― Deirdre! Deirdre! ― As pupilas de Brendan se contraíram de medo e o homem jogou fora o guarda-chuva para pegar a mulher, a quem levou rapidamente para dentro da casa, sem se preocupar com o rastro de lama que os dois deixavam por todo o chão da mansão.Afinal, a respiração da jovem estava tão fraca que cada uma sempre parecia que seria a última. O corpo também estava tão gelado que mais parecia o de uma pessoa morta, com a única exceção do rosto, que ainda ardia em febre. ― Eu não vou deixar nada de ruim acontecer com você! ― O homem gritou, arrependido pela intensidade do castigo e Steven certamente ficaria surpreso de ouvir, pois perceberia que naquela voz, havia ansiedade e preocupação genuínas, apesar das palavras não serem gentis. ― Você acha que pode escapar, apenas perdendo a consciência? Você acha que pode acabar com tudo fácil assim? Isso é impossível! Você é minha por toda a vida e será enterrada no túmulo de minha família, quando morrer! Nem pense em se desvencilhar d
Sentindo-se mais forte, Deirdre caminhou até a cozinha e, subitamente, se sentiu melhor e recuperada. Ficou feliz ao notar que os arranjos da cozinha ainda eram os mesmos. Então, pegou um copo, encheu com água e tomou em goles, antes de ouvir passos atrás dela. Passos pesados. Brendan estava em casa. Deirdre virou na direção do som, com o corpo enrijecendo. Ela podia sentir o olhar do homem e isso a pegou desprevenida. Mesmo vestida com roupas quentes, sentiu um frio intenso percorrer seu corpo. Por isso, sem nem perceber o que fazia, a jovem se aconchegou mais, em suas roupas.A voz sinistra e profunda ecoou:― Você acordou, hein!? ― Apesar de não entender a natureza do tom de ironia em que a pergunta foi feita, Deirdre assentiu e manteve a cabeça baixa, enquanto bebia o último gole de seu copo d’água. Enquanto isso, o barulho de passos se tornou mais alto e ela sentiu que Brendan tinha parado logo em frente a ela.O corpo de Deirdre ficou rígido quando sentiu o toque do home
Deirdre ouviu o som de algo quebrando e sentiu seu corpo queimar, como se Brendan tivesse erguido o braço e desferido uma bofetada com toda a força de sua ignorância, tamanho foi o impacto daquele pedido absurdo. A jovem constatava que o monstro não pouparia esforços para atormentá-la e realmente a faria se ajoelhar diante de Charlene. A ideia é que a jovem se humilhasse perante todo o hospital, não apenas para sua rival. ‘Não sou uma pessoa para ele? Não me resta nenhuma dignidade?' Seu coração doía tanto que parecia que uma corda tinha sido apertada em torno dele e apertado até que se desfizesse em sangue. Seus olhos estavam úmidos, mas, ela não conseguia mais derramar nenhuma lágrima. Depois de alguns segundos, Deirdre respirou fundo e disse, com os punhos cerrados: ― Está bem... Vou me ajoelhar e pedir desculpas a Charlene, contanto que você deixe Sterling fora disso! ― Houve um momento de silêncio mortal. E um estrondo de madeira foi ouvido, seguido pelo som de tábuas c
Ao dizer isso, Charlene virou a cabeça para o lado, com o corpo tremendo de medo, como se relutasse em estar na presença de Deirdre. No entanto, como tinha sido combinado com Brendan, a jovem desfigurada deveria ficar ajoelhada no corredor do hospital até que sua rival decidisse perdoá-la. Então, ela não se levantou.Achando tudo muito estranho, a enfermeira murmurou um ‘com licença’ para Deirdre e fechou a porta em seu rosto. Ficar naquela posição, no chão de ladrilhos, era uma penitencia muito grande, pois seus joelhos estavam machucados, com marcas roxas e inchaços, pelos pequenos objetos do chão lamacento, na noite anterior.O rosto de Deirdre ficou terrivelmente pálido de dor e um suor frio escorria por suas bochechas. Enquanto isso, ela ouvia a voz coquete de Charlene, vindo do outro lado da porta:― Bren, estou com sede. Pega água para mim? ― Provocada pelo clima amoroso que imperava o quarto, a tortura se tornava mais difícil de suportar e suor frio escorria do rosto de De
Brendan estava furioso, enquanto dizia:― Então, é assim que você reconhece seu erro, Deirdre? ― O corpo inteiro de Deirdre tremia e ela não se importava com seu comportamento porque estava com tanta dor que precisaria descansar antes de poder falar. Por isso, apenas perguntou, com os lábios trêmulos:― O que mais você quer de mim? ― O olhar de Brendan ficou frio e ele estava prestes a falar quando Charlene segurou sua mão e disse, com uma voz falsamente generosa:― Esqueça isso, Brendan. Não vamos mais fazer barulho com essa situação. Deixe-a ir. ― E sua voz suavizou no final da frase, quando com uma expressão de timidez no rosto, perguntou ― Você vai ficar aqui comigo hoje, Brendan? Não saia esta noite. A cama é grande o suficiente para nós dois. ― Brendan quis recusar a princípio, mas se lembrou de algo e olhou para o rosto de Deirdre, com seus olhos escuros. O monstro ainda se recusava a acreditar que ela tinha esquecido o profundo amor que um dia sentiu por ele e decidi
Steven não podia concordar e nem discordar, por ser apenas um funcionário. Por isso, buscou uma resposta neutra e disse em tom obediente:― Oh, sim, você e a Senhora McKinney são família. ― A Madame Brighthall assentiu e então olhou para a mulher ao lado de Steven, com uma leve curiosidade:― Quem é essa? ― Deirdre abaixou a cabeça ao ouvir a pergunta. Os pensamentos em sua cabeça ficaram confusos. Ela não esperava encontrar a Madame Brighthall e isso foi acontecer, justamente, na pior das circunstâncias. Depois de abaixar a cabeça, ela lembrou que seu rosto estava desfigurado, então a mulher não a reconheceria. ― Esta é uma amiga da Senhora McKinney. Ela é deficiente visual e o Senhor Brendan me instruiu a levá-la para casa. ― Oh... ela não pode ver? ― Madame Brighthall parecia compreensiva. Ela estava sem palavras, afinal, tinha certeza de que a jovem lhe era familiar. Então, com cortesia sincera, estendeu a mão e segurou os dedos da jovem cega: ― Minha querida, por q
Quaisquer outras emoções que Brendan sentia, ao sair da reunião, foram imediatamente substituídas por uma impaciência que nem ele mesmo poderia explicar, por isso, respondeu com grosseria:― Meu Deus do céu! Estou indo para casa. Amanhã eu a vejo. ― Aquilo pegou Steven de surpresa, mas mesmo assim, ele assentiu:― Devo levá-lo para casa, então? ― ― Não. Me dê as chaves. Eu vou dirigir. ― Brendan desamassou o terno, arrumou a gravata e se dirigiu para a garagem, caminhando em passos largos. Alguns minutos depois, seu carro disparou pelas avenidas de Neve, rasgando o ar como uma bala de fuzil. Quando chegou à mansão, examinou a sala de estar escura e um ressentimento passou por seus olhos. Ele achou que as luzes estariam acesas. Mas, a mansão estava em completa escuridão. Não tinha ninguém ali.Então, o homem se controlou. Deirdre era cega. Se uma sala estava iluminada ou não, não importava. Então, ele teve certeza de que a jovem estaria reclinada no sofá, como costumava fa
― Se esta é a sua vingança contra mim por sido teimosa e desejado continuar com a gravidez, então a morte dele não deveria ter agradado você o suficiente?! Fiquei um ano presa! Tive o rosto desfigurado e fiquei cega! Perdi tudo que já tive! Tudo! Meu Deus, Brendan! O que falta para você ficar satisfeito!? Para me deixar ir!? ―A jovem engasgou com as lágrimas, mas respirou fundo e concluiu, dessa vez, não estava mais gritando, mas com uma voz carregada de dor e arrependimento: ― Eu me arrependi de um dia ter assumido o... o manto tóxico de ser a falsa Senhora Brighthall... Não quero mais isso... Deixe-me ir, estou te implorando... Não quero mais isso. Não quero mais ter mais nenhum vínculo com você... ― A jovem desmaiou. Brendan soltou os braços moles, que não lutavam mais. Seu peito estava cheio de dor, uma dor tão grande que ele não conseguia conter. Uma força invisível pressionava seus pulmões, negando-lhe qualquer chance de respirar. O que estava acontecendo? Ele sempre se