LORENZO
Porra, que merda! Odeio brigar com minha irmã, odeio a ver sofrer. Peguei pesado com ela, tenho noção disso. Nina fez o que mais odeio na vida, mentiu. Viajou para Bahia, em um período muito conturbado, em que precisei lidar com muita merda. O problema com a família do Enrico e o assassinato da minha mãe, trouxeram uma carga muito grande para a famiglia, um verdadeiro caos.
Meu pai era apenas uma sombra de um homem, perder minha mãe praticamente ao mesmo tempo que ele achava que tinha perdido o amigo, o tirou de si, ele estava longe de ser o Don Guiseppe que todos conheciam. Com isso, minhas responsabilidades triplicaram. Quando Nina disse que iria para Bahia, estudar, achei ideal que ela ficasse longe de toda confusão, longe de todo banho de sangue. Para mim, ela estaria protegida. Me sinto culpado por não ter percebido seu sofrimento, por não estar em Roma quando acusaram os F
LORENZOVer o Enrico querendo tirar a própria vida, foi um soco no meu estômago. Sua dor, seu sofrimento partiu meu coração. Testemunhar um homem como ele daquele jeito, foi muito difícil. O pior é que a causadora de tudo isso é a minha irmã, minha garotinha, que cuidei como filha.Enrico apagou, foram muitas doses de uísque. Meu amigo estava tentando aplacar sua dor através da bebida. A vinda do Pietro para Verona foi em boa hora, ele vai ficar fazendo companhia ao Enrico e eu vou para casa, preciso ver minha mulher. Essa merda toda foi muito intensa, estou preocupado com ela e com o bebê. Também preciso ver como Nina está.Chego à mansão Ferri ela está silenciosa, subo e vou direto para o quarto que estou hospedado e minha Perla não está, sigo para o quarto da Nina e encontro as duas dormindo. Sento-me na beira da cama, minh
ENRICOChego em casa, acompanhado de Pietro, a família está reunida na sala de visitas. Eles conversam como se não tivesse acontecido nada, Nina não está presente. Meus pais, meu tio Guiseppe e Enzo se aproximam de mim.— Filho, você está tão abatido — minha mãe diz.As marcas negras em meus olhos são evidentes. Diferente das outras vezes, Enzo não diz nenhumas das suas habituais piadas, ele me abraça, percebo que ele suspeita que a situação seja grave. Lorenzo segura meu rosto e diz que vamos superar, juntos. Tento evitar expor minha fragilidade, mas é inútil, a porra da lágrima teima em cair.— Que porra é essa, Enrico? — meu pai diz, me advertindo.Olho para ele, bem sério, não digo nada, viro-me para Perla e pergunto sobre a Nina. Perla diz que ela está no quarto.
NINAAntes de chegar ao topo da escada, Enrico desaba.— Socorro! — grito.Meus irmãos, que estavam apenas o apoiando, seguram antes que seu corpo vá ao chão, por pouco não rolamos as escadas. Enzo e meu pai sobem correndo, ajudam a levá-lo para o quarto. Meu sogro está nervoso, falando ao telefone, ele está chamando o médico da família.Eles colocam Enrico na cama, meu corpo treme de tanto nervoso. Sento-me ao seu lado. Estou tão nervosa que grito, pedindo que eles façam alguma coisa. Seguro seu rosto e peço para ele acordar.Enzo retira seus sapatos e meias, minha sogra e Perla se sentam do outro lado da cama, eles pedem para que me acalme, que o médico está vindo.— Enrico não comeu nada o dia todo, acordou tarde, não quis tomar café nem almoçar. Ele só tomou o rem&eacut
CARLAEstou com tanta raiva do maldito do Enrico.Que ideia é essa de viagem surpresa?Logo agora que estou me aproximando da Nina, o desgraçado quer levá-la para longe de mim. Tento por diversas vezes falar com o idiota do Sandro, seu celular só cai na caixa de mensagem, nem para carregar o celular ele presta.Não sei como descobrir para aonde eles irão viajar. Não posso me arriscar em ir até a casa, já me arrisquei uma vez, quando Sandro não atendia minhas ligações. Neste momento é perigoso, pois sua família está toda lá.Coloca a cabeça para funcionar, Carla — repito essa frase várias vezes para mim mesma, tenho que agir antes que Enrico leve minha Nina para longe de mim. Tenho certeza que longe daquele pedante, ela vai voltar a si, se lembrar do quanto somos boas juntas, o quanto nos amamos.Qu
NINA— Meu amor por você, Carla? Sinceramente não te entendo. — Puxo uma cadeira e me sento, minha bolsa coloco sobre a pequena mesa. — Então, essa história sobre o Dimitri é mentira?— Queria sua atenção, você tem rejeitado meus convites. — Bufo.— Não sei mais o que fazer para você entender que minha vida mudou, que “você e eu” não existe mais, na verdade, nunca existiu. — Seus olhos escurecem— Você aceita um pouco de água? — Faço que sim com a cabeça, sua voz doce não combina com seu olhar.Observo seus movimentos, ela caminha até um pequeno móvel. Retiro o celular da minha bolsa e encaminho o endereço para o Enrico. Carla pega dois copos que estão sobre uma bandeja, depois a jarra.Propositalmente seu corpo
ENRICOMeus homens levam a vagabunda para o clube, tenho um lugar especial para lidar com esse tipo de gente. Enquanto Carla desfruta seu último sono, me reúno com a famiglia na sala de reuniões.— Antes de tomar qualquer atitude, vou falar com Dimitri, ele tem que saber o tipo de mulher que ele se envolveu.— Você está certo, filho, temos que fazer o possível para não perder o bom relacionamento que temos com os russos.Lorenzo liga para Dimitri, que diz estar chegando à cidade e virá direto para o clube. Isso confirma que Carla mentiu quando ligou para Nina.Nina faz questão de ir conosco interrogar Carla, ela está no porão com dois de nossos soldados de plantão. Entramos no porão e minha diaba fica do lado de fora, acho estranho, mas não digo nada.— Quanta honra. Mancinni e Ferri. Essa reuni&
NINADo aeroporto seguimos direto para a maternidade em que Nina deu à luz, chegando ao nosso destino há quatro soldados, que Lorenzo recrutou, à nossa espera. Ao entrar na maternidade, as atenções são todas voltadas para nós. Três homens com a aparência e determinação do meu marido e dos meus irmãos, é de pôr medo, me sinto menor do que sou perto desses três brutamontes.Pegamos o elevador até o terceiro andar, onde fica a administração. Uma mulher nos aguarda. Com os contatos que a famiglia tem no Brasil, Lorenzo conseguiu nos poupar trabalho.— Senhores, senhora... — a mulher que tem por volta de quarenta anos, nos cumprimenta, sua voz um pouco temerosa. Aperto a sua mão e sorrio, ela precisa saber que não mordemos, se não for preciso, é claro. A mulher que se chama Joana, como diz seu
NINAEnrico e eu não conseguimos dormir direito durante a noite, ambos estamos ansiosos para encontrar nosso filho. Saímos pela manhã, bem cedo, os soldados vão em um carro, eu vou com meus três cavalheiros em outro.Meu celular toca, ao atender, ouço as reclamações de Perla, que diz estar chateada de não ter dado uns tapas na Carla. Conto tudo o que aconteceu até agora e que estamos a caminho da casa do casal que adotou meu filho. Desligo o celular e observo o local através da poeira que se espalha no vidro da janela do carro. Meu coração se aperta quando vejo crianças descalças, carregando baldes, algumas com a idade do meu filho, que está com seis anos.É um local abandonado pelas autoridades, agora entendo quando o soldado disse que era melhor vir pela manhã, a iluminação é precária. Algumas ca