Deirdre ficou em silêncio. A resposta a surpreendera tanto que sua língua falhou e levou alguns segundos para finalmente recuperar a voz.― Tobey, eu... eu não valho a pena. ― A jovem tinha convicção de que não merecia a preocupação do rapaz. Ela era uma bomba-relógio hedionda, cega e fichada na polícia, cuja presença poderia significar problemas, a qualquer momento. Ela não merecia estar com um homem cuja vida estava em ascensão. O tom de Tobey se tornou mais duro:— Não ouse menosprezar a si mesma, Deirdre. Ou você fez uma piada sobre minhas preferências românticas? — Deirdre ficou em silêncio. ― Você quer que eu conte a verdade nua e crua? Tudo bem. ― Tobey acrescentou. ― A verdade é que estou tirando vantagem de você. Você está mais vulnerável e é uma alma solitária clamando por companhia e um lugar para pertencer. Estou apenas aproveitando este momento. Você sabe por quê? Porque sei que mesmo agora, mesmo quando parece que estou no auge da minha vida, não estou à altu
Quando menos Deirdre esperava, uma pedra solitária percorreu um arco, atravessando a cerca, e bateu em sua testa. Uma pontada aguda a sacudiu. Deirdre moveu a mão e sentiu sangue quente em seus dedos. Sua cabeça girava em um mar vertiginoso de dor ao ouvir os comentários das crianças. ― Nós sabemos que você está aí dentro, aberração! Não finja que não nos ouve! São seus olhos que não funcionam, não seus ouvidos! Ela acha que pode ficar dentro de casa e não falar nada, pessoal! Então vamos brincar de 'tentar acertar a aberração' com essas pedras! — As crianças fizeram exatamente o que disseram que fariam. As rochas começaram a cair sobre a jovem e o fato de que cada uma caiu sobre ela rapidamente removeu a possibilidade de coincidências. Seu rosto ficou pálido. Bastava. Deirdre estava prestes a se levantar quando ouviu que a brincadeira maldosa das crianças começava a dar errado.― Ei! Quem diabos é você? O que você está fazendo!? ― Houve um barulho de um baque quando alg
Deirdre levantou a cabeça e franziu os lábios macios em um sorriso educado. Ela era hipnotizante. Apesar das dezenas de cicatrizes que rasgavam seu rosto e da ausência de vida em seus olhos danificados, algo em seu rosto irradiava. Isso convocou uma onda dentro do peito de Kyran tão violenta que ele teve que apertar os lábios para lutar contra o desejo. Ele estendeu a ponta do dedo e escreveu na palma da mão dela:'Não precisa agradecer'. Então, um momento depois, escreveu:'Desculpe, pela última vez.' Deirdre enrijeceu um pouco, então o entendeu. Ele estava falando sobre o encontro deles durante o musical quando machucou a testa dela. ― Está tudo bem ― Deirdre respondeu, sorrindo. ― Eu não entendi o que você queria e isso foi tudo. Você só queria ajudar. Além disso, minha testa estava praticamente curada à noite. — O homem não respondeu por um longo momento antes de escrever:' Mesmo assim, ainda sinto muito.' Ele sabia como Deirdre ficava desconfortável quando u
Quanto à aparência do homem… A ansiedade borbulhando em sua mente fez Madame Russell franzir a testa. A mulher sempre acreditou que seu filho era bonito, tão atraente que poderia se sentar confortavelmente entre os galãs típicos de uma novela da televisão. Mas aquele tal de Kyran? Ele superava qualquer conceito de beleza estabelecido por Madame Russell, era praticamente um deus andando entre mortais. Eilis rapidamente pegou a mão de Deirdre e chamou ao homem:― Senhor Kyran? O homem não respondeu. Mas, pegou a outra mão de Deirdre e escreveu alguma coisa, então, Deirdre falou em seu nome: ― Ele não pode falar, tia. Ele é mudo. Disse que o sobrenome dele é Reed. — ― Mudo? ― A mulher mais velha repetiu. Uma nova pitada de pena coloriu seu olhar. Ela não pôde evitar, pois tinha imaginado que um homem tão lindo quanto aquele falaria com uma voz doce. ― Sim. Ele me ajudou, hoje, tia. Algumas das crianças da aldeia jogaram pedras aqui no quintal, enquanto eu trabalhava e foi
― Bem, aí está! ― Deirdre riu. ― Ele é bonito e amigo do senhor King, o que significa que também é rico, não é? Por que alguém assim iria gostar de uma cega qualquer em um bairro de periferia? É simplesmente estranho! Quero dizer, duvido que sua deficiência prejudique sua desejabilidade. Eu não alcançaria seu padrão mesmo que ele o rebaixasse! ― ― Deus, eu juro... ― Madame Russell vacilou. Como ela deveria contar a ela sobre a carranca tempestuosa de Kyran, no momento em que ela enfatizou que Deirdre era dela? E que belo e rico príncipe encantado se dignaria a fazer trabalhos braçais para uma mulher que acabou de conhecer? Aristocratas como esses provavelmente viveram suas vidas inteiras sem nunca tocar em qualquer tipo de ferramenta de trabalho! — Vamos, tia. — Deirdre balbuciou, de forma tranquilizadora. Então passou o braço em volta da mulher mais velha. ― O senhor Reed acidentalmente machucou minha testa ontem à noite, então hoje ele veio se desculpar e ajudar a me compensar.
Para crédito de Eilis, não deixaria uma velha pisar nela. Carrancuda, repreendeu:― Ah, sério? Seu Bobby também é o mesmo monstrinho que roubou a colheita de O'Connor e espancou outras crianças aquele dia na festinha, não é? Quantas pessoas reclamaram com o líder comunitário sobre isso? Eu perdi a conta. Agora você está me dizendo que o mesmo rapaz é incapaz de mentir? — Os olhos da senhora Boebert se arregalaram de raiva e furiosa, ela derrubou todas as batatas da bancada no chão. Com raiva, Eilis gritou:― Para que isso!? ― Todos no bairro sabiam quantos problemas a senhora Boebert era capaz de causar. Ela sempre foi do tipo que intimidava os outros e usava da idade avançada para se safar. ― Você acabou de acusar meu neto sem provas, Eilis! ― A senhora Boebert gritou. Então, puxou o braço de Bobby o incitando para a briga, seu dedo enrugado apontando para todo mundo. ― Você vê isso? Bobby nunca, eu digo nunca, foi agredido por ninguém, em toda a sua vida, então que tal u
Poucos poderiam suportar a ótica de uma idosa, quando se faz de vítima e naturalmente, alguns dos espectadores foram compelidos a mediar. ― Vamos, Eilis! Olhe para a pobre senhora Boebert. Ela está tão velha e mal consegue andar sozinha. Você não pode pensar que ela veio até você, apesar da dificuldade, só para caluniá-la em público, certo? — ― Além disso, ninguém quer um conflito insolúvel entre nós, certo? Este é um lugar pequeno, Eilis. Diga, uh, aquela garota para se desculpar e acabar logo com isso. — ― Isso! Somos uma comunidade unida. Conhecemos todos aqui, bebemos a mesma água e vivemos sob o mesmo céu. Não faz bem a nenhum de nós se a comunidade se dividir por causa de algo tão trivial. Algo tão trivial quanto começar uma briga com uma criança também! Se posso ser franco, Eilis, você realmente acha que a jovem é tão confiável quanto você espera? — Os comentários dos vizinhos curiosos eram como espinhos picando o peito de Deirdre. Eilis, no entanto, tinha um pingo d
A idosa não conseguia encontrar argumentos para fugir daquela situação, afinal, o que Deirdre e Eilis falavam era irrefutável. Então, começou a se desesperar:― P-Por que vocês... — De repente, um ritmo constante de passos se aproximou deles e o tom jocoso de Declan King soou:― Uau! O que está acontecendo aqui? Vocês estão dando uma festa e nem me chamaram? ― Deirdre cerrou os punhos, instintivamente. Ela não podia deixar de ficar preocupada. Kyran não poderia estar com ele, certo? Se ele estivesse Bobby poderia repentinamente mudar de alvo e culpar Kyran. Então, como o homem era mudo, a senhora Boebert o chantagearia ainda mais, afinal, ele não poderia rebater Para alívio de Deirdre, Declan acrescentou:― O que está acontecendo? Por que todo mundo parece tão tenso? É porque eu estou invadindo a festa ou algo assim? ― Ele disse 'eu', não 'nós'. Declan estava sozinho desta vez. Mas, a idosa havia aproveitado a chance de escapar da briga com Bobby a reboque. Talvez ela es