CeyasEstou me xingando mentalmente, porém, continuo indo na direção do quarto da minha hóspede adormecida. A mulher com certeza recebe mais visitas do que eu, uma vez que traz tantas preocupações para pessoas diferentes.Ouvi Lewyn saindo do cômodo, provavelmente para encontrar algo para comer, dado que fica do lado dela, como se ela pudesse saber os exatos momentos em que não está. Sinceramente, não o entendo, mas também não me compreendo nesse instante.Dessa vez, não hesito muito em abrir a porta, apenas giro a maçaneta e a abro ligeiro. Como pensei na outra noite, essa é minha casa, posso ir exatamente para onde eu quiser, na hora que desejar.Contudo, algo deve estar contra mim nos últimos dias.Antes que toda a porta fosse aberta senti o meu corpo ser empurrado para trás pela palma da mão me pressionando com tanta força que tenho certeza de que minhas costelas trincaram.Meio cambaleante, ousei olhar para a pessoa na minha frente e ela mostrou as suas presas com muito entusiasm
CeyasPensei que, depois do ocorrido, Lewyn pudesse tentar escapar, mas ele apenas a colocou no quarto, ignorando todo o estrago feito por Lugi. Não vai ser fácil consertar essa parede sem fazer uma bagunça.O homem do meu lado pede que não o critique, uma vez que fez tudo o que precisava para me ajudar. Mesmo que não pedisse, não é minha intenção. Odeio que tudo em meu entorno esteja transcorrendo de uma maneira tão absurda.É tudo influência dessa mulher?Com uma expressão fechada, fria e impassível de emoções, Lewyn se aproxima de nós. É muito diferente do rosto que eu vir dar um sorriso tão límpido enquanto a observava.— Devemos conversar aqui? — pergunta ele. — Prefiro não me afastar tanto dela.— Caralho, que merda tá acontecendo com você? — inquire Lugi. Sua ignorância não muda a maneira como Lewyn o observa, porque, aparentemente, o tom de nossas palavras não muda em nada como as compreende.Coloco uma mão sobre o peito dele, evitando que ele tente avançar no sujeito inexpres
CeyasDemorou um pouco mais de tempo do que esperava para que Lugi voltasse a se aproximar de nós. Contudo, na sua posição, não poderia apenas ignorar o que aconteceu, é preciso que ele também saiba tudo que Lewyn tenha a dizer.— É melhor que dessa vez você fale tudo o que sabe — ordena ele, esquecendo de todos os momentos em que usava a sua fala mansa com o homem, apenas esperando que as suas emoções fossem escutadas, quando, na verdade, talvez ele nem pudesse percebê-las.— Posso resumir — declara Lewyn. — Meu pai, assim como uma dezena de outros, queria aprender sobre o que faria os lobos evoluírem, para isso, ele usou tudo o que tinha. Sua magia, sua esposa, seus filhos, mulheres inocentes, mendigos, o que estivesse à disposição.— Seu pai não é um lupino? — pergunto, olhando de canto para Lugi. No entanto, neste momento, parece que ele consegue se controlar muito melhor do que antes, quem sabe por absorver o impacto inicial.— Não, ele era um bruxo, minha mãe era uma loba, uma m
CeyasApós as revelações de Lewyn não temos tantas informações quanto imaginávamos, uma vez que ele não tem ideia de como a sua irmã sobreviveu todos esses anos, e muito menos podia senti-la.— Sentiu ela morrer? — investigo. — Pode ter se enganado. Era uma criança.— Se tivesse um luparck saberia que não tem como se enganar — me responde ligeiro. — Da mesma forma que sei que o sangue dela está correndo muito lentamente nas veias, apesar do nível de cura que possui, eu saberia que o seu coração parou. O que senti naquele momento… nada do que vivi depois me fez esquecer — atesta.— Sabemos quem ela é agora — replica Lugi, como se não houvesse nada mais pelo que devêssemos ficar feliz nessa ocasião, uma vez que a vida dela antes de Lewyn e depois do momento em que a viu morrer ainda são obscuros.— Ela não é um lobo puro? — inquiro para Lewyn.— Não, embora seja difícil saber que traços ele pôde acrescentar à existência dela com as suas maluquices — declara, me dando uma resposta objeti
CeyasEu que falei sobre não querer ninguém fazendo nada de cabeça cheia, então, por que estou aqui observando essa mulher dormir de novo? Lewyn foi arrastado para algum lugar da casa por Lugi.Poucas vezes vi meu amigo tão irritado como hoje. Lewyn pode ter sorte e azar na mesma medida por ser aquele que faz com que ele fique nesse estado. É difícil dizer quão bom pode ser para os dois.Mas os meus receios para aqueles dois não explicam o porquê de eu ter parado aqui.Ela tentou me matar, com certeza continuaria tentando se não fosse o que ocorreu em seguida. Vi em seus olhos como ansiava pela minha vida. Porém, estou aqui. Que tipo de loucura é essa?Deveria apenas me afastar o máximo que puder, porque se acontecer algo incontrolável, tenho que priorizar o que fará com que mais vidas sejam salvas. Não posso cometer um erro.Contudo, talvez eu tenha o cometido no instante em que a trouxe para minha casa. Podia tê-la colocado sob a responsabilidade de alguém, entretanto, abracei o pro
Ceyas— Você está com essa expressão horrível há três dias — comenta Lugi, ignorando o olhar que lhe lanço. Coloca a comida na minha frente em seguida. — Se você não se mantiver forte, toda a alcateia pode morrer — diz as palavras com um tom zombatório, mas é a mais pura verdade.— Está falando de si? O que são esses olhos de peixe morto? Quanto tempo você não entra na água, peixinho? — Ele ergue um talher, o aponta para mim, contudo, esquece que queria me acusar no segundo em que vê a pessoa aproximando-se da cozinha.Agora faz cerca de trinta e duas horas desde que Neamir acordou, mas é um pouco menos se considerarmos a sua última tentativa de matar alguém. No segundo em que viu Lugi, tentou o atacar, teria conseguido se Le
Ceyas— Quer dizer que não sabia que ele tinha perdido a sua luparck? — inquire Lugi para Kanoi.Hoje, mais do que em outros dias, parece que eles estão prestes a brigar, em parte porque o meu amigo ainda não teve uma grande melhora em seu humor desde que percebeu o quanto não sabia de Lewyn.— Como eu poderia saber? Já disse que eu não sei tudo — articula a mulher, não usando uma entonação muito melhor, o que sempre os coloca em um ponto em que uma briga pode acontecer a qualquer momento e eles sequer se importam com as consequências.Eu, como o alfa regente, é que tenho que lidar com os dois.— Não acha que deveríamos perguntar o mais importante a ela? — questiono para os dois, me metendo no meio de sua pequena discussão antes que ela se t
Neamir— Não me siga — peço para o homem que ainda é difícil de identificar, como aquela criança que esteve comigo muitos anos atrás.Agora, cresceu e se tornou um homem forte, um que pôde lidar com essa vida sem a minha ajuda. Entretanto, independente da aparência, eu o reconheceria.Na primeira vez, estava movida demais pela sede de sangue, então, não percebi que uma parte minha estava sendo arrastada na sua direção.— O que disse a eles?Ele me olha, em seguida, averigua a porta por onde passamos.— Eles não vão nos escutar — asseguro a ele. — Tudo bem, algumas coisas aconteceram e eu posso fazer isso.— Perguntaram coisas básicas, apenas contei o que sabia, ficaram interessados, já que