, eu agradeço!

Acho que ele reparou meu olhar de tristeza com minha noite frustrada. Logo ele sentou no bar e me convidou novamente para sentasse com ele.

— Acho que não quer ir embora, não é?  É namorada dele?

— Ex.

— Entendi o drama, então! Me vê uma dose de Royal Salutte, por favor Wesley, pode colocar gelo. O que você bebe? É por conta da casa, não está com ar que iria parar depois de cinco drinks?

Eu olhei ao redor para ver se Juliano ainda estava naquele ambiente, mas não, ele desapareceu. Deve ter ido para a boate ou para qualquer outro lugar que não me interessava.

— Pode relaxar, tocar em você ele não vai. O pai dele é um antigo amigo da minha família. Ainda vou perguntar a ele com que dinheiro ele pagará por esse recinto.

Os bartenders e uma garçonete riram do seu comentário. Ele ficou olhando para a bebida achando graça também. Me sentei novamente e fiquei mais à vontade.

— Posso te servir um drink? Esse eu faria para você, mas aí o seu ex chegou. — Jeferson me pergunta.

— Sim, pode! — Olhei o que agora sabia que se chama Wesley e depois para o galã tirado de um filme americano, daqueles clichês.

Incentivado por Wesley, numa brincadeira que eles resolveram tirar comigo, falando que eu era amiga de Marcelo de faculdade e que Marcelo não olha muito para o lado e que era impossível não reparar em mim, mas foram cuidados em não tocar no assunto Juliano. Confesso que aquela situação me constrangeu um pouco e estava prestes a ir ao banheiro e ver outro ambiente do local, mesmo com medo de encontrá-lo novamente.

— Prazer, Draco Testa!

— Andrezza!

Não demorou muito para o clima de descontração se instalar ao redor de Draco e ainda fiz um comentário com o nome e sobre nome dele. Quem colocaria o nome de seu filho de dragão e o sobrenome nome Testa não é tão comum no Brasil, mas na Itália, por exemplo, você encontra mais pessoas com esse sobrenome.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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