CeyasApós as revelações de Lewyn, não temos tantas informações quanto imaginávamos, uma vez que ele não tem ideia de como a sua irmã sobreviveu todos esses anos, e muito menos podia senti-la.— Sentiu ela morrer? — investigo. — Pode ter se enganado. Era uma criança.— Se tivesse um luparck, saberia que não tem como se enganar — me responde ligeiro. — Da mesma forma que sei que o sangue dela está correndo muito lentamente nas veias, apesar do nível de cura que possui, eu saberia que o seu coração parou. O que senti naquele momento… nada do que vivi depois me fez esquecer — atesta.— Sabemos quem ela é agora — replica Lugi, como se não houvesse nada mais pelo que devêssemos nos alegrar nesta ocasião, uma vez que a vida dela antes de Lewyn e depois do momento em que a viu morrer ainda são obscuros.— Ela não é um lobo puro? — inquiro para Lewyn.— Não, embora seja difícil saber que traços ele pôde acrescentar à existência dela com as suas maluquices — declara, me dando uma resposta objet
CeyasEu que falei sobre não querer ninguém fazendo nada de cabeça cheia, então, por que estou aqui observando essa mulher dormir de novo? Lewyn foi arrastado para algum lugar da casa por Lugi.Poucas vezes vi meu amigo tão irritado como hoje. Lewyn pode ter sorte e azar na mesma medida por ser aquele que faz com que ele fique nesse estado. É difícil dizer quão bom pode ser para os dois.Mas os meus receios para aqueles dois não explicam o porquê de eu ter parado aqui.Ela tentou me matar, com certeza continuaria tentando se não fosse o que ocorreu em seguida. Vi em seus olhos como ansiava pela minha vida. Porém, estou aqui. Que tipo de loucura é essa?Deveria apenas me afastar o máximo que puder, porque se acontecer algo incontrolável, tenho que priorizar o que fará com que mais vidas sejam salvas. Não posso cometer um erro.Contudo, talvez eu tenha cometido um no instante em que a trouxe para minha casa. Podia tê-la colocado sob a responsabilidade de alguém, entretanto, abracei o pro
Ceyas— Você está com essa expressão horrível há três dias — comenta Lugi, ignorando o olhar que lhe lanço. Coloca a comida na minha frente em seguida. — Se você não se mantiver forte, toda a alcateia pode morrer — diz as palavras com um tom zombatório, mas é a mais pura verdade.— Está falando de si? O que são esses olhos de peixe morto? Quanto tempo você não entra na água, peixinho? — Ele ergue um talher, aponta para mim, contudo, esquece que queria me acusar no segundo em que vê a pessoa se aproximando da cozinha.Agora faz cerca de trinta e duas horas desde que Neamir acordou, mas é um pouco menos se considerarmos a sua última tentativa de matar alguém. No segundo em que viu Lugi, tentou atacá-lo, teria conseguido se Lewyn não se colocasse no caminho.— Está pronta para aceitar a minha comida? — pergunta ele, baixando o que tinha em mãos, para não acabar disparando algum dos alarmes na cabeça dela que farão com que se torne seu alvo de novo.— O bebê está com fome — profere, e gost
Ceyas— Quer dizer que não sabia que ele tinha perdido a sua luparck? — inquiri Lugi para Kanoi.Hoje, mais do que em outros dias, parece que eles estão prestes a brigar, em parte porque meu amigo ainda não teve uma grande melhora em seu humor desde que percebeu o quanto não sabia sobre Lewyn.— Como eu poderia saber? Já disse que não sei tudo — articula a mulher, não usando uma entonação muito melhor, o que sempre os coloca em um ponto em que uma briga pode acontecer a qualquer momento, e eles sequer se importam com as consequências.Eu, como o alfa regente, é que tenho que lidar com os dois.— Não acha que deveríamos perguntar o mais importante a ela? — questiono aos dois, me metendo no meio de sua pequena discussão antes que ela se torne maior e saia de controle. Se possível, quero evitar que se matem.— Tem razão — comenta Lugi, sentando-se na cadeira de um modo completamente diferente, deixando as costas rente antes de empurrá-la lateralmente com um pé, trazendo-a para mais perto
Neamir— Não me siga — peço para o homem que ainda é difícil de identificar, como aquela criança que esteve comigo muitos anos atrás. Agora, ele cresceu e se tornou um homem forte, alguém que pôde lidar com essa vida sem a minha ajuda. Entretanto, independente da aparência, eu o reconheceria.Na primeira vez, estava movida demais pela sede de sangue, então não percebi que uma parte minha estava sendo arrastada na sua direção.— O que disse a eles?Ele me olha, em seguida, averigua a porta por onde passamos.— Eles não vão nos escutar — asseguro a ele. — Tudo bem, algumas coisas aconteceram e eu posso fazer isso.— Perguntaram coisas básicas, apenas contei o que sabia, ficaram interessados, já que te vi morrer — profere, e por mais que tenha crescido e enfrentado essa vida, sofre pelos estragos que eu, mesmo sem querer, arrastei para perto dele.Por mais que não quisesse, não havia uma maneira de evitar. Da mesma forma que não tenho o poder de impedir o que pode acontecer se eu apenas p
Ceyas— Seu trabalho foi bem feito — assegura-me a mulher. No entanto, não tenho certeza se posso entender as palavras dela como um elogio, quando continua me encarando como se eu fosse o próximo em quem meterá uma bala.Ela desmarcou nosso compromisso como bem quis e eu apenas tive que acatar. Aproveitei os últimos dias para observar Neamir, mas não consegui nada.Depois de duas semanas com ela sendo a minha hóspede, sinto que posso enlouquecer, mas esse assunto tem mais urgência.Os Silver são todos difíceis, lidar com caçadores não é fácil, contudo, essa mulher é bem pior. É complicado dizer o que ela pensa e, pior ainda, descobrir as suas intenções. Contudo, nessa situação, ambos saímos ganhando.— Cumpro com a minha parte em todos os acordos que faço — asseguro, conseguindo mentir muito bem, dado que estou escondendo algo que encontrei entre aquelas pessoas. Entretanto, não sei o que ela faria se conhecesse Neamir, muito menos tenho como saber o que a loba faria a ela. Às vezes, e
Ceyas— Não é normal cumprimentar o dono da casa quando o vê? — pergunto, notando que a mulher quase me fulmina com os olhos, como se preferisse arrancá-los a continuar me encarando. — Não se esqueça de quem fez com que estivesse em um ambiente não hostil.— Quer o quê? Deseja que eu lamba os seus pés? — replica, com a arrogância de sempre. — Obrigada, Ceyas, você foi um bom homem. Obrigada — repete, e o deboche escorre em cada palavra.— Pode odiar as pessoas que te machucaram, mas será que pode mesmo me odiar? — questiono, percebendo que ela talvez me ofereça mais do que uma simples reação.A forma como os vincos em sua testa se aprofundam, enquanto ela caminha até mim, com o corpo a centímetros do meu, me faz refletir sobre quais calos eu ainda não esmaguei.— Não tem ideia de quanto ódio eu carrego, poderia encapsular e vender — responde, mais uma vez com um deboche explícito. Será que é uma brincadeira para ela? — Sabe o que mais eu poderia vender?Como não respondo, ela ri sozinh
CeyasO que diabos essa mulher está pensando em fazer quando sabe que tem tantas pessoas atrás dela? Devia parar de agir dessa forma, porque sabe que só pode dormir e descansar tranquilamente porque não estava em um ambiente hostil.Contudo, o que é essa fuga?No momento em que pedimos informações, não disse metade do que deveria saber. Nem precisa ser um gênio para poder chegar a essa conclusão. Essa mulher é maluca. Também é um monstro se consegue correr dessa maneira, independente de como estava há alguns dias.Seus rastros ficam cada vez mais longe, apesar do meu esforço.O que ela imagina que conseguirá ao sair dos limites do meu território? Não tenho rixa com nenhuma alcateia próxima, mas, no segundo em que perceberem que não é somente uma loba pedindo abrigo, a vida dela ficará em jogo.Vão tratá-la de um modo horrível. Pode até considerar que não recebeu o melhor dos tratamentos na minha casa, contudo, se ponderar sobre o que terá que enfrentar, perceberá que foi um serviço cin