Capítulo ll

Rafaella acordara cedo. Seu dia seria cheio, principalmente após o almoço. Hoje inicia sua reforma no apartamento e ela teria que se encontrar com Arthur, o decorador, para decidirem a paleta de cores e outros detalhes que ela havia pedido para acrescentar no projeto. Por mais estranho que tenha lhe parecido, acordara bem, mesmo depois dos últimos acontecimentos. Já haviam se passado três semanas depois do incidente do restaurante com seu ex-marido, o qual ela desejava nunca mais se lembrar. Sentia calafrios só de pensar na maneira como se sentira naquela noite. Seu ódio, raiva e decepção por ter dedicado sua vida inteira a um homem que só visava seu dinheiro. - Como pude ser tão cega? - Rafaella se perguntou olhando seu reflexo no espelho do banheiro. Seus olhos castanhos quase negros, denunciavam mais uma vez sua raiva. Ela ficou se encarando por um longo tempo, como se isso pudesse de alguma forma lhe dar as respostas que pairavam em sua cabeça.

Sua mente flutuava, de uma lembrança a outra desde quando conhecera Thiago até seu casamento. Tentou encontrar indícios de suas traições, o momento pelo qual o levou a usá-la para chegar a obter sua fortuna e todo esse plano sórdido, que até mesmo o pai dele, havia ajudado a tramar.  

  • Onde foi que eu me perdi...? - Rafaella não conseguia encontrar respostas e nem mesmo as falhas de seu ex-marido que pudessem denunciar suas intenções.  - como alguém consegue ser tão ardiloso dessa maneira? Se prestar a um serviço tão vil...tão baixo...? - Sua dor fora tomando conta de seu rosto. Primeiro, decepção depois tristeza e por fim as lágrimas. Seus olhos agora eram pura dor e mágoa. 

Suas mãos que antes estavam espalmadas em cima do balcão de mármore branco e que apoiavam seu corpo debruçado para ficar mais perto do espelho, foram se fechando conforme sua raiva tomava conta de seu ser. Os nós de seus dedos foram ficando brancos, tamanha era a pressão que ela fazia ao cerrar os punhos. As lagrimas desciam sem parar, seu corpo entrou em uma convulsão de sentimentos que não conseguia controlar. Rafaella ainda mantinha os olhos fixos em sua imagem no espelho, seus olhos agora já não eram mais os mesmos... de castanhos quase negros, se tornaram um azul violeta tão profundo que ela imaginou que alguém a estava encarando atras de si, pois nem mesmo a sua fisionomia não era a que vira alguns minutos atrás. Esta estava de cabelos compridos e claros como a luz do luar. Pareciam fios de prata... ela levantou a mão para tocar o espelho, mas a imagem tinha sumido e tudo o que ela via agora, era apenas seu velho e conhecido reflexo.

Sem entender o que havia acontecido, Rafaella tirou rapidamente o roupão e entrou no chuveiro. Um banho cairá bem ...– pensou ela totalmente confusa, após o incidente segundos atrás. - Eu estou vendo coisas... – falou para si mesmo, tentando explicar o ocorrido. - ...estou passando por algum tipo de stress pós traumático... é isso! Um bom banho vai me ajudar a relaxar e esquecer tudo. Ficou ali debaixo d’agua por mais alguns minutos e depois saiu. Olhou-se no espelho rapidamente com medo de ver aquela imagem novamente e sorriu ao ver seu reflexo. - Deixa de ser louca ... - fez uma careta para seu reflexo e saiu correndo para o quarto. 

Seu desjejum já estava em cima da cama. O cheiro do café despertou seu apetite e ajudou a esquecer o novo incidente. Pegou sua xicara e tomou dois goles - ah! Revigorante!... bendito seja o santo café! - mais relaxada e praticamente esquecida da visão do espelho, Rafaella começou a se trocar.  terminara de se vestir e de comer ao mesmo tempo. Olhou no relógio e estava ficando atrasada. Pegou sua pasta e bolsa e saiu do quarto em busca de sua empregada e amiga, Dolores.

  • Dolores? - Rafaella a chamou ao passar pela sala de estar. 

  • Sim, Dona Rafaella – Dolores saiu pela porta da cozinha e seguiu pelo corredor assim que ouviu seu nome. - Estás muito linda menina! Algum motivo especial? - perguntou a empregada que já sabia a resposta. Pois hoje além do início da reforma, também era o início do processo de divórcio de sua patroa.

  • Tirando o fato de que estou massageando o meu ego com essa roupa, também quero causar um grande impacto na reunião de divórcio. Hoje será um dia infernal..., mas já que terei que abraçar o capeta...então que seja em grande estilo. - Dizendo isso, Rafaella deu um rodopio igual as modelos fazem nas passarelas e saiu rindo e jogou um beijo no ar em direção da senhora. - Que Deus lhe guarde menina! - Dolores estava na soleira da porta, aguardando a saída de sua patroa pelo elevador.

  • Amém, Dolores! Nos vemos no jantar! E entrou no elevador.

Ao entrar no carro, olhou pelo retrovisor como de costume antes de dar a ré. Ao fazer isso, notou que havia alguém parado no hall dos elevadores. Até aí tudo normal, mas o que a deixou intrigada fora que, a pessoa que estava parada lá ao invés de estar de frente para a porta do elevador como seria o normal, estava de costas para os elevadores e a encarava pelo retrovisor. Ela já havia visto aquele homem em algum lugar... - pensou forçando sua memória. E por instinto ligou o carro o mais rápido que pode e saiu a toda da garagem sem olhar para trás. Novamente ela sentira aquela sensação estranha no estomago. Um sinal de alerta que seu corpo acabara de emitir. Só não sabia o motivo, pois não estava em perigo. Seu condomínio era bastante seguro e ela tinha a sensação de já ter visto aquele homem. -  Certamente algum morador curioso... – pensou ela já a caminho do escritório. - Depois pergunto pra Dolores se ela sabe quem é - pisando fundo no acelerador, decidiu não pensar mais nisso e se concentrou na reunião que teria logo ao chegar no escritório.

Todos já a estavam esperando. Claro que fariam questão de comparecer em peso para o confronto. Sentados já se encontravam, Nicolau (pai do Tiago), seus advogados os quais já havia conhecido no dia do meu casamento, se bem me lembro seus nomes eram Mauricio e Alexandre, ambos trabalhavam para nossa maior concorrente a William e associados. É claro que não poderia faltar, o próprio Tiago, este estava em pé encostado na parede ao lado da imensa janela. De minha parte, já estavam no meu aguardo nada mais nada menos que meus sócios Marcos e Vinícius... e meu Pai?! Que assim que me viu entrar na sala, veio direto me abraçar - bom dia, minha querida! Eu não poderia deixar você sozinha nisso... vim para lhe dar o nosso apoio. Sua mãe está aflitíssima em casa esperando notícias e se eu não viesse...bom...você conhece sua mãe! - meu pai disparou a falar também demonstrando seu nervosismo. 

  • Bom dia paizinho...é muito bom ter você aqui comigo. - falei logo assim que ele parou de se justificar, tentando tranquilizá-lo. - não se preocupe papai, conheço bem a mamãe e sei que ela não deve ter deixado você dormir á noite. Mas fique tranquilo, logo tudo acabará e o senhor poderá voltar pra casa e contar tudo em detalhes para ela. - Dei um risinho cumplice para o papai para demonstrar o meu bom humor e que tudo estava bem.

Meu pai me acompanhou até meu lugar na mesa ao lado de meus advogados e sócios e assim que o Tiago me viu sentar, se aproximou da mesa e ficou me encarando. Mantendo-se ainda em pé. Olhei friamente para ele sem mover um músculo do rosto. Nos encaremos não sei por quantos segundos, mas para mim pareceu uma eternidade. Achei que ele falaria alguma coisa, ou me insultaria a qualquer momento. Mas tudo o que ele fez foi abrir um largo sorriso, o qual eu já conhecia muito bem, e piscou para mim com todo seu charme que eu conhecia melhor ainda e sentou ao lado do seu pai.

Sem entender sua atitude, fiquei apenas olhando seus movimentos de felino observando sua presa. Era mais do que obvio que seu comportamento anormal para aquele momento, tinham segundas intenções. Eu já esperava de tudo nessa reunião, mas sendo sincera, essa atitude inesperada do Tiago me deixou desconcertada. Porém apenas aguçou ainda mais meus instintos, fazendo com que eu apenas sentisse mais repulsa do que já havia sentido por aquele homem, desde o dia em que sua amante o havia delatado para mim. Eu não estava interessada em seus dotes masculinos antes, agora então, nem que ele estivesse coberto de diamantes ou com todo o ouro do mundo. Eu só queria que tudo aquilo acabasse o mais rápido possível, para que eu pudesse retomar a minha vida e seguir em frente. 

Marcos meu sócio estava para iniciar a reunião quando ouço a porta abrindo e o ambiente foi inundado por um perfume adocicado, forte e pelo jeito caro também. Assim que o perfume entrou pelo meu nariz, nem precisei olhar para a porta para saber de quem se tratava... Vivian, a amante do meu futuro e tão em breve ex-marido. 

Seus saltos finos ecoaram no mármore da sala, chamando toda a atenção para sua triunfal entrada. Já não bastasse o fedor de seu perfume que impregnou o ambiente, ela fazia questão de ser notada em todos os sentidos. Seu terninho branco parecia ter sido recém saído de uma revista de alta costura, seu cabelo louro e impecavelmente penteado denunciava que acabara de sair de um salão, maquiagem impecável. Sem dúvida seria uma bela mulher se não fosse a sua falta de caráter, o que para muitos homens isso não importava, e eu tinha um exemplo disso bem á minha frente. E como já seria esperado, a raposa de terno branco sentou-se bem ao lado do Tiago que se levantou no mesmo instante que a avistou ao entrar e ajeitou a cadeira ao seu lado para a moça.

  • Bom dia senhores, desculpem-me o atraso! - Vivian falou ao sentar-se diante de mim, me lançando um sorrisinho falso. 

  • O que é isso querida... não se de tanta importância assim. Não sabíamos que viria e aliás, pouco importa isso também, sua presença não muda em nada o que irá acontecer aqui hoje. 

 Meu pai me cutucou e falou baixinho para eu não dizer nada. Para manter a calma. Mas isso estava além da minha natureza. Ter que aguentar o Tiago fazendo tipo na minha frente era uma coisa, mas aguentar aquela mulherzinha me afrontando isso já era demais. Ela não tinha nada que estar ali. Mas isso era tudo um jogo deles...cambada de canalhas. Eles terão o que merecem, ou não me chamo Rafaella!

  • Senhoras e senhores, bom dia a todos – Marcos começou a falar para interromper e esfriar os ânimos. - Essa reunião de hoje, como todos sabem e como manda o protocolo, serve para que os interessados no processo de divórcio, façam uma reconciliação se for do interesse de ambos. - Marcos fez uma parada e olhou para mim e para o Tiago, esperando alguma reação ou resposta. - Não havendo interesse na reconciliação, daremos início ao processo de divisão dos bens do citado casal.  - Outra pausa de espera para que cada um possa tomar nota do que fora falado e esboçar alguma reação, positiva ou negativa, quanto ao que fora falado. 

De minha parte o divórcio era certo. Queria minha liberdade e nunca mais ter nenhum vínculo com aquelas pessoas que estavam á minha frente. Eu tinha certeza que o mesmo passava pela cabeça do Tiago, depois de tudo o que ele havia feito. Foi então que, sem esperar e pegando todos de surpresa, ele se levantou e começou a andar pela sala. Ele parecia abalado, perdido em pensamentos e visivelmente nervoso. Eu só o vira agir uma vez assim na vida e esse dia, foi quando ele me pediu em casamento. Não sei qual era o jogo desta vez, mas o que eu sabia naquele momento era que seja qual fosse a armação, seus sentimentos eram reais. Ele realmente estava nervoso.

  • Eu preciso dizer uma coisa! - começou ele a falar e sem parar de andar pela sala. 

Minha reação foi de levantar e acertar a cara daquele homem, faze-lo engolir toda e qualquer palavra que saísse da sua boca. Eu já tinha visto e ouvido mentiras demais por anos de minha vida! O que mais esse canalha teria a dizer ou fazer que já não tenha causado mau suficiente a todos nós!

Todos olharam para ele com um grande ponto de interrogação na cara e esperamos o que ele tinha a dizer. Eu fiquei observando meus inimigos à minha frente para tentar compreender até onde iam com aquela encenação, mas tudo o que eu vi, foram suas caras de surpresa também. 

  • Querido, não seria melhor você se sentar e acabarmos logo com isso? - Vivian parecia aflita naquele momento pega de surpresa. Ela fez menção de alcançá-lo e tentar fazer com que voltasse a razão, mas ele a ignorou. Deu a volta na mesa e veio em minha direção e parou a poucos metros de mim.

  • Rafaella, eu sei que tudo o que foi dito naquela gravação, fez com que você tirasse conclusões precipitadas a meu respeito. - Eu prendi a respiração e achei que meu coração fosse parar de bater. - Você me conhece meu amor, melhor do que ninguém... e sabe que tudo o que passamos juntos foi verdadeiro. Eu te amo, Rafa! E sempre vou te amar... não importa o que esteja pensando agora sobre tudo o que foi feito. Eu só queria que soubesse que assim como você, eu também fui usado. Tudo o que fiz, foi por causa da minha família, sei que me entende... eu não queria que nada disso acontecesse entre nós! - ele chegou mais perto e se ajoelhou diante de mim, ficando cara a cara comigo e seus olhos azuis tão profundos me encararam de uma forma que me fez sentir pena. Estavam tristes e cheios de arrependimento. - Eu te amo, meu amor! E peço que me perdoe toda a dor que lhe causei nesses últimos meses. Não tive a intenção de lhe fazer nenhum mal...eu apenas queria salvar a minha família e sei que agi errado... e se eu tivesse a chance de poder me redimir de tudo isso para ficar ao seu lado, eu teria feito tudo diferente. 

Ele ficou ali ajoelhado na minha frente, por logos segundos e depois se levantou. Pegou em minha mão e a beijou. - Sei que não posso mudar o passado e nada do que aconteceu. Mas quero que me dê a chance de poder acertar as coisas em nome do amor e do tempo que passamos juntos. Foram tantos anos Rafaella, que eu nem sei viver sem você o meu lado. - Ele se levantou e se dirigiu aos advogados dele e amigos de seu pai.

  • Eu não sei quanto a ela... - e olhou para mim – mas de minha parte, não quero nada. Se há algo que possa ser repartido e entregue a mim, desejo que todo e qualquer valor seja destinado a alguma instituição de caridade da escolha dela. Eu não tenho interesse em mais nada, a não ser em seu amor, minha querida... - e dizendo isso ele saiu rapidamente porta a fora sem olhar para trás.

Eu não sei quanto tempo ficamos ali parados sem esboçar nenhuma reação. Aquilo realmente tinha acontecido? Ou, tínhamos sido jogados em um universo paralelo ao qual ninguém havia notado?

  • Inacreditável! - foi tudo o que eu consegui dizer em voz alta. 

Meu pai olhou para mim, ainda tentando se recuperar do choque. Segurou em minha mão para esboçar alguma reação depois de ter presenciado tudo aquilo e deu dois tapinhas nela, como ele sempre fazia quando queria me acalmar ou me confortar de algo. 

Eu olhei para o Marcos que estava á minha direita e tentei ler em seu semblante alguma reação que me fizesse sair do transe que me coloquei. Ele simplesmente me olhou e levantou os ombros, também incrédulo no que acabara de presenciar. Eu abaixei a cabeça e tentei entender tudo aquilo. Por mais que eu quisesse o divórcio com todas as minhas forças, naquele momento eu não tinha dúvidas, mas também a vitória não tinha mais o mesmo sabor. 

Levantei a cabeça e dei de cara com uma Viviam que mais parecia um zumbi. Ela nem se mexia, ou respirava. Certamente estava mais confusa do que eu em meio aquilo tudo. A toda poderosa. Aquela que se achava a última bolacha do pacote, acabara de ser preterida na frente de todos e principalmente na minha frente de uma forma que ela jamais imaginou ser. Perder para o patinho feio como ela me chamara uma vez...deve ter sido o maior golpe que ela jamais iria esquecer.

O sr. Nicolau, cochichou no ouvido do seu advogado e depois ambos ficaram confabulando por alguns minutos, até que por fim o sr. Nicolau falou:

  • Gostaria de me desculpar pela cena feita pelo meu filho. - Ele se colocou em pé e com todo seu orgulho ferido informou que o processo daria continuidade em direção ao divórcio assim que Tiago estivesse de acordo em assinar os papéis. - Espero que ... - Vivian se levantou abruptamente interrompendo Nicolau. Ela saiu apressada sem dizer uma palavra, mas não sem antes me enviar um olhar enigmático. Seu rosto de linhas perfeitas, se tornou algo indecifrável. Nem mesmo no dia do jantar vi um olhar tão desafiador e cortante como o de agora e partiu.

  • ...se vocês me deem licença... - gostaria de encerrar por hoje e marcaremos uma nova data para darmos fim a tudo isso – Nicolau parecia, cansado e muito desconcertado naquele momento. Sem saber mais o que dizer, se levantou e fez menção de sair.

  • Um momento por favor, senhores! – eu os interrompi – acredito que após o que foi dito aqui não há mais nada para ser discutido e certamente nada para ser acertado também. Conforme seu filho mesmo informou... Não deseja partilha de bens.

O que encerra por aqui o processo de divórcio. Meus advogados enviarão para o seu filho os papéis para assinar e isso é tudo. Espero que não haja mais novidades até lá, e diga ao Tiago... que nem em um milhão de anos, eu vou esquecer o que ele me fez. E espero nunca mais ter o desprazer de ter que ver os senhores em minha frente novamente. - Dando por encerrado a reunião. Peguei minhas coisas e sai da sala sem esperar qualquer reação de nenhum deles. 

Eu precisava urgentemente sair dali. Minha cabeça estava explodindo de dor e precisava de ar. Desci até minha sala, passei correndo pela minha secretária e me tranquei. Finalmente sozinha! Eu precisava pensar em tudo o que havia acontecido. Não havia nenhuma explicação lógica para tudo aquilo. 

Fui até o frigobar, um mimo que ganhei dos meus sócios, pois, segundo eles, era imprescindível que se tivesse um para melhorar os dias difíceis. Abri o frigobar de último modelo e peguei uma água para tomar meu comprimido para dor de cabeça, que já estava me deixando louca.  - Agora entendi o que eles quiseram dizer, com” imprescindível para os dias difíceis” ...- não sei quem abasteceu a geladeirinha, mas obviamente entendia muito bem o conceito de dias difíceis.  havia água e muita bebida destilada e todo tipo de vinho. - Uau! ...- foi tudo o que consegui esboçar fechando a geladeira e com apenas a minha garrafinha de água sem gás na mão. 

Tomei um longo gole daquela água gelada. Remexi na bolsa procurando a cartela do remédio, quando sinto em minha mão algo fresco e acetinado no fundo da bolsa. Peguei imediatamente para ver o que era.

 - Como isso veio parar aqui? - abismada com o que acabara de achar no fundo da bolsa, sentei em minha cadeira sem conseguir desgrudar os olhos daquela pequena flor azulada em minhas mãos. Estava tão fresca que parecia ter sido colhida neste instante. O que seria loucura, pois em sua bolsa haviam tantos objetos e coisas que a amassariam...impedindo que estivesse intacta ainda.

Mas isto era o de menos, a grande questão era como ela tinha parado ali. Quem colocou, ou seja, quem mexeu em sua bolsa e quando isso aconteceu...? não tinha ido a lugar algum ainda e sua bolsa esteve com ela o tempo todo. A não ser que isso tenha sido coisa da Dolores...seus talismãs e feitiços... - pode ser... outra coisa que preciso perguntar a ela ainda hoje. Esse dia está ficando esquisito demais na minha opinião.  

Coloquei a florzinha de lado e continuei minha busca pelo remédio. Assim que achei, tomei de um gole só o restante da garrafinha de água com o comprimido. 

Dra. Fortunato... - era Bárbara na porta, pedindo permissão para entrar na sala. - Entre querida - falei logo assim que terminei de engolir a água. 

  • Trouxe os processos que me pediu para revisar. E estou à sua disposição para repassar a agenda de hoje. 

  • Ok... vamos lá! O dia já está estranho demais hoje e quero retomar a normalidade o quanto antes – falei me ajeitando na cadeira e pronta para iniciar o meu dia de trabalho. – Desculpe dra., não entendi o que disse... – eu não havia percebido que tinha falado em voz alta os meus pensamentos.  – Nada não querida...vamos ao trabalho, por favor. 

A manhã passou rápida e sem mais incidentes. O que para mim foi um alívio. Assim que olhei para o relógio do meu leptop, já eram quase 12:30hs. Eu tinha que ir para o almoço com o decorador. 

Avisei minha secretária que estava saindo para o almoço e se ela quisesse poderia ir também e que eu só retornaria no fim da tarde. 

  • Se precisar de mim, me chame no celular.  - Desliguei o telefone, peguei minha bolsa e quando fui pegar a chave do carro, vi novamente a florzinha azul. Parada em cima da mesa da mesma maneira que havia encontrado em minha bolsa. Ela ficou ali por horas sem água. Eu a tinha esquecido completamente ali, e a essa altura já deveria estar murcha e não exalando frescor.

  • Realmente essa ganhou de todas as esquisitices do dia! - pequei a florzinha e sai da minha sala.  - Bárbara por favor, arranje um vasinho para esta belezinha aqui e deixe em minha mesa por favor. 

  • Sim sra., pode deixar... bom almoço dra.! - ela pegou a florzinha e foi cuidar do meu pedido.

  • Você também, até mais tarde! - sai pelo corredor em direção ao elevador.

Fiquei de me encontrar com Arthur no restaurante, que ficava do outro lado da cidade. O trânsito estava um pouco intenso. Liguei para avisá-lo que iria me atrasar por causa do trânsito. Graças a Deus ele também estava atrasado, pois um cliente acabou segurando ele um pouco mais do que o esperado. Mas que também já estava a caminho. 

Chegamos praticamente juntos, o que foi ótimo. Detesto esperar e também não gosto que me esperem. Não tenho a pontualidade dos britânicos, mas, estou quase lá!

  • Arthur, querido! Que bom revelo. Você está ótimo hoje! Alguma nova dieta? 

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