LEONARDO RIZZI NARRANDO. ITÁLIA. Eu estava exausto. O tipo de cansaço que não vem apenas do corpo, mas da alma. Aquele tipo de fadiga que se acumula com o tempo, com as decepções, os fracassos e o peso de responsabilidades que eu nunca quis, mas que fui obrigado a carregar. A minha mente não parava, um turbilhão de pensamentos, imagens e lembranças se misturando em um caos sem fim. Assim que Rafaella e eu chegamos em casa, não troquei uma palavra com ela. Ela estava ao meu lado, tão desgastada quanto eu, mas a tensão entre nós era palpável. Subi direto para o nosso quarto, sem sequer olhar para trás. Cada passo que eu dava parecia pesar uma tonelada. Mal conseguia manter a cabeça erguida. Entrei no banheiro e liguei o chuveiro, deixando a água quente escorrer pelo meu corpo. Fechei os olhos, tentando encontrar algum alívio, alguma paz, mas tudo o que consegui foi mais dor. O cansaço se misturava com a raiva e o medo. Medo por meu irmão, medo do que Rocco poderia fazer com ele,
CELINA MARTINI NARRANDO.ITÁLIA. O som da porta se fechando atrás de Rafaella e Leonardo ecoou na minha mente como o golpe final de uma sentença implacável. Eles se foram, me deixando sozinha neste quarto de hospital, presa em um corpo que já não era o meu. A dor física era quase insignificante comparada ao desespero que me rasgava por dentro. Como eu cheguei a isso? Como tudo na minha vida se desmoronou tão rápido? As lágrimas começaram a escorrer antes que eu pudesse contê-las, molhando o travesseiro sob a minha cabeça. A realidade era brutal demais para aceitar: eu estava paraplégica. As palavras dos médicos ecoavam na minha mente como um pesadelo do qual eu nunca poderia acordar. "Nunca mais poderá andar." Como se as minhas pernas tivessem sido arrancadas de mim, e com elas, toda a esperança, todo o futuro que eu havia imaginado. Cada soluço parecia arrancar pedaços da minha alma. Eu não conseguia me livrar da imagem de Rafaella, o ódio claro nos seus olhos, como se a minha de
RAFAELLA MARTINI NARRANDO.ITÁLIAO som da porta se fechando com um estrondo foi o ponto final da discussão mais amarga que Leonardo e eu já tivemos. A minha raiva fervia por dentro, uma mistura de frustração e desespero, e tudo o que eu queria era machucar, gritar, fazer alguém sentir a dor que eu estava sentindo. Assim que ele passou pela porta, peguei o vaso mais próximo e, sem pensar, joguei com toda a força contra a madeira. O impacto foi tão forte que o vaso se estilhaçou em mil pedaços, refletindo o caos dentro de mim.Caí de joelhos no chão, as lágrimas finalmente explodindo. A minha respiração estava rápida e irregular, como se eu não conseguisse puxar o ar suficiente para sustentar a raiva e o medo que me consumiam.— Isso tudo é minha culpa. — Eu gritei, com a voz embargada pelo choro.— Tudo isso começou por minha causa, e estou cansada de ver os outros pagarem por meus erros.A culpa era um peso insuportável em meus ombros, um veneno que me corroía por dentro. Eu estava e
LEONARDO RIZZI NARRANDO. ITÁLIA.A noite já havia chegado quando voltei para casa, o silêncio absoluto que me envolvia era quase opressivo. A raiva que havia me consumido mais cedo, aquela fúria cega que me levou a sair de casa, agora dava lugar a uma preocupação crescente. Rafaella e eu havíamos discutido de uma forma que eu não me orgulhava, e enquanto eu guiava o carro pelas ruas escuras, todas as palavras ditas no calor do momento ecoavam na minha mente como um martelo.Entrei pela porta da frente, esperando encontrá-la, talvez sentada na sala ou deitada na cama, ainda furiosa comigo. Mas o que encontrei foi um silêncio. Não havia som algum. Nenhuma luz acesa, nenhuma TV ligada, nada que indicasse a presença dela.— Rafaella? — Chamei, mas a minha voz ecoou pela casa vazia.Subi as escadas, sentindo o peso da ansiedade crescer a cada passo. Entrei no nosso quarto e, novamente, nada. Nenhum sinal de Rafaella. A cama ainda estava desfeita, do jeito que a deixamos antes de tudo desm
ADAM MARTINI NARRANDO. ITÁLIA.Sentado no banco do carro, com a cabeça inclinada contra o volante, eu não conseguia afastar os pensamentos sobre aquela última visita. Ver Celina naquele estado... Era como se uma parte do meu passado estivesse desmoronando diante de mim, trazendo à tona todas as merdas que fiz ao longo da minha vida. Eu sempre soube que era um desgraçado, mas olhar para ela, aquela mulher que um dia eu pensei amar, agora reduzida a quase nada, me fez perceber o quanto eu falhei. Não apenas como homem, mas como pai, como ser humano.Eu me lembrei de cada decisão errada, cada palavra cruel que despejei sobre as pessoas ao meu redor. E Rafaella... Minha filha. Eu nunca fui o pai que ela merecia. Sempre fui ausente, frio, deixando que Celina a tratasse como um pedaço de lixo. E por quê? Por que nunca tive a coragem de me colocar no meio? De proteger aquela menina que olhava para mim, buscando um resquício de amor e aprovação?Mas agora, com a notícia que acabei de receber
RAFAELLA MARTINI NARRANDO. ITÁLIA. ~ início de flashback. ~A lembrança veio como um soco no estômago, inesperada e brutal. Eu tinha apenas 10 anos. Estava na sala, brincando com uma boneca velha que Ava me deu, quando Celina entrou. Os seus olhos eram frios, cheios de um desprezo que eu nunca consegui entender. Ela arrancou a boneca das minhas mãos e a jogou no chão, quebrando ela em dois.— Você não merece nada! — Ela gritou.— Seu pai deveria ter deixado você na rua, quando sua mãe morreu!Eu fiquei ali, paralisada, com as lágrimas nos olhos, incapaz de entender por que ela me odiava tanto. O meu pai estava na porta, observando tudo. Ele não disse nada, não fez nada. Apenas ficou ali, olhando, como se fosse uma cena qualquer. O meu coração se partiu naquele momento. Eu queria que ele me defendesse, que me protegesse, mas tudo o que ele fez foi virar as costas e sair da sala, me deixando sozinha com minha dor.~ fim de flashback. ~A lembrança desapareceu tão rápido quanto veio, e
ROCCO NARRANDO. ITÁLIA. Olhei para o corpo de Rafaella caído no chão do galpão, ao lado do cadáver do pai dela. A cena parecia quase cômica, de uma forma cruel e macabra. A menina que havia herdado a fúria de Adam agora estava ali, indefesa, enquanto o corpo do pai começava a esfriar. Eu me aproximei lentamente, com passos calculados, observando o sangue que manchava as roupas dela. O rosto que antes me enfrentava com raiva e determinação agora estava tranquilo, entregue ao sono forçado pelo golpe que dei.Com um movimento firme, puxei o corpo de Rafaella para cima do cadáver de Adam, arrumando eles de uma forma que parecia que os dois estivessem mortos... A filha em cima do pai, envoltos em sangue e desespero. Tirei o celular do bolso e capturei a cena em uma foto. O clique ecoou pelo galpão vazio, mas para mim, foi o som de uma vitória. Guardei o telefone no bolso, satisfeito com o que tinha em mãos.— Pegue ela. — Ordenei, me virando para os homens que me acompanhavam.— Levem el
LEONARDO RIZZI NARRANDO. ITÁLIA.Eu estava dirigindo há horas, sem destino, com os olhos fixos na escuridão, esperando por algum sinal, qualquer coisa que me dissesse onde Rafaella estava. O meu telefone estava ao meu lado, silencioso, como se zombasse da minha impotência. Cada minuto que passava sem notícias dela era como uma facada no peito, uma dor que eu mal conseguia suportar.Já tinha falado com todos os meus contatos, acionado todos os recursos que tinha. Os meus homens estavam espalhados por toda a cidade, procurando por qualquer rastro de Rafaella, mas a verdade era que eu não tinha nada, nem um único indício de onde ela poderia estar. Cada chamada que eu atendia, cada mensagem que eu abria, trazia a esperança de que finalmente haveria boas notícias, mas tudo o que eu recebia eram negativas, desculpas, e pedidos de paciência que só alimentavam minha fúria.Rafaella... Ela era o amor da minha vida, a mulher com quem eu sonhava dividir meu futuro. E agora, ela estava nas mãos