Theo
Beijar Catarina é como estar no céu. É mágico, doce e, ao mesmo tempo, quente. Traz desespero, mas também sossego. A sua boca é ainda mais deliciosa do que eu poderia imaginar: carnuda e muito macia. E, quando a sua língua brinca com a minha, quase perco a noção dos sentidos. Tudo que desejo é sentir cada pedaço do seu corpo, beijar cada centímetro da sua pele. Quero que ela sinta prazer com o meu toque e anseio estar dentro dela, inteiro, entregue, completo. Só que, de repente, ela me empurra. Está ofegante, descabelada e com um olhar amedrontado.
– Theo, pelo amor de Deus! Sou casada. E você é apenas um menino. A gente está no meio da estrada, e todos me conhecem por aqui. Já imaginou se alguém me vê? – ela fala, esbaforida, levando a mão à testa.
– Calma, Catarina. Aconteceu porque nós dois estamos sentindo a mesma coisa. Foi inevitável. E eu não sou um menino: tenho 24 anos. Até parece que você é uma velha!
– Eu tenho trinta e três, mas esse não é o principal problema. O Heitor é um homem poderoso ... e pode ser violento.
– Violento? Ele maltrata você?
– Não. Não foi isso o que quis dizer. Precisamos sair daqui e esquecer o que acabou de acontecer.
– Você pode me pedir tudo, menos para esquecer esse beijo. Seria absolutamente impossível. Eu vou sonhar com ele sem parar, como se fosse um adolescente virgem que acabou de beijar a primeira namoradinha.
Ela cora e acaba soltando um sorriso tímido. Sei que também não vai conseguir fingir que não há nada entre nós. E, como se o encanto fosse quebrado, o caminhão do guincho chega, resgata o carro e nos leva para casa. Seguimos olhando para frente, calados, mas completamente conscientes da presença um do outro.
***
Já em casa, conto para os meus pais sobre o emprego e pesquiso mais sobre a história da empresa em que vou trabalhar, mas, a todo momento, Catarina invade meu pensamento. Eu já tive muitas mulheres e nunca me senti assim por nenhuma. É um sentimento avassalador, que teve início assim que pus os olhos nela. Não sabia nada a seu respeito, mas já ficava atordoado com a sua simples presença. E agora... agora, seria ainda pior, pois tinha conversado com ela e beijado a sua boca. Nenhum dos milhões de beijos que já dei na vida me preparou para aquele momento. Foi surreal, completamente indescritível.
Fico pensando se ela se sente como eu; se está culpada; se realmente se sente arrependida. E a vontade de encontrá-la cresce dentro de mim, tomando conta de tudo e quase me tirando a razão. Preciso ter calma e, principalmente, cuidado.
***
Dois dias se passam, e chega o momento de começar a trabalhar. Não vejo Catarina desde o nosso beijo, e isso me angustia, mas preciso focar nesse emprego. Preciso dar tudo de mim, mostrar que sou bom. Assim, termino de me arrumar e vou tomar café, convencido a manter a concentração. Só que a minha mãe me dá uma notícia que coloca toda a minha determinação a perder.
– Theo, eu me esqueci totalmente de te dizer que vamos fazer um brunch para celebrar que a casa ficou pronta. Vai ser uma espécie de open house. Será no sábado, e convidamos as mesmas pessoas do nosso jantar de boas-vindas. Então, por favor, não marque nenhum outro compromisso porque quero que esteja aqui.
– Claro, mãe. Que horas será?
– Marquei às 11h. Ah! Talvez precise da sua ajuda com algumas coisas. Vou fazer uma lista de tudo o que falta e te aviso.
– Tá bom, pode deixar. Precisando, é só falar. Agora, deixa eu ir porque não vou correr o risco de chegar atrasado no meu primeiro dia.
– Você vai de ônibus? Já resolveu a questão do carro?
– Hoje vou de ônibus, mas, na hora do almoço, vou fechar o carro. Já escolhi o que quero em uma concessionária lá de Vassouras. Fica pronto hoje. E o melhor: é um 4x4, perfeito para andar nessas estradas de terra aqui da região.
– Que bom, filho. Fico feliz. Boa sorte no seu primeiro dia.
– Obrigado, mãe, mas eu não preciso de sorte: tenho talento.
– Modesto como sempre...
– Fui, dona Cristiane!
Saio atordoado, com o estômago revirado em medo e expectativa. Catarina virá na minha casa! Será que ela já sabia disso quando me encontrou? Não fez nenhum comentário a respeito, então realmente não sei. Ao mesmo tempo que anseio loucamente encontrá-la, não sei como será vê-la com o marido e na frente de tantas pessoas. Vou ter de arrumar um jeito de ficar a sós com ela, ainda que seja por poucos minutos. Mas como?
Catarina Chego à casa dos meus pais ainda cedo. Há duas noites, não consigo dormir, mexida com o beijo de Theo e preocupada em ter de ir à casa dele no sábado. Ao olhar o lugar em que passei a minha infância, observo a má conservação da fachada. Está velha e mal cuidada como os seus habitantes, infelizmente. Embora Heitor não deixe faltar comida e remédio para os meus pais, todo o resto fica de fora. Eles não têm qualquer tipo de conforto ou luxo: apenas o básico para que sobrevivam com dignidade. Encontro papai deitado no sofá surrado da sala, com a pele meio amarelada. Está ainda mais abatido do que na última vez em que o visitei, com olheiras que contornam as pálpebras e lhe dão uma aparência cansada. É como se continuar vivo exigisse dele um esforço sobre-humano, que arranca a sua energia e mina as suas força
TheoFico alucinado pela imagem de Catarina em um vestido cereja, que marca toda a perfeição do seu corpo. O cabelo está mais liso e o rosto tem uma maquiagem leve, que ressalta a beleza dos seus traços. Vou cumprimentá-la com uma certa cerimônia, mas todos os meus instintos querem arrastá-la daquela sala, conduzi-la ao meu quarto e beijá-la por horas a fio. Seguro o ímpeto de tomá-la para mim e finjo uma tranquilidade que, definitivamente, não sinto.***Passo boa parte da noite espreitando Catarina e tentando achar uma brecha para ficarmos a sós. Quando a vejo caminhando pelo jardim, com uma taça na mão, imediatamente começo a procurar pelo babaca do Heitor. Mesmo sem conhecê-lo direito, alguma coisa me diz que tem algo errado com aquele cara. E não é apenas o ci
CatarinaMando a mensagem para Theo e, assim que ele a visualiza, a apago. Faço questão de esvaziar a lixeira e confiro, várias vezes, se me desfiz de todos os rastros. Ainda não acredito que estou fazendo isso; que vou mesmo encontrá-lo no chalé. Sinto um misto de medo e empolgação, com a adrenalina subindo pelo meu corpo e me deixando com um frio gostoso na barriga.***Chego em casa imaginando como será vê-lo no dia seguinte e projetando mil cenários diferentes. Mas preciso de lucidez: não posso ceder à tentação, pois a minha vida e a dos meus pais estão em jogo. Heitor está calado desde a saída da festa, o tempo todo com o semblante fechado. Alguma coisa no brunch deve tê-lo desagradado e espero, muito, que não tenha sido eu.Ele vai até a co
Theo Fazer amor com Catarina é como nascer de novo. Eu nunca me senti tão vivo, tão ligado, tão feliz. Confesso que hesitei quando vi manchas roxas em seu corpo, mas não quis estragar o momento. Aquele desgraçado deve machucá-la! Depois vou procurar saber o que ele faz com ela e tenho medo de não responder por mim. Mas, por ora, vou me concentrar em adorá-la como ela merece. Quero que a tarde de hoje seja inesquecível. *** Já são quase cinco da tarde quando nos despedimos, exaustos e satisfeitos. Eu saio primeiro para não levantar suspeitas e observo tudo à minha volta para garantir que não sou visto. Ando até o carro como se estivesse flutuando, pensando no que acabou de acontecer. Ao mesmo tempo que estou em êxtase, sinto uma pontada por deixá-la para trás, principalmente sabendo que aquele covarde pode atacá-la novamente. Preciso proteger Catarina de alguma forma. O que será que
CatarinaAs últimas semanas com Theo têm sido um sonho. Nunca me senti tão bonita, sexy e desejada na vida. Mesmo sabendo que o nosso relacionamento é proibido e tendo de esconder tudo o que sinto, eu me sinto inteira, realizada, bem tratada. E não é apenas o sexo, que é simplesmente sensacional. São os carinhos, os olhares, os sorrisos e, às vezes, até os silêncios. Nunca pensei que fosse amar a ausência de palavras, mas até ela me traz felicidade.Tenho tido um novo estímulo para juntar dinheiro e pensar em estratégias de escape. Depois de experimentar o amor, tenho ainda mais fôlego para lutar pela minha liberdade.***Estou assistindo à televisão no domingo à noite, já ansiosa pelo encontro de amanhã, quando Heitor entra no quarto pisa
Theo Eu me despeço de Catarina com um beijo apaixonado e volto para o trabalho pensando no que dissemos um para o outro. É a primeira vez que as palavras “eu te amo” saem da minha boca para uma mulher, então elas têm um significado gigante para mim. Apesar de tudo o que teremos de enfrentar para ficar juntos, amar é bom demais. Pareço aqueles galãs de comédias românticas bem clichês, mas não posso evitar: vejo tudo mais colorido e enxergo sentidos múltiplos até nas coisas mais banais. Eu me tornei tudo aquilo que tanto debochava, e o pior é que tenho muito orgulho disso. Quero amadurecer, ganhar dinheiro, ser um homem completo para Catarina. Desejo me casar com ela um dia, ter filhos, construir uma família repleta de amor. Acima de tudo, quero alegrar os seus dias e apagar, pouco a pouco, todo o horror que ela viveu em todos esses anos ao lado daquele crápula do Heitor.
Catarina Depois que Theo sai pela porta, arrumo o chalé para não deixar vestígios da nossa presença, como sempre faço quando nos encontramos. Olho tudo em volta e, em cada canto, revejo uma cena que me dilacera: nós nos amando, rindo, brincando. Foi tudo tão intenso e tão lindo, que eu realmente acreditei que a minha vida podia ser diferente. Mas era apenas uma grande mentira. Saio de lá me sentindo suja e absolutamente quebrada. Quero chegar em casa, me jogar na cama e apagar. Quem sabe dormindo eu consiga abafar essa dor que me consome.***Hoje, faz cinco semanas que Theo foi embora. Durante todo esse tempo, tenho sido uma espécie de zumbi. Faço as coisas de maneira automática, sem nada sentir ou p
Theo Tem várias semanas que estou em Paris e tudo o que consigo fazer é vagar pela cidade, meio sem rumo. A saudade de Catarina só aumenta, assim como o temor de que ela esteja sofrendo nas mãos de Heitor. Todos os dias, quando acordo, corro para a Internet e pesquiso as notícias dos jornais do Rio de Janeiro, Mendes, Vassouras, Barra Mansa e adjacências. Quero ter certeza de que não tem escândalo nem tragédia envolvendo um juiz e, principalmente, uma mulher chamada Catarina Leal. Sonho com Cat quase todas as noites: às vezes, sonhos românticos; outras, pesadelos terríveis. Acordo suado, gritando, me debatendo na cama. Sinto que emagreci desde que cheguei aqui porque a tristeza não me deixa sentir fome. Meu pensamento voa longe e quero saber como ela está. Será que ainda me odeia? Será que sobrou alguma coisa do seu amor? *** Acordo decidido a erguer a cabeça e parar de me lamentar