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04. Estranha embaixo do meu teto

Ceyas

— Me lembre o motivo para que Lewyn esteja aqui — pede Lugi, parado na porta do quarto de hóspedes da minha casa junto comigo. O homem não tem saído do lado da mulher, eu até tentei fazer com que ele saísse, mas Kanoi me disse para deixar que faça o que quiser.

— Kanoi disse que ele deve fazer o que quiser — lembro a meu amigo.

— Esse maldito nunca mostrou interesse por nada, como agora fica assim? Velando o sono de uma estranha? — pergunta injuriado, o que entendo e não compreendo na mesma medida, dado que eles não possuem um relacionamento, contudo, também me sinto incomodado pela presença constante dele.

— Vocês sabem que ele pode ouvir tudo o que estão dizendo, certo? — A mulher mais baixa que eu, fica na minha frente como se fosse muito maior. Onna gosta de criar encrenca, até mesmo comigo, que sou o seu irmão. — Não acredito que me pediu para ficar cuidando de uma estranha.

Ela faz questão de pontuar a palavra, expondo que foi Lugi a usá-la dessa maneira primeiro. Ninguém acreditaria que minha irmã usa palavras tão bem quando gosta de utilizar primeiro os punhos.

— Você sabe, foi o alfa que pediu —professa ele, jogando a culpa para mim. No entanto, acredito que a mulher ficaria muito irada de saber que um bando de homens estranhos foram os responsáveis por cuidar de seu corpo.

Ela estava imunda, precisava ser limpa.

— Saiam do quarto, eu preciso dar banho nela antes de ir para reunião da faculdade — esclarece, fazendo um sinal de mão para sairmos, contudo, de novo, tenho aquela sensação estranha em meu peito, me dizendo que não deveria seguir o que me falou.

É minha casa, vou aonde eu quiser.

— Ei, vamos, antes que ela enfie suas garras em nós — comenta Lugi, segurando em meu braço, me fazendo segui-lo, uma vez que percebeu que Lewyn olhou para nós como se fosse nos expulsar caso não saíssemos com nossas próprias pernas.

Tenho mesmo que seguir o que Kanoi disse e o deixar com ela até nesse momento?

— Já faz três dias, ela não deveria ter acordado? — questiona Lugi, descendo as escadas do meu lado, enchendo sua mente com outro assunto para não pensar que o homem ficou para trás acompanhando a estranha que mantenho na minha residência.

Os comentários sobre eu ter trazido uma mulher após ter saído em uma missão onde deveria apenas assassinar começaram a se espalhar, contudo, não quero me preocupar com os comentários no momento. Tem muito para resolvermos, o que inclui descobrir a identidade da sujeita.

— Kanoi disse que ela estava a ponto de morrer — articulo as palavras que ela disse com tanta calma e a sensação que experimentei quando as ouvi se repete. Meu peito volta a formigar de um modo estranho.

— Uma mulher a ponto de morrer fez tudo aquilo? — inquire Lugi. Me olha de soslaio, pedindo que eu pense cuidadosamente no que estou fazendo, mantendo-a embaixo do meu teto, dado que ela demonstrou ser um perigo.

Contudo, Kanoi disse que eu tinha duas opções, escolhi aquela na qual a salvo.

— Estamos investigando lobas que podem ter sido sequestradas recentemente, mas muitos lupinos acabaram sumindo nos últimos tempos — explica, e esse foi um problema muito grande para o mundo sobrenatural num todo.

Todas as pessoas se preocupavam com a possibilidade de não voltarem para casa depois de saírem. Após algumas concluírem que havia alguém nos capturando, a situação se tornou mais turbulenta, já que poderia ter a ver com caçadores, contudo, os Silver falaram conosco, pedindo que ajudássemos a eliminar os híbridos violentos.

— Nós nem temos certeza de que ela é uma loba — raciocina Lugi, jogando-se no sofá apanhando um cubo mágico, começando-a a resolvê-lo quase que automaticamente.

— Você sentiu aquela aura, aquele desejo de subjugar — comento, avaliando como o seu semblante se modifica, uma vez que deve ter sido difícil para ele, dado que era um alfa interferindo com a sua lealdade a mim. — Apenas um lupino conseguiria impô-la a nós daquela maneira.

— Ainda é estranho — pondera Lugi. — Por que de repente ela começou a sofrer daquele jeito? E o que foi aquilo que houve com o bebê? Ainda penso naquilo com receio.

— Não sabia que você era um covarde, Lugi — zomba a voz da mulher que nunca se lembra de que antes de entrar na casa de alguém é preciso bater na porta.

— Kanoi, é sempre incrível ver você — debocha o meu amigo. — Consegui o que queria?

— Achar begônia de sangue não é tão simples, mas tenho contato com alguns covens e recebi ajuda — profere ela. Contudo, assim como eu, Lugi estranha que a mulher tenha decidido pedir auxílio para conseguir algo para uma pessoa que não conhece.

Kanoi muito dificilmente pedirá a ajuda de alguém, mesmo que a situação seja horrorosa. Porém, foi lá e fez o que não está dentro de seu comum somente para ajudar aquela mulher.

— E o que fazemos agora? — pergunto, dado que sua movimentação foi simplesmente para que a estranha se recupere.

— Fiz um extrato e farei com que ela tome, deve ser o bastante para que ela acorde — explica a bruxa. — Claro, trouxe novas sementes de begônia de sangue. Espero que dessa vez elas sejam cultivadas com cuidado.

— Você pensa na alcateia — zomba Lugi, tenho certeza de que bateria palmas debochadas se a situação fosse um pouco melhor, contudo, todo o clima na casa está estranho devido à presença de uma única pessoa.

— Pago os favores que me fazem — garante Kanoi. — Agora verei a minha paciente — avisa, rumando para o primeiro andar sem ligar para o consentimento que posso dar.

É incrível como as pessoas ao meu redor tendem a agir exatamente como querem.

— É bom que ela tenha trazido novas sementes de begônia de sangue, depois que as nossas foram destruídas pelo seu pai, nós… — Lugi para de falar antes que eu peça para fazer. Esse não é um assunto que goste de comentar. Não quero colocar mais problemas na nossa lista imensa. — Deveríamos verificar o que ela vai fazer?

— Sim, é uma boa ideia — pontuo, erguendo-me para voltar até o quarto que mantém o único som de batimento cardíaco que continua atraindo a minha atenção sem parar.

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