Não importa aonde você está
Eu não vou te deixar para trás
- Leo, por que não aproveita que está aqui e participa da reunião? – Dr. Soares pergunta, sorridente. Olho para mamãe em busca de qualquer sinal de orientação, torcendo para que ela diga que me quer na sala, conversando com eles, mas recebo um aceno de cabeça. Ela quer que eu saia.
- Tudo bem. – murmuro, desapontado. Levanto-me da cadeira colorida e deixo a sala. Quando fecho a porta, escuto a voz abafada do médico dirigindo-se à mamãe, e sinto medo novamente. E se ele disser que sou um caso perdido? Que preciso ser internado e ficar entre quatro paredes para sempre?
- Leo! – uma voz feminina e conhecida me chama, e a enfermeira cujo nome eu nunca me lembro acena para mim, convidando-me para participar da reunião. Quando me
Toda vez que você vai emboraEu perco o que eu preciso salvarEu apenas pinto de pretoÉ como começar de novo- Você foi muito corajoso lá, falando todas aquelas coisas. – tomo um susto e engasgo com o suco de laranja de forma nada encantadora, fazendo-o rir. Ele é ainda mais bonito pessoalmente, penso, embasbacado. Estava de boné durante a conversa, mas agora seus cabelos estão livres, e eles são azuis! – Desculpa, não queria assustar você. – ele põe as mãos nos bolsos do jeans, uma expressão envergonhada no rosto.- Tudo bem. – tusso com a mão em frente à boca, me recuperando do incidente vergonhoso. Como não sei o que dizer para continuar a conversa, ou mesmo se devo continuar a conversa, fico calado, encarando
Eu quero viver com vocêMesmo quando virarmos fantasmasPorque você sempre esteve lá para mimQuando eu mais precisava de vocêRespirando fundo uma última vez, tomo coragem e aperto a campainha, engolindo o arrependimento que sinto no mesmo instante. A porta demora para ser atendida, então já estou na metade do caminho para longe da casa quando ouço alguém abri-la. Olho receoso para trás, e uma sensação estranha de alívio e medo toma conta de mim.- Leo. – David parece surpreso ao me ver, talvez porque não esperasse me ver depois do que aconteceu. Não perguntei nada à mamãe ou à Magda, eu simplesmente sabia que era David comigo naquele dia, pois minha irmã mencionou algo, sem querer, cobrindo a boca em seguida. E eu sabia també
Você vai me ligar para dizer que está bem?Porque eu me preocupo com você durante a noite toda- O que é isso? – pergunto de supetão, encarando a primeira pintura que vejo. Uma mancha azulada jogada no que parece ser um chão de tijolo rosa.- Um quadro. – David responde, sorridente. Não consigo evitar um sorriso também. – Alguém deitado.- Por quê? Quero dizer, de onde veio a ideia? – pergunto, curioso.- Conhece a banda Snow Patrol? – ele questiona, colocando a travessa numa mesa e empurrando lápis e pincéis para o lado.- Sim. Chasing Cars? – sorrio, me lembrando do videoclipe da música, e de como eu costumava vê-lo quando mais novo.- É! – David exclama, parecendo surpreso. – Uau, não conheço ninguém que gosta da band
Eu sei como consertar seu coraçãoAcredite, você não está sozinhoAntes...O telefone não para de tocar, mas ninguém o atende. Magda se trancou no nosso quarto, e eu consigo ouvir seus soluços daqui. Mamãe se trancou no dela, de forma que eu estou preso, e só posso escolher entre a sala, a cozinha, o banheiro e lá fora; vou para fora. Ou melhor, cambaleio para fora, ignorando a dor.Minha ficha ainda não caiu, por isso ainda não chorei. Nem uma lágrima sequer, o que não me surpreende. Aquilo não aconteceu de verdade, aconteceu? Não pode ter acontecido. Talvez eu esteja sonhando. Belisco meu próprio braço, mordendo o lábio por conta da dor, mas não acordo. Não é um sonho? Eles realmente se foram? Eles se f
Você é a melodia perfeita, a única harmonia que eu quero ouvir.Chegando em casa, nem tenho tempo de comer, já vou direto para o banho, troco de roupa e saio, falando um breve olá para Magda e andando rápido para não chegar atrasado na reunião. Não sei se Alexandre estará lá, ele não falou nada sobre isso, então acredito que não vá.Empurro as portas de vidro e vejo que a roda já está formada. Droga, atrasado novamente! O único lugar vazio é ao lado da enfermeira, que eu descubro se chamar Lisandra. Agora pelo menos eu sei o nome dela.- Muito bem, quem quer ser o primeiro? – ela pergunta, e antes que possa ao menos olhar para mim, o que anda acontecendo muito ultimamente, uma garota no fundo da sala levanta a mão, começando a falar. Salvo pelo gongo.Não falo nada na reuni&at
Você é a minha parte favorita de mimAntes(Você diz) você não pode deixar o mundo ver você assimE você não pode ficar mais do que uma noiteE eu juro que eu ouço seus passosNa porta da frenteE eu posso ouvir seu coração repousarSobre sua pobre almaA mesma música toca há mais de uma hora, mas eu mal presto a atenção. Estou ocupado olhando para o teto do quarto, ignorando as batidas incessantes na porta e tentando não pensar. Tentando. Mas acaba não dando muito certo, pois eu me vejo lembrando cenas de minha infância, momentos felizes e etc. Como não canso de me torturar, pego velhos álbuns de fotografias e folheio-os, sorrindo com as imagens congeladas de todos nós. Em um
Eu me lembro de me sentir sem pesoNo fundo do poçoE afogandoCom medo de novoE a amável solidãozinhaMe segurariaSob o som de ser encontradoMas então tudo mudouAlexandre me fez ficar na bancada de comida assim que chegamos, afirmando que as crianças estariam com fome (e elas realmente estavam) e que seria bom eu ter uma interação maior com todas elas. Depois disso, quando o grupo de baixinhos se dispersou, correndo para a sala de artes, ele fez um sinal para que eu os acompanhasse.Assim que pisei no concreto da garagem, meus olhos percorreram o local, observando aquelas pinturas e a bagunça que o lugar estava, e me lembrei de David. Ele com certeza acharia aquilo tudo divertido, principalmente porque as crianças não estavam desenhando, elas simplesmente enfiavam os dedos nos potes de tinta e os passavam pelas molduras, em movimentos aleat&oac
Então você enviou minha dor para o esquecimentoEu estava à beira de quebrarEntão você apareceuE nem um segundo tarde demaisSentadas em fileira no gramado, as pessoas conversavam, brincavam e comiam, tudo ao mesmo tempo. Alexandre me guiou até a mesa onde estavam as panelas, contendo todos os tipos de comida possíveis, e me entregou um prato de plástico.- É mais seguro. – ele explicou, mas não precisava, pois eu já tinha imaginado. Minha mãe fez a mesma coisa em casa quando eu tive meu primeiro ataque: escondeu todos os pratos e copos de vidro, além de objetos cortantes. Mas de uns tempos para cá, ela parece confiar mais em mim, então tudo voltou ao normal. Bem, quase tudo.Entramos na fila e Alexandre começa a escolher o que vai comer, pegando um pouco de cada coisa. Ele me olha de esguelha para ve