Então eu me decidi: Eu ficaria com essa realidade. Mesmo que me custe caro. Mesmo que depois eu descobrisse que não era real. Eu estava tão exausta emocionalmente, mentalmente e principalmente fisicamente. Eu tinha dormido em um colchão de verdade por quase um dia, mas mesmo se eu passasse uma semana dormindo não sinto que seria o suficiente para o meu corpo se recuperar de tudo que ele tinha passado. -não é importante. -Eu digo para Cedric. Finalmente depois que percebi que não tinha terminado a minha sentença. -Como conseguiu chegar até aqui? Veio sozinho? Como me encontrou? -Eu pergunto, mas se assim como aconteceu com Snoo, ele me respondesse qualquer coisa que não fizesse sentido, eu iria simplesmente ignorar, por mais que fosse doloroso que as possibilidades de isso ser só mais uma alucinação estivessem aumentando cada vez mais. -Isso não são coisas que eu acho que eu deveria explicar agora. Não aqui e não agora. Minhas entranhas estão me corroendo por dentro e meu lobo não m
O local que eu estou assim que abro meus olhos, é sem dúvida nenhuma muito diferente dos últimos locais que eu tenho acordado. Para começar, a claridade quase me cega no começo. Meus olhos começam a arder como se o tempo que eu tivesse passado longe dessa quantidade de luz tivesse sido o suficiente para me transformar em um tipo de vampiro. Imediatamente fecho os meus olhos e espero alguns segundos antes de abrir eles de novo, e dessa segunda vez eles ardem bem menos.A pessoa dona da voz que tinha falado comigo antes é bem paciente com todo o meu processo de abrir os meus olhos. Eu ainda sentia seus braços em volta de mim daquele jeito tão aconchegante que me fazia querer nunca mais sair daquele espaço,e ele não tinha falado mais nada até minha segunda tentativa de abrir os olhos, realmente esperando pacientemente.E é então que eu vejo quem eu sabia que era o dono daquela voz, e também daqueles olhos que estavam amarelos sobre a luz do sol. Brilhavam como se ele fosse o próprio Apo
Quando vejo Cedric prestes a sair do quarto, ficou parada por um pouco mais que alguns segundos antes de começar a seguir ele. Ver ele se afastando para longe agora, mesmo que seja ele indo a um cômodo de distância, me deixando sozinha com todos aqueles pensamentos ansiosos que com certeza me esperavam atrás da minha porta mental imaginária, era com certeza, sem sombra de dúvidas nenhuma, o pior cenário que eu poderia imaginar por agora. Então correndo o risco de parecer um cachorrinho carente, fui atrás dele mesmo assim. Mas assim que dei meu primeiro passo de verdade em direção a porta que ele estava se dirigindo, sinto uma pequena fisgada nos pés e olho para baixo imediatamente, lembrando do estado lastimável que eles deviam estar ontem a noite. Mas de alguma forma, a dor tinha diminuído bastante. Meus pés estavam cuidadosamente enrolados e embalados em bandagens e curativos, e considerando a sensação de molhado que eu sentia debaixo daquelas bandagens, provavelmente também estav
Ele me põe sobre o balcão e ele eu fico, tal qual a criança que ele estava fazendo com que eu me sentisse. Mas eu com certeza não falaria isso em voz alta pra ele. Ele não precisava saber do poder que estava tendo sobre mim naquele momento, talvez em nenhum momento. Resolvo dizer outra coisa, para que comecemos logo o que tinha que ser começado:-E então, por onde gostaria de começar nossa “conversa”?Depois que ele tinha me deixado no balcão, começou a remexer em alguns armários da cozinha. Vi ele mexer em uma gaveta, depois em alguns armários mais altos e por último um que ficava embaixo da pia. -Me diga você. Afinal de contas, você é a pessoa que está fazendo o papel de inquisidora hoje. Mas eu também tenho algumas perguntas, então se você me permitir, você faz uma e eu faço outra em troca, tudo bem pra você? - Assim que ele terminou de falar, tinha sobre a bancada da pia um duas embalagens fechadas de sopa enlatada, dois pratos fundos o suficiente para serem chamados de pratos d
-Continuando, acho que agora é minha vez de fazer uma pergunta. - Cedric não tinha dito nada por um tempo, deixando eu me concentrar em minha comida, e eu também não insisti em quebrar o silêncio. Eu estava tão feliz com aquela sopa enlatada que queria me concentrar cada segundo nos sabores dela na minha língua, mesmo estando com ela meio dormente da forma que previ que ficaria, ainda assim eu sentia como se aquele prato fosse um dos mais gostosos que eu havia comido em toda a minha vida. Sabe quando a comida não chega ter só sabor de comida, mas tem junto um sabor de memória? Era isso que estava acontecendo. Aquela sopa tinha gosto de afeto, lembranças e cuidado. Eu tinha certeza que, não importa o que acontecesse, as situações em que eu me metesse, pra onde eu iria ou todos os pratos diferentes que eu poderia saborear depois de hoje, eu sempre me lembraria do gosto desse, e nada teria comparação.-Nada disso, espera um pouco ai…e quanto ao resto da minha pergunta? Você simplesmente
Sim. É verdadeNaquele momento, acho que Cedric interpretou errado a pergunta que eu tinha feito. Seu olhar foi mais do que um pesar. Havia medo. Acho que ele pensou que eu queria saber a resposta pra jogar a culpa nele. Talvez tenha pensado que eu fosse odiá-lo depois dela, mas não era por isso que eu tinha perguntado. Veja bem, não importa o que eu tenha ouvido, não importa as histórias que me haviam contado. Absolutamente nada disso importava, pois de alguma forma muito estranha, eu confiava nele. Não foi ELE que me sequestrou, então não tinha como eu colocar a culpa NELE. Agora, se eu realmente desse de cara com um daqueles que realmente eram responsáveis pela situação lamentável que eu passei meus últimos dias, eu com certeza daria um chute bem dado entre as pernas antes de fazer qualquer pergunta.Agora, minha verdadeira intenção de ter perguntado isso para ele, era saber se um palhaço que só eu podia ver, havia realmente me contado uma história que realmente havia acontecid
Bom, eu consegui evitar todos esses assuntos que pra mim eram tão terríveis, nos próximos dois dias que se passaram. Não foi difícil ignorar todo o mundo exterior e começar a chafurdar na realidade que existia apenas dentro daquela casa. No primeiro momento, eu não tinha nem sequer olhado onde estávamos, já que se só a claridade dentro da casa era o suficiente para fazer minhas córneas virarem geleia, não me arrisquei a olhar diretamente para as janelas, pelo menos nos primeiros momentos da manhã que acordei nessa casa. Mas depois? O que eu vi do lado de fora não me surpreendeu tanto assim. Árvores nos cercavam em todas as direções da casa. Digo que não me surpreendeu, pois todo o lugar já me dava um ar de cabana na floresta, com os móveis de madeira e as cores mais escuras. Parecia extremamente confortável de se morar ali. Mas não é porque eu estava isolada em uma cabana na floresta com um suposto lobisomem extremamente bonito, ignorando todo o meu passado, presente e provável fut
Feridas abertas e expostas que iam de um rosado a um vermelho vivo, e depois ao preto, como se a minha carne que estivesse apodrecendo de dentro pra fora. Eu já sabia que eram essas feridas as responsáveis por esse cheiro tão detestável. Sinto meu coração acelerado de pavor e o suor frio que provavelmente também encharcar meu corpo de verdade, começar a sair dos meus poros. Ou pelo menos das partes da minha pele que ainda tinham poros. Tento gritar, mas tudo que eu sinto é aquele arranhar clássico na garganta, dolorido, mas sem que som nenhum saia. Como se a voz arranhasse todo o caminho pra passar, mas desaparecesse antes de conseguir sair. O clássico de gritar e não conseguir, presente em tantos filmes de terror e principalmente, presente nos maiores momentos de pânico que temos. Eu até podia achar que esse tipo de coisa de gritar sem som não existia, que tinha sido uma invenção dos escritores de terror para assustar criancinhas, mas isso já tinha acontecido uma vez comigo, quando