Athina estava chegando em casa após mais um dia de trabalho, com o cabelo curto preso em um coque, a gargantilha preta a volta do pescoço e os pés já descalços, ela acendeu as luzes de sua sala um tanto quanto colorida.
Estava cansada, mas feliz por ter um para ir. Não que estivesse desesperadamente precisando dele, afinal seu pai queria que ela voltasse para Adni e trabalhasse com o primo na construtora da família, e que ficasse mais próximo dos seus.Ele arranjaria um cargo para ela, já havia deixado claro. Ela tinha um curso de secretariado então não teria dificuldade alguma em se enquandra e trabalhar com eles, mas não pensava naquilo como uma opção.Ela não queria voltar para lá, para a casa da sua infância e as ruas da sua juventude, não quando ainda não havia decidido seguir com sua vida, ou quando nem sabia como seguir com ela.Atualmente trabalhava como veterinária em uma clínica perto do centro da cidade, amava e se divertia realizando o próprio trabalho, mas bem se lembrava que quando menina detinha um grande afecto por tudo o que dissesse respeito a computação e internet.Quando pequena dizia sempre para sua já finada mãe que se tornaria uma hacker, embora naquela época não soubesse bem o que aquilo era, mas a senhora sempre lhe dizia que era profissão de criminoso e que ela deveria encontrar algo menos problemático para si.Com o tempo encontrou o amor pelos animais, então cuidar deles foi sua melhor opção. Mas ainda assim não largou a paixão antiga, e de vez enquando se via mergulhada na computação, programando aqui e ali, se divertindo com o som das teclas.Na época da escola, fez amizade com uma menina quando está descobriu que ela era uma "nerd de computadores", pensou que seria uma amizade passageira, do tipo que era apenas movida pela vontade de Heloise descobrir que notas viriam no seu boletim antes de seu pai, mas acabou se tornando mais do que isso.Heloise era como irmã para ela.E mesmo que fizesse dias que não trocavam mensagem, seu amor por ela não diminuía.[...]Havia adormecido em uma péssima posição, e para piorar, no sofá. Ela deveria se lembrar que nunca era bom dormir de qualquer jeito.Mas infelizmente ainda não conseguia mandar no sono.Levantou ainda tonta com o sono, coçando os olhos com os dedos outra hora esmaltados em vermelho.Seu cabelo estava bagunçado e a roupa amassada. Se seu pai a visse diria que ela estava sendo descuidada e que deveria voltar com ele para casa, não que ele precisasse arranjar motivos, fossem eles quais fossem para pedir que ela voltasse para casa. Mas conhecia Kemuel e sabia que não perderia uma chance.Ele era seu pai e esse já lhe parecia um bom motivo para pedir pela presença da filha em casa.Recolhia as folhas espalhadas pela mesa de centro e chão cantarolando uma música que ouviu no carro enquanto dirigia de volta para casa na noite anterior. Eram fotos que havia tirado de algum animais que estavam recebendo tratamento na clínica.Sentiria saudades dos bichinhos, mas agora poderia aproveitar o final de semana inteiro para descansar.- Au, au. - Queixou - se quando com os pés descalços pisou em algo duro. - O que está fazendo aí no chão? - Perguntou erguendo o porta retrato do chão.Sentou-se sobre a mesa para olhar fascinada para a fotografia em questão. Era da época em que se considerava mais feliz. Da época em que decisões precipitadas não lhe levaram a solidão.Estava em uma geladaria com os amigos, o sol estava alto fazendo o gelado derreter rápido, e assim como a felicidade em seus rostos, aquilo também era evidente pela foto.Era uma época tão boa, quando tinha todos por perto. Na época em que traçou todos os seus planos e se tornou noiva.Caleb como sempre, sorria aberto exibindo os caninos afiados. Julian estava com a cara fechada como de costume, quem não o conhecia não saberia dizer se estava ou não gostando, mas ela o conhecia e sabia que ele estava gostando.Já Heloise, tinha um meio sorriso nos lábios, não demostrando nem escondendo sua determinação. Axel estava do lado dela, sorrindo meigo para a câmera com aquele ar angelical que emanava. E ela estava no meio, sorrindo tímida para o senhor que Caleb e Heloise praticamente obrigaram a tirar a foto.Sentia saudades.Caleb era modelo internacional, e embora estivesse sempre ligando para saber sobre ela e contar novidades, eles raramente se viam por conta do tempo.Julian se tornou professor como sempre desejou, e agora com o trabalho e o facto dele ser reservado, e embora se vissem quase sempre por serem praticamente vizinhos, Athina sentia uma diferença do que já foi e agora é. Antes era fácil conversar com o "esquisitinho" do grupo, agora eles estavam distantes.Tinha Axel também, que para além de amigo de infância, foi seu noivo por pelo menos sete meses antes dela ter terminado tudo. E não, não era apenas por sua mãe ser muito controladora ou seus primos intrometidos demais, era apenas porque ela sabia que a distância os machucaria.Que seu coração sofreria e que o ciúme a consumiria, então terminar foi sua melhor solução. Mas por muito tempo ela acreditou que um dia ele voltaria, que continuariam de onde pararam, teriam filhos e se casariam... Mas o tempo passava e ele não voltou.Se sentiu magoada, confusa e arrependida, e as vezes pensava que deveria ao menos ter preservado aquela amizade.Mas ainda tinha Heloise, que se mantinha por perto para tudo e mais alguma coisa. Era sua irmã de coração, e o tempo e espaço não significava nada no que dizia respeito a amizade que haviam construído.[...]- Hina! - Quando atendeu o telefone suspeitava que receberia boa disposição do outro lado, e novamente não falhou na suposição. Com aquela voz bonita, Caleb lhe transmitia boas energias.- Caleb, é bom ouvir sua voz. - Saudou contente. Estava indo fazer pipoca antes de ter ouvido seu telefone chamar e não precisou pensar nada entre o amigo e a pipoca.- Hina, estou tão feliz. - Disse o moreno. Do outro lado da linha, sorria como se não lhe restasse o amanhã.- É mesmo? Isso é bom. - Athina falou feliz, o que quer que fosse que o deixasse feliz, ela ficaria também.- Estava indo comprar um presente para você quando encontrei... - Dizia o moreno feliz antes de ser interrompido.- Presente para mim? - perguntou confusa. Seu aniversário já havia passado.- Sim, mas esqueça do presente. Nem o comprei mais. - O modelo estava eufórico. - Eu encontrei Hina, a mulher com quem quero me casar. - Contou.- Casar? - Athina não pode esconder a surpresa. Ele não só nunca demonstrou interesse em se casar, como aquilo tudo estava sendo muito repentino. Ele sequer tinha namorada.- Não se assuste Hina, preciso conquistar minha amada primeiro. - Disse. Ele estava alegre, mostrando os dentes brancos para quem quisesse ver. - Falando nisso, estou indo para lá agora... Trabalha numa loja de roupas aqui perto.- Acrescentou animado. O telefone colado ao ouvido, a mão livre fazendo gestos enquanto falava e os pés pisando firme em direção aquela que queria que fosse sua amada, ele se sentia feliz demais.- Se você está feliz, eu não poderia querer outra coisa. - Athina proferiu reclinado o corpo sobre o balcão da cozinha. Um gesto leve, mas que transmitia a tristeza que seu corpo sentia.- Eu quero me casar com ela - Anunciou alegre erguendo os braços.- Eu espero que dê tudo certo. - Athina não queria se sentir assim, mas estava triste. Não por conta do amigo, mas porque se sentiu sozinha.Naquele momento mais uma vez percebeu que estava só, que se pretendeu ao passado e ficou só.Triste e um pouco abandonada, se sentiu assim também quando o ex-noivo avisou que iria embora e ela pensou na separação.Triste porque finalmente, depois de todos aqueles anos percebeu que não havia volta, Axel não voltaria para ela, e eles não retornariam de onde pararam.Triste porque percebeu que havia errado. Nunca deveria ter se prendido ao passado. .Nos seus 27 anos, Caleb era um homem bonito. Modelo profissional com um porte físico invejável, olhos castanhos, cabelo cacheado e queixo cortado, tinha agora uma tatuagem na parte interna do braço em homenagem a avó, e uma pintinha preta perto do olho. Alguns o consideravam irritante com aquele sorriso aberto, mas ela não.Na verdade ela sempre se alegrava ao falar com ele, mas daquela vez estava sendo diferente, a morena se entristeceu.Não porque seu amigo havia encontrado alguém e se apaixonado, não porque ele estava viajando a trabalho, ou porque havia tomado a decisão repentina de se casar, mas porque ela estava lá, no mesmo lugar de sempre. Fazendo as mesmas coisas de sempre.Amava seu trabalho e sua rotina, mas isso já não era o suficiente para ela. Não quando após um dia longo, tivesse que ficar em casa, sozinha com o som da televisão, e saudades de seu falecido cão.Não quando sentisse saudades de amar e ser amada. Estava faltando alguma coisa, ou melhor, alguém. Antes diri
Após ter dirigido por cinco horas, Mickey havia finalmente chegado a casa. Cansado, estacionou o carro em frente a sua residência e se arrastou pela pequeno caminho ladrilhado até sua porta. Em um movimento preciso e decidido, passou a chave na porta sendo invadido pelo característico cheiro a nada. Sua casa sempre cheirava assim quando ele não estava, porque não havia mais ninguém lá para fazer cheirar a queimado, frango assado ou perfume doce cativante. Apenas ele e as paredes.Só havia saído da cidade em que vivia para visitar sua filha no outro extremo do país, e como não haviam vôos para lá aquele final de semana, ele foi no próprio carro. Havia prometido para Alice e não falharia com a palavra.Mas ainda assim, estava moído de tanto cansaço.Queria apenas se deitar em sua cama, esquecer que existia alguma outra coisa para além do sono, e talvez, só talvez mesmo faltar ao trabalho pela manhã.E qual não foi sua surpresa ao ver a ruiva em sua sala, pés cruzados e olhos atentos no c
Mickey estava chegando no trabalho, impecável em seu terno cinza, relógio no pulso e cabelo arrumado. Seus passos destoavam segurança, e o olhar esperteza. Era um profissional de mão cheia, com um bom histórico de casos vencidos, e mesmo os que havia perdido, era conhecido por dar tudo de si até o último minuto. Por isso era respeitado, não só pelos seus associados, como também por seus adversários.Era advogado não apenas pelo dinheiro que trazia, ou porque a sua família era quase toda de advogados, mas porque ele mesmo amava aquela profissão e queria poder trazer justiça para todos e mais alguém enquanto pudesse exercer.Não era um advogado do povo, mas sempre que podia ou a empresa mandava, se envolvia com casos de larga escala. Neste tipo de caso não haviam ganhos monetários, só a gratificação de ter ajudado. E quando chegava no local de trabalho, tentava sempre ao máximo deixar de lado os assuntos pessoais para melhor se concentrar, mesmo que estes trabalhassem lá consigo e se to
Depois que recebeu a notícia de Heloise, a morena não aguentou mais ficar no trabalho agindo como se não estivesse a beira do caos, então simplesmente inventou uma dor, deixou de ir até a fazenda com Dário e voltou para o conforto de sua casa bem mais cedo do que o normal.No trajeto para casa pensava no quanto ficaria mais isolada assim que amiga se mudasse com o marido e sobre como detestava toda aquela situação, e isso até lhe causava estranheza, dizer que a loira tinha um marido agora.Não é que não gostasse de Sérgio, ele era um bom homem, que fazia sua amiga muito feliz... Mas naquele momento desgostava fortemente que ele estivesse lhe roubando a amiga, então mentalmente o xingava sem qualquer motivo. E depois se sentia culpada e chorava. Foi uma saga louca de emoções seu trajeto para casa. Ela diria, se alguém perguntasse. Mais desanimada do que antes, chegou em casa. Abriu as janelas de seu quarto, deitou sobre a cama e ficou olhando o dia morrer sem qualquer perspectiva de me
Faziam já três dias desde a última vez que Athina viu a loira Nara. Ainda estava se sentindo mal pela conversa estranha que tiveram e pelo jeito nada honrado que a tratou, e claro também saudades da companhia agradável e sorriso contagiante, mas não ligou nem mandou mensagem.Começava a refletir sobre o porque de estar naquela situação agora. E a única explicação que encontrou foi que estava concentrada demais em ser uma boa profissional e que os amigos e familiares vinham primeiro.Ou só pensava assim porque queria arranjar um motivo para estar sozinha. Era confuso, sua mente inteira estava confusa. Ela saia para se divertir de vens em quando, era simpática, linda e independente, e também conhecia sempre gente nova, não entendia porque decidiu esperar só e não se apaixonar.Era tanta confusão em seus sentimentos, que nem seus pensamentos estavam livres daquela montanha que girava na tomada de consciência de suas decisões erradas, na vontade de arranjar um culpado para isso, no desespe
- Alice, por favor não vá tão rápido. Você vai cair filha. - Mickey alertou a filha que de forma animada corria para dentro de casa. Usava um macacão jeans azul, blusa de mangas compridas listradas e um laço rosa na cabeça cacheada. E quanto a energia que tinha, era enorme.- Porque ela está correndo desse jeito, o que vão fazer agora? - Ema perguntou desconfiada. Se sentava na pequena escada de sua casa, havia folhas secas no chão e uma fonte desativada no centro do pátio, ao longe se via o pequeno portão de ferro e a estrada de ladrilho até ali. Era uma residência antiga, havia sido de seus avós, e agora era sua e de sua filha.- Vamos fazer pizza. - Mickey respondeu sentando do lado dela. Estava ofegante por ter corrido atrás dela pelo vasto quintal, e só se sentiu mais descansado quando suas nádegas tocaram o concreto gelado de que eram feitas as escadas.- Acho que você não percebe, mas essa menina te escraviza sempre que aparece por aqui. - Ema comentou divertida, seu cabelo caía
Assim que o táxi o deixou em frente a sua casa, Mickey agradeceu profundamente por ter conseguido conseguido um vôo Ventana- Ur na ida e Ur-Ventana na volta, caso contrário chegaria lá muito mais cansado na sexta e não aproveitaria quase nada do domingo com a filha.Sabia que gastava muito dinheiro nessas viagens semanais, mas nada era mais gratificante do que passar tempo com sua preciosa, e claro, as horas de sono que poupava por não ir ao volante.Pagou ao senhor que dirigia para ver em seguida o motor roncar para longe de onde estava. Não restou fumaça ou algum cheiro bastante irritante no ar, apenas as marcas que deixaram os pneus naquela rua pouco movimentada.Enquanto destrancava a porta, só conseguia pensar no quanto queria seu corpo banhar. Colocar algum calção e apenas relaxar.No quadro eléctrico perto da porta, abaixou o interruptor que fez toda casa brilhar. De luzes acesas, o silêncio o recebeu.Foi até seu quarto tomar banho, trocou a calça jeans, a camisa e o tênis por
Seu dia no trabalho foi agitado e um pouquinho estressante. Primeiro teve problemas com a impressora, depois com a máquina de café e por fim com o chefe do canil que ela foi visitar a trabalho. Parecia que o senhor havia batido com a cabeça e esquecido completamente que ela estava apenas tentando fazer o próprio trabalho.Foi cansativo ter que explicar para aquele homem magro e careca que ela não estava tentando envenenar seus animais. Segundo ele, não tinha como ela saber o que estava fazendo, foi necessário ligar para a chefe para confirmar seu profissionalismo, e só assim aquele homem um tanto quanto amargo lhe deixo em paz.Suspirava pesado só de lembrar da tarde chata que viveu.E depois na hora do almoço foi fazer uma visita ao filho de Ima, que felizmente já estava voltando para casa com a mãe. Ela não entendeu direito o que ele tinha no dia anterior, mas ficou feliz que estivesse melhor. Elas conversaram rapidamente antes que ela voltasse para o trabalho.E quando o expediente