Passei o dia inteiro pensando nela. No jantar. No que eu ia dizer. No que não ia dizer — porque com Savannah, uma palavra fora do lugar e tudo vira pó.Passei no mercado eu mesmo. Comprei vinho. Massas frescas. Flores. Fiz questão de tudo. Nada de assistente, nada de motorista, nada de mordomo. Hoje sou só eu. Homem. Vulnerável. Ridiculamente apaixonado.Quando ela chegou, na minha porta, usando um vestido vinho colado no corpo e aquele olhar entre o desdém e o perigo… Minha alma saiu do corpo por uns segundos.Ela me olhou dos pés à cabeça. E sorriu.— Espero que esse jantar valha a pena, Montserrat.— Se não valer, você pode me demitir da sua vida.Ela ergueu uma sobrancelha.— E o que te faz pensar que já não fiz isso?— O vestido. — respondi, com um sorriso lento. — Ele tá dizendo o contrário.Ela quase riu. Quase. Mas Savannah sempre prefere me deixar à beira.Levei ela pra dentro. A mesa estava posta. Luz baixa. Vinho tinto respirando. Música francesa tocando baixinho ao fundo.
Acordei antes do sol. Ela tava ali, dormindo no meu peito. O rosto tranquilo, os lábios entreabertos, uma perna jogada por cima de mim como se já fosse o lugar certo. Como se ela tivesse pertencido a mim esse tempo todo, mesmo quando me negava. Mesmo quando fugia.Passei os dedos devagar pelos fios do cabelo dela, tentando não acordá-la, mas ela abriu os olhos.— Você tá me encarando há quanto tempo? — perguntou com a voz rouca de manhã que me faz perder qualquer noção de juízo.— O suficiente pra saber que não quero acordar em outra cama que não seja essa, e com você.Ela sorriu. Breve. Mas estava ali. O sorriso que ela só me dá quando tá sem armadura.Me inclinei, beijei sua testa. E ali, no silêncio da madrugada, eu sabia: eu tava perdido. Completamente. Mas é claro que não ia ser tão fácil assim. Porque Savannah não é o tipo de mulher que se entrega de bandeja e finge que nada aconteceu. Não.Ela acorda, toma banho, veste a armadura e volta pro mundo como se não tivesse acabado de
Eu não sou ciumenta. Nunca fui. Não sou o tipo de mulher que surta porque outra se joga pra cima do cara com quem eu… trabalho. Porque era isso. Trabalho.Mentira, Savannah. E você sabe.Mas quando vi aquela mulher—toda feita de perfume caro e intenções veladas—sentada na sala com ele, com aquela mãozinha no braço dele, rindo como se ele tivesse contado a piada mais genial do século… Eu travei. E quando voltei e ouvi ele dizendo que não misturava “negócios e prazer”…Argh.Desci pro andar executivo, respirei fundo no elevador como se estivesse fugindo de um incêndio. Mas o incêndio estava dentro de mim. E aí, claro, ele veio atrás. Com aqueles olhos que me decifram e despem ao mesmo tempo.E quando ele jogou aquelas palavras?"Você impôs as regras, Savannah."Eu perdi o ar por dois segundos. Mas não deixei transparecer.Porque se tem uma coisa que eu sei fazer, é manter a compostura enquanto meu mundo interno ruge como um leão ferido.— Você quer isso, Savannah? Regras? — ele sussurro
Já tive muitas mulheres na minha vida. Muitas delas não se importaram de irem embora cedo da minha cama, outras queriam mais do que uma noite bem aproveitada ao meu lado, ou queriam algo mais sério. E, sempre pensei que meu nome e sobrenome fosse a causa desse fenômeno. Com o tempo, entendi que a maioria das mulheres ansiavam para serem amadas e bem cuidadas, mas eu não estava pronto para nenhuma delas. Nem mesmo para mim mesmo. Eu só tinha tempo para o trabalho, as viagens de negócios que meu pai insistia em me colocar. O pouco de tempo que me restava, Eric sempre dava um jeito de encontrar alguém para me ajudar a relaxar. Esse tempo acabou, desde que conheci Savannah. Desde que ela entrou na minha vida com o seu gênio forte e profissionalismo, me tirando completamente do eixo e da minha zona de conforto. Ela me impressionou desde o primeiro instante em que meus olhos pousou nela. E, desde então, minha vida deu uma virada de cabeça para baixo, e ainda estou tentando voltar à órbita
Ela me beijou.Savannah me beijou.E agora eu tenho um gosto agridoce na boca: o dela… e o maldito autocontrole.Porque Savannah sai da minha sala como se não tivesse acabado de incendiar meu mundo. Como se não tivesse me colocado de joelhos com um beijo que nem devia ter acontecido. E como se não soubesse que a partir dali, eu não aceito menos do que tudo.19h42.Minha sala tá vazia, mas minha cabeça, não. Eu olho a câmera de segurança do andar — e sim, eu mandei instalar uma só para o corredor do setor dela. Infantilidade da minha parte, eu sei. Ela saiu há cinco minutos. Sozinha.Perfeito.Pego o telefone.— Charles.— Senhor?— Prepare o carro. E ligue para o restaurante Cielo di Sapori, na cobertura. Quero a melhor mesa. Vista para a cidade.— Devo chamar a senhorita Harper?Eu sorrio.— Não. Só prepare. Eu cuido da caça.20h17.Savannah está saindo do prédio quando sou "casualmente" apareço na frente dela, encostado no carro com uma rosa vermelha nas mãos.— Achei que sua agend
Acordei com o travesseiro quente ainda da noite anterior. O sol invadindo o quarto, e a mente... turbilhão.Eu deveria estar aliviada por ele não ter avançado. Deveria estar feliz por ter sido respeitada, ou sei lá… grata pela maturidade. Mas não. Eu estou… Assustada. Porque não é esse Thomas que eu conheço. O Thomas que me persegue, que me invade, que me provoca com olhares e falas afiadas... sumiu.No lugar dele, estava um homem calmo, paciente, com olhos de quem vê a minha dor e não foge dela. E isso... me desarma mais do que qualquer beijo roubado ou toque proibido.Deitei com o corpo intacto e a alma virada do avesso. E agora? O que eu faço com isso? Com essa gentileza que me tirou o chão? Com essa vontade de correr dele e, ao mesmo tempo, correr pra ele? Com esse beijo na testa que me fez querer gritar?Dane-se. Ele me virou do avesso com chá inglês e conversa sobre infância. Isso é quase crime emocional.Eu me levantei, ainda tonta, e fui até o espelho.Olhei nos meus próprios
Era pra ser um jantar casual. Foi o que ele disse. Um simples jantar. “Nada demais.”Claro que com Thomas Montserrat, nada é só nada.O motorista me buscou às 19h30. Vestido preto, salto discreto, maquiagem leve. Eu estava pronta pro tipo de evento que ele costuma brilhar — uma noite cara, com gente importante e taças de espumante intermináveis.Mas o carro não foi pra nenhum restaurante badalado, nem mesmo hotel de luxo. Fomos para o centro da cidade. Um antigo teatro restaurado, com uma faixa grande na entrada: "Noite Pela Esperança — Leilão Beneficente em Prol das Comunidades Vulneráveis de São Lázaro."Esperei ele aparecer. E quando Thomas surgiu…Terno preto clássico. Gravata borboleta. E aquele sorriso torto de quem já sabia o que tava fazendo comigo.— Surpresa? — ele perguntou, estendendo a mão.— Um pouco. — respondi, aceitando o toque dele, sentindo meus dedos formigarem. — “Você não é exatamente conhecido por… caridade.”Ele sorriu. Um sorriso calmo. Quase triste.— É. E es
O que mais me tira o sono nesses últimos dias não é a ausência dela. É a presença.Savannah está mais perto do que nunca… e, ao mesmo tempo, parece me escapar por entre os dedos. Cada gesto dela é calculado, cada olhar carrega segundas intenções, cada toque é como uma armadilha deliciosamente armada. Ela está testando, jogando comigo. E Deus do céu… como eu amo o jogo.Hoje, quando ela entrou na minha sala com aquele vestido azul-marinho que moldava suas curvas como se tivesse sido costurado na pele, eu soube. Era mais um round.— Harry quer os relatórios da nova campanha até amanhã de manhã — ela disse, colocando os papéis na minha mesa com mais força do que o necessário.— Você tem planos hoje à noite?Ela arqueou uma sobrancelha.— Tenho. Um encontro.Engoli em seco. Continuei encarando os papéis. Uma linha tremia sob meus olhos.— Com o Leon? — perguntei, tentando soar casual. Soei como um homem prestes a cometer um crime passional.Ela sorriu. Um sorriso pequeno. Inofensivo na su