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— Namorada? — Engoli em seco. — Quem é sua namorada?

— E é exatamente aí que você entra. — Ele disse com um sorriso esperançoso e eu entendi. Mas recusei de imediato.

— Não.

— Por favor, Jenny. — Meu melhor amigo me implorou. Eu balancei minha cabeça. Eu não poderia fazer aquilo, eu não faria.

Adrian queria que eu fingisse ser sua namorada? Aquilo era ridículo.

— Não! — Eu quase gritei, minha voz um pouco embargada quando ele fez uma cara triste para mim. Oh meu Deus. Era como se estivesse escrito, eu cederia para ele.

— Por favor, Jenny. — Ele suplicou novamente. — Apenas duas semanas, eu prometo. Basta pensar nisso como um período de férias apenas.

— Ficar de férias não tem nada a ver com ser a namorada meu melhor amigo gay. — Eu disse firme, mas abaixei a cabeça quando senti que cederia.

— Jennifer... — Ele demorou a continuar e eu olhei para ele. — Você sabe que eu não posso contar... Eu não posso...

— Duas semanas. Isso é tudo. — Eu finalmente cedi e ele sorriu, me puxando para um abraço de urso. Fiquei parada por algum tempo, antes de finalmente abraçá-lo de volta. Eu faria isso por ele. Afinal de contas, é para o que os melhores amigos servem.

Ao longo dos próximos dias eu aprendi mais sobre a família do Adrian do que eu sabia nos últimos sete anos. Os passatempos da sua mãe, o negócio do seu pai, tudo o que eu não sabia. Apenas uma coisa Adrian se recusou a me dizer e foi sobre o seu irmão, Pierre. Ele disse que quando eu o encontrasse, entenderia o motivo.

— Jenny! — Adrian exclamou quando entrei em seu apartamento. Ele estava vestindo apenas uma boxer e suas roupas estavam espalhadas para todo lugar. Eu levantei uma sobrancelha para ele. Alguém poderia pensar que uma mulher morava aqui e não um cara.

— Uau. — Eu assobiei quando ele tirou uma garrafa de vinho de algum lugar debaixo de uma pilha de roupas. — Você está jogando roupas fora ou algo assim?

Ele me deu um olhar repressor. — Claro que não. Estou arrumando.

Eu levantei minhas sobrancelhas em descrença. — Arrumando? É assim que se chama agora?

Ele olhou para mim ainda mais sério. — Cale a boca. Eu tenho que ir perfeito, não importa o que eu tenha que fazer. E quando você vir como impecavelmente meu irmão se veste, vai entender.

Esta era outra coisa que eu não entendia sobre Adrian. Ele era incrível em todos os sentidos. Ele tinha um trabalho importante, ganhava o suficiente para ser independente, tinha um monte de amigos, era a menina dos olhos de sua mãe, mas ainda assim, ele sempre se comparava ao irmão. De acordo com Adrian, se eu achava que ele era perfeito, eu não saberia como reagir quando encontrasse Pierre.

— Seu irmão e você são duas pessoas diferentes. — Eu disse. — Se todos no mundo tentassem ser como outras pessoas, não teríamos originais. Você está indo para a casa dos seus pais, não para um almoço de negócios ou algo assim. Você não tem que se vestir a rigor só porque o seu irmão se veste como um homem de negócios o tempo todo ao invés de se vestir como uma pessoa normal?

Adrian olhou para mim com surpresa. Era como se ele não pudesse acreditar que as palavras saíram da minha boca. Eu nunca tinha o repreendido por suas escolhas, pela maneira como ele pensava, – Eu não era sua mãe, pelo amor de Deus! – mas dessa vez eu tive que fazer. Eu não seria uma boa amiga, e muito menos uma melhor amiga se eu deixasse que ele se comparasse ao seu irmão o tempo todo, se colocando para baixo.

— Você está certa. — Adrian suspirou. — Eu não deveria me comparar ao Pierre. Eu vou pra casa usando um calção e nada mais.

Eu ri. Eu não tinha outra coisa a fazer. Ele me entregou a garrafa de vinho e eu bebi no gargalo, deixando respingar em meu queixo, fazendo-o torcer o nariz em desgosto.

— Você é realmente uma... — Ele fez uma pausa, procurando a palavra certa. — Afinal, o que há de errado com você?

Eu sorri, sabendo que a próxima coisa que eu ia dizer, provavelmente, iria fazê-lo querer me matar.

— Como se você nunca tivesse colocado algo largo assim na boca.

Ele me deu um olhar de reprimenda, sem dúvida, percebendo ao quê eu estava me referindo.

— Não é engraçado, Jenny. Lembre-se, sem piadas sexuais na frente dos meus pais.

Eu fiz uma careta.

— Como é que eles vão acreditar que somos realmente um casal?

— Quando dermos pequenos beijos e nos abraçarmos como os casais normais...? — Adrian parou, fazendo meus olhos se arregalarem em surpresa. Eu olhei para ele, tentando processar o que ele disse. Beijos? Abraços?

— Tá brincando, né? — Eu perguntei, cruzando os dedos e mentalmente rezando para que ele estivesse. Beijá-lo não seria nada demais se ele não fosse meu melhor amigo! Mas ele era. E a cereja no topo do bolo é que ele era gay! Beijar meu melhor amigo gay não era realmente algo na minha lista “100 coisas para fazer antes de morrer”.

— Nós temos que agir como um casal, Jenny. — Adrian disse lentamente, como se estivesse falando com uma criança. Eu fiz uma careta quando ele continuou. — Eu não sou um grande fã, confie em mim, mas eu realmente não posso deixar isso pra lá.

— Você nunca vai dizer a eles? — Eu perguntei. Este era um tema delicado para ele. Nós quase nunca o abordávamos. Era um tabu que Adrian não queria quebrar. E eu o evitava o máximo possível, mas às vezes eu não podia deixar de perguntar a ele.

Ele olhou para mim, mas eu nem sequer pestanejei. — Isso é decisão minha.

— Eu só estou perguntando a você. — Eu suspirei. — Você não pode esconder deles para sempre, um dia, quando você realmente encontrar alguém, você pode perdê-lo, porque se recusa a assumir a homossexualidade.

Ele se virou abruptamente e entrou na cozinha. Eu suspirei, esperando que ele voltasse a si. E enquanto eu esperava ele se acalmar e voltar, eu peguei todas as roupas do chão. Tirei os ternos dos cabides e coloquei-os sobre o sofá. Quando eu estava dobrando os seus jeans, Adrian entrou na sala. Ele pareceu surpreso em me ver ainda lá e arrumando tudo.

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