ROCCO NARRANDO. ITÁLIA. Olhei para o corpo de Rafaella caído no chão do galpão, ao lado do cadáver do pai dela. A cena parecia quase cômica, de uma forma cruel e macabra. A menina que havia herdado a fúria de Adam agora estava ali, indefesa, enquanto o corpo do pai começava a esfriar. Eu me aproximei lentamente, com passos calculados, observando o sangue que manchava as roupas dela. O rosto que antes me enfrentava com raiva e determinação agora estava tranquilo, entregue ao sono forçado pelo golpe que dei.Com um movimento firme, puxei o corpo de Rafaella para cima do cadáver de Adam, arrumando eles de uma forma que parecia que os dois estivessem mortos... A filha em cima do pai, envoltos em sangue e desespero. Tirei o celular do bolso e capturei a cena em uma foto. O clique ecoou pelo galpão vazio, mas para mim, foi o som de uma vitória. Guardei o telefone no bolso, satisfeito com o que tinha em mãos.— Pegue ela. — Ordenei, me virando para os homens que me acompanhavam.— Levem el
LEONARDO RIZZI NARRANDO. ITÁLIA.Eu estava dirigindo há horas, sem destino, com os olhos fixos na escuridão, esperando por algum sinal, qualquer coisa que me dissesse onde Rafaella estava. O meu telefone estava ao meu lado, silencioso, como se zombasse da minha impotência. Cada minuto que passava sem notícias dela era como uma facada no peito, uma dor que eu mal conseguia suportar.Já tinha falado com todos os meus contatos, acionado todos os recursos que tinha. Os meus homens estavam espalhados por toda a cidade, procurando por qualquer rastro de Rafaella, mas a verdade era que eu não tinha nada, nem um único indício de onde ela poderia estar. Cada chamada que eu atendia, cada mensagem que eu abria, trazia a esperança de que finalmente haveria boas notícias, mas tudo o que eu recebia eram negativas, desculpas, e pedidos de paciência que só alimentavam minha fúria.Rafaella... Ela era o amor da minha vida, a mulher com quem eu sonhava dividir meu futuro. E agora, ela estava nas mãos
ROCCO NARRANDO.ESCÓCIA.Dirigi pela estrada estreita, passando por campos verdes e montanhas cobertas de névoa. A Escócia sempre teve uma beleza que podia enganar qualquer um. Paisagens vastas, isoladas, perfeitas para desaparecer do mapa. Era exatamente por isso que escolhi aquele lugar. A casinha simples no sul da Escócia, isolada de tudo e de todos, seria o esconderijo perfeito para manter Rafaella longe de olhos curiosos.Quando finalmente avistei a pequena construção de pedras, cercada por árvores e flores selvagens, senti um misto de alívio e frustração. Alívio por saber que estávamos longe de qualquer perigo imediato, e frustração por estar preso naquele lugar com Rafaella. Ela era a última peça do quebra-cabeça, a chave para destruir Leonardo. No entanto, precisava manter para ela a ilusão de que ela estava segura, protegida por mim, e não minha prisioneira.Estacionei o carro na frente da casa. Ela olhou pela janela, os olhos perdidos, como se tentasse entender onde estava e
RAFAELLA MARTINI NARRANDO.ESCOCIA. O som do sino da porta do café se misturava com o ruído baixo da máquina de café. Era um som quase reconfortante, mas para mim, era mais uma lembrança de onde estava. Ou melhor, de onde deveria estar. Tudo ao meu redor parecia um borrão, uma névoa espessa que não se dissipava, e a minha mente era um campo de batalha onde a confusão e o medo lutavam constantemente.Já fazia alguns dias que eu havia chegado a esse lugar, uma casinha simples no sul da Escócia, cercada de colinas verdes e afastada de qualquer sinal de civilização. Aparentemente, esse lugar era seguro, mas seguro de quê? Rocco não dava muitas explicações, e eu, em minha condição, não tinha forças para questionar.A única coisa que sabia era que eu estava presa nesse lugar, cuidando de um café que nunca tinha visto antes, servindo xícaras de café para clientes que passavam esporadicamente. Como eu fui parar ali? A pergunta ecoava na minha mente, dia após dia, sem resposta. Eu não consegu
RAFAELLA MARTINI NARRANDO.ESCÓCIA. O dia começou como qualquer outro. As colinas verdes ao redor da pequena casa no sul da Escócia eram as mesmas, o som do vento suave soprando entre as árvores era o mesmo, e o café que eu gerenciava com mãos trêmulas estava tão silencioso quanto nos dias anteriores. Mas dentro de mim, nada estava igual. Nada mais seria igual.Eu segurei o teste de gravidez por alguns instantes antes de escondê-lo novamente. A linha marcada, tão nítida e clara, revelava um segredo que eu estava determinada a manter. Eu não contaria a ninguém, muito menos a Rocco. Algo dentro de mim dizia que isso era a única coisa que realmente me pertencia naquele momento, a única verdade que eu podia manter em segredo.A minha mente estava um caos. Eu precisava pensar em um plano de fuga. Precisava sair dali, escapar daquela prisão disfarçada de proteção. Mas para onde eu iria? Não lembrava de nada do meu passado, não sabia a quem recorrer. A minha memória era um vazio doloroso, c
LEONARDO RIZZI NARRANDO. ITÁLIA.As semanas desde que soube da morte de Rafaella se arrastam como um pesadelo interminável. O tempo, que deveria curar, apenas intensifica a dor, transformando cada momento em uma lembrança amarga do que eu perdi. Não sou mais o homem que costumava ser. As sombras que me cercam são profundas, e a luz que Rafaella trouxe à minha vida se apagou, deixando apenas escuridão.A notícia da morte dela foi um golpe do qual nunca vou me recuperar. Não pude ao menos enterrá-la com dignidade, não pude dizer a ela que a amava uma última vez. Essa é a ferida mais profunda, uma que sangra constantemente, sem sinais de cicatrização.Toda vez que fecho os olhos, a imagem de Rafaella coberta de sangue, sem vida, surge na minha mente, me atormentando. O fato de que não pude fazer nada para salvá-la, que não estava lá quando ela mais precisou, me destrói por dentro.Desde aquele dia, A minha vida se tornou um borrão de álcool e fumaça. Eu bebo para esquecer, para tentar e
CELINA MARTINI NARRANDO.ITÁLIA.Eu estava ali, presa naquela cama de hospital, incapaz de mover qualquer parte do meu corpo além dos braços. As horas se arrastavam, cada segundo parecia uma eternidade. A minha mente corria em círculos, lutando para aceitar o que havia acontecido comigo, mas a realidade era implacável. Eu estava paraplégica. Aquelas palavras soavam como uma sentença de prisão perpétua, uma vida que eu nunca tinha imaginado para mim mesma.O quarto de hospital era um lugar frio, impessoal. As paredes brancas e o som monótono dos monitores eram uma constante lembrança do meu estado. Estar ali, sem ninguém ao meu lado, me fazia sentir uma solidão avassaladora. Fazia dias que Adam e Leonardo não apareciam.O médico entrou no quarto, interrompendo os meus pensamentos sombrios. Ele carregava uma expressão que eu conhecia bem, a mesma que todos tinham quando olhavam para mim, cheia de pena e preocupação. Eu odiava isso. A última coisa que eu queria era ser vista como um fard
RAFAELLA MARTINI NARRANDO. ESCÓCIA.Aqueles sete meses passaram como um borrão, uma névoa espessa que me envolveu e apagou qualquer vestígio de uma vida anterior. Eu me agarrei ao pouco que sabia, ao café, ao trabalho que Rocco me designou, e a esse pequeno segredo que eu tentava desesperadamente esconder. A cada dia que passava, a minha barriga crescia mais e mais, tornando-se cada vez mais difícil de ocultar. Eu me empilhava de roupas, usava o avental do café como uma armadura, esperando que ninguém notasse, especialmente ele.Rocco estava sempre fora, envolvido em seus “negócios”, me deixando sozinha com Jonas, o homem que ele havia deixado para me vigiar. Eu odiava a presença de Jonas, o modo como ele estava sempre por perto, como uma sombra silenciosa, observando cada movimento meu. Sabia que qualquer erro, qualquer deslize, ele reportaria imediatamente a Rocco. E agora, com essa barriga, o risco de ser descoberta parecia maior do que nunca.Naquele dia, eu estava mais inquieta