O policial achou que seria cruel extinguir a esperança de Deirdre, então perguntou, com tato: ―Você tem alguma evidência sólida? ―― Se eu tenho uma evidência? ―― Não podemos condenar alguém com base em um único depoimento. Precisamos de mais testemunhas e provas.― Não conto como testemunha ocular? ―― Claro que sim, mas como você é cega, a ré poderá facilmente escapar dessa acusação. É realmente difícil fazer um caso sólido se você for a única testemunha. ―Uma pessoa surgiu na mente de Deirdre e a cor de seus olhos endureceu. Ela apertou os lábios, antes de dizer: ―Eu... eu conheço outra testemunha ocular, mas não sei se ela está disposta a testemunhar. Independentemente disso, estou disposta a tentar. Você pode me ajudar a convocar essa pessoa? Depois falo com ela a sós. ―Maeve O'Keefe foi levada para a delegacia, pouco depois. Apesar de sua expressão aparentemente calma, segurava a barra da saia com força, como se tivesse previsto que as coisas chegariam àquele ponto.
Deirdre se tornou segura de si, confiante, majestosa e imponente, como, bem... aquele homem... E o choque de Maeve gradualmente se transformou em um sentimento de gratidão.― Tudo bem. Eu vou fazer isso. Vou testemunhar contra McKinney. ―― Obrigada. ― Deirdre acenou com a cabeça, educadamente, e deixou seu assento. O policial a cumprimentou e entrou na sala, assim que a jovem saiu.Kyran a cobriu com um casaco e a elogiou.― Caramba! Você foi excelente. ―― Sério? ― Deirdre se forçou a sorrir, apesar do cansaço. ― Eu provavelmente parecia estoica e puramente racional lá dentro, mas mal conseguia controlar minha tristeza e raiva. Acho que ainda não sou madura o suficiente. ―― Não, você está errada. Você é muito madura. O que você sentia era decepção. É por isso que você se sentiu triste e com raiva. ―Deirdre lançou um sorriso dolorido para Kyran. Então limpou a garganta e esperou que todas as emoções descessem em seu estômago, como uma carga pesada.― A razão me diz que é nat
Depois de um longo momento, Kyran finalmente encontrou sua voz.― E Steven? ―― Fugiu. ― Declan deu outra tragada aguda de fumaça. ― Ele é um homem inteligente que conhece você muito bem. Depois do dia que você o atacou, previu que as coisas iriam de mal a pior. sacou suas economias e desapareceu. Será impossível encontrá-lo. ―Os olhos de Kyran estavam pregados no documento. Um turbilhão de emoções se revolvia em seu peito, pressionando e picando tanto que seu rosto ficou branco. Demorou um pouco para ele se recuperar. Exalando algumas respirações, ele disse:― Ele não tinha motivo. Ele nem teria ganho nada com isso. ―Declan lançou um sorriso.― Isso é óbvio. O que ele poderia ganhar fazendo tudo isso com Deirdre? Nada. Ou seja, alguém deve ter ordenado a ele. Ainda não tenho nenhuma prova sólida, mas tenho certeza de quem pode ser a pessoa por trás de tudo. A pergunta é... Você quer ouvir? ―Kyran nem piscou, antes de dizer.― Foi Charlene. ―― Caramba! Logo no primeiro gol
Deirdre era toda sorrisos e alegria, seu tom brincalhão e adorável. Mas Declan lançou um olhar preocupado para Kyran e viu um rosto gelado sombreado pela culpa. Seus olhos estavam tão ocos e desprovidos de luz que poderiam pertencer a um cadáver.― Deixe-me fazer as honras, querida. Kyran está um pouco cansado da viagem. ―Ela parou, surpresa pelo que Declan dizia, e sorriu.― Bem, eu não vou dizer não a isso. Obrigada! ―Declan arregaçou as mangas.― O prazer é todo meu. Trabalhar na cozinha provavelmente poderia me ajudar a ficar sóbrio. ―O homem entrou na cozinha e começou a procurar até, com bastante facilidade, encontrar, mas, ao passar para Deirdre, a jovem agradeceu e perguntou:― Você realmente bebeu? ―Ele fez uma pausa e seu sorriso tornou-se um pouco mecânico, enquanto dizia:― Como assim? O que você quer dizer com isso? ―― Você não cheira como se tivesse bebido. Você cheira a cigarro. ―Declan suspirou de alívio.― Eu bebi, sim. O cheiro provavelmente saiu na
Era como se Kyran tivesse algo que ele queria dizer, mas não tivesse coragem.Deirdre fechou os olhos. Talvez estivesse pensando demais, porque também estava muito cansada. Se Kyran tivesse algo que quisesse dizer, ele apenas diria. Não havia razão para segredos entre os dois naquela fase do relacionamento.Por isso, sem preocupação, a jovem dormiu profundamente.Muito, muito tempo depois, a porta do quarto dela se abriu e um homem entrou sorrateiramente pela pequena fenda, seus movimentos eram leves e cuidadosos, para evitar acordar a jovem. Ele se sentou perto da cama dela.O luar espirrou em seu quarto através da janela e a iluminou. A pele parecia a superfície de um lago prateado. Enquanto ele a estudava, seus olhos brilharam com fome e seus lábios se curvaram em uma sombra de sorriso. Até que, de repente, o sorriso morreu.Era como se alguém tivesse sugado todo o oxigênio de seus pulmões e sua caixa torácica e seu conteúdo estivessem implodindo. Seu rosto empalideceu, ele se
Deirdre saiu da cama, mas Kyran a deteve.― Onde você está indo? Está frio! ―― Vou reaquecer o jantar. ―Kyran franziu a testa.― Não! Deixa! Eu posso fazer isso sozinho. ―― Eu vou ficar feliz com isso. Na verdade, vou lhe fazer companhia. ―Antes que o homem pudesse protestar, Deirdre vestiu o casaco e desceu as escadas. Como imaginava, a comida estava fria, mas, ao invés de colocar no microondas, pegou um pouco de espaguete e vegetais da geladeira.Confuso, Kyran perguntou:― Você não ia reaquecer o jantar? ―Deirdre empurrou uma mecha de seu cabelo para trás da orelha.― Ia, mas pensei um pouco e mudei de ideia. Não acho bom ter algo com tanto sabor e tempero, na calada da noite, então resolvi fazer algo leve e manso, como… uma tigela de espaguete. Você só precisa esperar alguns minutos. Assim que a água estiver fervendo, posso fazer um espaguete vegetariano simples. ―Ela se afastou dele e concentrou sua atenção na refeição.Kyran a observou de volta, com o rosto páli
Deirdre esperava que Charlene fosse presa, mas não esperava que isso acontecesse em apenas dois dias. Quando a polícia lhe disse que a mulher em questão seria detida, a jovem ficou chocada.Antes de iniciar a operação, a polícia teve o cuidado de abafar qualquer fervor que Deirdre pudesse ter depois de ouvir notícias como aquela.― Decidimos te contar que o mandado de prisão foi expedido, no entanto, podemos não conseguir prendê-la, em nossa primeira tentativa. ―Mesmo se o policial não tivesse avisado, a jovem realmente não acreditava que Charlene seria presa. Deirdre sabia que era quase um milagre conseguir que Charlene admitisse a culpa ou se submetesse à polícia. Então apenas jogou um pouco de água no rosto, esperando que o frio a acordasse de qualquer estupor.A jovem estava tão preocupada com o que poderia acontecer dali em diante que perdeu toda a suavidade tão comum em seu rosto. Então, vestiu um conjunto de roupas novas e desceu as escadas.Declan preparava o café da manh
― Tenho certeza que isso vai acontecer. ―Declan queria adicionar mais à brincadeira, mas o ciúme de Kyran tinha crescido tanto que ele forçosamente o encerrou entrando na frente de Declan. Seus olhos nem piscavam.― Por que você acordou tão cedo hoje? Você não está se sentindo bem? ― ele perguntou para Deirdre, preocupado.A jovem foi afastada de sua alegria, causando uma mudança de solenidade em seu rosto.― Kye, a polícia me ligou. ―― E? ―― Charlene está detida. Resolvi fazer uma visita a ela. ―A expressão de Kyran endureceu.― Você quer que eu vá com você? ―A jovem sorriu.― Não precisa, eu posso me virar sozinha. ― Declan encontrou o olhar de Kyran e imediatamente entrou na conversa:― Calminha aí, devagar, Kyran. Lembro de você me dizendo que iria encontrar o senhor Smith hoje. Ele é seu amigo e está aqui na cidade. Não abandone esse encontro, ele é importante, está bem? Querida, deixa que eu vou com você. ―Deirdre avaliou a situação até que achou que a propost