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5- Querida desconhecida.

Depois que recebeu a notícia de Heloise, a morena não aguentou mais ficar no trabalho agindo como se não estivesse a beira do caos, então simplesmente inventou uma dor, deixou de ir até a fazenda com Dário e voltou para o conforto de sua casa bem mais cedo do que o normal.

No trajeto para casa pensava no quanto ficaria mais isolada assim que amiga se mudasse com o marido e sobre como detestava toda aquela situação, e isso até lhe causava estranheza, dizer que a loira tinha um marido agora.

Não é que não gostasse de Sérgio, ele era um bom homem, que fazia sua amiga muito feliz... Mas naquele momento desgostava fortemente que ele estivesse lhe roubando a amiga, então mentalmente o xingava sem qualquer motivo. E depois se sentia culpada e chorava. Foi uma saga louca de emoções seu trajeto para casa. Ela diria, se alguém perguntasse.

Mais desanimada do que antes, chegou em casa. Abriu as janelas de seu quarto, deitou sobre a cama e ficou olhando o dia morrer sem qualquer perspectiva de melhoria. Rolou na cama, abraçou a almofada, fechou os olhos e chorou destroçada.

Mais um dia, que ela estava sozinha e no mesmo lugar, sem esperanças ou prespectiva de sair de lá.

Mais um dia em que o arrependimento batia em sua cara e a acusava de algumas coisas.

Mais outro que se sentia desesperada e pouco animada. Queria muito se livrar daquele sentimento todo.

Não ser aquela pessoa infeliz que dá vida só queria reclamar.

- Hina, o que está acontecendo com seu telefone. Me bloqueou? - Havia chegado uma mensagem antes que ela tivesse pensado em desligar o aparelho e se isolar por completo do mundo. Era de Aithana, sua irmã mais nova.

- Não seja parva, é claro que não. - Athina respondeu. - Como você está? - Devolveu interessada. Desde a manhã de sábado que não falava com ninguém de sua família, não teria desculpas para dar caso alguém perguntasse porque não havia atendido o telefone antes ou porque ele estava desligado, afinal ela se recusava a lhes dizer que seu coração estava machucado e que ela era a principal culpada.

- Atenda o telefone e eu lhe contarei. - Enérgica Hana disse desligando, uma chamada de vídeo foi iniciada.- Olá. - Acenou animada.

- Olá Hana. - Respondeu a mais velha com um pequeno sorriso. Sua irmã tinha o cabelo longo e negro dentro de toca e uma máscara de mel e acúcar na cara. Ela percebeu.

- Tente advinhar o que aconteceu - Feliz a morena sugeriu.

- Alguém vai se casar, ter um bebê ou então uma promoção no trabalho. - Falou em tom amargo sem muito pensar.

- Hina, está aprendendo bruxaria aí nessa cidade? - Perguntou divertida não notando a novidade na voz da irmã. - Eu fui promovida á âncora principal do jornal das seis. - Contou entusiasmada abrindo o sorriso mais largo do que alguma vez abriu. Athina inspirou, seus olhos marejarem, fungou o ar e sorriu alegre.

Aquilo era uma coisa boa, muito boa na verdade. Sua irmãzinha a quem ela arrumava o cabelo quando mais nova e gritava por desarrumar suas coisas estava indo em direção aos seus sonhos, e rapidamente alcançado o topo.

- Irmãzinha querida, isso é tão bom. Que você tenha muito sucesso. - Felicitou orgulhosa. - Você sabe o quanto amo você, e o quanto é importante... Continuei indo em frente, e em direção ao topo. - Instruiu emocionada.

- Obrigada Hina, você é a melhor irmã do mundo todo. - Aithana proferiu limpando seu rosto da lágrima que escorreu. - Papai vai dar uma festa para comemorar esse final de semana, vai aparecer, não é? - Perguntou espectante.

- Eu não sei. - Foi sincera. Não apenas pelo cansaço do trabalho, mas também porque seu ânimo não estava dos melhores e não queria contaminar ninguém.

- Tem alguma coisa te incomodando, você me parece cansada e sem vontade de falar comigo. O que é? - Hana perguntou analítica

- Nada disso meu bem, meu dia foi cansativo.. - Garantiu sorrindo fraco. Aithana não acreditou de imediato, mas ao ver os olhos gentis da irmã, mesmo que através de uma tela, decidiu que não havia motivos para aquela mulher meiga mentir para ela. - Estão tocando a campainha, nos falamos depois. - Se despediu mandando um beijo quando o ouviu o som em questão.

- Está bem, durma bem Hina. - Desejou a caçula fazendo o mesmo que fez antes a irmã. Depois disso a veterinária levantou da cama pela primeira vez desde que fugiu do trabalho e foi atender a porta se surpreendendo com o homem alto de uniforme azul.

- Athina Garden? - Perguntou o entregador de encomendas.

- Sim. - Respondeu.

- Isso é para a Senhorita. - Avisou lhe dando uma caixa média. - Assine aqui por favor. - Pediu indicando a linha na parte de baixo da folha.

- Obrigado. - Mal agradeceu e o jovem atravessou a pequena cerca branca que representava o quintal de sua casa, subiu na moto e se foi deixando uma pequeníssima nuvem de fumaça pra trás.

Observou a caixa enquanto fechava a porta. Não havia nada nela que indicasse quem havia mandado nem o que poderia estar lá dentro, então pousando-a sobre a mesa de centro, Athina cuidadosamente abriu o pacote.

Retirou dele um pequeno frasco dourado com mel, e um bilhete.

"Existe uma lenda sobre esse mel. Dizem que quem o consome, recebe uma vida feliz e bem doce...(você já é doce, mas vale a pena reforçar).

Espero que sua vida seja sempre doce e bem alegre.

Do seu mais que querido amigo,

Caleb."

E mais uma vez, por conta daquele amigo amável que ela tinha, Athina sorriu feliz.

[...]

Enquanto tomava banho, Mickey pensava em como havia sido seu dia.

Primeiro leu aquele e-mail desconhecido, se comoveu e até pensou em responder, mas estava quase se atrasando então não deu, disse a si mesmo que tomaria medidas sobre isso depois e se foi para o trabalho.

Depois chegou a notícia de que seu pai voltou para a empresa, seu avó vai se aposentar e foi repentinamente promovido para algo como subdiretor da firma, e ainda começou os preparativos para se tornar sócio . Eram todas coisas boas, principalmente poder dividir novamente o mesmo espaço de trabalho que Angel. Não que ele fosse lhe dizer, mas se sentia muito feliz por voltar a ver o pai caminhar por aqueles corredores envidraçados e esperava que por muito tempo lá se mantesse.

E para terminar o dia, teve o jantar em casa do avô. Seu irmão e seus mais novo fones de ouvido estavam lá, com o cabelo cacheado volumoso Caius colocava na adolescência a culpa de estar devorando o peixe que lhe foi servido. O menor era assim como seu pai, calado, mas diferente deste, ele parecia mais disposto a socializar de forma verdadeira e sem interesses na presença de estranhos.

Mas ele ainda tinha aquele lado sarcástico que ele desgostava em Angel. Mas não podia negar o quanto amava seu irmão. E mesmo que não admitisse, Caius era como uma versão sua menor.

Em suma, havia sido divertido o jantar. Principalmente porque Alexandre estava lá para mediar os ataques de sarcasmos de seu pai e as respostas evasivas do irmão, não que ele fosse totalmente inocente, mas não conseguia lidar com a dupla sem o reforço do avô.

Mickey falou sobre a fase rebelde que o irmão estava passando, e o menino rebateu afirmando que não estava sendo rebelde. Seu avó disse que ele estava parecendo o pai quando mais novo, e Angel por sua vez disse que ele nunca poderia ser considerado pior que Mickey, e então sem mais avisos o assunto voltou para ele e sobre sua agitada adolescência.

Entre risadas, conversas animadas e comida boa, ele teve o melhor início de semana, e então voltou para o isolamento que era sua casa.

- Se ela ainda estiver acordada, diga que mandei um beijo. - Escreveu para Ema, a pediatra de cabelo rosa que já ganhou seu coração e lhe proporcionou o mundo ao lhe dar uma filha.

- Ela dormiu faz meia hora, mas não se preocupe, mandei o beijo. - Respondeu em seguida. Ela estava deitada ao lado da filha, cabelo caindo até o ombro e pijama listrado no corpo.

- Vocês passaram bem o dia? - De forma atenciosa, Mickey perguntou. Ele se importava tanto com aquela mulher de olhos verdes e sorriso confiante, então só queria que ela sorrisse tanto quanto podia.

- Passamos, e você? - Emanuela devolveu. Eles estavam separados fazia já quatro anos. Na época Alice era um bebê de dois anos, com o cabelo mais negro que a própria noite e os cachos que poderiam ser dourados, eram o maior tesouro que tinham e o motivo pelo qual se viam toda semana. Aquele divórcio havia sido difícil para eles, no princípio mal falavam, mas agora eles se tratavam como melhores amigos.

- Passei, muito bem na verdade. - Respondeu.

- Quer compartilhar? - A rosada não evitou a curiosidade.

- Fui promovido, Angel voltou para a firma e Alexandre está se aposentando. - Contou.

- Uau, isso é demasiada informação. Conte direito Mickey. - Ema pediu impressionada. Sabia que as coisas corriam rápido na vida dos Percival, mas ainda se surpreendeu com os acontecimentos.

- Amanhã, agora tenho algo para fazer. -Mickey disse olhando o computador na escrivania.

- É maldade da sua parte Mickey Percival se não vai contar direito, não conte mal. - Ema resmungou. Ela estava ansiosa por ouvir detalhes, e ele ansioso para fazer o que deixou pendente pela manhã.

- Até amanhã Borges. - Mickey abriu um de seus sorriso ladinos ao saber que ela está aborrecida com ele e provavelmente revirando os olhos.

- Eu só não mando você para o inferno, porque sua filha te ama. - Ameaçou a médica. Mickey riu porque sabia que ela não estava realmente aborrecida, afinal era de seu conhecimento que era ofício do Percival lhe deixar curiosa primeiro.

Mickey foi até seu laptop depois de se secar e vestir, e novamente leu o e-mail da desconhecida, e mais uma vez chegou a conclusão de que conhecia aquele sentimento, que compartilhava da mesma angústia.

E tinha tanta coisa sobre aquela desconhecida naquelas palavras. Como o facto dela ser uma pessoa gentil, tímida e que provavelmente estaria se remoendo em remorsos.

E ele concordava com ela em muitas coisas, nem sempre, mas tinha dias que se sentia assim, no chão e sem ânimo. Com saudades da vida que tinha com a ex. E não era por ainda guardar sentimentos românticos, mas porque a solidão o desgastava.

Tinha dias que ele só queria ter alguém que o recebesse em casa depois de uma dia cansativo, que lhe enviasse mensagens ao longo do dia, alguém para compartilhar a vida. Embora não a amasse mais e tivesse plena certeza que não voltaria, as vezes também se sentia irritado com toda aquela situação, então ele decidiu responder ao e-mail.

Não lhe importava que ela tivesse invadido seu e-mail, ele só queria demosntrar solidariedade com quem parecia lhe entender muito bem.

"Querida desconhecida... Talvez não estivesse esperando uma resposta, mas me parece apropriado responder e dizer que não, não acho que seja invejosa ou qualquer outra coisa estranha.

E eu entendo você.Também tenho um trabalho, família, amigos, uma casa e até uma filha. Mas ainda assim, minha vida é tão monótona quando só.

Ainda penso no passado, as vezes queria poder voltar para lá, mesmo que fosse por uma semana. É pouco racional, mas a solidão desgasta. Eu também não fiz novos planos e estagnei no lugar.

Minha filha viva longe com a mãe, meus amigos têm as próprias famílias. Os familiares, têm seus próprios assuntos. Eles sempre arranjam um tempo, estão sempre prontos para mim, mas quando volto para casa, a solidão me recebe e o vazio me abraça.

Mas só depois de ler seu e-mail eu me questionei sobre porquê nunca fiz nada a respeito. É confusa toda essa situação e enxurrada de sentimentos, mas entendo você, e se achar que é invejosa e mal agradecida, me inclua nessa lista também para que possamos ser julgados juntos.

Do desconhecido cujo e-mail invadiu."

Mickey enviou e foi para seu quarto dormir.

[...]

- Athina. - Inclinando o corpo um pouquinho mais para frente Heloise estalou os dedos na frente da amiga.

- O quê? - A morena perguntou confusa. Estavam tomando café da manhã no lado de fora da mesma cafeteria de sempre, com o cabelo loiro de Heloise balançando ao vento e o casaco vermelho envolta ao corpo, pretendiam passar um bom momento.

- Estou falando, e você não está ouvindo. - Heloise respondeu. Havia lhe convidado para o café da manhã, como faziam sempre que tinham tempo. Para apenas se sentarem e conversarem, mas ela notou o olhar distante da amiga e a falta de atenção.

- Ah desculpe, estava distraída. - Confessou. Havia emagrecido um pouco, estava pálida, desatenta e visivelmente fraca, sua amiga notou.

- Com o quê? - Perguntou preocupada.

"Com a resposta do desconhecido"

- Não é nada, não dormi o suficiente hoje. - Mentiu. Se contasse sobre a mensagem, teria de contar sobre a que ela enviou primeiro e os motivos de ter enviado, sobre como estava se sentindo e tudo resto, e como estava triste, temia que Heloise não fosse entender.

- Está sobrecarregada no trabalho? - Heloise voltou a perguntou de forma atenciosa e mais preocupada.

- Não, eu só não dormi bem. - Respondeu virando o rosto para olhar a lateral da rua. Ao menos isso não era mentira, fazia uns dias que não estava dormindo muito bem, comendo quase nada e chorando o tempo inteiro.

- Hina, não está mentindo para mim está? - Voltou a perguntar, desconfiada segurava as mãos da outra por cima da mesa.

- Não. Por que eu mentiria? - Rebateu Athina. Em resposta Heloise abanou a cabeça e deu de ombros.

- Você está estranha, está fingindo normalidade, mas evidentemente não está bem. - A Nara disse. A moça Garden suspirou. - Athina, fale comigo, o que há? - Pediu preocupada. Que a amiga era tímida e introvertida, isso já era o esperado, mas que falasse pouco com ela e estivesse com o olhar distante, isso era muito novo.

- Heloise, não tem necessidade de colocar meus problemas em você. - Rebateu a veterinária afastando as mãos da outra. Heloise se ofendeu com o tom e o modo com que aquelas palavras foram proferidas, como se ela fosse uma estranha e não sua melhor amiga.

- Que coisa mais sem nexo de se falar Hina. - Protestou tentando se manter calma. Recuou um pouco e encostou as costas na cadeira de plástico da cafeteria.

- Eu tenho que ir trabalhar, boa continuação. - Athina comunicou se levantando da cadeira. Heloise olhou abismada quando a deixou lá como se tivesse lhe feito algo e então a seguiu.

- O que foi Hina, estão chateando você? Eu vou resolver se for o caso. - Heloise garantiu. Problemas no trabalho, essa era a única explicação que encontrava para o comportamento frio e antipático da amiga.

- Por que você largaria sua vida perfeita para me ajudar, está entediada de viver satisfeita? - Hina rebateu amarga. Em choque com o que ouviu, Heloise abriu e fechou a boca algumas vezes não conseguindo dizer nada.

- Como assim minha vida perfeita, Athina eu não entendo do que está falando. - Heloise rebateu.

Se perguntava se havia feito alguma coisa que tivesse lhe magoada, ou se era sobre o casamento?

- Estou cansada Heloise, cansada de me sentir assim. Como se minha vida estivesse vazia... Que todos a minha volta estejam me deixando, que só eu não tenha um futuro promissor. E eu juro que não estou com inveja, eu só estou cansada. - Desabafou em um só fôlego. Olhos castanhos marejados e voz embargada.

- Hina, eu não sabia que estava se sentindo assim. Por que não me disse, nos teríamos saído para passear, ver um filme...

- Aí que está Heloise, você abriria um tempo na sua vida para mim, e depois que for embora, com o que eu fico? Sozinha com a minha vida vazia e com a sensação de não ter nada. - Ríspida Athina disse.

- Hina...

- Eu preciso da minha própria vida. Eu preciso ter minha própria família, espaço e agenda. Sem depender de caridades, tempos cedidos ou recompensas por ser boa amiga - Com pesar comunicou.

- O que isso quer dizer? - Heloise perguntou confusa.

- Que eu preciso ficar sozinha um tempo, talvez sem amigos e família, para ver se eu arranjo a minha. Ou morro na solidão de uma vez por todas. - Respondeu fazendo gestos com as mãos.

- Não faça isso Hina, nós somos amigas. - Heloise implorou sentindo o coração doer. Se tivesse errado ela se desculparia, mas não queria perder sua amizade de longa jornada.

- Vá cuidar das suas coisas Senhora Nara, eu não vou ser de grande ajuda agora. - A morena disse e em seguida se afastou indo para seu carro.

- Athina. - Com o coração pesando mil e charcos nos olhos, ela viu sua amiga se distanciar. O coração da morena também quebrava, mas ela sentia que era o melhor. Que ela deveria mesmo se afastar.

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