RafaelEntro na clínica sozinho desta vez. Estou poupando a minha Beatriz! Hoje é diferente. Não tenho ninguém me acompanhando, apenas eu e meus pensamentos. Sinto um misto de alívio e curiosidade. É curioso como, depois de tanto tempo de luta, as coisas finalmente parecem estar entrando nos eixos.O médico me recebe com um sorriso largo no rosto.— Rafael, que bom te ver! Ele parece realmente feliz, e isso me conforta. É bom saber que alguém percebe minha evolução, mesmo que eu já a sinta dentro de mim.— Você está muito bem! — ele diz enquanto analisa os exames e compara com os relatórios anteriores. Fala com entusiasmo sobre a regressão de todos os sintomas. É como se ele estivesse celebrando comigo, uma vitória compartilhada.Após a consulta inicial, ele sugere o próximo passo, mais uma sessão de auto-hemoterapia e também de ozonioterapia. Concordo com um aceno. Esses tratamentos têm sido parte essencial do meu progresso, e, de alguma forma, eu até me sinto mais leve e revigorado
RafaelAntes de descer do carro, recebo uma notificação e então confiro o celular, vejo o relatório do condomínio, sem alterações, tudo transcorre bem. Vou até o laboratório e vejo todo o trabalho de Beatriz, mesmo parado, por tudo que aconteceu nos últimos dias, a organização dela sempre me surpreende, faço leitura de algumas lâminas, fotografo e começo a enviar para os meus arquivos. Sigo para o meu escritório e alimento as planilhas, começo a colocar tudo em dias, em meio a todo esse caos dos últimos dias, esse canto me traz uma paz que não consigo explicar.Me dou conta que já passei do horário ao ouvir o meu estômago protestar, organizo tudo, desligo todos os equipamentos e vou para casa.Ao abrir a porta, encontro Beatriz, linda mesmo estando descabelada.— Já te disse que você é a mulher mais bonita desse mundo?Ela caminha em minha direção e me dá um beijo gostoso, porém desejoso, sei bem o que ela quer, e eu também quero, e muito. — Já te disse que você é muito gostoso e q
CesareEstou sentado em meu escritório, o silêncio pesado ao meu redor. Apenas o leve ruído do relógio na parede preenche o espaço. À minha frente, a tela do computador exibe os relatórios, as mensagens interceptadas, as movimentações suspeitas que levaram até aqui.Felipe... Meu filho. Sempre achei que ele fosse o mais controlado, o mais racional, mas subestimei sua lealdade ao sangue. Subestimei sua coragem ou talvez sua estupidez. Descobrir o que ele fez não foi difícil, mas juntar as peças... isso foi um trabalho meticuloso.Tudo começou há algumas semanas, quando notei discrepâncias nas movimentações da máfia. Pequenos desvios que, à primeira vista, poderiam ser atribuídos a erros comuns. Mas erros não acontecem na minha operação.Instalei monitoramentos extras em todas as máquinas, discretamente. Queria ter certeza antes de agir. Foi então que percebi um padrão, cada vez que um relatório era acessado ou alterado, Felipe estava por perto.Esperei. Não sou impulsivo; nunca fui. D
Gian CarloApós um dia longo, saio da sede da máfia com os ombros pesados, o cansaço latejando em cada músculo do meu corpo. O trabalho na construtora pela manhã já tinha drenado minha energia, e a tarde no escritório da máfia só serviu para me deixar ainda mais desgastado. Meu pai anda estranho, e isso não me sai da cabeça. Cesare Vassalo sempre foi imprevisível, mas ultimamente... algo está fora do lugar. Ele evita certos olhares, muda de assunto rápido demais. Tem algo que ele não quer que a gente descubra, mas eu vou descobrir, cedo ou tarde.No caminho para casa, minha mente vai se dividindo entre essas questões e a antecipação de algo mais leve, mais íntimo. A cada quilômetro que me aproxima do meu apartamento, minha expressão se suaviza. Geisa.Ela é meu refúgio, minha calmaria no meio desse caos. Fazem oito meses que ela está no meu apartamento. Um segredo que guardo com mais zelo do que qualquer operação da máfia. Ninguém sabe. Nem o meu pai, nem meu irmão. E quero manter as
LipeAo entrar na sede da máfia, o ambiente parece normal, mas há algo no ar que não consigo ignorar. Uma tensão que me faz ficar mais atento. Caminho pelos corredores e noto meu pai, Cesare, em sua sala, concentrado no computador. Ele parece tão absorto que nem percebe minha presença quando passo.Resolvo ir até a sala onde trabalho. Enquanto preparo os relatórios que ninguém realmente verifica, algo me inquieta. A porta da sala de Cesare está entreaberta, e vejo que ele saiu às pressas, provavelmente para uma reunião. Deixo tudo de lado e, por pura intuição, volto ao seu escritório.Quando entro, percebo que o computador dele ainda está ligado. A tela aberta, sem bloqueio por senha. Não posso perder essa chance. Algo dentro de mim diz que isso não é coincidência.Começo a explorar os arquivos rapidamente. Acessando pastas e documentos, vejo informações sobre movimentações financeiras, rotas de carregamentos ilegais, e... meu nome.Meu sangue gela. Meu nome está associado a palavras
FelipeDirijo com o pé fundo no acelerador, o suor escorrendo pelas têmporas enquanto mantenho os olhos na estrada e nos retrovisores. O motor do carro ronca alto, mas não o suficiente para abafar o som dos tiros que começam a ecoar atrás de nós. Meu coração bate forte, mas minha mente permanece focada. Não posso perder o controle agora.— Temos companhia — digo, o olhar rápido no espelho, vendo o carro preto nos seguindo de perto.Vívian, ao meu lado, já está ajustando o assento, os olhos afiados como lâminas. Ela não precisa de instruções.— Liga para o Rafael. — diz ela, enquanto alcança a arma no compartimento escondido.Com uma mão no volante, abro o viva voz e disco rapidamente. Rafael atende no segundo toque.— O que foi, Felipe?— Estamos sendo seguidos, tiros disparados. Estou a caminho do hangar, mas temos problemas sérios aqui. — digo, a voz firme, mas tensa.— Quem está atirando? Quantos carros? — Rafael pergunta, claramente em alerta.— Um, talvez dois. Ainda não sei. Só
LipeDiante do homem que me criou, vejo o filme de toda a minha vida diante de mim.Ele deveria ter cuidado de mim, me defendido, lutado pela minha felicidade,mas não, estou diante do homem que destruiu o que eu tinha de mais sagrado, perdi os primeiros momento da minha filha...Não respondo nada a ele. Meu dedo aperta o gatilho. Um único disparo. A sala reverbera o mínimo som do tiro abafado pelo silenciador, e Cesare cai para trás, o corpo inerte.— Lipe... — Vívian sussurra, a voz trêmula.Giulia e Gian chegam correndo, pálidos. Minha mãe cobre a boca com as mãos, o choque estampado no rosto.— O que você fez? — ela murmura, com os olhos arregalados.— O que tinha que ser feito. — respondo. Minha voz não treme, mas por dentro, sinto uma tempestade.Gian Carlo, sempre tão controlado, perde o equilíbrio e se apoia na parede. Mas, em vez de gritar ou me enfrentar, ele suspira profundamente e pega o celular.— Vou resolver isso, como sempre faço — ele diz, já discando o número do médic
LipeA sala estava carregada com uma tensão quase palpável, como se a própria máfia estivesse presente, observando cada palavra, cada movimento. O silêncio foi quebrado pela minha voz firme:— Bem-vinda à família, Vívian.A tensão na sala parece diminuir um pouco, mas ainda paira no ar como uma tempestade prestes a cair. Gian caminha de um lado para o outro, claramente processando tudo. Minha mãe se senta finalmente, os olhos fixos em Vívian, analisando-a como só uma mãe sabe fazer.Vívian esboçou um sorriso tímido, mas antes que pudesse agradecer, Gian explodiu:— Isso é uma piada, certo? — Sua voz era um misto de incredulidade e fúria. Ele se levantou abruptamente, apontando o dedo na minha direção. — Primeiro você mata nosso pai, e agora espera que aceitemos isso como se fosse um jantar em família? Sem nem sequer pensarmos nas consequências?Suspiro, mantendo a calma.— Gian, eu não esperava que você entendesse de imediato. Sei que é muita coisa para digerir. Mas se eu não tivesse