"Meu único amor, nascido do meu único ódio
Conhecido por acaso e tarde demaisComo esse monstro, o amor brinca comigoApaixonar-me pelo inimigo"-Romeu e Julieta, William Shakespeare
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As costas dela doíam por causa do catre de barras duras e o colchão fino. Não havia travesseiro e a única coisa que a impedia de congelar até a morte era um trapo em forma de cobertor.
Maeve a havia prendido em seu corpo humano para evitar que ela destruísse pedra por pedra das masmorras.
Tess conseguiu não ficar louca.
As cores na cela eram as mesmas: cinza. Pedras cinzas, trapos cinzas, roupas cinzas e colchão cinza. Até os pratos em que serviam as únicas três refeições dela eram cinza! Os únicos lampejos de cor eram as cenouras amareladas--provavelmente já estragadas--, o purê de batatas de um branco leitoso, as tiras de carne queimadas e a transparência da água, a única coisa que parecia limpa. Ah, e é claro, seu cabelo. Ele ainda tinha um pouco da antiga cor, mas as pontas estavam ressecadas e quebradiças e seu cabelo não tinha brilho nenhum.
Tess fazia marcas na parede com a ponta de uma pedra solta. A contagem de dias marcava que ela estava em seu décimo nono dia ali.
Uma risada histérica brotou em sua garganta. Maeve queria que ela ficasse louca ou simplesmente desistisse.
E, sinceramente, a única coisa que a impedia de jogar tudo para o alto era ele. As memórias de Damian a mantinham sã. Lembrar de seus olhos e cabelos escuros, seu sorriso suave e sua doçura. Lembrar de quando ela voara com ele e tocara suas macias asas feitas de sombra.
Passos ecoaram no corredor atrás da enorme porta de metal. Ótimo, almoço. Ou talvez fosse o jantar, ela não sabia.
O trinco deslizou e uma chave foi girada. A porta se abriu, revelando um feéricos lindo, de cabelos loiros compridos e olhos de um verde que Tess achou que jamais viria novamente.
Ela demorou para reconhecer seu velho amigo.
" Bom ver que está acordada. " Rowan disse, se encostando no batente da porta.
" Bom ver que você ainda é o idiota imortal de sempre." Tess engasgou com sua própria voz. Sua garganta estava seca e arranhada, das horas gritando para que Maeve fizesse alguma coisa, a matasse de uma vez ou a jogasse numa arena com leões, ela já não se importava mais.
Os olhos de Rowan brilharam com compaixão enquanto ele vinha para se agachar ao lado dela.
" O que ela fez com você, Tess?" A voz dele estava embargada e ele parecia sinceramente chateado.
Ela deu de ombros. " Sinto muito por não ser a mesma depois de vinte dias mergulhada na desgraça. "
"Venha, vamos te limpar e arrumar algo decente para você comer. " Ele passou um braço enorme por baixo dos joelhos dela e o outro a segurou na base das costas enquanto ele a levantava.
" Maeve resolveu fazer alguma coisa?" Tess perguntou.
" Maeve me pediu para deixar você apresentável. Ela quer ver vocês dois hoje de tarde. Pelo que eu sei, os jogos começam amanhã. "
Uma risada amarga saiu de Tess. " Ela vê tudo isso como entretenimento, não é? " Ela estava dividida entre a raiva destinada à Maeve e a empolgação à simples idéia de ver Damian.
Rowan não respondeu, mas a fúria nos olhos dele já dizia tudo.
"Porque não veio antes?" Ela perguntou, com a voz magoada." Sinto muito. Ela escolheu até os guardas que ficariam de olho nas masmorras de vocês. E ela não me queria perturbando a diversão dela. "
O sangue de Tess ferveu e ela olhou para a pulseira de ouro e prata que estava em seu pulso. Aquela jóia era o que a prendia ao seu corpo humano.
Rowan a levou para um quarto que parecia próprio para hóspedes.
" Uma criada virá para limpá-la. " Ele deve ter visto o pânico nos olhos dela, porque ele sorriu. " Não se preocupe, não vou deixar esse quarto. "
Tess assentiu e, antes de ir para o banheiro, saltou no pescoço de Rowan e afundou a cabeça nele. Ela engoliu um soluço enquanto aproveitava o calor dele.
Rowan foi pego de surpresa mas logo a apertou num abraço de urso.
" Senti sua falta. " Ele disse no cabelo dela.
" Acho que sim. Se você está aguentando ficar perto de mim e do meu fedor, deve gostar mesmo de mim." Ela sorriu para ele, que deu um gargalhada rouca.
" Você fede mesmo."
Ela socou o braço enorme dele e foi para o banheiro.
Dois minutos depois, a porta se abriu e Tess se encolheu dentro da banheira com água quente.
Para sua surpresa, eram Therae e Danara.
" Senhorita!" Danara exclamou e abraçou o pescoço de Tess.
Tess apertou o pescoço da Anjana. " Ahh, Danara, você não sabe o quão feliz eu estou em ver vocês. "
Ela se virou para Therae, que olhava as duas com um pequeno sorriso. " Bom ver a senhorita também. " A ninfa disse.
" Achei que teria criadas desconhecidas comigo. Mas, espere, o que estão fazendo em Connacht? "
Therae e Danara trocaram olhares. " Bem, Vossa Majestade Sombria exigiu que nós preparacemos você para os jogos." Ela estava claramente desconfortável com a palavra 'jogos', mas disfarçou o máximo que pôde.
" Eu a odeio." Tess disse enquanto Therae lavava seus cabelos e Danara esfregava suas pernas.
" Não diga isso, criança! " Therae exclamou. " Ela tem espiões em cada curva desse lugar. Não sabe o que eles fazem com traidores aqui."
Tess riu. " Eu já sou uma traidora. "
Therae fez uma careta mas não disse nada.
Elas permaneceram em um silêncio confortável até que o banho terminasse. Enquanto Therae secava os cabelos de Tess, Danara a ajudava a se vestir.
Uma túnica azul e prata, uma calça justa preta e botas de couro. Tess se sentia grata por ter roupas limpas e por sua pele não cheirar a queijo estragado.
Quando terminou com as roupas, Danara passou uma fina camada de maquiagem em Tess para esconder os quilos perdidos e a anemia que se iniciava. Ela tinha olheiras de um roxo profundo que foram escondidas por camadas de pó. Seus lábios rachados ficaram rosa brilhantes por causa do batom. Seus olhos azuis, antes tão bonitos, perderam o brilho. Nem o delineador foi capaz de esconder isso.
Therae fez uma bom trabalho com o cabelo, deixando-o com uma aparência menos desgastada.
" Obrigada. " Tess disse às duas antes de sair do banheiro. " Obrigada por me deixarem apresentável e limpa de novo." Elas riram.
Quando Tess saiu do banheiro, encontrou o olhar aprovador de Rowan.
" Tem gente que quer falar com você. " Ele disse e olhou para o outro canto do quarto.
Alek, Krisa, Liam e Reana estavam parados nas sombras.
Ver Alek novamente era como ver Finnick. Tess já não sentia os mesmos sentimentos e, ao que parecia, ele também não.Alek mantinha um braço ao redor da cintura de Reana, enquanto ela descansava distraidamente a mão em seu peito.Tess sentiu-se feliz por ele.Ela o abraçou forte e ele a abraçou de volta. Ele não tinha nem metade da força de Rowan, mas o abraço ainda era de esmagar costelas.O cheiro dele ainda era o mesmo e Tess podia ter chorado por isso. A saudade de Alek era ainda maior do que a de Rowan." Droga, Tess. Se você for sequestrada de novo, eu mato você. " Alek riu com a próp
Maeve se sentava num imponente trono de cristal e ônix. Ela usava um vestido azul-escuro e uma capa de cor grafite se estendia sobre seus ombros. Na cabeça, uma coroa de vidro e algum material preto que Tess não conhecia. A rainha também usava um sorriso frio no rosto.Mora usava um vestido vermelho-vinho e uma coroa de gelo adornava sua cabeça. Ela não fazia questão de esconder sua felicidade em ver Tess naquela situação.Mas Mab era quem mais chamava atenção. Ela vestia preto, uma cor que não combinava com seu cabelo loiro reluzente. A coroa de cores parecia deslocada comparada ao vestido. Quando Mab ergueu o olhar, Tess soube o porque do vestido. Luto. Luto pelas irmãs e pelo juízo. Tess gostou ainda mais da rainha por aquele pequeno ato
O auge do inverno havia chegado e o tempo todo, a cada segundo do dia, o vento chicoteava o exterior do castelo.Tess se encolhia, tremendo, e xingava alto toda vez que uma nova rajada passava pelas barras da janela minúscula.Um guarda piedoso havia lhe dado seu manto de veludo preto. Mas nem isso era capaz de fazê-la parar de tremer.Tess tinha certeza de que, se estivesse na forma feérica, não sentiria frio. Mas estava presa no corpo humano por uma maldita pulseira bonita.Pelas contas dela, faltavam menos de doze horas para o desafio de Damian. E cada hora que passava era uma agonia.Pensar em Damian perto de Maeve sem que Tess pudesse fazer nada? J&aac
Os guardas a arrastaram até o lado de fora.Na maioria dos castelos, haveria um jardim ou um bosque ali. Mas não no Castelo Negro, de Connacht.No quintal de Maeve, havia um penhasco de forma afunilada. Era tão profundo que, vinte metros abaixo, a neblina encobria o fundo, fazendo com que fosse impossível saber ao certo a profundidade. Mas era profundo o suficiente para fazer as entranhas de Tess tremerem. O chão passava de cascalho para terra seca e ia afunilando até uma ponta extremamente fina, que cabiam, no máximo, duas pessoas de pé.Mas era profundo o suficiente para fazer as entranhas de Tess tremerem.Maeve estava corajosamente--ou imprudentemente-- parada na beira do pen
Tess dormiu por dois dias.Seu cansaço e exaustão eram tanto mentais quanto físicos.Ela odiou Maeve mais ainda por sequer conseguir se fazer andar até a porta e pegar sua refeição. Respirar era difícil e doía.Tess também não fazia idéia de como havia sido levada até sua cela ou se Maeve teria feito maos alguma coisa com Damian.E ela teve certeza de que, se ela tivesse feito, arrancaria o próprio braço para poder transpassar o corpo da rainha com uma lança de gelo. Ou talvez de fogo. Ou ambos, se fosse possível.Ela levou dez minutos para conseguir se sentar e mais vinte
Três dias.Três malditos dias até a prova.Mas Tess aproveitou aquele dia, cada mísero segundo dele.Era cedo, muito cedo, quando Rowan escancarou a porta da cela dela.Tess levantou a cabeça com dificuldade. Ela viu que o sol havia nascido há pouco tempo, e por esse motivo xingou o guerreiro de um nome tão feio que provavelmente até os mais bêbados do Garras de Tigre--a taverna preferida dela em Holirya--a olhariam boquiabertos." Vejo que está de bom humor. Ótimo. Levante-se." Rowan disse." Não consigo. " Tess resmungou antes de deixar a cabe&c
Ela estava deitada ao lado de Damian, meio dormindo e meio enrolando seu indicador no cabelo já comprido dele vagarosamente.Damian roncava baixinho, sua cabeça apoiada no peito de Tess de um jeito que a fazia apoiar o queixo no topo da cabeça dele.O sol se punha devagar, banhando toda a cela em laranja vivo. Um vento uivou lá fora e Damian aumentou levemente seu aperto na cintura dela.Tess sabia que logo teria que ir embora, mas não conseguia deixá-lo. Deixar Damian seria como deixar um pedaço de seu próprio coração naquela cela imunda e fria, quase tão fria quanto a dela.Tess ouviu passos calmos no corredor e enrijeceu o corpo. Era hora de partir.
Tess estava grata por um banho, por não mais cheirar como um porco e por uma refeição decente.Também estava grata por poder comer e ficar o dia todo com Damian, Alek, Krisa e Liam.Segundo Alek, Reana estava com Maeve. Ela havia sido convocada de manhã, quando as rainhas acharam uma feérica doente, mas viva, com as mesmas marcas carmim. Maeve queria saber se a garota poderia curar a feérica.Mas Tess tinha quase certeza de que Reana não conseguiria e logo a feérica morreria. Logo, as rainhas voltariam para o castelo. Logo, ela receberia o relatório de seu olheiro e o homem diria que Tess ficara o tempo todo na cela, assim como Damian.Ou era o que queriam que o olh