BeatrizO quarto está silencioso, exceto pela respiração tranquila de Rafael. Ainda sinto o calor do corpo dele contra o meu, o cheiro inconfundível que só ele tem impregnado na minha pele. Fecho os olhos por um momento, tentando me agarrar à sensação de segurança que ele me proporciona, mas os pensamentos teimam em invadir.Durante a consulta, quando o médico mencionou que Rafael poderia retomar suas atividades aos poucos, senti um alívio. Ele está voltando a ser o homem que sempre foi, determinado, apaixonado pela ciência e, principalmente, por mim. Mas, junto com esse alívio, veio o medo. E se ele se esforçar demais? E se a recuperação não for como esperamos?Quando ele perguntou sobre voltar ao laboratório, tentei não demonstrar minha preocupação, mas meu coração apertou. Então, quando ele perguntou sobre nossa intimidade, eu quis rir para aliviar a tensão, mas tudo o que consegui foi corar. Não era só sobre o que o médico diria, era sobre mim também. Eu o queria tanto, mas tinha
VivianEstou me sentindo como uma bomba relógio, cada segundo uma contagem para algo que nem sei se quero descobrir. Sempre fui disciplinada, acordava cedo, tinha energia de sobra para enfrentar qualquer desafio. Mas agora, mal consigo sair da cama no horário. Meu corpo parece estar lutando contra mim, um sono que não passa, as calças que não fecham, os meus sei0s estão maiores... e hoje, enquanto tentava me vestir, a calça social que sempre me serviu, ela recusou-se a fechar. Um pensamento surgiu e me acertou como um golpe: E se eu estiver grávida?O desespero tomou conta do meu ser. Com o coração acelerado, envio uma mensagem para a Giulia. Não tenho coragem de encará-la imediatamente, então apenas digito: “Estou indo ai.” Mas quando abro a porta do quarto dela, os meus olhos estão marejados, e antes que consiga conter as lágrimas, corro para os seus braços.Giulia me segura, confusa, mas sua voz calma é um bálsamo para o meu nervosismo. — Vivian, o que foi? Aconteceu alguma coisa?
VívianA porta se abre lentamente, e eu sinto a presença de Felipe antes mesmo de olhar para ele. O meu corpo enrijece, e as lágrimas que tenho segurado começam a escapar sem que eu possa evitar. Ele está ali, parado, me observando com aquele olhar calmo e profundo que parece enxergar além de qualquer fachada.Sem dizer nada, Felipe entra no quarto, fechando a porta atrás de si. Ele dá passos lentos, quase cautelosos, como se tivesse medo de me assustar. Quando chega perto o suficiente, agacha-se diante de mim, os olhos buscando os meus.— Vivian... — Sua voz é baixa, carregada de preocupação. — O que está acontecendo?O tom dele, tão suave, tão acolhedor, é a gota d’água. Começo a chorar descontroladamente, cobrindo o rosto com as mãos. Felipe não hesita. Ele me pega no colo com cuidado, como se eu fosse algo frágil, e se senta na cama, mantendo-me aninhada contra o peito dele.Eu sinto o calor do corpo dele, a segurança de seus braços, e isso só faz minhas lágrimas virem com mais f
FelipeEu não costumo me perder em emoções, mas, quando Vivian me olha daquele jeito, seus olhos ainda vermelhos de chorar, mas brilhando de alívio, sinto uma onda de algo que nem sei como descrever. Orgulho? Felicidade? Talvez medo. Todas essas coisas misturadas. Tudo o que sei é que, ao segurar sua mão e sentir aquele momento, percebo que a minha vida acabou de mudar para sempre.Assim que saio do quarto, minha mente já está a mil. Eu preciso contar para a pequena Giulia. Não apenas porque ela é minha filha e merece saber, mas porque quero que ela seja parte disso desde o início. Caminho pelo corredor até encontrar minha mãe no jardim, ajudando Giulia a colher flores para um arranjo. Quando minha filha me vê, ela larga tudo e corre para mim, como sempre faz. Meu coração aperta com o gesto — aquela pureza dela, algo que quero proteger a todo custo.— Papai! — ela grita, abraçando minhas pernas.— Oi, minha princesa. Posso falar com você um instante? É importante. — Ergo-a nos braços
RafaelO toque das mãos dela no meu braço enquanto caminhamos pela calçada me desarma. Não é apenas a suavidade do gesto, mas o que ele carrega, a segurança, amor, uma conexão que há tempos encontrei e não me imagino viver sem ela. Beatriz sorri para mim de um jeito que faz o mundo ao nosso redor perder importância. Ali, com o sol da manhã aquecendo nossos passos e Rafa já seguro na creche, sinto uma paz que raramente consigo acessar. Mas junto com essa paz, algo se agita dentro de mim, um medo que nunca desaparece completamente.No laboratório, ela se inclina sobre o microscópio, os olhos brilhando com a mesma paixão que exibe quando fala sobre qualquer descoberta. Fico observando por um instante, perdido entre a admiração pela mulher que ela é e a gratidão por ela ter escolhido estar ao meu lado. Quando me aproximo, toco suavemente seu ombro, e ela ergue o rosto para mim com um sorriso que me deixa sem ar.— Está me espionando, doutor? — ela pergunta, o tom brincalhão iluminando o a
RafaelSerá que sou suficiente para ela?— Amor, pega o Rafa na creche, por favor. — Já estou indo Bia, quando voltar te ajudo com o jantar.O sorriso de Rafa ilumina meu mundo, assim que entro na creche para buscá-lo. Ele corre em minha direção com os braços abertos, e eu o pego no colo, girando-o no ar. Sua risada é um bálsamo para minha alma, dissipando qualquer resquício de dúvida que ainda rondava minha mente desde a conversa com Beatriz no laboratório.— Papai, fiz um desenho pra mamãe! — ele anuncia, agitando uma folha com rabiscos coloridos.— Tenho certeza de que ela vai adorar, campeão. Vamos lá mostrar pra ela?Rafa segura firme minha mão enquanto voltamos para casa. Ele fala sem parar sobre os amigos da creche, os brinquedos novos e a história que a professora contou. Tento prestar atenção em cada detalhe, mas minha mente já está em Beatriz. O olhar distante que ela tinha mais cedo não me escapa. Algo está pesando em seu coração, e eu preciso entender o que é.Ao entrar
FelipeO telefone vibra em cima da mesa, interrompendo a conversa animada que temos no jantar. O nome de Rafael aparece na tela, e sei que isso não é apenas uma ligação qualquer. Todos à mesa se calam enquanto atendo, sentindo o peso do silêncio. A pequena Giulia dorme tranquilamente no sofá da sala, um contraste com a tensão que rapidamente se instala no ambiente.— Rafael, tudo bem? — pergunto, tentando manter um tom leve.Do outro lado, ele é direto, mas sua voz carrega um tom de tristeza. — Felipe, Beatriz está sentindo muito a falta da Giulia. Ela tentou ser forte, mas não consegue mais. Acho que é hora de devolvê-la.As palavras pairam no ar como um soco. Olho para minha mãe, Giulia, que desvia os olhos da mesa. Ao redor, os rostos variam entre a surpresa e o entendimento. Meu coração pesa, mas sei que Rafael está certo.— Eu entendo, Rafael. Diga a Beatriz que vamos organizar tudo para levar a Giulia de volta em alguns dias.Quando desligo, o silêncio se torna quase insuportáve
GiuliaCada detalhe está em seu lugar, exceto a minha mente, que insiste em vagar. Estou caminhando pela mansão, inspecionando os cômodos, os corredores, o jardim. A casa respira história e poder, mas hoje sinto um peso diferente no ar. Quando encontro Don Falcone no escritório, ele levanta os olhos de um relatório, e sua presença parece dominar o ambiente. Não sei dizer se é por causa do que está acontecendo ou do jeito que ele me olha, mas alguma coisa mudou.— Don, que tal irmos juntos à sede? — sugiro, tentando parecer casual. — Temos muito trabalho acumulado e seria bom alinhar algumas coisas pessoalmente.Ele me observa por um instante, como se considerasse algo além do que eu disse, mas então assente. — Vamos.No carro, o silêncio entre nós é confortável, mas carregado. Na sede, trabalhamos em perfeita sintonia. É impressionante como nossas mentes se complementam; quando ele fala, já sei o que fazer, e ele parece antecipar meus pensamentos antes mesmo de eu dizer algo. Em me