GiuliaA sensação de estar em um lugar onde o silêncio é mais ensurdecedor do que o barulho das ruas nunca deixa de me incomodar. Eu estou no coração da operação, no centro da sede da máfia, entre paredes revestidas de madeira escura e ar condicionado que não consegue dissipar a tensão no ar. A mesa à minha frente está repleta de relatórios, anotações sobre movimentações suspeitas, nomes que não significam nada fora desse universo sombrio. Quando se trabalha com pessoas como eu, é assim que as coisas acontecem: no anonimato, no sigilo. Em uma vida que se constrói em mentiras e segredos. E eu, Giulia, sou especialista nisso.Estou em meio à minha rotina, checando alguns documentos, quando o celular toca. O número desconhecido brilha na tela, mas algo me diz que é um desses chamados que não podemos ignorar. Meus dedos hesitam por um segundo antes de atender. O que acontece a partir desse momento é um daqueles encontros que já estava esperando, mas que, ao mesmo tempo, me deixa alerta co
RafaelA operação começa na calada da noite. Todos estão em seus postos, sincronizados, como um relógio bem ajustado. Liam coordena a tecnologia, monitorando a movimentação dentro e fora da mansão em tempo real. Beatriz lidera a equipe de apoio na central, enquanto eu, Lucas, Priscila, André, Marcos e Tobias nos preparamos para entrar.O silêncio do local é perturbador. Apenas o som do vento cortando as árvores acompanha nossos passos firmes em direção à mansão isolada. Tobias lidera a abordagem com sua equipe tática, enquanto Lucas e Priscila ficam próximos para cobrir os pontos cegos.Com um sinal de Beatriz pelo comunicador, recebemos a confirmação:— O perímetro está limpo. Vocês podem avançar.Usamos um dispositivo para desativar as câmeras externas sem levantar suspeitas. André e Marcos forçam a entrada por uma porta lateral enquanto eu, Tobias e Priscila seguimos pela entrada principal.Dentro da mansão, o ar é pesado, carregado de um silêncio que parece esconder os horrores qu
Rafael Quando elas terminam a conversa, Beatriz sai da sala para encontrar os outros. Marcos está encostado em uma parede próxima, ouvindo atentamente o que Beatriz compartilha com a equipe.— Essa garota... Yasmin — Marcos começa, com um olhar sério. — Ela não tem ninguém, certo?Beatriz confirma com a cabeça.— O pai dela a vendeu. Não há para onde ela voltar.Marcos respira fundo, claramente tomado por um sentimento profundo.— Eu quero que ela fique comigo.Beatriz e Priscila trocam olhares surpresos.— Marcos... isso é sério? — Beatriz pergunta.— Sim, muito sério — ele responde, com determinação. — Teresa e eu já conversamos. Quero dar um lar para ela, protegê-la. Não vou deixar que ela fique desamparada depois de tudo o que passou.— Isso é uma decisão grande, Marcos. Você tem certeza? — Priscila pergunta, olhando nos olhos dele.— Absoluta. Teresa concorda, e nós temos condições de cuidar dela. Yasmin merece uma chance de recomeçar.Beatriz esboça um pequeno sorriso, tocada p
MariaMinhas mãos estão frias, e eu as esfrego nervosamente enquanto me sento na sala de estar. Giulia está na poltrona oposta, com o olhar afiado que sempre parece enxergar além do óbvio. Ela cruza as pernas com elegância, o gesto simples carregando uma autoridade que me faz sentir pequena. Preciso dizer algo, mas não sei por onde começar.— Maria? — A voz dela me tira do devaneio. É firme, mas sem pressa. Ela sabe que estou prestes a desabar.— Eu não sei o que fazer. — As palavras saem antes que eu consiga pensar. Giulia arqueia uma sobrancelha, encorajando-me a continuar. — Ele… Gian… ele me confunde.Ela não responde de imediato, então aproveito o silêncio para deixar tudo sair. — Às vezes, ele é tão carinhoso. Tão atencioso, Giulia. Ele fala coisas que me fazem acreditar que… talvez eu signifique algo para ele, que possamos dar certo como um casal. Mas só acontece quando estamos a sós. Quando tem mais gente por perto, ele mal me olha.Giulia recosta-se na poltrona, as mãos rep
FelipeO dia está perfeito. Saio com a Vivian para um passeio descontraído no shopping, algo que prometi a ela ontem. A manhã é fresca, o sol brilhando sem ser tão sufocante, e a animação dela é contagiante. Caminhamos lado a lado, sem pressa, rindo das coisas mais bobas enquanto exploramos as vitrines.Quando chegamos à praça de alimentação, a indecisão aparece.— Então, o que vai ser? — pergunto, tentando parecer neutro, mas já torcendo por um hambúrguer.Ela sorri, balançando a cabeça.— Você sempre quer hambúrguer, Lipe. Que tal comida japonesa hoje?— Sushis e eu temos uma relação complicada. — respondo, rindo, mas acabo cedendo. — Mas tudo bem, vamos lá.Nos acomodamos em uma mesa depois de pegar os pratos. Ela brinca com os hashis enquanto eu tento, e falho miseravelmente em pegar um pedaço de sushi sem derrubar nada.— Quer ajuda? — ela pergunta, tentando segurar o riso.— Não, obrigado. Meu orgulho está em jogo aqui.Almoçamos entre risos e conversas leves, e eu fico pensand
MarcosA campainha toca pela última vez hoje, e ao abrir a porta, vejo o olhar perdido de Yasmin, uma mala pequena em uma das mãos e um caderno apertado contra o peito com a outra. Algo nela é um grito silencioso de socorro, e minha garganta aperta. Teresa está logo atrás de mim, sorrindo, tentando tornar tudo menos assustador. Mas eu sei que este momento vai mudar nossas vidas para sempre.— Venha, Yasmin. Vamos mostrar onde você vai dormir — digo com a voz mais suave que consigo. Teresa pega sua mala e conduz a pequena até o quarto de hóspedes, agora temporariamente dela. As paredes brancas parecem desoladoras, e enquanto Yasmin se senta na beirada da cama, cruzando os braços sobre o caderno como se fosse um escudo, Teresa quebra o silêncio.— Estamos pensando em redecorar este quarto. Como você gostaria que fosse? — pergunta ela, e a menina ergue os olhos, hesitante. — Pode ser do jeito que você quiser. Cor favorita, temas... o que você gostar.Yasmin franze o cenho, processando.
Gian CarloO silêncio no carro é quase ensurdecedor enquanto dirijo de volta para casa. Meu corpo está cansado, os músculos tensos depois de um dia interminável na construtora. Reuniões com acionistas, números que não batiam, balanços que precisavam de explicações convincentes, tudo parecia ser um teste à minha paciência. Mas não é só isso. Algo mais profundo me incomoda, algo que não consigo ignorar. E, no fundo, sei exatamente o que é.Chego à mansão, estaciono o carro na garagem e entro pela porta da frente. O aroma de comida fresca me atinge, mas não é reconfortante. Sinto um nó se formar no estômago antes mesmo de avistar Giulia, que está jantando sozinha na enorme mesa de mármore da sala de jantar. Ela está calmamente cortando um pedaço de carne, como se nada pudesse abalar sua compostura.— Onde está Maria? — pergunto, direto. Não quero rodeios.Giulia levanta os olhos lentamente, como se pesasse suas palavras. — Sente-se, Gian Carlo. Coma alguma coisa.— Não estou com fome. Qu
Gian CarloA porta do quarto se abre sem aviso, e a minha mãe entra como um furacão, com os olhos brilhando de determinação. Ela fecha a porta atrás de si, cruzando os braços enquanto me encara.— Precisamos terminar essa conversa!Eu solto uma risada amarga, olhando para ela com exaustão. — Você quer dizer o que? Terminar de me esmagar, não é?Ela ignora meu tom e dá um passo à frente. — Você tem duas opções, Gian Carlo. Ou manda Geisa embora do apartamento logo, ou eu desfaço o acordo de casamento com a máfia americana que colocou Maria na sua vida.Minha cabeça gira. A ameaça é como um golpe direto no estômago. Olho para ela, incrédulo. — Você está blefando.— Não estou filho. — Ela fala com uma calma assustadora, o tipo de calma que só Giulia consegue ter quando está prestes a destruir tudo à sua volta. — Maria foi dada a você com um propósito, Gian Carlo. Ela é mais do que apenas uma garota. Ela é uma peça em um tabuleiro muito maior, e eu não vou permitir que você brinque co