06. Perguntas sem resposta

Ceyas

Tento me erguer o mais rápido que consigo após ter sido pego tão diretamente pelo seu ataque. Ele falou sério quando mencionou que quebraria os meus ossos. Experimento a dor correndo através dos meus músculos enquanto eles se ajustam até que a cura ponha os ossos no lugar.

— Eu não sei qual é a sua intenção aqui, mas não conseguirá o que quer — atesto, ouvindo o barulho dos pedaços dos ossos se reunindo onde pertencem. Apoio a palma da mão na boca, limpando o sangue que subiu por minha garganta, escapando por ela. — Coloque a mulher no chão.

— Não — diz o bruxo, lançando mais uma onda de ar na minha direção e meu corpo é pressionado mais uma vez contra a madeira da casa.

Mais do que o som dos meus ossos se partindo. Escuto o trincar da madeira, ele se torna mais alto, quase tomando toda a minha atenção. Se eu não pudesse ver a mulher sendo mantida pelo homem, quem sabe fizesse menos esforço contra a sua magia, contudo, me pego sendo impelido a me esforçar grandiosamente.

Espero que ele mantenha o seu foco em mim. Lugi deve ter percebido o que está acontecendo. Através dos sons, provavelmente percebeu que estou sendo pressionado e que a única maneira de pegar esse sujeito é surpreendendo-o.

Lidar com magia não é nada simples, devido a isso, mantemos uma aliança com alguns bruxos que moram em nosso território. Não é o mesmo que ter um coven como aliado, mas tem servido para nós nos últimos anos.

Entretanto, não há como fazer com que eles cheguem até nós rapidamente agora.

— Ei! — O grito de Lewyn vindo do andar de baixo faz com que o homem verifique aquele que se atreveu a ficar no seu caminho quando conseguiu me pressionar tanto.

O sujeito muda o seu foco para aquele que berrou pela sua atenção. J**a um ataque igual àquele que usa para me prender na parede, no entanto, arregala os olhos, expondo a sua presença quando ele não se move.

— Coloque-a no chão agora mesmo — manda Lewyn, e houve muitos momentos em que me perguntei o motivo de meu pai ter mantido alguém como ele na alcateia, ainda que não soubesse nada sobre o seu passado.

Apesar da desconfiança de todos, Lewyn nunca contou nada sobre o que fez ou quem é, apenas viveu entre nós calmamente, seguindo suas ordens e provando que seria um lobo de valor para alcateia. Contudo, a sua reação atual é completamente diferente.

Não há muitas alcateias que mantenham vários alfas no seu território, no entanto, nos fazemos dessa maneira, porque sabemos que muitos não querem assumir a responsabilidade de criar uma alcateia e um lobo sozinho pode ser pego desprevenido.

Entretanto, o receio de que eles se voltem contra o alfa regente nunca some do coração daqueles que pertencem a uma alcateia composta por vários alfas. Nesse momento, meio que vejo o receio dessas pessoas tomando a forma de um único homem.

Como magia está apenas passando por ele sem causar estrago?

Olho para ele, acreditando que a lealdade que deu a mim não mudará simplesmente porque decidiu agir de um modo diferente desde que essa mulher surgiu em nossas vidas. Consigo senti-lo em minha mente, dizendo-me para ficar atento ao momento em que precisarei reagir.

— Você é como… — O bruxo não consegue continuar falando, já que atravessando entre os cômodos desenfreadamente em sua forma de lobo, Lugi o ataca.

A surpresa foi tanta que ele jogou o corpo da mulher enquanto proferia as palavras para o seu feitiço. Minha mente mais uma vez martelou entre duas opções: atacar o bruxo ou pegá-la antes que caia.

Para ela, a queda não seria um problema, mas tem o bebê. É difícil dizer o que aconteceria com ele se sua mãe sofresse um impacto muito grande na região da barriga.

— Mate-o. — Foi o que ouvi Lewyn gritar, e entendi que ele se responsabilizaria por impedir que ela se machuque.

O cheiro de sangue alcançou minhas narinas antes que pusesse minhas mãos no bruxo. Lugi não conseguiu atacá-lo fatalmente, mas arrancou um de seus braços e grunhe no chão, sendo acometido pela dor do feitiço com o qual foi atacado.

Aproveitando-me do período em que ele se focou somente em Lugi, enfiei minhas garras em suas costas, bem em sua coluna, sentindo os seus ossos se despedaçando entre meus dedos. Mais de uma vez repeti o meu ataque, garantindo que não consiga se mexer.

Caindo no chão, o bruxo tenta proferir seu próximo feitiço, é atacado pela boca grande de Lugi. O lobo imenso abocanha a garganta do homem, mordendo até arrancar a cabeça do restante do corpo.

A vibração correndo pelo meu corpo é um aviso de que meu processo de cura ainda está acontecendo, porque os poucos segundos que tive para sair de onde estava até alcançar o bruxo não seriam o bastante para me recuperar totalmente.

— O que merda aconteceu aqui? — pergunta Lugi, limpando a boca rudemente, cospe o sangue que se acumulou nela várias vezes. — De onde é esse cara? — inquire, chutando a cabeça do morto.

— Eu não sei — digo, me apoiando no corrimão, olhando para baixo, onde Lewyn mantém a mulher segura em seus braços.

Mesmo sendo a causadora de toda essa confusão, ela nem abriu os olhos para ver os danos que causamos em nome da sua segurança. Lewyn olha para cima, observando-me e não consigo distinguir o que vejo em seus olhos.

No entanto, também não compreendo como ele não foi afetado pela magia do bruxo. Vai me responder se eu perguntar? Não tenho certeza. Parece que não possuo a resposta para nada ultimamente.

— Traga ela para cima — mando, ouvindo que os lobos que conseguiram me escutar já chegaram.

Pedirei que eles verifiquem os arredores, que procurem qualquer um que pareça estranho, uma vez que, pelo visto, essa mulher nem precisa estar acordada para causar estrago.

Talvez eu deva pedir que Kanoi coloque uma magia de proteção na nossa residência, pelo menos até que eu consiga conversar com essa sujeita para lhe perguntar o porquê de desejarem tanto tê-la.

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