Você é a melodia perfeita, a única harmonia que eu quero ouvir.
Chegando em casa, nem tenho tempo de comer, já vou direto para o banho, troco de roupa e saio, falando um breve olá para Magda e andando rápido para não chegar atrasado na reunião. Não sei se Alexandre estará lá, ele não falou nada sobre isso, então acredito que não vá.
Empurro as portas de vidro e vejo que a roda já está formada. Droga, atrasado novamente! O único lugar vazio é ao lado da enfermeira, que eu descubro se chamar Lisandra. Agora pelo menos eu sei o nome dela.
- Muito bem, quem quer ser o primeiro? – ela pergunta, e antes que possa ao menos olhar para mim, o que anda acontecendo muito ultimamente, uma garota no fundo da sala levanta a mão, começando a falar. Salvo pelo gongo.
Não falo nada na reuni&at
Você é a minha parte favorita de mimAntes(Você diz) você não pode deixar o mundo ver você assimE você não pode ficar mais do que uma noiteE eu juro que eu ouço seus passosNa porta da frenteE eu posso ouvir seu coração repousarSobre sua pobre almaA mesma música toca há mais de uma hora, mas eu mal presto a atenção. Estou ocupado olhando para o teto do quarto, ignorando as batidas incessantes na porta e tentando não pensar. Tentando. Mas acaba não dando muito certo, pois eu me vejo lembrando cenas de minha infância, momentos felizes e etc. Como não canso de me torturar, pego velhos álbuns de fotografias e folheio-os, sorrindo com as imagens congeladas de todos nós. Em um
Eu me lembro de me sentir sem pesoNo fundo do poçoE afogandoCom medo de novoE a amável solidãozinhaMe segurariaSob o som de ser encontradoMas então tudo mudouAlexandre me fez ficar na bancada de comida assim que chegamos, afirmando que as crianças estariam com fome (e elas realmente estavam) e que seria bom eu ter uma interação maior com todas elas. Depois disso, quando o grupo de baixinhos se dispersou, correndo para a sala de artes, ele fez um sinal para que eu os acompanhasse.Assim que pisei no concreto da garagem, meus olhos percorreram o local, observando aquelas pinturas e a bagunça que o lugar estava, e me lembrei de David. Ele com certeza acharia aquilo tudo divertido, principalmente porque as crianças não estavam desenhando, elas simplesmente enfiavam os dedos nos potes de tinta e os passavam pelas molduras, em movimentos aleat&oac
Então você enviou minha dor para o esquecimentoEu estava à beira de quebrarEntão você apareceuE nem um segundo tarde demaisSentadas em fileira no gramado, as pessoas conversavam, brincavam e comiam, tudo ao mesmo tempo. Alexandre me guiou até a mesa onde estavam as panelas, contendo todos os tipos de comida possíveis, e me entregou um prato de plástico.- É mais seguro. – ele explicou, mas não precisava, pois eu já tinha imaginado. Minha mãe fez a mesma coisa em casa quando eu tive meu primeiro ataque: escondeu todos os pratos e copos de vidro, além de objetos cortantes. Mas de uns tempos para cá, ela parece confiar mais em mim, então tudo voltou ao normal. Bem, quase tudo.Entramos na fila e Alexandre começa a escolher o que vai comer, pegando um pouco de cada coisa. Ele me olha de esguelha para ve
Eu não estou procurando nada em específicoMas eu estou muito mais desesperado do que você pensaEu vou construir meu caminho, apesar do custoEu não procuro ser encontradoNão, nem um pouco- Leo! Achei que algo tinha acontecido contigo! – Magda exclama e me abraça assim que entro em casa. Cansado, cambaleio com seu peso. – Por que não avisou que estava vivo?- Acabou a bateria do meu celular. – murmuro, esfregando os olhos com a mão livre, enquanto a outra segura o moletom que Lea me emprestou e os desenhos recebidos. Depois de Amber, outras crianças entregaram-me seus desenhos, dizendo que era um presente pelo meu primeiro dia na casa. Durante o percurso para casa, fiquei pensando em lugares onde poderia pendurá-los, ou até mesmo guardá-los. Olhar para os rabiscos me deixa com uma sensação de alegria plena, e acho qu
Eu não procuro ser encontradoApenas quero me sentir (não) perdido- Dormiu bem? – Alexandre pergunta, buscando meus olhos.- Até que sim. – desvio o olhar, fingindo observar a paisagem correndo fora do ônibus.- Não parece. – ele argumenta, inclinando-se para frente, de forma a ver meu rosto completamente. – Está com uma expressão triste. Não é? ...Ele deixa a frase morrer, mas eu sei o que pretendia perguntar. Alexandre queria saber se eu estava tendo outra crise, mas eu sabia que não era isso. Eu sabia qual era o sentimento de ter uma crise, quais sensações eu experimentava durante o dia até chegar àquele ponto, e não era o que eu estava sentindo no momento.- Eu estou... – hesito, pensando. – pensativo. – completo.- Pensativo bom ou ruim? – ele sorri encorajador.
Você não tem permissão para ser outra pessoaControle o que você puderConfronte o que você não podeE lembre-se sempre como você é sortudo de ter a si mesmo- Cor favorita? – ele pergunta de supetão, assustando-me. Abro os olhos, encarando o céu límpido acima de nossas cabeças, mexendo-me desconfortavelmente na grama.- Hmm... Verde? – respondo, fechando os olhos mais uma vez, evitando encará-lo.- Você está respondendo ou perguntando? – ele ri, e eu faço o mesmo.- Sua vez. – eu digo, torcendo para que insista na resposta mais uma vez. - Mas você nem respondeu direito. – sinto-o se mexendo ao meu lado, mas não me movo.- Verde. – reafirmo.- Azul. – ele fala, e eu sinto
No banco de trás do táxiQuando você me disse que nós éramos apenasDuas almas abatidas perdidas no ventoE no banco de trásQuando você me perguntou: a tristeza é eterna?Puxei você pra perto, te olhei e disse: amor, eu acho que éQuando acordo no dia seguinte, a casa está silenciosa, e meu corpo ainda dói por conta do impacto contra um muro chamado Murilo, dias atrás. Estranho não encontrar nenhum dos gatos em lugar nenhum, mas de alguma forma, sinto que tudo está bem, então sigo para a casa de Lea, mesmo sabendo que ainda não era hora de ir para lá. Mas, por que diabos estou andando no meio da rua de pijamas? E porque não demoro dois minutos para avistar a casa ao longe, toda barulhenta?Quando me aproximo, ouço risos, e, ao adentrar a residência, vejo Jena e Alexandre abraçado
Você perdeu o que não vai voltar?Você não está sozinhoPorque alguém por aí, está a mandar sinais sinalizadores9 anos antes...- Joe! – uma voz aguda grita ao longe, e Joe e eu olhamos para aquela direção. – Mamãe quer que volte para casa. Papai está vindo! – a figura assustada de Marco surge, arfando e todo suado, deve ter corrido o caminho todo.- Ai não! – Joe se levanta, bagunçando as bolinhas de gude que estavam todas enfileiradas. – Leo, a gente volta a brincar amanhã, tá? – pergunta, e eu me agacho, recolhendo as bolinhas.- Tudo bem. – murmuro, triste. Ele sempre precisa ir quando o pai chega. - Não vai ficar