Eu estava surpresa, isso com certeza eu estava. Mesmo sabendo que não deveria estar quando vejo Cedric parado na minha frente. Deveria estar surpresa porque não importa o quão confuso meus sonhos se tornem, ele sempre aparece. Mesmo que não todos os dias, ele está sempre lá na maioria das vezes quando eu vou dormir, como se fosse um fantasma ou meu demônio particular da paralisia do sonho, apesar dele ser muito melhor que isso e não me causar medo algum. Mas tinha algo diferente dessa vez, então estou surpresa. Mas quando eu olho para ele, me encarando com seus olhos profundos, me estudando como se EU não fosse real, como se EU fosse parte do sonho dele e não contrário, vejo que as olheiras que ele sempre teve naturalmente estavam maiores, e ele parecia abatido, muito abatido. Mas os seus olhos em mim, brilhavam como os de uma criança na manhã de natal, e ele começou a se aproximar muito devagar, como se tivesse com medo que se pisasse muito forte iria me espantar para longe como se
Os pensamentos intrusivos começam a invadir a minha mente antes que eu pudesse detê-los. Me deram as ideias que a gente aprende desde de pequeno para tentar acordar quando estamos em um sonho que não gostaríamos, tipo se beliscar, prender a respiração ou tentar forçar a abrir nossos olhos de verdade. “Por que não tenta? Pra que continuar nessa fantasia quando você sabe que é apenas isso, uma fantasia, e vai doer muito quando você der de cara para a parede e for realmente isso, uma fantasia.”A voz desses pensamentos me dizia, carregada de veneno, mas como todo e qualquer pensamento intrusivo eles foram ignorados e descartados sem muita dificuldade, afinal, eu tinha anos de prática.Eu não queria acordar desse sonho nem se tivesse um prêmio em dinheiro. O mundo poderia acabar agora e ter poucos segundos de vida, se eu pudesse passar cada um deles aqui dentro eu passaria, e passaria feliz.
Eu acordo e é simplesmente horrível acordar.Se eu batesse minha cabeça sem parar na parede até me induzir ao coma, eu conseguiria dormir pra sempre? Voltar para lá com aquele Cedric? Eu nem me importava mais se ele era real ou não, da forma que ele me beijou ...eu ficaria com aquela versão de um jeito ou de outro.As coisas desse lado, quer dizer, o lado da realidade bem longe do meu paraíso na terra dos sonhos, continuavam bem iguais da primeira vez em que vi, acabando com toda a esperança que eu tive de acordar de novo na minha outra cela, com paredes brancas e uma cama de verdade, e não importa o quanto eu teria achado horrível a dias atrás a ideia de passar o resto dos meus dias naquelas paredes, agora com o pensamento de acordar todos os dias NESSAS paredes, fazia eu querer arrancar meus próprios olhos. E também, tudo doía. Eu estava com um torcicolo que iria durar muito tempo, e talvez meu pescoço nunca mais voltaria a ser o mesmo.Talvez eu devesse conseguir algumas respostas
Eu tenho certeza que se eu contasse essa história pra qualquer um, ninguém acreditaria em mim. Sequestrada e mantida em uma cela do lado da de um palhaço? Fala sério! Quem em sã consciência sequestraria e trancafiar um palhaço??Se a alguns dias atrás eu estava agradecendo pelos céus terem me poupado de uma claustrofobia, já que passei tempo demais em lugares escuros e apertados, hoje seria o dia de agradecer aos céus por não ter coulrofobia, isto é, a famosa de fobia de palhaços.Mas se as coisas continuassem do jeito que estão, eu sendo mantida aqui como prisioneira nessa cela minúscula e a droga de um palhaço me encarando a uma luz precária, eu sairia daqui com essas duas fobias agregadas ao meu histórico, isso mantendo o pensamento otimista de que eu sairia daqui.Mas querendo ou não, estava acontecendo. Pelo menos agora eu tenho um palhaço calmo do meu lado, ao contrário do berrante cheio de lágrimas que ele tinha se tornado a poucos segundos atrás. -Escuta, se você não sabe po
-Deixa eu ver se eu entendi…posso fazer uma recapitulação do meu próprio jeito?-Claro, senhorita. Da mesma forma que me deu minha liberdade artística com a minha história, não vejo por que não você não deveria ter o mesmo direito. Fique à vontade, e eu vou corrigir caso você não tenha entendido algum ponto.-Tudo bem, vamos lá…Tinha um tipo de líder ou alguma coisa parecida, que tinha um primo ou talvez um irmão, que pegou o lugar de liderança desse líder e levou toda a sua tribo ou seja lá o que, pra uma morte certa em uma guerra com outra tribo? Então o irmão do antigo líder mandou ele pra longe, ou talvez tenha prendido ele em algum lugar para que ele não pudesse se meter no seu reinado fajuto, mas por algum motivo que Deus sabe qual foi, não resolveu matar o antigo líder? E agora, mesmo depois de ter estragado tudo e provavelmente matado algumas pessoas, esse novo líder fajuto agora prefere só buscar mais formas de fazer a situação ficar pior? E isso pra que? Pra tomar mais deci
Mesmo estando com fome, comi apenas umas duas mordidas daquele pão horrível com poucos goles da água.-Eles te trouxeram comida? -Eu pergunto ao Snoo. -Sim, quando você estava dormindo.-Bom…espero que você tenha tido mais sorte que eu no cardápio do dia. -Pode apostar que não.Decidi não perguntar mais nada, estava começando a me sentir entrando numa espécie de fundo de poço na minha mente, conforme a esperança ia se acabando, e eu não tinha muito mais combustível para alimentá-la. Vale mesmo a pena eu continuar nessa busca por respostas? O que iria mudar? No final das contas eu continuaria presa aqui independente de quanta energia eu dedicasse em pressionar o palhaço por mais respostas. No máximo, ele me daria mais uma ou outra droga de enigma como se eu fosse a merda do Sherlock Holmes. Eu não tinha mais energia pra gastar nisso, não agora. Eu não sei por quanto tempo mais eu fiquei afundada nessa minha poça de autopiedade até pegar no sono de novo.—O tempo corre diferente qua
Sabe aqueles dias, quando se tem um sono tão gostoso, que seu corpo parece uma pedra na hora de acordar? Ele fica duas vezes mais pesado, enquanto a cama de baixo de você parece mais leve, como uma enorme almofada cheia de plumas das aves mais finas que existem na terra. Os olhos, pesados como se alguém tivesse grudado eles com fita adesiva, e os pensamentos nublados, ainda com a memória do último sonho, isso nos dias em que se sonha. Isso estava acontecendo comigo, exatamente agora. Mas teve uma controvérsia. Eu não estava acordada, mas sim, entrando em um sonho cada vez mais fundo. Parei completamente de sentir meu corpo cansado e dolorido, e agora novas sensações começavam a cercar um corpo novo, e tudo que eu estava sentindo estava coberto por uma fina camada de fumaça que nublava todos os meus pensamentos. A primeira sensação de que tenho consciência são dos beijos suaves sendo distribuídos pelo meu pescoço, meus ombros e que iam descendo cada vez mais, isso, e a sensação de uma
Quando nos separamos um pouco tempo depois, naquela mesma bagunça ofegante que sempre parecemos, eu nem espero muito tempo para recuperar o fôlego antes de fazer a pergunta que estava na minha cabeça faz um tempo considerável.-E então, quando planejava me contar que é um lobisomem? -Ele fica estático e me olha com uma cara tão confusa que chega a ser fofa.-O que? -Ele me pergunta, com seu tom de voz refletindo os mesmos sentimentos de confusão que estavam cravados na sua expressão. -Quando. Você. pretendia. Me contar. Que. É. Um. Lobisomem? Eu digo pausadamente para dá-lo a oportunidade de entender melhor o que eu tinha dito, afinal, não tinha tanta certeza o que aquele ‘O que?’ significa.Ele fica bastante tempo me encarando sem responder nada, e de novo, acho isso uma graça. Eu quase conseguia ver as engrenagens girando na cabeça dele, junto com uma pequena versão de um Sherlock Holmes enquanto ele tentava raciocinar como eu havia descoberto seu segredo. -Como você…? - Ele perg