3

— Eu te amo, Ellen.

— Eu sei. — beijo seu queixo — Eu sei que sim.

Ele afasta o rosto para me olhar e eu vejo a dor em seus olhos. Meu amor está sofrendo. Seus lindos olhos estão cheios de lágrimas não derramadas.

De repente eu sei o porquê da sua culpa. Ele está revivendo um trauma de cinco anos atrás. Não sei se me agrada o fato de ele estar comparando a minha situação com a situação que ele viveu naquela época.

— Não pense nisso, Nick. — digo afagando seus cabelos e o pouco de barba que há em seu rosto.

— Não pensar em quê?

— O que aconteceu comigo há duas semanas não tem nada a ver com o que aconteceu com a Ada há cinco anos.

Ele fecha os olhos com o rosto contorcido e nesse momento eu sei que era exatamente isso que o estava consumindo.

— Não foi culpa sua há cinco anos. Não foi culpa sua há duas semanas.

— Me desculpa, Ellen. Eu não quero que você ache que eu estou comparando você à Ada, mas é que eu não consigo me livrar desse sentimento.

— Que sentimento? O de culpa?

— Eu deveria estar com você.

— Se você estivesse comigo, estaria na mesma situação que eu agora. Ou pior, talvez estivesse morto.

— Eu sou o seu namorado. Eu deveria te proteger.

— De um caminhão? — pergunto com diversão — Só se você fosse Clark Kent. E até ele às vezes não podia fazer nada pra proteger as pessoas que amava.

Ele abaixa a cabeça no meu ombro. Está chorando. Meu pobre Nick está chorando.

— Shhh. — eu o abraço — Calma meu amor, não chora.

— Ainda está doendo, Ellen.

— Eu sei Nick, eu sei. Calma.

— Você quase morreu. Eu... eu fiquei com tanto medo.

— Eu sei. Eu sei.

— Eu não sei o que eu faria da minha vida se eu tivesse perdido você. Eu não... eu... — ele diz entre os soluços.

— Mas você não perdeu. — beijo sua testa — Eu estou aqui. — seus olhos — Eu sempre estarei aqui. — sua boca.

— E ainda por cima...

Nick afunda de novo a cabeça no meu pescoço e continua chorando. Sinto seus braços me abraçando com muita força. Está doendo em mim agora. Sua dor me machuca.

Mas e ainda por cima o quê?

— Nick existe mais alguma coisa que você ainda não me contou?

Ele não pode estar arrasado desse jeito só por causa da cirurgia. Só por causa do acidente. Tem que ter mais alguma coisa. Eu nunca o vi assim.

Ele seca as lágrimas passando os olhos nos ombros. Abre a boca umas duas vezes, mas não fala nada.

— Nick, o que houve?

— Nada. É que... Você só tem dezenove anos Ellen.

— E?

— E... Você não deveria estar passando por isso. Você é tão jovem pra já ter enfrentado tantas coisas ruins e agora isso.

— E quem disse que coisas ruins só acontecem com os mais velhos? Veja você, por exemplo, só tinha dezoito anos quando enfrentou a pior barra da sua vida.

— Sim. E veja o que aconteceu comigo. Eu mudei. A dor me mudou e eu tenho medo de que de alguma forma, ela acabe mudando você também.

Eu o beijo. O beijo sentindo o gosto salgado das suas lágrimas.

— Não se preocupe comigo Nick. Eu estou bem.

— Não. Não está.

— Sim, eu estou.

— Não está. Você passou a semana toda escondendo o fato de que tudo o que o médico te disse não te afetou, mas eu sei que afetou. Você só está encobrindo os sentimentos presos dentro de você e por enquanto tudo bem, mas eu tenho medo do que vai acontecer quando você não puder mais prendê-los.

Talvez ele tenha um pouco de razão em relação a isso, mas eu sou forte o bastante pra lidar com as coisas. Não é a primeira vez que eu perco algo na vida.

— Se isso acontecer, — o abraço bem forte — eu terei você comigo.

— É claro que terá. Mas e se eu não for suficiente?

— Você sempre foi suficiente. — digo com a boca colada na dele — Os meses desde que eu te conheci não têm sido exatamente fáceis, mas você sempre foi suficiente.

— Ellen...

— Eu não saí de casa só por causa do Tyler.

Ele franze a testa como se não entendesse e é claro que não entende. Eu nunca falei com ele sobre o que vou falar agora.

— A verdade é que independente de o Benny vender ou não o meu cavalo, eu teria que sair daquela casa mais cedo ou mais tarde. Eu não aguentava mais ficar ali.

— Por quê?

— Porque aquela casa me lembrava muito a minha mãe. E não de uma forma boa como o Tyler faz, mas de uma forma que me fazia sofrer.

— Por que nunca me contou isso?

— Porque não precisava. Eu já tinha muita coisa com o que me preocupar ou sofrer, não precisava estar me lembrando de mais uma coisa dolorosa. E sabe de uma coisa Nick? Antes de conhecer você, eu não me sentia bem há muito tempo. Conhecer você foi o suficiente pra levar a minha dor pra longe e com certeza, ter você ao meu lado agora será mais do que suficiente de novo.

— Tem certeza? — ele pergunta sorrindo, mas eu sinto ainda suas dúvidas. Tudo bem, eu tirarei suas dúvidas com o tempo certo.

— Plena.

Beijo meu Nick nos lábios e ele geme baixinho na minha boca. Sinto tanto a falta dele que tudo o que eu quero é beijá-lo e beijá-lo e nunca mais parar de beijá-lo. É exatamente o que eu faço, mas assim como das outras vezes, de novo ele interrompe nosso momento. Acho que esse é o momento perfeito pra falar com ele sobre isso.

— Nick, se quer ser suficiente pra mim para que eu passe bem por isso, você pode fazer uma coisa.

— Qualquer coisa minha linda.

— Você pode ser o cara legal que foi durante todo esse tempo. Pode ser carinhoso e amável como tem sido desde o dia em que nos conhecemos.

— Concordo.

— Pode ser um grande idiota como era às vezes. — ele sorri — Eu deixo.

— Ok.

— E principalmente. — beijo de leve sua boca de novo — Pode ser o amante que sempre foi. Pode me beijar e transar comigo como se nada tivesse acontecido. Eu quero sentir o seu desejo por mim amor. Quero sentir que as coisas entre nós não mudaram.

— Ellen... — ele começa a negar com a cabeça, mas eu o interrompo.

— Muitas coisas vão mudar na minha vida, Nick. — digo de cabeça baixa — E eu não quero que a nossa vida pessoal e íntima seja uma dessas coisas.

Ele reluta.

Poucas vezes desde que nos conhecemos eu me senti insegura em relação ao desejo sexual do Nick por mim, mas admito que a atitude dele há uma semana vem me deixando preocupada.

— Por favor. — peço — Promete que a nossa vida não vai mudar.

Ele concorda e mais uma vez sinto sua dúvida.

— Então para de me beijar como se eu fosse sua prima e me beija como a sua mulher.

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