Deirdre conseguiu recuperar alguma aparência de compostura, mas seus olhos injetados ainda eram tão belicosos quanto virou a voz fulminante na direção do advogado público e do investigador da polícia.― Por que... vocês... mentiram?! Por que você mentiu?! Você me disse que me ajudaria a montar um caso!!! ― Mas, a acusação desagradou o investigador.― Não dá para construir um caso sem evidências sólidas, senhora. E você não tem nada disso! Você realmente achou que poderia decidir se um caso de um ano atrás foi assassinato só porque você disse isso? Dá um tempo! ― ― Chega, por favor... ― Sam falou, com a voz cansada, colocando uma mão no ombro do homem. Aquela situação não podia continuar e ele simplesmente sabia disso. Cerrando os dentes, disse vigorosamente: ― Você tem que acabar com isso agora, senhora Deirdre! Você tem que retirar todas as suas acusações contra o senhor Brighthall e apenas... deixar o resto com ele, está bem? Dessa forma, você deixará a delegacia até o final
Deirdre permaneceu imóvel como uma estátua, até que os gritos de Brendan a fizeram reagir. Ela ergueu a cabeça e olhou para ele. Mas, os olhos que antes eram vivos e alegres, agora eram sem alma e dilapidados, como dois espelhos quebrados, encontrados em um caixão. A calma superficial que ela simulava, desmentia um ódio intenso. ― Eu não ligo. ― A voz saiu falhada e baixa, pois, como a jovem não conversava com ninguém, sua garganta perdia o hábito da fala. Suas palavras lembravam vagamente um o som de uma vitrola antiga. ― Você realmente acha que eu dou a mínima, Brendan? É apenas encarceramento. Não é nem minha primeira vez, acredita? Já passei por isso antes, estou acostumada. Eu posso passar mais um tempo na prisão, se for preciso, mas você? Você não vai se safar dessa. Eu não vou deixar você escapar ileso! ― Um dilúvio de ódio irrompeu de seus olhos como facas perfurando o peito de Brendan. ― Como você pôde se destruir assim, Deirdre?! Por vingança? E os seus sonhos? Seu f
Deirdre se contorcia, e gritava palavras ininteligíveis, enquanto dois brutamontes a golpeavam e tentavam imobilizá-la. Brendan percebeu o que acontecia e pegou o telefone, esquecendo, até mesmo, da própria dor, enquanto gritava:― Parem! Vocês a estão machucando! ― Percebendo a reação do poderoso magnata e sem querer causar problemas, os policiais encontraram seus olhos e afrouxaram o aperto, fazendo com que Deirdre caísse no chão. Os olhos da jovem estavam desfocados, como se a magnitude de sua tristeza tornasse impossível que ela enxergasse.― Você é um assassino, Brendan. Você é bom nisso, não é? ― ela resmungou, em lágrimas. O empresário havia tratado o amor dela por ele como um convite para usar e abusar dela. Mas, mesmo depois de todos os pecados cometidos, a única proposta de Brendan era 'fingir que nada aconteceu’. Esquecer é mais fácil para quem bate. Ele sempre desdenhou abertamente o amor dela no passado e, como Deirdre notava, ele ainda cuspia no nobre sentimento
Brendan não tinha muitas opções, aliás, a ajuda de Sam parecia ser a última que lhe restava.― Você é a pessoa que fez companhia a ela por mais tempo. Ela pelo menos daria a você a chance de falar, eu sei disso. Então, por favor, diga a ela... Que se ela continuar assim, nenhum de nós poderá salvá-la da prisão. ― Mais um dia para Deirdre naquela cela era mais um dia para ele perder o sono. Ele não aguentou. Como Brendan havia previsto. A jovem permitiu que Sam a encontrasse. Assim que Deirdre se aproximou, para ocupar seu lugar, junto ao telefone, o peito de Sam doeu, como nunca. Mesmo em sua pior fase, enquanto morava na mansão, a jovem sempre tinha cuidado muito bem do cabelo e da higiene pessoal, mas no encarceramento, parecia não haver mais nenhum pingo de dignidade em Deirdre. Os cabelos estavam desgrenhados, as roupas a pele estavam encardidas e, até mesmo, com manchas de urina e as unhas estavam sem aparar. A jovem mais parecia uma louca abandonada em um asilo.Sam peg
Medo e arrependimento devastaram a mente do empresário que, sem motivo físico, se sentiu fraco. Sam fingiu não notar o abatimento de seu patrão e aguardou, até que finalmente recuperou a compostura. Então, Brendan fingiu alguma calma e declarou:— Não. Só precisamos esperar um pouco mais. Vou falar com ela de novo! — Apesar da segurança na voz do empresário, tanto ele quanto Sam, imaginavam que Deirdre não aceitaria a visita. Mesmo assim, ele não a deixaria. Nunca. Entretanto, o destino tinha planos diferentes e antes que ele se recuperasse o suficiente para falar com Deirdre, a polícia foi até ele e informou que ela havia recuado e finalmente concordado em resolver isso em particular. Brendan estava feliz e, quando chegou o dia de seu interrogatório, quando a polícia perguntou se a agressora demonstrou intenção homicida, naturalmente, Brendan negou. Ele também não expressou intenção de prosseguir com uma acusação criminal contra ela e, portanto, o caso foi encerrado. El
― Cale-se! ― Brendan berrou, com todas as forças e o corte vibrou com seu rosnado, fazendo-o gritar de dor aguda, logo em seguida. Sua visão embaçou e seus joelhos se dobraram. ‘O carro dela caiu no mar? Deirdre morreu?’ Impossível! Aquilo só poderia ser alguma loucura! Ela estava viva, no dia anterior, quando amaldiçoou o nome dele, deixando claro o quanto ele a enojava e gritando sobre vingar a morte da mãe. Ela estava viva quando desejou que ele estivesse morto! E agora... seu destino era incerto? A visão de Brendan escureceu e ele caiu. Antes que sua consciência desaparecesse, o empresário ouviu a voz de alguém gritando, pedindo ajuda. Com pesar, em um último fio de realidade, murmurou:― Deirdre... Deirdre... ― O homem imergiu em um sonho. Nos primeiros dias, após a prisão de Deirdre, Brendan surpreendentemente não estava acostumado com sua ausência e, assim que voltava para casa, gritava instintivamente:― Deirdre, faça uma sopa de cogumelos para mim! ― Ele entã
Mesmo que a possibilidade fosse pequena, Sam manteve a esperança. Mesmo quando três dias se passaram e Deirdre ainda não tinha sido encontrada. Mesmo quando a polícia desistiu da busca. A única parente de Deirdre havia falecido e Brendan era seu marido. Assim, a polícia foi buscar sua assinatura para reconhecer a morte de Deirdre. Mas, Brendan deixou cair a caneta no chão, sem vontade de assinar.― Não. Ela está viva. Sua morte é impossível! ― Em um tom de voz extremamente firme, Brendan enfatizou: ― Como podemos concluir que Deirdre está morta quando seu cadáver ainda não foi encontrado? Talvez, ela nunca tenha embarcado naquele carro. É um erro cometido durante a investigação! — O policial olhou para Brendan com simpatia e suspirou.― Um policial testemunhou e foi registrado pela câmera de vigilância. A senhora McQuenny definitivamente estava no veículo. ― ― E durante a viagem? Ela não pode ter saído do carro?! ― Brendan franziu os lábios e seus olhos ficaram vermelhos. ― E
― Quem fez isso? Quando isso aconteceu? ― Sam estreitou os olhos.― Foi um dia antes da senhora McQuenny ser presa. Foi também o dia em que você expulsou Ophelia da casa. Assim que ela foi colocada para fora, um carro veio e a levou para um hospital psiquiátrico. O vídeo também foi lançado naquele dia. Talvez... a senhora McQuenny tenha recebido essas imagens... ― Brendan não sabia o que pensar, então, de repente, se lembrou do telefonema de Deirdre, naquele dia. Era a primeira vez que ela gritava, como uma histérica. Foi também nesse momento que ela aceitou ir para a prisão, para que sua mãe fosse protegida. Na época, ele reagiu com um sorriso de escárnio. Pois, pensou que Deirdre tentava ganhar sua simpatia porque ele havia acabado de retirar tudo o que havia dado a ela. Ela concordou em ser presa e ele pensou que ela estava relutante em se separar da vida luxuosa. Em vez disso, sua mãe estava sofrendo. Na cabeça de Brendan, Deirdre tinha feito tudo de bom grado, afin