Eduardo nunca acreditou que eu seria capaz de deixá-lo. Afinal, por mais que eu sofresse, sempre estava lá, esperando pacientemente, pronta para perdoar suas falhas.Ele se acostumou com isso.Todos ao seu redor diziam que eu jamais conseguiria deixá-lo. E talvez, por muito tempo, isso fosse verdade.Mas agora, enquanto eu me esforçava para puxar duas malas pesadas, não olhei para trás nem por um segundo.Enquanto eu arrastava as malas para ir embora, a voz doce de Isabela ecoou.— Edu, que bom que você chegou!Ela correu até ele, segurando seu braço com uma intimidade que fazia questão de exibir.— Você está melhor? A alergia passou? — Eduardo perguntou ajeitando os fios de cabelo que caíam sobre o rosto dela, a examinando com atenção quase exagerada.— Sim, estou bem melhor agora. — Isabela respondeu com um sorriso largo, os olhos brilhando de alegria. — Edu, por favor, não fique bravo com a Mariana. — Enquanto falava, balançava delicadamente o braço dele, como se fosse uma criança
Já era mais de sete da noite, e ainda não havia se ouvia nenhum anúncio sobre o início da festa de aniversário.Eduardo permanecia no sofá, com os dedos brincando distraidamente com um isqueiro, a mente claramente distante.De vez em quanto, ele levantava o pulso para olhar a hora, ou então desbloqueava o celular, apenas para bloqueá-lo novamente.Isabela, com um olhar preocupado, puxou delicadamente a manga de sua camisa, mordendo o lábio.— Edu, está ficando tarde, todo mundo já está com fome.Ele olhou para ela com um sorriso que não chegava a tocar seus olhos, como se a expressão fosse apenas uma formalidade.— Você está com fome, né? — Disse ele, brincando, enquanto apertava a bochecha de Isabela.— Eu estou morrendo de fome, mal posso esperar pelo bolo.Isabela se aproximou dele, com a cabeça repousando suavemente sobre seu ombro.Eduardo sentiu um perfume familiar, um aroma suave que, de alguma forma, parecia cortar o ar de forma inesperada.Ele parou por um segundo, surpreso, e
Assim que cheguei na nova cidade, não fui procurar Gael imediatamente.Minha prioridade foi encontrar Lina, minha melhor amiga da época de faculdade.Eu queria dividir aquele segredo com ela, mas ainda não tinha pensado em como contar.O que eu não esperava era cruzar com Gael logo no jantar de boas-vindas que Lina organizou.Ele estava parado na entrada da sala reservada, impecável em um terno preto, com o casaco no braço.As luzes suaves do corredor iluminavam os murais vibrantes atrás dele, criando um contraste de sombras e reflexos quase artísticos.Gael permanecia fora daquele jogo de luz, mas, de alguma forma, parecia que todo o ambiente girava em torno dele.Fazia anos que não o via. Ele parecia ainda mais bonito do que na época da faculdade, e agora exalava uma confiança madura que antes não tinha.Mas o que mais me desconcertava era a realidade que se impunha. Ele não era apenas um conhecido do passado. Ele era o meu noivo.Meu rosto ficou quente no mesmo instante. Desviei o o
— Mariana, quanto tempo. — Disse Gael, me olhando profundamente antes de erguer a taça para brindar comigo.Tomei um gole pequeno do vinho, sentindo o sabor forte e marcante, e me sentei novamente, tentando disfarçar o nervosismo.Mas Lina, com seu jeito curioso, puxou minha manga e me lançou um olhar significativo.— Vocês dois estão diferentes, viu, querida.— Di-diferentes como? — Perguntei, desviando o olhar.— Desde que Gael chegou, os olhos dele não saíram do seu rosto, está achando que eu não percebi?— Você está vendo coisa, Lina.— Querida, fica tranquila. Eu sou uma detetive nata, está no meu DNA. Se tem algo rolando entre homem e mulher, eu sinto de longe!Pressionei os lábios, tentando não demonstrar nada, mas meu coração batia descompassado, quase saindo do ritmo.Depois da formatura, voltei para Bela Vista com o Eduardo. Desde então, nunca mais encontrei Gael pessoalmente. O máximo que trocamos foram mensagens de felicitações em datas comemorativas.Tudo mudou há pouco te
Quando a reunião terminou, desci e esperei Gael no saguão.Foi então que recebi uma ligação de um amigo lá de Bela Vista.— Mari, por onde você anda esses dias? A gente não te vê faz um tempo.— Estava resolvendo umas coisas pessoais.— Ah, então vem encontrar a gente hoje à noite!Dei uma risadinha.— Hoje não vai dar. Vocês aproveitem por mim.— Espera, Mari, não desliga ainda. Olha, na verdade, é o Eduardo... Ele não está bem hoje, ficou bêbado, ninguém consegue fazer ele parar de beber. Dá uma força, vai? Se ele continuar assim, vai acabar com outra crise de gastrite.— Por que vocês não ligam pra Isabela?— Ele acabou de mandar a Isabela embora, Mari. Dá pra ver na cara dele que ele ainda pensa em você. Ele está arrependido.— Tiago, chega. Eu e o Eduardo terminamos. Não tem mais nada entre a gente. — Segurei o celular com firmeza, mantendo a voz tranquila. — E, por favor, não me procurem mais por causa dele.Mal terminei de falar, ouvi uma confusão do outro lado da linha. Parecia
— Gael... — Chamei.— Não é um sonho, é você, Mari. Você é a Mariana, não é? — Murmurou Gael.De repente, Gael segurou meu rosto com as duas mãos.A proximidade era tamanha que até nossas respirações pareciam se enroscar, perdidas no espaço entre nós.Seus olhos, pesados pelo álcool, refletiam um turbilhão de emoções. Havia confusão, incredulidade, um leve toque de amargura e algo mais profundo que eu não conseguia decifrar.Meu coração apertou, como se alguém o tivesse espremido na palma da mão. Era uma dor silenciosa, misturada com uma estranha melancolia.— Gael, você não está sonhando. Sou eu. Sou a Mariana...Antes que eu pudesse terminar a frase, senti o calor dos lábios dele tocar os meus.Foi um beijo leve, suave, quase como uma brisa. A delicadeza daquele momento parecia se gravar em cada fibra do meu ser.Quando finalmente percebi o que tinha acontecido, Gael já havia recuado.Pelo reflexo em seu rosto, percebi que ele notou meu desconcerto e o medo evidente em meus olhos.El
— Eduardo, se continuar bebendo assim, quer morrer, é isso? Você tem ideia de como todo mundo está preocupado com você ultimamente? — Um dos amigos segurou a garrafa, tentando convencê-lo. — Acabamos de ligar para a Isabela. Ela já está vindo te buscar. Para com isso, por favor, tá bom? De repente, Eduardo sentiu uma aversão enorme só de ouvir o nome “Isabela”. Com um movimento brusco, empurrou o amigo e jogou a garrafa no chão com força, a estilhaçando.— Quem disse que vocês podiam ligar para ela? Eu pedi isso, por acaso? — Ela é sua namorada. Se não chamarmos ela, chamamos quem então? — Namorada? — Eduardo soltou uma risada amarga. — Vocês não sabem quem é minha verdadeira namorada? Os amigos se entreolharam, confusos.— Eduardo, você esqueceu que terminou com a Mari? — Pois é, você mesmo falou no grupo. — Antes da Mari sair do grupo, a gente até parabenizou vocês dois. — Vocês não iam noivar logo? — Não vai ter noivado nenhum. — Eduardo pediu para abrirem outra garrafa.— E
A última imagem que Eduardo tinha de Mariana era aquele olhar que ela lhe lançou antes de partir.Era um olhar vazio, sem ondas, sem emoções.Como se ele fosse apenas mais um estranho. Um figurante irrelevante na história da vida dela.De repente, Eduardo se levantou de supetão. Estava prestes a sair quando a porta se abriu e Isabela entrou.— Edu...A voz dela era suave, e aquele jeito frágil, quase tímido, estava mais uma vez estampado em seu rosto.Os olhos grandes, sempre brilhantes, pareciam estar à beira das lágrimas, como se ela tivesse acabado de ser injustiçada.— Você de novo bebeu demais. Amanhã vai reclamar que está com dor de cabeça, né? — Disse Isabela, com uma voz cheia de preocupação. Com delicadeza, ela segurou o braço dele.Eduardo abriu a boca para falar, mas no mesmo instante sentiu aquele perfume familiar.Ele ficou imóvel, as palavras que estavam prestes a sair morreram antes de alcançar seus lábios. A mão que ia empurrar Isabela parou no ar.— Que cheiro bom é es