Theo
“Que mulher é aquela?”, penso enquanto chego em casa, completamente embasbacado. Nunca fiquei tão hipnotizado por alguém, principalmente sendo mais velha. E casada. Mas conhecer Catarina foi um alento em uma noite que eu já dava como perdida.
Não bastasse termos de nos mudar para este fim de mundo, abandonando a minha vida social e todos os meus amigos, ainda sou obrigado a ir a um jantar na casa do prefeito. Eu me sinto em 1920! Só que o evento cheio de chatices e formalidades reservava uma surpresa e tanto: a mulher mais perfeita que eu já vi. E olha que já vi foi mulher nessa vida. Não é à toa que tenho fama de garanhão, pegador, mulherengo, cafajeste, enfim, o nome que quiserem dar. A verdade é que sou jovem, rico, solteiro e cheio de saúde. Não prometo nada que não pretenda cumprir e nunca, em nenhuma hipótese, engano as meninas.
Quem cai na minha cama vem porque quer. E confesso que, ultimamente, eu nem preciso me esforçar. Mas essa Catarina é fora do comum. Ela parece saída de um filme de Hollywood. Os cabelos são castanhos, com tons de dourado, longos e esvoaçantes. Os olhos têm a cor do mel, quase amarelos, profundos e expressivos. A pele parece macia e exala um perfume que dá para sentir do outro lado do cômodo: um cheiro próprio e completamente inebriante. A boca é carnuda e implora por um beijo. E o que falar do corpo? Magra, mas com todas as curvas nos lugares certos e uma bunda de parar o trânsito de qualquer cidade grande. E isso porque ela estava com um vestido super recatado. Fico imaginando aquela mulher de calcinha e sutiã na minha frente. Meus Deus! Melhor mudar os rumos do meu pensamento, afinal não quero confusão com o juiz da cidade.
Tenho de focar em arrumar um emprego. Acabei de me formar e preciso começar a trabalhar, ganhar o meu próprio dinheiro e dar o primeiro passo para a minha independência. Já tenho vinte e quatro anos, e está mais do que na hora de ser dono do meu nariz. Se tudo correr bem, em pouco tempo, eu caio fora dessa cidade e volto para o Rio de Janeiro. Vai ser maravilhoso ter uma casa só para mim e ser responsável pelas minhas próprias coisas.
Abro o site de buscas e começo a procurar empresas em Mendes e nas cidades vizinhas. Depois de algumas pesquisas, vejo uma companhia em Vassouras, especializada em cabeamento e telecomunicações, com mais de 20 anos no mercado. É perfeita para um engenheiro de Telecom. Agora, é só fazer um currículo e começar a correr atrás de oportunidades.
Vou ligar para o meu padrinho, Arthur, que também é advogado do meu pai. Com certeza, ele pode me ajudar com dicas e conselhos. Afinal, é sempre ele que me apoia nos momentos mais importantes da minha vida; sempre foi.
Catarina Entro em casa já esperando a agressão. Heitor se aproxima e, em um gesto automático, encolho os ombros. Mas ele não me bate. Apenas segue para o banheiro, toma banho e se deita, parecendo me ignorar. Eu me arrumo para dormir, mas o sono está cada vez mais distante. Estou agitada e simplesmente não consigo tirar a imagem de Theo da minha cabeça. O porte, o corpo e, sobretudo, aqueles olhos. Imagino como deve ser tocar aquela pele bronzeada, encostar os lábios naquela boca proeminente, sentir o cheiro que o seu suor exala. Quanto mais imagens se formam na minha cabeça, menos eu consigo relaxar. Sinto como se estivesse correndo uma maratona: a boca seca e o coração disparado. “Ele &
Theo Beijar Catarina é como estar no céu. É mágico, doce e, ao mesmo tempo, quente. Traz desespero, mas também sossego. A sua boca é ainda mais deliciosa do que eu poderia imaginar: carnuda e muito macia. E, quando a sua língua brinca com a minha, quase perco a noção dos sentidos. Tudo que desejo é sentir cada pedaço do seu corpo, beijar cada centímetro da sua pele. Quero que ela sinta prazer com o meu toque e anseio estar dentro dela, inteiro, entregue, completo. Só que, de repente, ela me empurra. Está ofegante, descabelada e com um olhar amedrontado. – Theo, pelo amor de Deus! Sou casada. E você é apenas um menino. A gente está no meio da estrada, e todos me conhecem por aqui. Já imaginou se alguém me vê? – ela fala, esbaforida, levando a mão à testa. – Calma, Catarina. Aconteceu porque nós dois estamos sentind
Catarina Chego à casa dos meus pais ainda cedo. Há duas noites, não consigo dormir, mexida com o beijo de Theo e preocupada em ter de ir à casa dele no sábado. Ao olhar o lugar em que passei a minha infância, observo a má conservação da fachada. Está velha e mal cuidada como os seus habitantes, infelizmente. Embora Heitor não deixe faltar comida e remédio para os meus pais, todo o resto fica de fora. Eles não têm qualquer tipo de conforto ou luxo: apenas o básico para que sobrevivam com dignidade. Encontro papai deitado no sofá surrado da sala, com a pele meio amarelada. Está ainda mais abatido do que na última vez em que o visitei, com olheiras que contornam as pálpebras e lhe dão uma aparência cansada. É como se continuar vivo exigisse dele um esforço sobre-humano, que arranca a sua energia e mina as suas força
TheoFico alucinado pela imagem de Catarina em um vestido cereja, que marca toda a perfeição do seu corpo. O cabelo está mais liso e o rosto tem uma maquiagem leve, que ressalta a beleza dos seus traços. Vou cumprimentá-la com uma certa cerimônia, mas todos os meus instintos querem arrastá-la daquela sala, conduzi-la ao meu quarto e beijá-la por horas a fio. Seguro o ímpeto de tomá-la para mim e finjo uma tranquilidade que, definitivamente, não sinto.***Passo boa parte da noite espreitando Catarina e tentando achar uma brecha para ficarmos a sós. Quando a vejo caminhando pelo jardim, com uma taça na mão, imediatamente começo a procurar pelo babaca do Heitor. Mesmo sem conhecê-lo direito, alguma coisa me diz que tem algo errado com aquele cara. E não é apenas o ci
CatarinaMando a mensagem para Theo e, assim que ele a visualiza, a apago. Faço questão de esvaziar a lixeira e confiro, várias vezes, se me desfiz de todos os rastros. Ainda não acredito que estou fazendo isso; que vou mesmo encontrá-lo no chalé. Sinto um misto de medo e empolgação, com a adrenalina subindo pelo meu corpo e me deixando com um frio gostoso na barriga.***Chego em casa imaginando como será vê-lo no dia seguinte e projetando mil cenários diferentes. Mas preciso de lucidez: não posso ceder à tentação, pois a minha vida e a dos meus pais estão em jogo. Heitor está calado desde a saída da festa, o tempo todo com o semblante fechado. Alguma coisa no brunch deve tê-lo desagradado e espero, muito, que não tenha sido eu.Ele vai até a co
Theo Fazer amor com Catarina é como nascer de novo. Eu nunca me senti tão vivo, tão ligado, tão feliz. Confesso que hesitei quando vi manchas roxas em seu corpo, mas não quis estragar o momento. Aquele desgraçado deve machucá-la! Depois vou procurar saber o que ele faz com ela e tenho medo de não responder por mim. Mas, por ora, vou me concentrar em adorá-la como ela merece. Quero que a tarde de hoje seja inesquecível. *** Já são quase cinco da tarde quando nos despedimos, exaustos e satisfeitos. Eu saio primeiro para não levantar suspeitas e observo tudo à minha volta para garantir que não sou visto. Ando até o carro como se estivesse flutuando, pensando no que acabou de acontecer. Ao mesmo tempo que estou em êxtase, sinto uma pontada por deixá-la para trás, principalmente sabendo que aquele covarde pode atacá-la novamente. Preciso proteger Catarina de alguma forma. O que será que
CatarinaAs últimas semanas com Theo têm sido um sonho. Nunca me senti tão bonita, sexy e desejada na vida. Mesmo sabendo que o nosso relacionamento é proibido e tendo de esconder tudo o que sinto, eu me sinto inteira, realizada, bem tratada. E não é apenas o sexo, que é simplesmente sensacional. São os carinhos, os olhares, os sorrisos e, às vezes, até os silêncios. Nunca pensei que fosse amar a ausência de palavras, mas até ela me traz felicidade.Tenho tido um novo estímulo para juntar dinheiro e pensar em estratégias de escape. Depois de experimentar o amor, tenho ainda mais fôlego para lutar pela minha liberdade.***Estou assistindo à televisão no domingo à noite, já ansiosa pelo encontro de amanhã, quando Heitor entra no quarto pisa
Theo Eu me despeço de Catarina com um beijo apaixonado e volto para o trabalho pensando no que dissemos um para o outro. É a primeira vez que as palavras “eu te amo” saem da minha boca para uma mulher, então elas têm um significado gigante para mim. Apesar de tudo o que teremos de enfrentar para ficar juntos, amar é bom demais. Pareço aqueles galãs de comédias românticas bem clichês, mas não posso evitar: vejo tudo mais colorido e enxergo sentidos múltiplos até nas coisas mais banais. Eu me tornei tudo aquilo que tanto debochava, e o pior é que tenho muito orgulho disso. Quero amadurecer, ganhar dinheiro, ser um homem completo para Catarina. Desejo me casar com ela um dia, ter filhos, construir uma família repleta de amor. Acima de tudo, quero alegrar os seus dias e apagar, pouco a pouco, todo o horror que ela viveu em todos esses anos ao lado daquele crápula do Heitor.