1- Desejos de uma amiga.

Athina estava chegando em casa após mais um dia de trabalho, com o cabelo curto preso em um coque, a gargantilha preta a volta do pescoço e os pés já descalços, ela acendeu as luzes de sua sala um tanto quanto colorida.

Estava cansada, mas feliz por ter um para ir. Não que estivesse desesperadamente precisando dele, afinal seu pai queria que ela voltasse para Adni e trabalhasse com o primo na construtora da família, e que ficasse mais próximo dos seus.

Ele arranjaria um cargo para ela, já havia deixado claro. Ela tinha um curso de secretariado então não teria dificuldade alguma em se enquandra e trabalhar com eles, mas não pensava naquilo como uma opção.

Ela não queria voltar para lá, para a casa da sua infância e as ruas da sua juventude, não quando ainda não havia decidido seguir com sua vida, ou quando nem sabia como seguir com ela.

Atualmente trabalhava como veterinária em uma clínica perto do centro da cidade, amava e se divertia realizando o próprio trabalho, mas bem se lembrava que quando menina detinha um grande afecto por tudo o que dissesse respeito a computação e internet.

Quando pequena dizia sempre para sua já finada mãe que se tornaria uma hacker, embora naquela época não soubesse bem o que aquilo era, mas a senhora sempre lhe dizia que era profissão de criminoso e que ela deveria encontrar algo menos problemático para si.

Com o tempo encontrou o amor pelos animais, então cuidar deles foi sua melhor opção. Mas ainda assim não largou a paixão antiga, e de vez enquando se via mergulhada na computação, programando aqui e ali, se divertindo com o som das teclas.

Na época da escola, fez amizade com uma menina quando está descobriu que ela era uma "nerd de computadores", pensou que seria uma amizade passageira, do tipo que era apenas movida pela vontade de Heloise descobrir que notas viriam no seu boletim antes de seu pai, mas acabou se tornando mais do que isso.

Heloise era como irmã para ela.

E mesmo que fizesse dias que não trocavam mensagem, seu amor por ela não diminuía.

[...]

Havia adormecido em uma péssima posição, e para piorar, no sofá. Ela deveria se lembrar que nunca era bom dormir de qualquer jeito.

Mas infelizmente ainda não conseguia mandar no sono.

Levantou ainda tonta com o sono, coçando os olhos com os dedos outra hora esmaltados em vermelho.

Seu cabelo estava bagunçado e a roupa amassada. Se seu pai a visse diria que ela estava sendo descuidada e que deveria voltar com ele para casa, não que ele precisasse arranjar motivos, fossem eles quais fossem para pedir que ela voltasse para casa. Mas conhecia Kemuel e sabia que não perderia uma chance.

Ele era seu pai e esse já lhe parecia um bom motivo para pedir pela presença da filha em casa.

Recolhia as folhas espalhadas pela mesa de centro e chão cantarolando uma música que ouviu no carro enquanto dirigia de volta para casa na noite anterior. Eram fotos que havia tirado de algum animais que estavam recebendo tratamento na clínica.

Sentiria saudades dos bichinhos, mas agora poderia aproveitar o final de semana inteiro para descansar.

- Au, au. - Queixou - se quando com os pés descalços pisou em algo duro. - O que está fazendo aí no chão? - Perguntou erguendo o porta retrato do chão.

Sentou-se sobre a mesa para olhar fascinada para a fotografia em questão. Era da época em que se considerava mais feliz. Da época em que decisões precipitadas não lhe levaram a solidão.

Estava em uma geladaria com os amigos, o sol estava alto fazendo o gelado derreter rápido, e assim como a felicidade em seus rostos, aquilo também era evidente pela foto.

Era uma época tão boa, quando tinha todos por perto. Na época em que traçou todos os seus planos e se tornou noiva.

Caleb como sempre, sorria aberto exibindo os caninos afiados. Julian estava com a cara fechada como de costume, quem não o conhecia não saberia dizer se estava ou não gostando, mas ela o conhecia e sabia que ele estava gostando.

Já Heloise, tinha um meio sorriso nos lábios, não demostrando nem escondendo sua determinação. Axel estava do lado dela, sorrindo meigo para a câmera com aquele ar angelical que emanava. E ela estava no meio, sorrindo tímida para o senhor que Caleb e Heloise praticamente obrigaram a tirar a foto.

Sentia saudades.

Caleb era modelo internacional, e embora estivesse sempre ligando para saber sobre ela e contar novidades, eles raramente se viam por conta do tempo.

Julian se tornou professor como sempre desejou, e agora com o trabalho e o facto dele ser reservado, e embora se vissem quase sempre por serem praticamente vizinhos, Athina sentia uma diferença do que já foi e agora é. Antes era fácil conversar com o "esquisitinho" do grupo, agora eles estavam distantes.

Tinha Axel também, que para além de amigo de infância, foi seu noivo por pelo menos sete meses antes dela ter terminado tudo. E não, não era apenas por sua mãe ser muito controladora ou seus primos intrometidos demais, era apenas porque ela sabia que a distância os machucaria.

Que seu coração sofreria e que o ciúme a consumiria, então terminar foi sua melhor solução. Mas por muito tempo ela acreditou que um dia ele voltaria, que continuariam de onde pararam, teriam filhos e se casariam... Mas o tempo passava e ele não voltou.

Se sentiu magoada, confusa e arrependida, e as vezes pensava que deveria ao menos ter preservado aquela amizade.

Mas ainda tinha Heloise, que se mantinha por perto para tudo e mais alguma coisa. Era sua irmã de coração, e o tempo e espaço não significava nada no que dizia respeito a amizade que haviam construído.

[...]

- Hina! - Quando atendeu o telefone suspeitava que receberia boa disposição do outro lado, e novamente não falhou na suposição. Com aquela voz bonita, Caleb lhe transmitia boas energias.

- Caleb, é bom ouvir sua voz. - Saudou contente. Estava indo fazer pipoca antes de ter ouvido seu telefone chamar e não precisou pensar nada entre o amigo e a pipoca.

- Hina, estou tão feliz. - Disse o moreno. Do outro lado da linha, sorria como se não lhe restasse o amanhã.

- É mesmo? Isso é bom. - Athina falou feliz, o que quer que fosse que o deixasse feliz, ela ficaria também.

- Estava indo comprar um presente para você quando encontrei... - Dizia o moreno feliz antes de ser interrompido.

- Presente para mim? - perguntou confusa. Seu aniversário já havia passado.

- Sim, mas esqueça do presente. Nem o comprei mais. - O modelo estava eufórico. - Eu encontrei Hina, a mulher com quem quero me casar. - Contou.

- Casar? - Athina não pode esconder a surpresa. Ele não só nunca demonstrou interesse em se casar, como aquilo tudo estava sendo muito repentino. Ele sequer tinha namorada.

- Não se assuste Hina, preciso conquistar minha amada primeiro. - Disse. Ele estava alegre, mostrando os dentes brancos para quem quisesse ver. - Falando nisso, estou indo para lá agora... Trabalha numa loja de roupas aqui perto.- Acrescentou animado. O telefone colado ao ouvido, a mão livre fazendo gestos enquanto falava e os pés pisando firme em direção aquela que queria que fosse sua amada, ele se sentia feliz demais.

- Se você está feliz, eu não poderia querer outra coisa. - Athina proferiu reclinado o corpo sobre o balcão da cozinha. Um gesto leve, mas que transmitia a tristeza que seu corpo sentia.

- Eu quero me casar com ela - Anunciou alegre erguendo os braços.

- Eu espero que dê tudo certo. - Athina não queria se sentir assim, mas estava triste. Não por conta do amigo, mas porque se sentiu sozinha.

Naquele momento mais uma vez percebeu que estava só, que se pretendeu ao passado e ficou só.

Triste e um pouco abandonada, se sentiu assim também quando o ex-noivo avisou que iria embora e ela pensou na separação.

Triste porque finalmente, depois de todos aqueles anos percebeu que não havia volta, Axel não voltaria para ela, e eles não retornariam de onde pararam.

Triste porque percebeu que havia errado. Nunca deveria ter se prendido ao passado.

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