Maitê BellFiquei parada na sala, os olhos fixos na porta que Oliver Smith tinha acabado de fechar atrás dele, como se esperasse que ele voltasse e dissesse que tudo aquilo era uma brincadeira de mau gosto. Mas o silêncio que ficou no apartamento era sufocante, quase palpável, como se as palavras dele ainda estivessem penduradas no ar, se recusando a ir embora. Meu corpo estava paralisado, a mente correndo em círculos, tentando absorver tudo o que ele tinha dito.Eu estava sozinha.Aquilo estava claro. Mais sozinha do que jamais estive. Naquele momento, eu não sabia mais se Gregório era realmente diferente do pai ou se ele tinha me manipulado o tempo todo. Afinal, ele viajou exatamente quando tudo começou a se complicar, como se tivesse dado carta branca para o pai resolver a situação por ele. Eu queria acreditar que Gregório era o homem que me fazia sentir segura, que sempre me tratou com cuidado e carinho, mas agora, com aquelas ameaças pairando sobre a minha cabeça, tudo parecia um
Gregório SmithA viagem de volta foi um inferno. Por mais que eu tentasse focar nas planilhas e contratos, a preocupação com Maitê me corroía por dentro. Já fazia dias que ela não atendia minhas ligações, não respondia mensagens e o silêncio dela era algo completamente fora do normal. No começo, pensei que talvez estivesse ocupada, que precisava de um tempo para si mesma, mas conforme os dias passavam, a ausência de qualquer sinal dela se tornava insuportável.Pensei em voltar para casa mais cedo várias vezes, cancelar reuniões, abandonar o que quer que estivesse acontecendo em Houston. Mas eu precisava fechar aquele negócio. Era importante, não só para a empresa, mas para o que eu estava tentando construir para o nosso futuro. Quando finalmente fechei o acordo, um alívio misturado com desespero tomou conta de mim — tudo o que eu queria era ver o rosto dela, explicar o porquê de ter ficado tanto tempo fora e prometer que não haveria mais segredos entre nós.Cheguei em seu apartamento
Maitê BellO Brasil me recebeu com o calor de sempre, aquele abraço quente e familiar que parecia prometer que tudo ficaria bem, mesmo que eu ainda me sentisse quebrada por dentro. Os primeiros meses foram os mais difíceis. Eu ainda tinha pesadelos, acordava assustada no meio da noite, esperando encontrar Gregório ao meu lado, para depois perceber que estava sozinha, no meu antigo quarto da casa dos meus pais. Foi difícil me adaptar a essa nova realidade, mas o apoio deles fez toda a diferença. Eles não me perguntaram nada sobre o que aconteceu, não pediram detalhes que eu não estava pronta para contar. Apenas me abraçaram, me acolheram e me ajudaram a começar de novo.Usei o dinheiro que ainda tinha e vendi todas as joias que Gregório tinha me dado. Cada peça de ouro e diamante era um símbolo de algo que eu queria deixar para trás, algo que eu precisava tirar da minha vida para seguir em frente. Por um tempo, aquele dinheiro foi suficiente para manter as coisas estáveis. Consegui ret
Maitê BellO dia do parto chegou mais rápido do que eu esperava. Parecia que os meses tinham passado em um piscar de olhos e, de repente, ali estava eu, na sala de parto, cercada por médicos e enfermeiras, com minha mãe segurando minha mão com uma força que eu não sabia que ela tinha. As dores eram intensas, cortantes, mas ao mesmo tempo, eu sabia que estava pronta. Meu corpo tremia e o medo misturado com a expectativa parecia tomar conta de cada pedaço de mim, mas eu sabia que aquele era o momento. Depois de tudo o que passei, finalmente ia conhecer minha filha.As horas se arrastaram, uma mistura de gritos, respirações profundas e incentivo das enfermeiras. Quando finalmente ouvi o choro agudo da minha filha preencher a sala, meu coração se encheu de uma alegria que eu nunca tinha experimentado. Lá estava ela, pequena e frágil, mas tão real, tão minha. O mundo pareceu parar enquanto a enfermeira a colocava nos meus braços. Ela era perfeita, pequena e cheia de vida, com os olhos aind
Gregório SmithFaz quase três anos desde que Maitê sumiu da minha vida. Três anos, e eu ainda não consegui preencher o vazio que ela deixou. Não que eu não tenha tentado. Trabalhei feito louco, abri filiais, fiz projetos que ninguém imaginava, mas nada disso serviu pra calar aquela voz irritante na minha cabeça, aquela que sussurrava o nome dela quando eu deitava pra dormir — como se algo dentro de mim não quisesse esquecer Maitê a todo custo.E, bom, tinha a Amélia. Se é que dá pra chamar aquilo de “companhia”. Ela tinha se tornado um problema do qual eu não conseguia me livrar. No começo, achei que poderia apenas deixar ela ali, para conversar e fazer com que a minha cabeça parasse de ir tanto para Maitê. Só que logo ficou claro que ela não estava comigo por gostar de mim; ela só queria escapar das cobranças de casamento que os pais dela enfiavam goela abaixo. E eu, idiota, deixei. Talvez porque era cômodo. Ou porque, no fundo, eu só estava esperando Maitê voltar — mesmo que parte d
Maitê BellIr embora, ter meu bebê sozinha, sem Gregório e deixar ele para trás? Tudo isso foi doloroso. Bem mais do que eu poderia explicar facilmente, mas o terceiro ano da faculdade de Direito estava quase ao fim, e estava sendo exaustivo, mas também incrivelmente recompensador. Cada aula, cada caso simulado, cada estágio parecia me aproximar mais do objetivo que persegui nos últimos anos: me tornar uma advogada de sucesso. As noites mal dormidas, as pilhas de livros e as infinitas leituras jurídicas faziam parte da rotina, e, apesar do cansaço, havia uma satisfação em saber que tudo isso estava me levando para um futuro melhor.Conseguir aquele estágio em uma empresa renomada foi como um selo de aprovação. Trabalhar como assistente de um dos advogados mais famosos do estado era uma oportunidade que não podia desperdiçar. Eu sabia que, se mostrasse meu valor, poderia ser efetivada no futuro e minha filha teria apenas o melhor pela frente. O pensamento me animava, me mantinha motiva
Gregório SmithQuando Maitê se foi, eu tive que reaprender a viver, essa era a verdade que eu queria ignorar. Vivi como um louco por um momento, mas quando voltei a mim, tudo que eu pude fazer foi trabalhar e trabalhar. Eu nunca fui de me surpreender facilmente e com o passar dos anos sem ela, isso se tornou ainda mais improvável de se acontecer. Minha vida era controlada, planejada, meticulosamente organizada para evitar imprevistos. Mas quando os olhos de Maitê cruzaram com os meus naquela sala de reuniões, senti meu mundo cambalear como nunca antes, como se tudo que eu acreditasse e que vinha repetindo durante anos, houvesse se estilhaçado como um espelho velho ao cair ao chão.No início, achei que estava imaginando coisas. Talvez fosse o cansaço ou uma distração qualquer. Mas, enquanto ela falava ao lado de Rinaldi, cada gesto, cada nuance de sua voz confirmou o que meu instinto já sabia. Era ela.A mesma mulher que há três anos saiu da minha vida sem explicações. A mesma mulher q
Maitê BellMeu coração não parava de martelar no peito. Desde o momento em que vi Gregório sentado naquela mesa de reuniões, como se fosse o dono do mundo, senti que algo terrível estava prestes a acontecer. Foi um milagre eu conseguir manter a compostura durante a apresentação. Cada palavra que saía da minha boca era treinada, cada sorriso, ensaiado. Por dentro, eu estava um caos, mas por fora eu felizmente consegui fingir estar bem.Quando a reunião terminou, fiz o que precisava fazer: fugi. Não havia outra opção. O jeito que Gregório me olhava, como se estivesse tentando me decifrar, como se estivesse prestes a exigir respostas... Não. Eu não podia deixar isso acontecer. Não podia arriscar que ele descobrisse sobre minha filha. Nossa filha.Consegui evitar que ele se aproximasse ao me juntar a Rinaldi no corredor, mas sabia que isso não seria suficiente para mantê-lo longe. Gregório não era o tipo de homem que desistia facilmente. Ele sempre conseguia o que queria, e o simples fato