Maitê BellEu olhava para o teto do meu quarto, as mãos cruzadas sobre a barriga, como se o simples gesto fosse o suficiente para proteger algo que eu mal conseguia acreditar que existia. A palavra ainda ecoava na minha mente, acompanhada de uma mistura de emoções que iam do medo ao encanto. Grávida. Era estranho como uma notícia podia mudar tudo tão de repente. Um segundo antes, eu estava preocupada com Stayce, com Mason, com as pequenas confusões da minha vida cotidiana. E agora… agora havia algo maior, algo que transcendia qualquer preocupação anterior. Um pedaço de mim, e de Gregório, estava crescendo dentro de mim. Gregório. Eu mordi o lábio inferior, sentindo um misto de ansiedade e esperança preencher meu peito. Ele precisava saber. Não havia dúvidas quanto a isso. Gregório sempre foi um homem direto, alguém que enfrentava tudo com firmeza. Desde que começamos a sair, ele nunca me deixou insegura sobre o que sentia. Mas, e se essa notícia o assustasse? Nós estávamos juntos
Oliver SmithEu sempre tive orgulho do que construí. A família Smith não era apenas um nome; era um legado. Levou anos, sacrifícios e mais decisões difíceis do que qualquer um pode imaginar para chegar até onde estamos hoje. Por isso, quando soube que Gregório estava envolvido com uma jovem qualquer, uma garota sem pedigree, sem status, sem história... algo se quebrou dentro de mim. Gregório sempre foi o meu herdeiro, o orgulho da família, o homem que eu moldei para seguir meus passos.Como ele podia ser tão imprudente?A notícia veio através de Amélia, uma das poucas pessoas em quem eu ainda confiava para me trazer verdades incômodas. Ela não era parte da família, mas estava conosco há tanto tempo que sabia ler os sinais, captar os murmúrios e trazer à tona aquilo que outros tentariam esconder. Foi ela quem disse, com aquele tom sério e reservado de sempre: "Seu filho anda saindo com uma garota... uma tal de Maitê."Maitê.O nome soava comum demais, ordinário demais, e isso já era um
Maitê BellFiquei parada na sala, os olhos fixos na porta que Oliver Smith tinha acabado de fechar atrás dele, como se esperasse que ele voltasse e dissesse que tudo aquilo era uma brincadeira de mau gosto. Mas o silêncio que ficou no apartamento era sufocante, quase palpável, como se as palavras dele ainda estivessem penduradas no ar, se recusando a ir embora. Meu corpo estava paralisado, a mente correndo em círculos, tentando absorver tudo o que ele tinha dito.Eu estava sozinha.Aquilo estava claro. Mais sozinha do que jamais estive. Naquele momento, eu não sabia mais se Gregório era realmente diferente do pai ou se ele tinha me manipulado o tempo todo. Afinal, ele viajou exatamente quando tudo começou a se complicar, como se tivesse dado carta branca para o pai resolver a situação por ele. Eu queria acreditar que Gregório era o homem que me fazia sentir segura, que sempre me tratou com cuidado e carinho, mas agora, com aquelas ameaças pairando sobre a minha cabeça, tudo parecia um
Gregório SmithA viagem de volta foi um inferno. Por mais que eu tentasse focar nas planilhas e contratos, a preocupação com Maitê me corroía por dentro. Já fazia dias que ela não atendia minhas ligações, não respondia mensagens e o silêncio dela era algo completamente fora do normal. No começo, pensei que talvez estivesse ocupada, que precisava de um tempo para si mesma, mas conforme os dias passavam, a ausência de qualquer sinal dela se tornava insuportável.Pensei em voltar para casa mais cedo várias vezes, cancelar reuniões, abandonar o que quer que estivesse acontecendo em Houston. Mas eu precisava fechar aquele negócio. Era importante, não só para a empresa, mas para o que eu estava tentando construir para o nosso futuro. Quando finalmente fechei o acordo, um alívio misturado com desespero tomou conta de mim — tudo o que eu queria era ver o rosto dela, explicar o porquê de ter ficado tanto tempo fora e prometer que não haveria mais segredos entre nós.Cheguei em seu apartamento
Maitê BellMorar em Baltimore. Nunca imaginei como seria fazer isso sozinha. Quer dizer, a cidade tem seu charme, mas me deixou com a sensação de estar em um mundo diferente desde que tive que encará-la de outra forma, principalmente depois de São Paulo. Minha vida virou de cabeça para baixo por causa da mudança repentina dos meus pais para o Brasil, e agora sou só eu aqui. Dona Estela, minha vózinha, adoeceu e eu sabia que não tínhamos muita opção nesse quesito, não podíamos deixá-la sozinha no Brasil e trazer ela para Baltimore? Por Deus... fora de questão. Nós estávamos bem, não me entenda errado, mas a minha família nunca foi rica e a saúde pública fora do Brasil era inexistente, ainda mais... quando se tratava dos EUA. Eu amo a minha vózinha, claro. Gosto dela demais, mas, caramba, ninguém se prepara para uma mudança assim. Só não pirei de verdade porque eu tinha Stayce. Ela é a minha amiga mais leal, daquelas que te faz rir no meio do caos e nunca solta a sua mão.Depois de algu
Maitê BellNo dia seguinte, eu acordei com o som insistente das notificações no celular. Uma parte de mim queria ignorá-las, voltar para o sono tranquilo que parecia me prometer um pouco de paz. Mas, ao ver o nome da minha mãe piscando na tela, percebi que não dava para adiar. Respirei fundo e abri a mensagem, porque eu sabia que se minha mãe tivesse me enviado uma mensagem a essa hora, era porque era importante.[Mamãe]: Filha, sua avó precisa de uma cirurgia no coração. A situação aqui não está fácil, mas vamos dar um jeitoMeu coração apertou quando li aquelas palavras. Minha avó sempre foi uma fortaleza na nossa família. A ideia de que agora ela estava vulnerável, precisando de ajuda e eu tão longe, me deixava aflita. Era nessas horas que a distância parecia um abismo. Pensei em responder imediatamente, mas as palavras não vinham. O que eu poderia dizer? Que estava preocupada? Que sentia culpa por estar aqui enquanto eles lidavam com tudo sozinhos?Em vez disso, fechei os olhos po
Maitê BellEu trabalhei a noite praticamente inteira, então, quando eu cheguei em casa, apenas apaguei e no dia seguinte... eu estava exausta, mas não tinha como escapar — e nem queria —, e por mais que eu tentasse disfarçar, eu estava nervosa. Muito. Naquela manhã, Stayce apareceu no meu apartamento, vestida de jeans e blusa larga, com um saco de compras na mão e um sorriso travesso no rosto.— Trouxe um presente especial — anunciou, balançando a sacola. — Você vai estar impecável.Ela disse com diversão e tirou um vestido preto de cetim, com um caimento que parecia feito sob medida. As alças eram finas, o decote discreto, mas ainda assim elegante. Eu o segurei, sem acreditar.— Stayce, isso é lindo demais… não precisava.— Precisava, sim. Hoje é um dia especial. — Ela me olhou com carinho, como se dissesse que sabia da importância desse momento pra mim. — Eu sei que você tem um crushzinho no Gregório. Eu quero que você esteja maravilhosa hoje, afinal, você está me ajudando.O celula
Gregório SmithOdeio eventos beneficentes.O salão impecável, as pessoas falando com falsa cordialidade, as risadas exageradas… todo aquele teatro me incomoda. Sou obrigado a aturar as abordagens de pais desesperados tentando casar suas filhas comigo, cada uma mais maquiada e engomada que a outra. É ridículo e, no mínimo, exaustivo. As mães me lançam olhares cúmplices, cheias de segundas intenções, como se eu estivesse ali, prestes a dar um passo rumo a um casamento. São esses os motivos pelos quais sempre trago Amélia comigo.Amélia é minha amiga desde a infância. É elegante, discreta e inteligente o suficiente para entender a natureza do nosso acordo: ela me acompanha, eu compro algo extravagante para ela. Essa combinação nos livra de conversas complicadas e mantém os parasitas sociais afastados. No instante em que passamos pela entrada do evento, ela se agarra ao meu braço, já rindo de alguma piada qualquer. Estávamos nos encaminhando para o salão principal quando uma jovem me este