Oliver dá um passo em minha direção, e eu poderia jurar que vejo seu sorriso fantasmagórico crescer ainda mais de um jeito até sobrenatural, deformando seu rosto em uma careta torta demais pra ser totalmente humana. Mas eu sabia que isso era só uma pegadinha da minha mente. Ele era totalmente humano, e esse era o problema. Eu sabia do que os humanos eram capazes. Ele se aproxima mais, meu coração estava batendo no meu peito como um martelo, talvez Oliver conseguisse ouvi-lo mesmo se estivesse do outro lado da sala. Isso era terrível, demonstrar medo era uma das piores coisas que meu corpo poderia fazer por mim agora. -Obrigado por me trazer no quarto. Agora vá embora. -Eu digo, querendo logo dispensá-lo da melhor maneira.-Oh, não foi nada. Uma pena que eu não consegui chegar a tempo pra te ajudar. - ele diz, mas a forma que ele fala estava carregada de ironia, e isso só faz aumentar toda aquela sensação ruim me rodeando. Uma das provas disso é que, por algum motivo, ele me trouxe
Odette correu e correu porta a fora, esperando conseguir sair de perto de todo aquele caos, esperando conseguir diminuir aquela sirene nos seus ouvidos e apagar da sua visão a lembrança da mão decepada do enfermeiro. Seu corpo doía pela surra que tinha levado a muito pouco tempo atrás, mas a adrenalina no seu sangue empurrava essa dor bem para o fundo, fazendo um efeito quase mágico que fazia essas dores desaparecerem por alguns momentos. Mas era troca, depois de tudo isso ela tinha certeza que tudo iria doer duas vezes mais.Estava perto da porta de saída quando se assustou com passos altos, se agachou atrás de uma das plantas decorativas do corredor e ficou em silêncio. Tudo parecia perigoso, e ela tinha passado de um coelho, pra rato assustado. Se surpreendeu quando viu Melody saindo correndo pela porta de entrada do jardim. Melody olhou de um lado para o outro e encostou a porta atrás de si, e depois seguiu pelo corredor.Eu outra ocasião, Odette estaria feliz por ver Melody e c
POV ODETTEO mundo se acabava em fogo, tanto do lado de fora quanto do meu lado de dentro. Estava quente e barulhento. Pessoas gritavam em algum lugar, mas eu não conseguia gritar e nem mexer, mas sentia o cheiro da fumaça, que entrava nos meus pulmões e fazia arder. Eu estava colapsando, totalmente sem controle da minha própria cabeça ou do meu próprio corpo. Eu devia estar chorando, mas como eu poderia ter certeza? Eu tinha nem mais certeza se eu estava viva, se meus pulmões estavam funcionando ou se eu tinha morrido e o inferno era realmente o que tanto dizem sobre ele: uma poça quente, fervente e terrível, com o grito dos desafortunados te acompanhando onde quer que você vá. Também não tinha aberto meus olhos, então pra mim era só escuro. Eu sempre imaginei o inferno como um lugar escuro.Talvez eu esteja em um buraco em que algum demônio tenha me jogado, e em pouco tempo sentirei as pontas de seu tridente me espetando cada vez mais fundo até sangrar. E passarei minha eternidade
Eu acordei, e antes de abrir os meus olhos eu já sabia que alguma coisa estava errada. A cama estava dura, e mesmo que o colchão que tinham me dado no quarto do Centro Boa Esperança não fosse grande coisa, esse era ainda pior. Eu sentia pedrinhas sobre a minha pele sensível embaixo de mim, então no mínimo eu estava no chão ou em algum lugar muito mal planejado.Não queria abrir meus olhos, não importava o quão desconfortável estava, eu não queria abrir meus olhos. O que tinha acontecido antes de eu apagar, pra mim eram só fléchés, mas alguns deles eram muito ruins pra que queira arriscar conferir se tinha sido tudo real ou não. Eu não me lembro de quase nada depois do que eu acho que era o alarme de incêndio, e até mesmo antes disso…Eu lembro de Bridget mandando sua cavalaria atrás de mim, e isso eu posso ter certeza de que aconteceu só por estar sentindo o peso do meu olho inchado pelo soco que eu tinha levado, isso e uma ou duas costelas doloridas que só pioram o desconforto onde e
Eu estava surpresa, isso com certeza eu estava. Mesmo sabendo que não deveria estar quando vejo Cedric parado na minha frente. Deveria estar surpresa porque não importa o quão confuso meus sonhos se tornem, ele sempre aparece. Mesmo que não todos os dias, ele está sempre lá na maioria das vezes quando eu vou dormir, como se fosse um fantasma ou meu demônio particular da paralisia do sonho, apesar dele ser muito melhor que isso e não me causar medo algum. Mas tinha algo diferente dessa vez, então estou surpresa. Mas quando eu olho para ele, me encarando com seus olhos profundos, me estudando como se EU não fosse real, como se EU fosse parte do sonho dele e não contrário, vejo que as olheiras que ele sempre teve naturalmente estavam maiores, e ele parecia abatido, muito abatido. Mas os seus olhos em mim, brilhavam como os de uma criança na manhã de natal, e ele começou a se aproximar muito devagar, como se tivesse com medo que se pisasse muito forte iria me espantar para longe como se
Os pensamentos intrusivos começam a invadir a minha mente antes que eu pudesse detê-los. Me deram as ideias que a gente aprende desde de pequeno para tentar acordar quando estamos em um sonho que não gostaríamos, tipo se beliscar, prender a respiração ou tentar forçar a abrir nossos olhos de verdade. “Por que não tenta? Pra que continuar nessa fantasia quando você sabe que é apenas isso, uma fantasia, e vai doer muito quando você der de cara para a parede e for realmente isso, uma fantasia.”A voz desses pensamentos me dizia, carregada de veneno, mas como todo e qualquer pensamento intrusivo eles foram ignorados e descartados sem muita dificuldade, afinal, eu tinha anos de prática.Eu não queria acordar desse sonho nem se tivesse um prêmio em dinheiro. O mundo poderia acabar agora e ter poucos segundos de vida, se eu pudesse passar cada um deles aqui dentro eu passaria, e passaria feliz.
Eu acordo e é simplesmente horrível acordar.Se eu batesse minha cabeça sem parar na parede até me induzir ao coma, eu conseguiria dormir pra sempre? Voltar para lá com aquele Cedric? Eu nem me importava mais se ele era real ou não, da forma que ele me beijou ...eu ficaria com aquela versão de um jeito ou de outro.As coisas desse lado, quer dizer, o lado da realidade bem longe do meu paraíso na terra dos sonhos, continuavam bem iguais da primeira vez em que vi, acabando com toda a esperança que eu tive de acordar de novo na minha outra cela, com paredes brancas e uma cama de verdade, e não importa o quanto eu teria achado horrível a dias atrás a ideia de passar o resto dos meus dias naquelas paredes, agora com o pensamento de acordar todos os dias NESSAS paredes, fazia eu querer arrancar meus próprios olhos. E também, tudo doía. Eu estava com um torcicolo que iria durar muito tempo, e talvez meu pescoço nunca mais voltaria a ser o mesmo.Talvez eu devesse conseguir algumas respostas
Eu bato forte na mesa. Tão forte que na mesma hora sinto o arrependimento chegar em mim, quando aquela pontada dolorida se arrasta por todo o meu braço depois de ter batido o ossinho do meu cotovelo no carvalho duro. Mas não vou deixar que nenhum deles saiba disso, então engulo a dor enquanto pronuncio mentalmente todos os palavrões que consigo me lembrar, até os em outra língua.Ao meu lado está a querida minha tia por parte de pai. Uma vagabunda sem coração que chora e chora de uma forma muito teatral, apesar de nunca ter feito uma aula de teatro sequer em toda a sua vida. Na minha frente, o homem parrudo de grandes bochechas que mais parece o senhor bundovisk do filme “Meu malvado favorito” me analisando atentamente como se eu fosse uma criminosa. Seus olhos caídos me analisam por trás de óculos redondos de lentes grossas, que fazem seus olhos ficarem muito pequenos, e desproporcionais ao resto do seu rosto. A sala ao meu redor é cheia de quadros entediantes e cafonas, que prova