ROCCO NARRANDO.ESCÓCIA.Dirigi pela estrada estreita, passando por campos verdes e montanhas cobertas de névoa. A Escócia sempre teve uma beleza que podia enganar qualquer um. Paisagens vastas, isoladas, perfeitas para desaparecer do mapa. Era exatamente por isso que escolhi aquele lugar. A casinha simples no sul da Escócia, isolada de tudo e de todos, seria o esconderijo perfeito para manter Rafaella longe de olhos curiosos.Quando finalmente avistei a pequena construção de pedras, cercada por árvores e flores selvagens, senti um misto de alívio e frustração. Alívio por saber que estávamos longe de qualquer perigo imediato, e frustração por estar preso naquele lugar com Rafaella. Ela era a última peça do quebra-cabeça, a chave para destruir Leonardo. No entanto, precisava manter para ela a ilusão de que ela estava segura, protegida por mim, e não minha prisioneira.Estacionei o carro na frente da casa. Ela olhou pela janela, os olhos perdidos, como se tentasse entender onde estava e
RAFAELLA MARTINI NARRANDO.ESCOCIA. O som do sino da porta do café se misturava com o ruído baixo da máquina de café. Era um som quase reconfortante, mas para mim, era mais uma lembrança de onde estava. Ou melhor, de onde deveria estar. Tudo ao meu redor parecia um borrão, uma névoa espessa que não se dissipava, e a minha mente era um campo de batalha onde a confusão e o medo lutavam constantemente.Já fazia alguns dias que eu havia chegado a esse lugar, uma casinha simples no sul da Escócia, cercada de colinas verdes e afastada de qualquer sinal de civilização. Aparentemente, esse lugar era seguro, mas seguro de quê? Rocco não dava muitas explicações, e eu, em minha condição, não tinha forças para questionar.A única coisa que sabia era que eu estava presa nesse lugar, cuidando de um café que nunca tinha visto antes, servindo xícaras de café para clientes que passavam esporadicamente. Como eu fui parar ali? A pergunta ecoava na minha mente, dia após dia, sem resposta. Eu não consegu
RAFAELLA MARTINI NARRANDO.ESCÓCIA. O dia começou como qualquer outro. As colinas verdes ao redor da pequena casa no sul da Escócia eram as mesmas, o som do vento suave soprando entre as árvores era o mesmo, e o café que eu gerenciava com mãos trêmulas estava tão silencioso quanto nos dias anteriores. Mas dentro de mim, nada estava igual. Nada mais seria igual.Eu segurei o teste de gravidez por alguns instantes antes de escondê-lo novamente. A linha marcada, tão nítida e clara, revelava um segredo que eu estava determinada a manter. Eu não contaria a ninguém, muito menos a Rocco. Algo dentro de mim dizia que isso era a única coisa que realmente me pertencia naquele momento, a única verdade que eu podia manter em segredo.A minha mente estava um caos. Eu precisava pensar em um plano de fuga. Precisava sair dali, escapar daquela prisão disfarçada de proteção. Mas para onde eu iria? Não lembrava de nada do meu passado, não sabia a quem recorrer. A minha memória era um vazio doloroso, c
LEONARDO RIZZI NARRANDO. ITÁLIA.As semanas desde que soube da morte de Rafaella se arrastam como um pesadelo interminável. O tempo, que deveria curar, apenas intensifica a dor, transformando cada momento em uma lembrança amarga do que eu perdi. Não sou mais o homem que costumava ser. As sombras que me cercam são profundas, e a luz que Rafaella trouxe à minha vida se apagou, deixando apenas escuridão.A notícia da morte dela foi um golpe do qual nunca vou me recuperar. Não pude ao menos enterrá-la com dignidade, não pude dizer a ela que a amava uma última vez. Essa é a ferida mais profunda, uma que sangra constantemente, sem sinais de cicatrização.Toda vez que fecho os olhos, a imagem de Rafaella coberta de sangue, sem vida, surge na minha mente, me atormentando. O fato de que não pude fazer nada para salvá-la, que não estava lá quando ela mais precisou, me destrói por dentro.Desde aquele dia, A minha vida se tornou um borrão de álcool e fumaça. Eu bebo para esquecer, para tentar e
CELINA MARTINI NARRANDO.ITÁLIA.Eu estava ali, presa naquela cama de hospital, incapaz de mover qualquer parte do meu corpo além dos braços. As horas se arrastavam, cada segundo parecia uma eternidade. A minha mente corria em círculos, lutando para aceitar o que havia acontecido comigo, mas a realidade era implacável. Eu estava paraplégica. Aquelas palavras soavam como uma sentença de prisão perpétua, uma vida que eu nunca tinha imaginado para mim mesma.O quarto de hospital era um lugar frio, impessoal. As paredes brancas e o som monótono dos monitores eram uma constante lembrança do meu estado. Estar ali, sem ninguém ao meu lado, me fazia sentir uma solidão avassaladora. Fazia dias que Adam e Leonardo não apareciam.O médico entrou no quarto, interrompendo os meus pensamentos sombrios. Ele carregava uma expressão que eu conhecia bem, a mesma que todos tinham quando olhavam para mim, cheia de pena e preocupação. Eu odiava isso. A última coisa que eu queria era ser vista como um fard
RAFAELLA MARTINI NARRANDO. ESCÓCIA.Aqueles sete meses passaram como um borrão, uma névoa espessa que me envolveu e apagou qualquer vestígio de uma vida anterior. Eu me agarrei ao pouco que sabia, ao café, ao trabalho que Rocco me designou, e a esse pequeno segredo que eu tentava desesperadamente esconder. A cada dia que passava, a minha barriga crescia mais e mais, tornando-se cada vez mais difícil de ocultar. Eu me empilhava de roupas, usava o avental do café como uma armadura, esperando que ninguém notasse, especialmente ele.Rocco estava sempre fora, envolvido em seus “negócios”, me deixando sozinha com Jonas, o homem que ele havia deixado para me vigiar. Eu odiava a presença de Jonas, o modo como ele estava sempre por perto, como uma sombra silenciosa, observando cada movimento meu. Sabia que qualquer erro, qualquer deslize, ele reportaria imediatamente a Rocco. E agora, com essa barriga, o risco de ser descoberta parecia maior do que nunca.Naquele dia, eu estava mais inquieta
ROCCO NARRANDO. ESCÓCIA.Esses últimos meses foram um verdadeiro jogo de xadrez, e eu estava prestes a dar o xeque-mate. Enquanto estive fora, lidando com meus “negócios”, sempre arranjei tempo para me manter informado sobre os movimentos de Leonardo. Ele estava se afundando, exatamente como eu esperava. Cada vez que ouvia notícias sobre ele, o sorriso se alargava em meu rosto. Perdia cargas, drogas, armas... Era como ver um império em ruínas, e eu era o arquiteto dessa destruição.A verdade é que eu precisava que Leonardo desmoronasse, que se afundasse na própria dor, na própria impotência. Cada grama de droga perdida, cada carregamento de armas interceptado, tudo isso era como se eu estivesse arrancando um pedaço dele. Mas o que realmente o destruiu foi a morte de Rafaella. Quando fiz ele acreditar que a mulher que ele amava, a única pessoa que realmente importava para ele, estava morta, vi em seus olhos a fagulha de vida se apagar. Ele não era mais o mesmo homem; estava acabado.E
LEONARDO RIZZI NARRANDO. ITÁLIA.Acordar se tornou uma tortura. O peso da cama, que antes era um lugar de descanso, agora parecia uma âncora me prendendo ao vazio. A cada manhã, o mesmo pensamento ecoava na minha cabeça: Rafaella está morta, e tudo é culpa minha. Não consegui salvá-la, não consegui protegê-la, e agora estou afundando em um abismo do qual não consigo escapar.As semanas desde que recebi aquela foto, desde que vi o corpo de Rafaella sem vida, foram um borrão de álcool, cigarros e dor. Não há um momento sequer em que eu não sinta o gosto amargo da perda na minha boca. A única coisa que me faz continuar é a raiva, uma raiva surda e constante que me consome de dentro para fora. Raiva de Rocco, por tê-la tirado de mim. Raiva de mim mesmo, por ter sido fraco, por não ter visto o que estava acontecendo antes que fosse tarde demais.Os negócios, antes tão meticulosamente controlados, estão desmoronando. Cada dia que passa, mais coisas saem do meu controle. Cargas são intercep