O fim de tarde trazia consigo uma atmosfera densa, quase palpável. A tensão entre as famílias Becker e Ventura ainda reverberava pelos corredores e escritórios após as descobertas explosivas sobre o Elysium, mas, no íntimo de cada personagem envolvido, novos sentimentos e ambições tomavam forma. Para Alan, o cerco estava apertando de forma inexorável, e cada passo que dava parecia colocá-lo mais próximo de um abismo.
Por outro lado, havia algo que o mantinha preso e em constante conflito consigo mesmo: o sentimento crescente e proibido que nutria por Olívia. A situação com Bianca se tornava cada vez mais insustentável, especialmente com a pressão dos negócios e a constante presença de Finn, que agora parecia decidido a fincar uma barreira entre Alan e Olívia.
Alan passara o dia revendo alguns relatórios financeiros e ajustando projeções de mercado. Tentava afogar-se no trabalho, na esperança de que manter a mente ocupada o afastasse de pensamentos que julgava impróprios. Mas, quando olhava para a mesa, a lembrança do último encontro com Olívia no café invadia sua mente com uma força avassaladora.
Foi então que, enquanto estava absorto em seus pensamentos, ouviu uma batida suave na porta de seu escritório.
— Entre, — disse ele, endireitando-se na cadeira.
A porta se abriu lentamente, revelando Olívia. Ela estava séria, mas Alan conseguiu perceber um leve sorriso contido no canto de seus lábios, como se ela também não pudesse evitar uma leve satisfação ao vê-lo.
— Espero não estar interrompendo, — começou ela, fechando a porta atrás de si. — Mas preciso discutir alguns pontos importantes sobre a reorganização dos projetos após o Elysium.
Alan assentiu, gesticulando para que ela se sentasse. No entanto, mal conseguia manter a atenção no que dizia, pois a presença dela o afetava de forma intensa.
— Claro, Olívia. O que você tem em mente?
Ela colocou uma pasta sobre a mesa, inclinando-se para mostrar um gráfico de projeção de lucros e metas de crescimento. Enquanto explicava a proposta, Alan tentava se concentrar nas palavras dela, mas seus olhos insistiam em percorrer cada detalhe de sua expressão, dos traços delicados de seu rosto à forma como gesticulava ao falar.
— Acho que, se ajustarmos o investimento para áreas que não dependem diretamente da expansão do Elysium, podemos compensar algumas das perdas, — disse ela, ainda com os olhos fixos no gráfico.
Alan assentiu novamente, mas sua mente estava em outro lugar. Ele sabia que precisava focar, mas não conseguia ignorar a proximidade entre os dois. Quando Olívia o olhou de volta, como se finalmente tivesse notado o silêncio dele, um leve rubor subiu em suas faces, e ela desviou o olhar, nervosa.
— Alan, está tudo bem? — perguntou ela, desconfiada.
Ele pigarreou, tentando recobrar a compostura.
— Sim, claro. Estou apenas… refletindo sobre o que disse. — Ele hesitou por um instante antes de continuar. — Olívia, sabe que pode ser sincera comigo. Como você está, realmente?
Ela o olhou por um momento, parecendo surpresa pela mudança no tom dele, mas então seus ombros relaxaram, e ela suspirou.
— Está tudo tão… caótico, Alan. Toda essa reviravolta com o Elysium, as expectativas de minha família… sinto que estou constantemente tentando me equilibrar em uma corda bamba, mas sem saber o que existe lá embaixo se eu cair.
Alan a ouviu com atenção, sentindo uma vontade irresistível de confortá-la, de romper aquela barreira entre eles. Sabia que isso era perigoso, mas a preocupação que sentia por Olívia era sincera, profunda.
— Você não está sozinha, Olívia. Eu estou aqui, e… se precisar, posso ajudar. Não apenas pelos negócios, mas por você.
Ela o olhou, surpresa pela intensidade do que ele dizia, e por um momento, o silêncio se prolongou entre os dois, como se palavras fossem desnecessárias. Eles apenas se encaravam, cada um ciente de que algo mais forte os unia. No entanto, ambos sabiam que não podiam ceder.
— Obrigada, Alan, — murmurou ela, com um leve sorriso, quebrando o momento antes que se tornasse insuportavelmente íntimo. — Sua ajuda é muito importante para mim.
Eles se despediram em seguida, mas o encontro deixou Alan ainda mais atormentado. Estava claro que os sentimentos entre eles estavam além de seu controle, e, cada vez mais, ele se via incapaz de suprimir o desejo que sentia por Olívia. Porém, havia algo ainda mais complexo naquele sentimento: uma conexão genuína, uma compreensão mútua que ele jamais sentira com Bianca.
Enquanto isso, Finn, que acompanhava atentamente cada movimento de Alan e Olívia, começava a moldar um novo plano. Ele já havia notado a química entre os dois e, com a frieza que lhe era característica, passou a ver uma oportunidade de virar a situação em seu favor. A relação entre Alan e Olívia poderia ser explorada de diversas formas, e ele sabia exatamente como usar isso.
Finn observava de longe e calculava cada jogada. Havia uma aura de malícia em sua atitude, algo que beirava o sinistro. Decidiu que aquela noite faria uma visita surpresa a Olívia, uma tentativa de desestabilizá-la ainda mais, fazendo-a questionar suas decisões e a tensão entre ela e Alan.
Mais tarde, já à noite, Finn bateu à porta do apartamento de Olívia. Ela atendeu, surpresa e um pouco apreensiva ao ver Finn ali, mas o convidou a entrar, controlando seu desconforto.
— O que faz aqui, Finn? — perguntou ela, um tanto desconfiada.
— Eu queria conversar com você, Olívia, — disse ele, com uma calma que beirava o irônico. — Sei que nossa última conversa foi... intensa, mas achei que seria justo esclarecermos algumas coisas.
Ela o observou, cruzando os braços em uma postura defensiva.
— Esclarecer o quê, exatamente?
Finn se aproximou um pouco mais, como se tentasse quebrar a distância entre eles.
— Eu conheço você, Olívia. Sei o quanto está dividida entre suas responsabilidades e... outras coisas, — disse ele, a voz carregada de insinuação.
Ela arqueou as sobrancelhas, sabendo exatamente aonde ele queria chegar.
— Não sei do que está falando, Finn. Minhas responsabilidades sempre foram claras, e estou seguindo o que é certo para minha família.
Finn riu, inclinando-se ainda mais perto dela.
— Ah, Olívia, poupe-me dessa conversa. Sei que há algo mais entre você e Alan. E quer saber? Isso não me incomoda. Na verdade, até vejo como uma boa oportunidade. Se bem explorado, pode render bons resultados para ambos.
Olívia recuou um passo, sentindo-se ofendida e vulnerável com a insinuação dele.
— Está dizendo que quer usar isso para manipular Alan? — questionou, o tom de voz carregado de repulsa.
Finn apenas sorriu, sem negar.
— Todos nós temos nossos jogos, Olívia. Cabe a você decidir como vai jogá-lo. Afinal, quanto mais próximo você estiver de Alan, mais controle teremos sobre os Becker, não é mesmo?
Olívia fechou a porta em seguida, deixando Finn do lado de fora e sentindo-se profundamente perturbada com o encontro. Sabia que ele estava jogando sujo, mas também percebeu que seu vínculo com Alan era uma carta poderosa — algo que ela teria que lidar com muito cuidado dali em diante.
No dia seguinte, Alan acordou com a mente pesada após os últimos acontecimentos. Contudo, para sua surpresa, ao descer para tomar café, encontrou Luís e Ana em sua cozinha, ambos discutindo sobre o preparo de um café da manhã que parecia estar dando errado.
— Ei! Que cena é essa? — perguntou ele, entrando na cozinha com uma expressão divertida.
Ana olhou para ele com as mãos na cintura, fingindo indignação.
— Estamos tentando salvar seu café da manhã, Alan! Mas o chef Luís aqui não tem a menor ideia do que está fazendo.
— Ei, eu só estava seguindo a receita! Não sou culpado se disseram que precisava de mais sal, — respondeu Luís, revirando os olhos, com um sorriso malicioso.
Alan riu, sentindo-se genuinamente leve pela primeira vez em dias.
— Se isso é um resgate, prefiro ficar com meu café instantâneo, — provocou ele.
Ana e Luís trocaram olhares conspiratórios antes de atacá-lo com travesseiros de cozinha, transformando a manhã em uma cena de risos e brincadeiras. Aquela breve fuga da realidade foi exatamente o que Alan precisava, e a presença de seus amigos trouxe um frescor bem-vindo em meio ao caos que vivia.
Ana e Luís eram, de fato, um alívio cômico necessário em sua vida. Ambos sabiam que ele enfrentava dificuldades, mas em vez de pressioná-lo, preferiam usar do humor para aliviar o clima, algo que Alan valorizava muito.
No entanto, mesmo em meio aos momentos de leveza, ele não conseguia afastar completamente os pensamentos sobre Olívia. Sabia que algo entre eles estava por acontecer, algo inevitável e incontrolável.
Mais tarde, naquele mesmo dia, Alan e Olívia encontraram-se novamente para discutir as finanças da família. Ela trazia alguns documentos, o semblante sério, mas ao mesmo tempo hesitante.
Ambos se sentaram frente a frente, discutindo os detalhes técnicos de forma prática, mas, em certos momentos, seus olhares se cruzavam por mais tempo do que o necessário, e um silêncio denso tomava conta do ambiente.
Quando Olívia fez menção de ir embora, Alan segurou sua mão, incapaz de evitar o toque. Ela olhou para ele, surpresa, e por um instante o mundo pareceu parar. Nenhum deles teve coragem de romper o contato.
— Olívia… — começou ele, sem saber ao certo o que dizer, mas certo de que precisava que ela soubesse de algo.
Ela inclinou-se levemente para ele, e seus rostos estavam perigosamente próximos.
— Alan, — sussurrou ela, em um tom suave e carregado de emoção. — Talvez… talvez seja melhor não cruzarmos essa linha.
Eles ficaram assim por um momento, até que ela afastou a mão, tentando manter a postura. No entanto, ambos sabiam que algo já havia sido quebrado entre eles — um limite havia sido ultrapassado.
Enquanto Olívia deixava o escritório, Alan sentia uma mistura de alívio e frustração. Estava claro que o caminho que ambos estavam trilhando era arriscado, mas, ao mesmo tempo, irresistível.
Agora, com Finn no jogo e suas manipulações perigosas à espreita, o relacionamento de Alan e Olívia tornava-se cada vez mais uma aposta no desconhecido.
A noite caía sobre a cidade, e o escritório de Alan era iluminado apenas pelo brilho sutil das luzes do prédio ao lado, criando uma penumbra que tornava o ambiente íntimo e misterioso. Alan estava sozinho, mas a tensão entre as famílias Becker e Ventura, o peso do Projeto Elysium e as suas emoções reprimidas por Olívia criavam uma tempestade dentro de si. Ele tentava encontrar um equilíbrio, um ponto de ancoragem em meio ao caos, mas tudo parecia se desmoronar em uma velocidade que ele não conseguia controlar.Sentado em sua cadeira de couro, Alan observava os documentos espalhados pela mesa. Cada página ali representava não apenas um compromisso de negócios, mas também as expectativas de sua família, o legado que ele precisava sustentar. E, agora, somava-se a tudo isso o peso do que sentia por Olívia. Ele recordava o último encontro entre eles, a proximidade que quase os levou a atravessar um limite. Havia uma intensidade nos olhos dela, uma compreensão mútua e profunda que o fazia
A tensão no ar era palpável desde o instante em que Alan e Olívia se separaram após o beijo na biblioteca. As palavras não ditas e os sentimentos mal resolvidos pendiam como uma corda bamba entre os dois, tornando cada momento compartilhado no mesmo espaço uma prova de resistência. Nenhum deles queria ser o primeiro a ceder, mas ambos sentiam o peso de um segredo que parecia gritar, mesmo em meio ao silêncio. Nos dias seguintes, Alan e Olívia se esforçaram para evitar qualquer interação direta. No entanto, vivendo sob o mesmo teto por causa da proximidade de suas famílias, não demorava para que cruzassem caminhos: um encontro casual no corredor, um olhar rápido ao passarem pela sala de estar. Os momentos eram breves, mas intensos. Certa manhã, Olívia desceu para a cozinha antes de todos, buscando um momento de paz. Ela estava distraída, preparando uma xícara de café, quando ouviu passos atrás de si. Virando-se, viu Alan parado à porta, a expressão indecifrável. Ele hesitou, como s
A noite envolvia a cidade com um manto de silêncio, enquanto Finn Correia acomodava-se em sua poltrona de couro. Sobre a mesa à sua frente, uma pilha de documentos confidenciais iluminava-se pela luz pálida de um abajur. Ele sorriu, satisfeito, ao deslizar os dedos pelas páginas amareladas de arquivos antigos. Cada palavra revelava mais sobre os segredos da família Becker, e ele tinha certeza de que, em breve, poderia usar essas informações a seu favor. Seu olhar caiu em um nome repetido diversas vezes ao longo dos relatórios: Leonardo Becker, o patriarca da família. A história de sucesso do clã tinha contornos sombrios que nem Alan parecia conhecer completamente. Mas Finn sabia o poder de uma narrativa bem contada, ou distorcida. Entre as páginas, encontrou menções a Roberto Ventura, o bisavô de Bianca e Olívia. O documento insinuava que sua morte, há décadas, não fora um simples acidente, mas um movimento calculado por Leonardo para consolidar o domínio sobre os negócios locais.
O som do gelo batendo contra o copo era a única coisa que ecoava na sala silenciosa. Alan Becker encarava o líquido âmbar de seu uísque como se nele estivesse a solução para os dilemas que o atormentavam. Sentado na ampla sala de estar de seu apartamento, ele aguardava Luís Montovany, seu melhor amigo, que prometera aparecer para uma conversa.Luís chegou minutos depois, trazendo consigo a energia que sempre parecia carregar. Com seu jeito descontraído e falas espirituosas, ele ocupava qualquer ambiente em que entrasse.— Cara, pelo tom da sua mensagem, achei que fosse me pedir dinheiro ou algo assim, — brincou Luís, jogando-se no sofá. — O que está acontecendo?Alan soltou um suspiro pesado, passou a mão pelos cabelos e encarou o amigo.— Eu não sei mais o que fazer, Luís.— Ok, isso é vago. Especifica aí.Alan hesitou antes de continuar. — É sobre a Olívia.Luís arqueou as sobrancelhas e depois riu, como se esperasse que fosse uma piada. Quando percebeu que Alan estava sério, sua exp
A manhã amanheceu cinzenta na mansão Becker, refletindo o estado de espírito de Bianca. Ela observava Alan da janela do quarto, sentado no jardim, parecendo imerso em seus próprios pensamentos. O peso emocional entre eles tornara-se um companheiro constante, e Bianca sabia que não podia mais ignorar o distanciamento que crescia a cada dia.Ela decidiu que era hora de confrontá-lo.— Alan, — chamou ela, sua voz firme ao entrar no escritório onde ele estava.Ele levantou o olhar do laptop, os olhos denunciando o cansaço.— Precisamos conversar, — continuou ela, cruzando os braços.Alan sabia exatamente o que viria, mas não tinha a menor ideia de como lidar com aquilo.— Claro, Bianca. O que houve?— O que houve? — Ela soltou uma risada nervosa. — É exatamente isso que eu queria perguntar. O que está acontecendo conosco? Você está tão... ausente.Alan passou a mão pelo rosto, uma tentativa de ganhar tempo.— Não é nada, Bianca. São só os negócios, os problemas com a família...— Não me v
O ambiente era perfeito para o que Finn havia planejado. Uma tarde ensolarada, um café elegante e Bianca, sempre pronta a escutar alguém que aparentasse ser confiável. Ele havia trabalhado meticulosamente para preparar o momento, escolhendo palavras que plantassem dúvidas, mas sem parecer óbvio.— Bianca, eu realmente admiro o que você faz para manter sua família unida, — começou ele, com um sorriso disfarçado de empatia.Bianca retribuiu com um aceno contido.— Obrigada, Finn. Às vezes sinto que é uma batalha constante.Ele assentiu, inclinando-se levemente para frente. — É por isso que quis falar com você hoje. Sinto que estamos no meio de uma situação... delicada.Bianca franziu o cenho. — Situação? Que situação?Finn suspirou, como se estivesse ponderando revelar algo importante.— Não quero parecer intrometido, mas percebi que Alan anda... distraído. E isso não é só uma impressão minha.A expressão de Bianca endureceu. — Alan tem estado muito ocupado ultimamente. É natural.— Cla
O jantar havia sido cuidadosamente planejado por Bianca. Velas adornavam a longa mesa de madeira polida, e o aroma de pratos finos preenchia o ambiente. Todos estavam reunidos: Alan, Olívia, Bianca, Eloísa e até mesmo Finn, a convite da anfitriã. Para Bianca, era uma oportunidade de reafirmar o papel de sua família como uma unidade indestrutível. Para Finn, uma chance de jogar mais lenha na fogueira de desconfianças e rivalidades que ele mesmo vinha alimentando.Porém, para Alan e Olívia, aquele jantar era uma armadilha emocional. Desde o beijo que os aproximara ainda mais, ambos vinham evitando interações significativas. Mas naquela noite, a proximidade era inevitável.Bianca mantinha um sorriso impecável enquanto observava Alan e Olívia. Algo no comportamento de ambos parecia confirmar suas suspeitas. Não eram apenas os olhares furtivos ou o silêncio desconfortável. Era a maneira como Alan parecia estar sempre ciente da presença de Olívia, mesmo quando fingia não estar.Enquanto os
A noite estava silenciosa, exceto pelo som distante dos carros passando na rua abaixo. No apartamento de Alan, a tensão era palpável. Ele se sentava no sofá, segurando um copo de uísque quase intocado, encarando a janela como se as luzes da cidade pudessem lhe dar as respostas que procurava. Mas nenhuma luz ou pensamento conseguia afastar o turbilhão em sua mente.Aquela não era a primeira vez que ele ensaiava uma conversa com Olívia, mas algo dentro dele dizia que, desta vez, não podia mais fugir. A lembrança do beijo, dos olhares trocados, dos momentos em que ela parecia ser a única pessoa capaz de entender quem ele realmente era, assombrava-o a cada instante.Ele pegou o celular e hesitou. Respirou fundo e, finalmente, enviou uma mensagem.— Alan: Preciso falar com você. Pode vir aqui?A resposta de Olívia veio quase instantaneamente.— Olívia: Isso não é uma boa ideia, Alan.Mas Alan estava decidido.— Alan: Por favor. Só quero conversar.Após alguns minutos de silêncio, a respost