O auge do inverno havia chegado e o tempo todo, a cada segundo do dia, o vento chicoteava o exterior do castelo.
Tess se encolhia, tremendo, e xingava alto toda vez que uma nova rajada passava pelas barras da janela minúscula.
Um guarda piedoso havia lhe dado seu manto de veludo preto. Mas nem isso era capaz de fazê-la parar de tremer.
Tess tinha certeza de que, se estivesse na forma feérica, não sentiria frio. Mas estava presa no corpo humano por uma maldita pulseira bonita.
Pelas contas dela, faltavam menos de doze horas para o desafio de Damian. E cada hora que passava era uma agonia.
Pensar em Damian perto de Maeve sem que Tess pudesse fazer nada? Já era tortura suficiente.
Tess imaginava que tipo de ciladas Maeve preparava para eles. E cada vez que uma nova idéia surgia à mente ela se encolhia mais.
Numa hora da noite, ela se sentou no catre para fugir da parede congelada. Estava tremendo de frio e tinha certeza de que seus lábios estavam azuis.
O vento rugia do lado de fora e tornava a cela ainda mais inabitável.Tess só ouviu os passos quando a porta foi aberta. Com custo, ela levantou a cabeça e encontrou os olhos cinzentos de Cassaey.
Ela trazia uma bandeja de prata nas mãos e um bule fumegante. Quando encontrou os olhos azuis de Tess, ela sorriu. " Olá, Tess."
"Cassaey. " Tess meneoou a cabeça, enquanto um novo tremor violento chacoalhou seu corpo. Ao que parecia, o vento a estava desafiando-a ser mais fria que ele. Tess queria poder aceitar o desafio.
Cassaey notou que Tess tremia de frio. Um gesto com o pulso e não havia mais vento. A sala se aqueceu consideravelmente, apenas com a presença de Cassaey.
" O que você fez? " Tess perguntou enquanto a princesa se sentava no chão à sua frente.
Cassaey suspirou. " Minha mãe é louca. Concordo com Rowan quando ele diz que deveríamos fazer tudo para ajudar você e Damian." Os olhos dela brilharam com uma emoção indecifrável quando ela disse o nome de Damian.
"Fico feliz ao ouvir isso." Tess respondeu, de olho na xícara fumegante de chá que a princesa servia.
Agora ela podia ver que na bandeja havia um sanduíche de queijo quente, biscoitos, uma fatia de bolo de chocolate e uma maçã verde.
O estômago de Tess roncou por comida decente.
" Porque está aqui, Cassaey? " Tess perguntou, notando a súbita imobilidade da outra.
Ela não respondeu de imediato. Entregou o chá e o sanduíche para Tess antes de falar.
" Acabo de vir da cela de meu irmão. E ele me disse que só conseguiu te capturar porque você estava fraca demais para lutar com ele...graças à sua tentativa de me salvar. " O belo rosto da princesa se contorceu numa careta.
" Eu estava sob a hipnose de meu irmão e não sabia o que estava acontecendo. Quando acordei, estava deitada no jardim, grilhões aos meus pés, e o caos à minha volta. " Cassaey contou. " Então, cerca de uma meia hora depois disso, Rowan e seu amigo Alek perceberam que só você havia sumido. Meu irmão ficou destruído e irado ao mesmo tempo." Cassaey sorriu para ela. " Já fazia algum tempo desde que Rowan não tinha um amigo de verdade. "
Tess mastigava pão, queijo e tomate quando ela terminou seu relato.
" Então você se sentiu...em dívida comigo?"
Cassaey deu de ombros. " Acho que sim. Mas também achei errado que sua possível última refeição seja um prato de comida velha. "
"Obrigada, mas sei que teria feito a mesma coisa que eu fiz."
"Na verdade não. Fui criada para manter meu objetivo e deixar para trás quem estiver morto ou ferido. " Ela disse com simplicidade e um pouco de vergonha.
Tess segurou a mão da garota. " Não importa o que você foi criada para fazer. Se a hora chegasse, você iria desobedecer sua consciência e seguir seu coração. Sei disso."
"Obrigada, Tess. Por tudo." Ela disse e se levantou.
Antes que a porta fechasse, Cassaey a chamou. " Tess, se você tiver a oportunidade amanhã...faça Maeve pagar." A ferocidade e ira nos olhos cinzentos dela era algo inédito.
" Porque está me pedindo isso?"
Um sorriso sombrio surgiu nos lábios sinuosos dela. " Porque Maeve merece pagar pelo que ela fez com meu irmão. " Ela disse e se foi.
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Tess terminou de comer e se aconchegou no cobertor. Não havia mais frio e ela conseguiu dormir tranquilamente.
Mas quando o sol chegou, ela foi arrastada da cama por guardas vestidos de preto.
O sol havia nascido e estava na hora de enfrentar Maeve.
Os guardas a arrastaram até o lado de fora.Na maioria dos castelos, haveria um jardim ou um bosque ali. Mas não no Castelo Negro, de Connacht.No quintal de Maeve, havia um penhasco de forma afunilada. Era tão profundo que, vinte metros abaixo, a neblina encobria o fundo, fazendo com que fosse impossível saber ao certo a profundidade. Mas era profundo o suficiente para fazer as entranhas de Tess tremerem. O chão passava de cascalho para terra seca e ia afunilando até uma ponta extremamente fina, que cabiam, no máximo, duas pessoas de pé.Mas era profundo o suficiente para fazer as entranhas de Tess tremerem.Maeve estava corajosamente--ou imprudentemente-- parada na beira do pen
Tess dormiu por dois dias.Seu cansaço e exaustão eram tanto mentais quanto físicos.Ela odiou Maeve mais ainda por sequer conseguir se fazer andar até a porta e pegar sua refeição. Respirar era difícil e doía.Tess também não fazia idéia de como havia sido levada até sua cela ou se Maeve teria feito maos alguma coisa com Damian.E ela teve certeza de que, se ela tivesse feito, arrancaria o próprio braço para poder transpassar o corpo da rainha com uma lança de gelo. Ou talvez de fogo. Ou ambos, se fosse possível.Ela levou dez minutos para conseguir se sentar e mais vinte
Três dias.Três malditos dias até a prova.Mas Tess aproveitou aquele dia, cada mísero segundo dele.Era cedo, muito cedo, quando Rowan escancarou a porta da cela dela.Tess levantou a cabeça com dificuldade. Ela viu que o sol havia nascido há pouco tempo, e por esse motivo xingou o guerreiro de um nome tão feio que provavelmente até os mais bêbados do Garras de Tigre--a taverna preferida dela em Holirya--a olhariam boquiabertos." Vejo que está de bom humor. Ótimo. Levante-se." Rowan disse." Não consigo. " Tess resmungou antes de deixar a cabe&c
Ela estava deitada ao lado de Damian, meio dormindo e meio enrolando seu indicador no cabelo já comprido dele vagarosamente.Damian roncava baixinho, sua cabeça apoiada no peito de Tess de um jeito que a fazia apoiar o queixo no topo da cabeça dele.O sol se punha devagar, banhando toda a cela em laranja vivo. Um vento uivou lá fora e Damian aumentou levemente seu aperto na cintura dela.Tess sabia que logo teria que ir embora, mas não conseguia deixá-lo. Deixar Damian seria como deixar um pedaço de seu próprio coração naquela cela imunda e fria, quase tão fria quanto a dela.Tess ouviu passos calmos no corredor e enrijeceu o corpo. Era hora de partir.
Tess estava grata por um banho, por não mais cheirar como um porco e por uma refeição decente.Também estava grata por poder comer e ficar o dia todo com Damian, Alek, Krisa e Liam.Segundo Alek, Reana estava com Maeve. Ela havia sido convocada de manhã, quando as rainhas acharam uma feérica doente, mas viva, com as mesmas marcas carmim. Maeve queria saber se a garota poderia curar a feérica.Mas Tess tinha quase certeza de que Reana não conseguiria e logo a feérica morreria. Logo, as rainhas voltariam para o castelo. Logo, ela receberia o relatório de seu olheiro e o homem diria que Tess ficara o tempo todo na cela, assim como Damian.Ou era o que queriam que o olh
Não houve banho ou roupas limpas desta vez.Tess foi arrastada pelos guardas com as mesmas roupas imundas e mal-cheirosas que usara durante a semana.Ela não se importou de verdade. Por sorte, as mangas da túnica cobriam as manchas carmim de seus braços.Uma criada lhe entregou um manto pesado e cinza e, quando os guardas abriram a porta, Tess viu que nevava.Ela se livrou da mão do guarda que a empurrava e enterrou os dedos na neve. O bracelete em seu braço queimou, como se seu poder estivesse se agitando dentro dela. Era como em Avilan, quando ela quase conseguira se livrar do bloqueio de Damian enquanto discutia com Syena.Aquilo nã
Edik a abraçou forte e Tess se desfez.Ele trazia no rosto o raro sorriso e parecia harmonioso e sereno. Não morto; picado em pedaços e carbonizado.Tess o abraçou, inspirando o cheiro de madeira, musgo, terra molhada e pinho dele, um cheiro tradicional dos lenhadores.Tess levantou os olhos e viu os olhos azuis mais escuros que o dela e o cabelo loiro como trigo dele. Finnick era tão parecido com ele." Sua mãe disse que eu queria falar com você, querida?" Ele perguntou, passando um braço forte pelos ombros dela enquanto a conduzia para a beira da floresta.Chrases ainda era acolhedora, com seu musgo, madeira, mofo e cogumelos n
Desmaiar se tornara um hábito inconveniente.Tess passou a odiar a inconsciência e firmou tal pensamento quando sua mente começou a voltar ao normal.Ela ouviu vozes ao fundo e abriu os olhos.Ela demorou alguns segundos para ajustar os olhos à claridade. Rowan e uma curandeira conversavam no canto.Tess se aprumou para ouvir a conversa." Khali, você não pode contar para ninguém. " Rowan suplicou em voz baixa." Rowan, se alguém descobrir que eu sei e não reportei..." Ela não precisava continuar." Khali, voc&ecir