— Mariana, quanto tempo. — Disse Gael, me olhando profundamente antes de erguer a taça para brindar comigo.Tomei um gole pequeno do vinho, sentindo o sabor forte e marcante, e me sentei novamente, tentando disfarçar o nervosismo.Mas Lina, com seu jeito curioso, puxou minha manga e me lançou um olhar significativo.— Vocês dois estão diferentes, viu, querida.— Di-diferentes como? — Perguntei, desviando o olhar.— Desde que Gael chegou, os olhos dele não saíram do seu rosto, está achando que eu não percebi?— Você está vendo coisa, Lina.— Querida, fica tranquila. Eu sou uma detetive nata, está no meu DNA. Se tem algo rolando entre homem e mulher, eu sinto de longe!Pressionei os lábios, tentando não demonstrar nada, mas meu coração batia descompassado, quase saindo do ritmo.Depois da formatura, voltei para Bela Vista com o Eduardo. Desde então, nunca mais encontrei Gael pessoalmente. O máximo que trocamos foram mensagens de felicitações em datas comemorativas.Tudo mudou há pouco te
Quando a reunião terminou, desci e esperei Gael no saguão.Foi então que recebi uma ligação de um amigo lá de Bela Vista.— Mari, por onde você anda esses dias? A gente não te vê faz um tempo.— Estava resolvendo umas coisas pessoais.— Ah, então vem encontrar a gente hoje à noite!Dei uma risadinha.— Hoje não vai dar. Vocês aproveitem por mim.— Espera, Mari, não desliga ainda. Olha, na verdade, é o Eduardo... Ele não está bem hoje, ficou bêbado, ninguém consegue fazer ele parar de beber. Dá uma força, vai? Se ele continuar assim, vai acabar com outra crise de gastrite.— Por que vocês não ligam pra Isabela?— Ele acabou de mandar a Isabela embora, Mari. Dá pra ver na cara dele que ele ainda pensa em você. Ele está arrependido.— Tiago, chega. Eu e o Eduardo terminamos. Não tem mais nada entre a gente. — Segurei o celular com firmeza, mantendo a voz tranquila. — E, por favor, não me procurem mais por causa dele.Mal terminei de falar, ouvi uma confusão do outro lado da linha. Parecia
— Gael... — Chamei.— Não é um sonho, é você, Mari. Você é a Mariana, não é? — Murmurou Gael.De repente, Gael segurou meu rosto com as duas mãos.A proximidade era tamanha que até nossas respirações pareciam se enroscar, perdidas no espaço entre nós.Seus olhos, pesados pelo álcool, refletiam um turbilhão de emoções. Havia confusão, incredulidade, um leve toque de amargura e algo mais profundo que eu não conseguia decifrar.Meu coração apertou, como se alguém o tivesse espremido na palma da mão. Era uma dor silenciosa, misturada com uma estranha melancolia.— Gael, você não está sonhando. Sou eu. Sou a Mariana...Antes que eu pudesse terminar a frase, senti o calor dos lábios dele tocar os meus.Foi um beijo leve, suave, quase como uma brisa. A delicadeza daquele momento parecia se gravar em cada fibra do meu ser.Quando finalmente percebi o que tinha acontecido, Gael já havia recuado.Pelo reflexo em seu rosto, percebi que ele notou meu desconcerto e o medo evidente em meus olhos.El
— Eduardo, se continuar bebendo assim, quer morrer, é isso? Você tem ideia de como todo mundo está preocupado com você ultimamente? — Um dos amigos segurou a garrafa, tentando convencê-lo. — Acabamos de ligar para a Isabela. Ela já está vindo te buscar. Para com isso, por favor, tá bom? De repente, Eduardo sentiu uma aversão enorme só de ouvir o nome “Isabela”. Com um movimento brusco, empurrou o amigo e jogou a garrafa no chão com força, a estilhaçando.— Quem disse que vocês podiam ligar para ela? Eu pedi isso, por acaso? — Ela é sua namorada. Se não chamarmos ela, chamamos quem então? — Namorada? — Eduardo soltou uma risada amarga. — Vocês não sabem quem é minha verdadeira namorada? Os amigos se entreolharam, confusos.— Eduardo, você esqueceu que terminou com a Mari? — Pois é, você mesmo falou no grupo. — Antes da Mari sair do grupo, a gente até parabenizou vocês dois. — Vocês não iam noivar logo? — Não vai ter noivado nenhum. — Eduardo pediu para abrirem outra garrafa.— E
A última imagem que Eduardo tinha de Mariana era aquele olhar que ela lhe lançou antes de partir.Era um olhar vazio, sem ondas, sem emoções.Como se ele fosse apenas mais um estranho. Um figurante irrelevante na história da vida dela.De repente, Eduardo se levantou de supetão. Estava prestes a sair quando a porta se abriu e Isabela entrou.— Edu...A voz dela era suave, e aquele jeito frágil, quase tímido, estava mais uma vez estampado em seu rosto.Os olhos grandes, sempre brilhantes, pareciam estar à beira das lágrimas, como se ela tivesse acabado de ser injustiçada.— Você de novo bebeu demais. Amanhã vai reclamar que está com dor de cabeça, né? — Disse Isabela, com uma voz cheia de preocupação. Com delicadeza, ela segurou o braço dele.Eduardo abriu a boca para falar, mas no mesmo instante sentiu aquele perfume familiar.Ele ficou imóvel, as palavras que estavam prestes a sair morreram antes de alcançar seus lábios. A mão que ia empurrar Isabela parou no ar.— Que cheiro bom é es
— Eu sou mesmo alérgica a pêssego! Meu pai sabe disso. Foi ele quem descobriu que a Mariana mandou a empregada passar suco de pêssego na minha cama... — Explicou Isabela, enquanto chorava com a mão no rosto, cheia de indignação.— Chega de mentiras! — Eduardo deu um passo à frente, agarrando a gola da blusa de Isabela com força.Ele era muito alto, e naquele momento praticamente levantou Isabela do chão.— Edu... Solta! Eu não consigo respirar!Ela se debatia, mas Eduardo apenas a encarava de cima, os olhos fixos nela, enquanto seu rosto, tão bonito, ia se contorcendo de raiva.— Isabela, você esqueceu que está usando o perfume preferido da Mariana? Aquele que eu comprei pra ela tantas vezes? Só que, com o tempo, eu mesmo acabei esquecendo...Eduardo soltou uma risada amarga, cheia de autoironia. Ele havia esquecido tantas coisas.Esqueceu o quanto Mariana tinha sido devotada a ele durante todos aqueles anos.Esqueceu o quanto ela o amou profundamente, com cada gesto e cada palavra.Es
A confusão causada por Eduardo acabou incomodando tanto os vizinhos que eles chamaram a administração do prédio.Foi só então que ele descobriu que Mariana já havia se mudado há algum tempo. Além disso, ela havia deixado o imóvel sob responsabilidade da administração para ser vendido.Para onde ela foi? Ainda estava em Bela Vista? Um dia voltaria? Quando?Eduardo não tinha nenhuma resposta.Na sua mente, só havia um pensamento que o aterrorizava, algo que crescia dentro dele como uma fera à espreita, pronta para devorá-lo.Ele havia perdido Mariana. E talvez, dessa vez, ele a tivesse perdido para sempre.As mentiras e armadilhas de Isabela e Renata contra Mariana, uma por uma, vieram à tona.Até mesmo os empregados da família Moura, que sempre ficaram em silêncio, resolveram falar. Um por um, defenderam Mariana, expondo toda a injustiça que ela havia sofrido.No dia em que Isabela e Renata foram expulsas da mansão da família Moura, foi um verdadeiro espetáculo.As duas saíram humilhada
O homem que sempre a tratou como uma filha querida, a quem Isabela chamava de “pai”, sequer lançou um segundo olhar em sua direção.Com um gesto impaciente, como quem afasta um inseto incômodo, ele ordenou que as duas fossem tiradas dali imediatamente.Na saída, Isabela ainda se recusava a aceitar. Ela se agarrou ao batente da porta com todas as forças, gritando em desespero:— Você não pode fazer isso comigo, Eduardo! Não pode! Eu estou grávida, o filho é seu! Você tem que assumir a responsabilidade!Suas palavras soavam como delírios de uma mulher à beira da loucura.— Eduardo? Ao ouvir o nome, Pedro se virou para encará-lo.Eduardo sentiu um nojo tão profundo que parecia tomar conta de todo o seu ser. Tentou rir, mas a expressão travada em seu rosto não permitiu. Ele se perguntou, incrédulo, como um dia pôde gostar de uma mulher tão repulsiva.— Pedro. — Eduardo caminhou até ele e olhou para aquele senhor, cujo cabelo já estava quase todo branco. — Eu nunca toquei nela. Juro. Nunca