As sobrancelhas de Kyran começaram a franzir quando Deirdre perguntou gentilmente:― Não atendeu? Quem era? ―― Não sei. Deve ser um desses operadores de telemarketing. Vou ver o que é. ―O homem se levantou e foi para a varanda. Imperturbável, Deirdre retomou a conversa com Declan pelo resto do jantar. Quando a comida de Kyran estava começando a esfriar, ela notou que ele não havia retornado.Declan, perspicaz como sempre, podia ler o rosto de Deirdre:― Provavelmente é algo do trabalho. Já que ele não esteve em seu escritório esses dias, provavelmente tem uma montanha de negócios para os quais ele tem que dar alguma atenção. ―― Sim. Você provavelmente está certo ― Deirdre respondeu, com um sorriso rápido, enquanto uma pesada sensação de pavor e mau presságio se desenrolava em seu peito. O incidente com a mulher de meia-idade parecia predizer que algo ruim estava por vir.Um estrondo baixo veio do céu. Glenna ergueu os olhos de sua refeição e murmurou para si mesma:― Será qu
Deirdre começou a odiar tempestades e seus trovões desde que foi encarcerada. Sua visão havia sido roubada em um dia assim. Além de quão difícil era se aclimatar àquela escuridão da qual ela não podia mais escapar, ela tinha que evitar ser atormentada por outras prisioneiras que ficavam muito felizes em capitalizar sua cegueira.Um único estrondo de trovão costumava amedrontá-la tanto que tremia apesar de ser adulta. Mas desde que sua vida voltou ao normal, ela raramente tinha entrado em pânico. Fechando os olhos, Deirdre enxugou gotas de suor frio do rosto e virou-se de lado para encarar o homem.Ela estendeu os dedos para o edredom enrolado, na direção de seu namorado, e abriu os olhos.― Kye? ―Deirdre passou as mãos pela cama. Estava vazia e fria. Não havia ninguém ali.‘Quando ele foi embora? Onde ele foi?’ Deirdre perdeu o sono. Ela pegou a camisa pendurada no encosto de uma cadeira, vestiu, botou uma calça, calçou os sapatos e saiu.A sala estava mortalmente silenciosa. En
― Mas, é claro que respeito seu direito de não querer me contar. Só quero deixar claro que podemos conversar sobre tudo. ― Deirdre concluiu.Kyran permitiu que o cheiro da mulher o acalmasse e quando sentiu que finalmente ganhava controle sobre as emoções, estudou o luar encoberto pelas nuvens chuvosas, iluminando mechas do cabelo de sua namorada e passou os dedos por eles:― Não é nada tão grave quanto você imaginou, mas é... Não é bom para você. Essas pessoas estão atrás de mim e só de mim, mas você acabou arrastada para os meus problemas. Desculpe. Eu sou um projeto de homem mal-acabado... ―Deirdre pôs a mão sobre os lábios dele e balançou a cabeça, sua expressão era sincera.― Por favor, nunca diga algo assim para mim. Eu sei o quanto você é bom, melhor do que qualquer outra pessoa no mundo. Se você de alguma forma me trouxe algum mal, então Deus sabe quantos problemas eu devo ter lhe causado! Mas o problema é o seguinte... nunca me sinto mal por nada disso, então você não de
― O céu ainda não está claro, então não vou apostar em nenhum táxi. Além disso, deixar uma jovem pegar um táxi sozinha a essa hora é perigoso, então vou pedir para Fionn levar você. Afinal, ele está comigo. ―Deirdre apreciou imensamente:― Obrigada, amigo. ―― Não agradeça, querida. Estou fazendo isso não apenas porque você é a namorada do meu amigo, mas porque admiro você por seu caráter e força. Acho que somos mais do que apenas alguém que se conhece por causa de Kyran, certo? Somos amigos e ponto final. Então, ajudamos uns aos outros e não ficamos agradecendo o tempo todo. É o que amigos fazem ― respondeu o homem, rindo.Deirdre sentiu um calor no coração. O que ele disse a aliviou de se sentir um fardo e deu paz de espírito para aceitar sua ajuda.― Se você diz, vou aproveitar ao máximo, então! ―― Ah! Agora sim! Esse é o espírito! ― Declan brincou. ― Fionn está a caminho. Deve levar cerca de meia hora. Apenas espere por ele. ―Deirdre imediatamente vestiu sua roupa casual
Deirdre ouviu Kyran ofegar baixinho e entrelaçou seus dedos com os dele para confortá-lo. Lançando os olhos para o chão, perguntou:― Declan, você sabe por que ele bebeu tanto? ―O empresário ficou sério, por um segundo, mas deu um sorriso para ela.― Eu poderia te responder em outros dias, mas dessa vez, acredite... não tenho a menor ideia. Talvez seja excesso de trabalho. Talvez ele tenha tido um dia ruim. Na verdade, pensei que você saberia melhor, já que é a cara-metade dele. ―Deirdre teve dificuldade em responder, porque ele estava certo. Ela era a parceira mais próxima de Kyran e deveria ser sua confidente. No entanto, Kyran parecia estar escondendo coisas dela. Mesmo que soubesse que era para o seu bem ou para o bem dela, doía se lembrar do quanto Kyran suportava tudo sozinho.E agora, depois de carregar o fardo sozinho por tanto tempo, finalmente o homem cedeu.Deirdre exalou um longo suspiro e se virou para Declan.― Está ficando tarde, amigo. Você deveria descansar um
― Mas ela foi a mandante do meu sequestro! Ela é uma assassina e uma suspeita criminal! Por que vocês a deixaram ir!? ― Deirdre cerrou os punhos com força e sentiu uma vertigem. Ela esperava que tudo estivesse finalmente chegando ao fim, mas o pesadelo não tinha acabado.Os policiais trocaram olhares.― Não encontramos nenhuma evidência de crime, depois de investigar Charlize McKinsey. ―― Não, isso é impossível! ― Deirdre gritou com veemência. ― Eu ouvi a voz dela! Ela estava falando comigo! Nós conversamos! Ela me sequestrou! ―― Mas sua visão está comprometida. Não podemos simplesmente dizer quem fez isso com base no que você, e somente você, ouviu. ―― Mas, Maeve O'Keefe também foi testemunha! Ela pode corroborar com meu testemunho e provar que Charlize não é inocente! ―― E é isso que estamos aqui para informá-la. Maeve O'Keefe veio aqui ontem e admitiu ter forjado o depoimento. Ela admitiu nutrir algum ódio por Charlize McKinsey e, portanto, criou acusações injustas contra
― Sou toda ouvidos, Dee! Basta dizer o que quer! ―Deirdre lançou um olhar agradecido para ela.― Preciso que você investigue uma coisa. ―-― É isso. O endereço aponta para este apartamento ― disse Glenna, enquanto verificava a nota em sua mão, comparando-a com a placa que dizia '604' na porta. ― Devemos bater? ―Deirdre assentiu.― Vamos. ―Glenna bateu e, um pouco depois, ouviram passos e a resposta de uma mulher.― Chegando! ―A porta foi aberta no segundo seguinte e Maeve ainda comentava consigo mesma:― Não esperava que você voltassa para casa tão cedo! É o semest... ― Ela vacilou.Mesmo sem consultar a visão, Deirdre percebeu que Maeve devia parecer assustada e surpresa. Mantendo a compostura, Deirdre perguntou:― Podemos entrar? ―Sem responder, Maeve deu um passo para o lado.Deirdre entrou e, mesmo com sua visão nebulosa, conseguiu distinguir um interior pequeno e lotado, insinuando o status econômico sem brilho da mulher mais velha. Ela não tinha recebido muito
Parecia que um trovão explodiu em sua cabeça e os olhos de Deirdre se arregalaram e lentamente ficaram vermelhos. Ela sentiu como se uma lâmina invisível a estivesse apunhalando e sua alma sendo arrancada.Ela se engasgou pesadamente e agarrou a mão de Maeve.― O que você disse!? ―― Deirdre! ― Glenna gritou, enquanto abraçava Deirdre nervosamente. Ela nunca tinha visto Deirdre perder a compostura antes.― Estamos em uma área residencial agora. Você precisa se acalmar. ―Foi só então que Deirdre voltou a si. No entanto, seus lábios ainda tremiam quando ela murmurou:― O que você disse? ―Maeve olhou para ela com compaixão e disse impotente:― Está ficando tarde. Minha filha está voltando para casa... ―Deirdre saiu da área residencial em uma rigidez animatrônica. Ela sentiu como se não estivesse no comando do próprio corpo. Seu cérebro repetia as coisas que Maeve havia dito, e ela percebeu o quão ridícula ela era.Ela não podia acreditar que era tão ingênua a ponto de pensar